Solace ϟ Potterverso

By EvanoraCaligari

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🐍 Vencedor do Prêmio Wattys 2020 na categoria Fanfiction 🏆 Com antigos seguidores de Voldemort ainda à solt... More

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By EvanoraCaligari

Quando o relógio anunciou 1h da manhã, Isis já encarava o céu de poucas nuvens na Torre de Astronomia. A Lua aparecia vez ou outra para banhar o terreno da escola com sua luz argêntea; a única fonte de iluminação no local, pois todas as lâmpadas do castelo haviam sido apagadas uma hora antes. A capa e o cardigã da bruxa estavam dobrados, flutuando a um palmo do chão para não se sujarem na superfície empoeirada.

Estar ali mais uma vez, sozinha, levou-a de volta ao seu quinto ano em Hogwarts, especificamente em uma noite fria de abril. Porém, em vez do cheiro metálico de sangue em suas roupas, apenas o do perfume.

Escolhera o local de forma inconsciente, no calor do momento, e se arrependeu por não ter seguido seu caminho em vez de arranjar briga, como uma adolescente movida por impulsos. Fizera isso doze anos antes e a tomada de decisão ainda a assombrava em sonhos.

O setimanista — Killian Dreadhiss — chegou dois minutos atrasado, cumprindo com o combinado de aparecer sozinho. Ele e seu grupo fizeram um trabalho decente em não deixar o boato se espalhar, do contrário, a monitora-chefe já teria aparecido, tal qual a boa intrometida que era, para dispersá-los. Cybele também prometera ficar de bico fechado, deixando bem claro que era contra o duelo um sem-número de vezes.

— O primeiro a desarmar ou atordoar... — começou Isis, e Killian a cortou.

— Eu sei como funciona um duelo. — Ela deu de ombros, parando em frente a ele com a varinha a postos.

Era possível ver a mão dele tremendo apesar da iluminação mortiça, mas Isis fingiu não perceber o nervosismo. Só queria acabar logo com aquilo e voltar ao dormitório. Eles se curvaram e retrocederam. Da posição onde parara, se um feitiço a acertasse em cheio, seria jogada contra o parapeito, correndo o risco de cair no vazio do mesmo jeito que acontecera com Dumbledore. A súbita percepção só injetou uma dose extra de adrenalina em suas veias.

— Um... Dois... Tr... — Antes de Isis terminar a contagem, Killian se adiantou.

— Expelli...

Um raio de luz vermelha prorrompeu da varinha da bruxa e o atingiu antes que ele terminasse de pronunciar o feitiço de desarmamento. Killian foi jogado contra a parede mais próxima e caiu desmaiado, parecendo um boneco desconjuntado. Isis suspirou, apressando-se em pegar seus pertences para não ser apanhada no flagra. Ao passar pelo setimanista, recolheu a varinha caída ao seu lado, calculando quão burro alguém pode ser para usar um feitiço verbal em um duelo.

Isis desceu as escadas com cautela, rumando para a sala comunal da Grifinória, onde esperava encontrar os amigos de Killian aguardando pelo desfecho. A ponta da varinha iluminava o caminho labiríntico até o sétimo andar. Enquanto passava, alguns quadros reclamavam da luz forte e ela ignorou todos, pensando se fizera bem em deixar o rapaz pernoitar na Torre de Astronomia, mesmo irritada pela forma que a chamara.

Ao cruzar um dos corredores, para seu espanto, viu dois pontos amarelos brilharem na escuridão. O primeiro instinto foi o de atacar, mas então ouviu o miado acusador de Madame Nor-r-r-a. Isis retrocedeu, prestes a lançar um feitiço de desilusão em si mesma, quando esbarrou em alguém. Ver o rosto inchado, o nariz bulboso escorrendo, e os olhos esbugalhados de Filch a encará-la foi ainda mais assustador que encontrar a gata.

— Apague esta varinha! — ralhou, protegendo os olhos com a mão livre. Ele aproximou a lamparina do rosto de Isis e o brilho do broche de Ilvermorny captou sua atenção. — Não sei como funciona na sua escola, menina, mas, em Hogwarts, os alunos não podem perambular por aí à noite! Venha!

