O leito - Teófilo Dias

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Mares, de espúmeo albor de [rendas revestidos!
Vagas, cheias de aroma, e de [torpor fecundas!
Para a febre lenir que [esvaira-me os sentidos,
Quero nestes lençois [mergulhá-los, vencidos,
Num mar de sensações [letárgicas, profundas!

Aqui, de regiões opostas, [climas vários
Vieram se encontrar, por [diversos caminhos,
Para depor, fieis, submissos [tributários,
Os prodígios do gosto, [árduos, imaginários,
Em perfume, em cetins, em [sedas, em arminhos.

Despenhado do teto, em [turbilhão se entorna,
Muda, imovel cascata, a [cortina nitente,
Derramando no ar uma [preguiça morna,
Que os músculos distende e [os nervos amadorna
Em intima volúpia, estranha, [inconciente.

Repassa, embebe a alcova, [em toda a plenitude,
A emanação sutil, que [enleva, que extasia,
De um corpo virginal e cheio [de saúde,
Grato eflúvio do sangue, em [plena juventude,
Que do olfato a avidez [satura, e não sacia.

Perfumados lençois! vós sois [as brancas tendas,
Onde, árabes do amor, meus [vagos pensamentos
Nas solidões da noite ouvem [estranhas lendas,
Enquanto sob um céu [enublado de rendas
Enerva-me o luar de uns [olhos sonolentos.


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Teófilo Dias de Mesquita (1854-1889)
Poeta parnasiano brasileiro.

Belos Poemas.  Coletânea Where stories live. Discover now