Eu, Você e o Natal - Contos i...

By TonyFerr

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Uma coletânea de 8 contos de amor com a magia do natal! More

Apresentação
Conto 1 - Amigo Secreto - Tony Ferr
Conto 2 - Desembrulhando no natal - Adriana Igrejas
Conto 3 - O fim? - Laury Alves
Conto 4 - Presente de Natal - Rô Mierling
Conto 5 - Natal preto e branco - Joice Lourenço
Conto 6 - Mais do que a liberdade - Sheila Lima Wing
Conto 7 - Salvos pelo Amor: em noite de Natal - Juliane Rodrigues
Biografias

Conto 8 - Enquanto você dormia - Dill Ferreira

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By TonyFerr

Enquanto você dormia

Dill Ferreira

 

 

Carolina retornava cansada do trabalho naquela noite. Era a semana em que se comemorava o Natal e sendo ela vendedora em uma loja de eletroeletrônicos, seus dias estavam bastante agitados.

Caminhava tranquilamente para casa, depois de descer do ônibus, quando de repente ouviu um tiro, outro e mais um. Preocupada, ela correu para tentar se proteger. Soubera que naquelas semanas haviam mudado para a região algumas pessoas suspeitas de envolvimento com o tráfico. Certamente travavam confronto com a polícia que descobrira a boca de fumo, acreditou assustada.

De repente, começaram a chover tiros e ela não sabia mais para onde correr. Desesperada, apressou os passos e, quando chegou à esquina, desorientada, em busca de abrigo, topou de forma violenta contra um poste.

No chão, ainda desnorteada pelo choque, Carolina olhou para cima e viu um homem fardado a sua frente, olhando-a preocupado. Ela havia se chocado contra ele, não um poste, como pensara.

— Você está bem? — Ela fez que sim com um movimento de cabeça. O homem parecia muito alto e segurava um fuzil na mão. — Me desculpe, mas não a vi. Está acontecendo um tiroteio agora, moça. É muito perigoso andar uma hora dessas em um local como este, sabia? — Ele falava com firmeza, mas Carolina percebia que a repreensão era para seu bem.

— Estou voltando do trabalho agora e nunca imaginaria presenciar isso. — Ela parecia alarmada, o que deixou João Augusto penalizado.

— Venha! Vou te dar escolta até sair dessa zona de risco. — Carolina levantou-se. Ainda sentia as pernas bambas. Os tiros haviam cessado, mas ela não sabia até quando.

Assim que ela ficou em pé, ouviu-se um estrondo e Carolina foi jogada ao chão novamente com certa violência. A respiração agitada e o tremor aumentaram ainda mais quando ela se viu sob o corpo firme de homem. Haviam caído desajeitados e um acabou ficando sobre o outro.

— Me desculpe! — O policial disse olhando-a com certa intensidade. Mas logo uma ruga surgiu em seu rosto ao perceber que ela ficara imóvel.  — Aconteceu alguma coisa? Alguma bala te atingiu? Você se feriu? — Ele perguntou preocupado olhando-a de cima a baixo, conforme as possibilidades permitiam.

— Não, eu estou bem.  — Conseguiu pronunciar aquelas poucas palavras diante do olhar curioso e às vezes frio.

— Certo! Então se levante devagar e vamos recomeçar tudo de novo, ok? — Ela assentiu e fez o que ele ordenara. — Vamos tentar ir até lá. — Ele indicou, enquanto ambos levantavam-se para recomeçar a caminhada.

— Tudo bem! Embora eu resida para o outro lado. Irei para onde me indica. — Carolina foi escoltada até o outro lado da rua. O silencio reinava a ponto de ela poder ouvir o ruído do vento que agitava seus longos cabelos, fazendo uma linda onda negra, que fora capaz de chamar a atenção do comandante, mesmo ele estando sob alerta constante.

— Vou levá-la até aquela mureta ali. — Apontou com a arma. — Peço que fique lá enquanto for seguro. E nada de correr caso ouça tiros. Fique escondida e só saia quando eu der a autorização, entendeu? — Ele a olhava tão intensamente que Carolina sentiu seu coração acelerar, sem saber se era o efeito daqueles olhos negros e intensos, ou porque teria que ficar sozinha a partir dali.

— Eu entendi, obrigada! — Concluiu com a voz baixa.