Isis seguiu em silêncio até a sala do zelador. Estivera ali tantas vezes que não se espantou com a decoração peculiar do ambiente abafado. Felizmente, Filch esquecera a porta aberta, por onde a luz da lâmpada a óleo escapava, permitindo uma fraca circulação de ar para apaziguar o cheiro de peixe frito. Uma punição por andar pelos corredores à noite não era tão ruim. Poderia alegar vários motivos caso Minerva perguntasse. Pela parte de Killian, tinha certeza de que ele não falaria nada sobre o duelo.

Enquanto Filch remexia na gaveta da escrivaninha, a bruxa observou madame Nor-r-r-a se acercar e roçar em seus tornozelos. Nos tempos de escola, passara quatro anos tentando ganhá-la com petiscos, na esperança de não ser delatada durante as escapadelas. Não funcionara para esses fins, porém a gata tornara-se menos rabugenta com ela, e, fosse pelo cheiro ou por magia, ainda a reconhecia.

— Vou ficar te devendo — murmurou, abaixando-se para acariciar a pelagem cor de poeira.

— Ei, o que pensa que está fazendo?! — Filch tinha um rolo de pergaminho e uma pena nas mãos nodosas. — Afaste-se dela! — Para o assombro do zelador, Isis pegou madame Nor-r-r-a no colo sem acabar toda lanhada.

— Você é uma garota muito inteligente, não é? — A gata ronronou e a garganta de Isis queimou ao segurar o riso.

Os olhos de Filch quase saltaram das órbitas enquanto as encarava com ar aparvalhado.

De repente, uma mudança sutil na atmosfera da sala causou um formigamento na nuca de Isis, que se virou no mesmo instante para encontrar Snape parado na soleira da porta. A ausência da capa abrandava um pouco da aparência de morcego, em compensação, sob à meia-luz com a compleição esguia e pele pálida, assemelhava-se a um vampiro, cujo semblante neutro se desfez por poucos segundos ao ver a gata no colo da bruxa.

— Professor — disse Filch, afobado —, encontrei essa aluna passeando pelos corredores. — O tom já não soava tão agressivo. Na verdade, era como se ele esperasse por um elogio... que não veio.

— E eu estava prestes a admitir que cometi um erro em fazê-lo. — Isis colocou madame Nor-r-r-a no chão, sem se importar em espanar a blusa para tirar o excesso de pelos. — Acho que perdi as palavras quando vi a bela coleção de correntes e algemas do senhor, Sr. Filch — disse com seriedade, sustentando o olhar de Snape com uma inocência fingida

Quando se virou para encarar o zelador, viu-o transitar entre desconcertado e desconfiado.

— Está zombando de mim? — Foi tudo o que ele conseguiu balbuciar.

— Ah, não. Longe de mim fazer algo do tipo. — Ela segurou as mãos atrás das costas, dando o seu sorriso mais delicado. — Eu realmente tenho um apreço muito grande por certos tipos de... castigo. — Diante do tom sugestivo, o purpúreo do nariz afluiu para o resto do rosto do zelador. — Cordas também são muito...

— Eu cuidarei disso. — Snape a interrompeu, puxando-a pelo braço enquanto atravessavam o saguão de entrada rumo às masmorras.

Os dois só pararam ao cruzarem a porta da sala dele. Sob a luz da lareira, o cômodo mergulhava em uma aura densa, projetando as sombras dos frascos de vidros nas paredes, revestidas com estantes cheias de livros, e potencializando o ambiente soturno. O armário de ingredientes estava aberto, e uma pena preta cobria um pergaminho com as palavras saídas de um tomo velho, aberto sobre a mesa.

Com um aceno da varinha, as duas portas fecharam ao mesmo tempo, e a pena retornou ao tinteiro. Snape só faltou jogar Isis na cadeira em frente à escrivaninha com um gesto brusco, pegando o livro e o recolocando na estante. Ao fazê-lo, saiu do campo de visão da bruxa, que aguardou pacientemente pela punição vindoura. Imaginou o professor exultante por receber, de mão beijada, a oportunidade de tomá-la como destinatária de sua antipatia.

— O que você fazia vagando pelos corredores no meio da noite, Blakeley? — A voz do professor veio de um ponto atrás dela, onde a visão periférica não o alcançava.

Isis se ajeitou no estofado, colocando as roupas dobradas sobre o colo; a varinha de Killian escondida entre a capa e o cardigã.

— Sou sonâmbula — respondeu em deboche.

