A minha Mulher
Ils trébuchent, encore ivres du paradis. (Tropeçam, ainda ébrios do paraíso.)
–V. HUGO, L’ART D’ÊTRE GRAND-PÈRE.
Quando eles vêm saltitantes
Como – entre os floridos ramos –
Os colibris doudejantes
E os travessos gaturamos,
Dizer-me as cousas mimosas
Que Deus ensina às crianças,
Cousas tecidas de rosas
E bordadas de esperanças,
Frases, pipilos, blandícias,
Intraduzíveis harpejos,
Que tentam como carícias
E seduzem como beijos:
Sinto-me bom, compassivo,
Grande, forte, entusiasta;
Sinto que existo, que vivo:
Sinto-me alegre e me basta.
Pois esses brancos Amores
Alívio dos meus martírios,
Que afogam as nossas dores
Numa cascata de lírios,
Essas aves saltitantes,
Esses mimos, esses brilhos,
São nossos beijos errantes,
Cecilia! – são nossos filhos.
Luís Guimarães Júnior (1847-1898)
Sonetos e Rimas
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Imagem: Peder Mork Monsted, 1894