— Siga do meu lado, mais a frente. — Ela lhe obedeceu e, quando finalizavam o percurso ouviu-se o som de um tiro. Carolina correu na tentativa de se proteger e não atrapalhar o militar de também fazê-lo.

Quando chegou e viu que não era acompanhada, Carolina olhou para trás aterrorizada. O policial estava caído logo atrás. Desesperada ela foi até ele.

— Meu Deus! — exclamou ao perceber o sangue jorrando da cabeça dele. — Fala comigo, por favor! — Desesperada ela tocava no rosto abatido, sentindo a umidade quente do sangue correndo por seus dedos. — Não morra! — O militar estava gravemente ferido e tudo porque a estava protegendo. Precisava fazer algo para ajudá-lo. Carolina buscou na roupa dele algo que lhe desse uma direção.

— Calma moça! — A mão firme cobriu o pulso dela. — Não se apavore ou tornará tudo ainda pior. Pegue o rádio que tem no meu bolso traseiro e chame pelo socorro. — A voz sumida demonstrava que ele fazia enorme esforço para orientá-la.

— Certo! — Carolina fez conforme ele disse e pegou o aparelho. — Socorro! Tem um policial baleado aqui. — Enquanto falava, ela olhava para ele, que a observava aparentemente calmo. Ouviu-se um barulho na linha, o que a animou.

— Quem está baleado, moça? Como chegamos onde estão? — perguntou a atendente do outro lado.

— É o tenente Rocha — falou depois que leu a informação na camisa dele. — Houve um tiroteio aqui. Ele está ferido na cabeça e precisa de socorro com urgência. — Ela ainda terminava a frase quando o viu virar o rosto para o lado e sua respiração ficar mais lenta. — Por favor, rápido! Ele não resistirá muito.

Com os olhos marejados, ela ainda conseguiu descrever o local e, assim que deixou o rádio no chão, arrastou-o para um canto e ali ficou ao lado dele, na esperança de que o socorro chegasse logo.

Pouco depois, uma viatura do SAMU se aproximou com sua costumeira sirene ligada e começaram o resgate do policial.

— Eu gostaria de acompanhar, posso? — Carolina sentia-se na obrigação de ajudar de alguma forma. Fora para defendê-la que o tenente acabou sendo atingido.

— Pode ir. Dessa forma poderá nos ajudar a esclarecer como aconteceu isso. — respondeu o socorrista.

No hospital, um policial fez algumas perguntas para Carolina e, após finalizar as burocracias a liberou para ir embora. Porém, algo a impedia de partir e não conseguiu arredar o pé sem ter notícias do militar. “Espero que tudo se resolva. Eu ficaria muito chateada se o bem perdesse mais essa batalha”, pensou pesarosa.

Horas se passaram e Carolina começava a se arrepender por ter ficado ali. Suas pernas inchadas e o corpo totalmente dolorido diziam que ela teria um dia de cão no trabalho. Poderia ter ido descansar um pouco e voltar depois. Mas agora esperaria até o fim.

Para sua satisfação, logo um médico veio dar informações.

— Fui informado de que a senhorita aguarda notícias do policial baleado. — Carolina assentiu e ele prosseguiu. — Ele se encontra estável e acabou de entrar em coma induzido. Tivemos êxito na cirurgia e conseguimos retirar a bala, sem grandes transtornos. Agora dependerá dele.

— O senhor acredita que ele ficará bem? — perguntou apreensiva.

— Ainda não podemos afirmar nada, moça. Se haverá alguma sequela ou não, só saberemos quando ele acordar. Esperamos que não. Embora as chances sejam grandes. — Carolina olhou para o nada enquanto o médico se afastava. “Ele me pareceu tão jovem e cheio de vida. Espero sinceramente que fique bem e nada de mais complicado aconteça.”

Não havia muito que fazer ali naquele momento e Carolina precisava descansar. O dia seguinte seria corrido na loja. Voltaria quando tivesse um tempinho após o horário de almoço, para ter notícias do tenente João Luiz Rocha. Soubera o nome dele através do policial com quem falara.

Já em casa ela tomou um rápido banho e após se alimentar foi direto para a cama. Estava muito cansada e logo adormeceu desejosa de boas notícias.

Embora a correria tomasse todo o tempo de Carolina, ainda assim, por diversas vezes, entre um intervalo e outro de um atendimento, ela se pegava pensando no militar. Estava preocupada com ele e com o que poderia acontecer. Dentro de duas horas iria visitá-lo e uma euforia misturada a angústia, começava a rodeá-la. Queria vê-lo e saber se houve evolução em seu quadro. Mas havia também o receio de que descobrisse que ele não seria mais o mesmo homem. Que ficaram sequelas definitivas.