Isis ouviu os passos se aproximarem e, de súbito, Snape estava com o rosto a poucos centímetros do seu; as mãos apoiadas nos braços da cadeira, impedindo-a de se mexer. Os olhos negros se estreitaram ao fitá-la com suspeita, e ela o encarou com igual austeridade, descendo o olhar pelo nariz adunco e os lábios crispados em desagrado. O perfume das ervas que usava nas poções entranhara-se nas vestes dele, como um pot-pourri.

— Eu estava duelando — disse, inclinando-se à frente até sua boca quase encostar na dele. — Satisfeito?

Ela permaneceu assim, desafiando-o a tomar uma atitude, contudo, Snape não se moveu ou demonstrou qualquer tipo de embaraço, ainda aguardando por uma resposta que o satisfizesse. Isis inclinou a cabeça para o lado e sorriu com cinismo. Underhill vivia lhe dizendo que admirava a sua capacidade em jogar com as pessoas e que, um dia, encontraria um oponente à altura. Até aquele instante, achava se tratar do próprio Erastus e apenas ele. "Sempre tem espaço para mais um", pensou, recostando-se outra vez no espaldar; o cheiro embriagando-a por um segundo.

— Um aluno da Grifinória me chamou de "defensora de comensais" quando intercedi por uma sonserina. — Isis soou quase entediada ao admitir a verdade, embora o sangue fervilhasse ao lembrar. — O pai dela foi um comensal e...

— Guthrie. Eu sei. — Ele finalmente se afastou, indo até a sua cadeira.

Isis esperou que o mestre de Poções fizesse algum tipo de piada cáustica sobre a forma que fora chamada, com direito a uma alusão insolente a Underhill, mas tudo o que ele fez foi olhar para a lareira com ar pensativo, passando o dedo sobre os lábios bem desenhados. O silêncio do professor conseguia ser pior que a troca de farpas.

— Dreadhiss está na Torre de Astronomia, desacordado. — Severus não pareceu se importar com a informação, mantendo o silêncio. — Talvez tenha sido um erro ficar na sala comunal da Grifinória. A Lufa-Lufa era uma escolha melhor, perto da cozinha. — Isis umedeceu os lábios ao ser invadida por um pensamento que a assustava mais que reencontrar Underhill. — Acho que não temos como fugir de quem somos de verdade. — Snape voltou a olhá-la, subitamente interessado. — A gente busca ajuda, muda de amigos, de ambiente, ressignifica os desejos na esperança de nos tornarmos alguém melhor... ou só aceito. E, no final, a natureza dos nossos atos fala mais alto. Nem sei por que tento.

— Não mandei você se levantar — avisou ele ao vê-la afastar a cadeira.

— Estou cansada, e Hannah Cooper precisa acordar cedo amanhã. Boa noite, professor. — Ela andou até a porta, massageando o pescoço tenso.

— Blakeley. — Isis parou, mordiscando o lábio, e se virou esperando pelo pior. — Então avise a Srta. Cooper que ela tem uma semana de detenção pela frente, por vagar pela escola como se estivesse em casa.

Isis arqueou a sobrancelha ao ver em Severus a mesma determinação que, minutos antes, ela usara ao desafiá-lo.

— Masmorra doce masmorra. Bons sonhos, Snape — disse em tom jocoso antes de sair.

O caminho para a sala comunal não teve surpresas desagradáveis dessa vez, embora a Mulher Gorda não tenha gostado nem um pouco de ser acordada de madrugada. As brasas da lareira queimavam em fogo brando, iluminando os três alunos sentados no sofá, adormecidos. Isis parou em frente a eles e cruzou os braços. Com um estalar de dedos, as chamas rugiram atrás dela, despertando os adolescentes de forma ríspida e, de quebra, alimentando a inclinação latente da bruxa pelo drama.

— O amigo de vocês resolveu passar a noite sob as estrelas. — Isis jogou a varinha de Killian no colo de um dos quintanistas e encarou o grupo por alguns segundos, enviando um alerta silencioso de "fiquem longe de mim". — Tenham uma boa noite.

Notas

♥ E passamos dos 500 views ♥ Na verdade, estamos quase chegando aos 600. Como prometido, teremos mais um capítulo pela frente e um vídeo novo (que serão postados daqui a uma hora, depois de eu responder todos os comentários)! O que acharam dessa interação com o Filch? O coitado quase teve um infarto. E o que será que passou pela cabeça do Snape quando a Isis comentou sobre os "castigos"? Confesso que ri muito enquanto escrevia. E ainda teve um momento de desabafo entre os dois, mas o morcego não perdoa rsrs

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