Carol estava na porta da UTI, receosa. Não sabia se entrava ou corria dali. Estava com medo de algo, embora não soubesse o que era. A enfermeira de plantão havia lhe dito que ele continuava sem reações. Mas que ainda era considerado normal, devido ao trauma.

Ela tocou na maçaneta fria da porta e abriu um pouquinho para ver o interior do leito. Ele estava da mesma forma que o deixara. Inerte, pálido e extremamente belo. Com cuidado, abriu um pouco mais e entrou no ambiente frio. Com passos lentos, aproximou-se de onde ele estava. Parecia um anjo repousando.

— Boa tarde, tenente! Espero que esteja melhor hoje. — Carolina tinha um sorriso amarelo na face. — Disseram-me que uma pessoa no leito de uma UTI pode ouvir tudo o que lhe disserem. Então quero te pedir que volte, não desista da vida. Peço também desculpas por tê-lo colocado naquela situação. Talvez, se eu não tivesse aparecido, estaria bem agora. Eu sinto muito, mesmo. — Uma lagrima teimosa rolou pela face branca de Carolina. Estava chateada por ver um homem tão jovem naquela situação vegetativa. Havia tanta vida e determinação nele quando o encontrou. Não podia terminar daquela forma.

— Como eu vou me sentir segura ao passar por aquela rua se você não voltar mais lá? — O desabafo deixou-a ainda mais emocionada.

Lentamente ela alcançou a não dele e entrelaçou a sua nela. Estava fria, mas Carolina tinha a esperança de que voltasse a ter o mesmo calor que sentiu quando ele a puxou para o chão no dia anterior. Olhava penalizada a face abatida, quando sentiu um leve aperto em sua mão. Assustada, olhou para baixo e viu mais um discreto movimento. Ele estava se comunicando com ela.

— Se puder me ouvir, quero dizer que gostaria muito de vê-lo se levantando dessa cama. Então faça o melhor que puder e colabore, tá? Agora depende muito de você. — Carolina permaneceu por mais alguns instantes observando as mãos entrelaçadas, mas nenhum movimento se fez. Por mais meia hora, ela ficou ali em um monólogo constante, falando para ele sobre os últimos acontecimentos, até que chegou o momento em que precisava partir, o que ela fez da mesma forma sorrateira de quando entrou.

Do lado de fora do quarto, ela ajeitou os cabelos e seguiu para o batente. Precisava correr ou chegaria atrasada.

A véspera do Natal estava agitada. A loja cheia demonstrava que Carolina não conseguiria dar uma fugidinha para visitar o novo amigo. Nem almoçar ela pôde direito. Deixaria para visitar João Luiz à noite. Sabe-se lá que horas. Mas ela iria até o hospital assim mesmo.

Passava das 23h quando conseguiu chegar ao hospital. Conforme acreditou, as funcionárias não colocaram dificuldade, liberando a visita. Antes, porém, soube da visita de uma velha senhora ao neto naquele dia, o que a deixou feliz por ele.

Novamente Carolina entrou no quarto sorrateiramente. Sentia-se tímida em estar ali com um estranho. Mas a necessidade em fazê-lo era maior e ela preferia aquela sensação de estar se intrometendo onde não era chamada, do que não ir até lá. No leito, o jovem militar permanecia estável. A ponto de ela chegar a duvidar se realmente ele mexera a mão, ou fora sua imaginação que criara tal situação. Certa ou não do que vira e sentira, Carolina se aproximou novamente e, após tocar delicadamente a face do rapaz, sentou-se em uma poltrona próxima dele.

— Olá, João Luiz! Estou aqui novamente. Eu trouxe um presente para você! — Ela apontou para a embalagem belamente decorada. — É uma coleção de CDs do melhor dos anos 80. Eu soube que você curte muito o estilo. — Carolina encostou a embalagem na mão dele sobre os lenções para que sentisse o pacote. Espero que goste. Deu um trabalhão encontrar nas lojas onde tive tempo de ir. — Embora soubesse que falava sozinha, ainda assim ela se sentia feliz por fazê-lo. — Sabe, seria muito bom se conseguisse dizer pelo menos um “olá” hoje. Seria um lindo presente de Natal para mim e sua vó. — Carolina falou esperançosa. — Você conseguiria me dar esse presente, João Luiz? — A resposta não veio. Ela sabia que precisava ter paciência. — Tudo bem, eu entendo que precisa do seu tempo. Mas me faça um favor, volte assim que puder, tá? — Pediu tocando no rosto dele. — Eu preciso ir agora, já é muito tarde. Em poucos minutos já será natal. Mas prometo que volto para te ver mais tarde. — Ela foi até ele e deu-lhe um beijo na face. Quando se afastava viu dois grandes olhos negros observando-a. Um misto de alegria e insegurança se apossou dela.

— Olá! — disse ele com voz fraca, olhando-a intensamente.

— Puxa! você assustou-me! — O coração acelerado a impedia de raciocinar corretamente.

— Mas eu não fiz nada. — Ele ficou mais corado e seu sorriso amarelo pareceu aos olhos de Carolina a oitava maravilha do mundo.

— Você fez sim. Fez brotar a esperança em muitas pessoas — falou com ternura.

— Que bom! Fico feliz por distribuir coisas boas por aí. — Mesmo aparentando cansaço João Luiz sentia uma necessidade extrema de conversar com aquela jovem. — Você está bem, não aconteceu nada com você? — Como ele podia estar preocupado com ela depois de quase morrer. Carolina ficou ainda mais tocada.

— Graças a você, eu estou sim. — Seus olhos ficaram marejados. Acontecia um milagre a sua frente. O tenente acordara em curto tempo e ainda parecia não haver qualquer sequela do acidente.

— Fiz o que era minha obrigação — disse educado.

— Ainda assim eu lhe agradeço muito. Sou Carolina! — Os olhos se encontraram novamente e não conseguiram desviar um do outro. Pareciam ligados por alguma magia natalina. Ela desejou falar, mas só conseguia observá-lo. Tinha medo de desviar seus olhos e ao retornar, os dele já não estivessem mais abertos.

— Foi um prazer para mim — respondeu ele. Carolina lembrou-se do presente e o ergueu para que o visse.

— É para você, Feliz Natal! — Ela o abriu e viu a satisfação nos olhos dele.

— Prometo retribuir à altura, assim que puder — agradeceu ele. — Tive a impressão de que estava de partida. Não vá ainda! — suplicou necessitado da presença dela.

— Pensei que não acordaria, por isso o deixaria em paz por hoje. — Ela sorriu envergonhada.

— Então não me deixe. Sente-se aqui e me conte como tudo aconteceu e claro, sobre você também. — Ele a convidou apontando o outro lado do leito. — Quero te conhecer mais. — Carolina obedeceu e feliz juntou-se a ele e relatou partes de sua vida e, por vezes ouvia alguma coisa sobre ele. Em alguns momentos ficavam em silêncio para que ele descansasse um pouco. Quando João Luiz se sentia melhor, fazia seus questionamentos. Estava muito interessado em saber mais daquela linda jovem que o destino tratou de colocar a sua frente.

— Nossa! O dia já está clareando e eu nem percebi. — Carolina falou olhando para a janela que mostrava o raiar do novo dia.

— Essa foi a melhor noite de Natal que tive em toda minha vida. — O comentário dele encheu a jovem de esperança.

— O meu também! — O clima ficou caloroso entre eles até que Carolina mexeu-se na cama para aliviar a dor que sentia na coluna.

— Deve estar cansada. Embora eu deseje muito que fique um pouco mais! Vejo que precisa descansar.

— É verdade, estou mesmo precisando de um repouso. — A grande olheira dela mostrava que sim. Não poderia negar.

— Então vá e volte quando puder. — Havia mais que um até logo na voz dele. João Luiz queria suplicar que voltasse o quanto antes. Ele precisava daquele conforto para se restabelecer logo. — Carolina ergueu-se e após beijá-lo na testa, tocou suavemente na mão dele.

— Quando você retorna? — quis saber João Luiz com medo da resposta.

— Todos os dias em que precisar de mim — falou Carolina depois de abrir a porta.

— Então, prepare-se! Pois acredito que serão muitos — respondeu João Luiz, com um brilho intenso nos olhos.

— Será um prazer para mim. — Ela o presenteou com o mais terno sorriso e partiu.

 Eles não sabiam, mas aquele encontro fora programado. A continuação dele só dependeria de ambos colaborarem.

Fim

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