Amor Maluco

Galing kay alicejfsilva

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Apesar de crescer com a fama, Malu sempre procurou levar uma vida tranquila, morando em Hills City, uma peque... Higit pa

Aviso
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Parte 2 - Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
Capítulo 86
Capítulo 87
Capítulo 88
Capítulo 89
Capítulo 90
Bônus Mike
Capítulo 91
Capítulo 92
Capitulo 93
Capítulo 94
Parte 3 - Capítulo 95
Capítulo 96
Capítulo 97
Capítulo 98
Capítulo 99
Capítulo 100
Capítulo 101
Capítulo 102
Capítulo 103
Capítulo 104
Capítulo 106
Capítulo 107
Capítulo 108
Capítulo 109
Capítulo 110
Capítulo 111
Capítulo 112
Capítulo 113
Capítulo 114
Capítulo 115
Capítulo 116
Capítulo 117
Capítulo 118
Capítulo 119
Capítulo 120
Capítulo 121
Capítulo 122
Capítulo 123
Capítulo 124
Capítulo 125
Capítulo 126
Capítulo 127
Capítulo 128
Capítulo 129
Capítulo 130
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 105

971 112 358
Galing kay alicejfsilva

Enrosco os dedos no meu cabelo com força, após fechar a tela do meu notebook sem paciência. Não acredito que isso está acontecendo.

- Você devia imaginar que algo assim aconteceria - meu pai diz, do outro lado da mesa do seu escritório de casa.

- É, eu sei. Mas aconteceu, a cirurgia vai ter que acontecer de qualquer forma.

Eu e meu pai - que é meu empresário -, acabamos de sair de uma reunião por chamada de vídeo com os meus gestores de imagem. Eles não estão nenhum pouco felizes com a notícia da minha cirurgia e agora todo mundo sabe que eu voltei para Hills, me fazendo correr o risco de atrair paparazzis para buscarem mais informações e me perseguirem.

Estão surgindo várias notícias falsas sobre mim, o que são aceitáveis por causa que vazaram fotos minhas no dia que fui para a boate no início do mês. O que fez todo mundo questionar minha lesão, acham que estou fingindo para não ter que jogar. Afinal, posso sair para uma noitada, mas não posso jogar? Nem todo mundo está sabendo da nova lesão que eu consegui, preciso esclarecer para os fãs antes de qualquer coisa.

A gestão está furiosa comigo por ter saído naquela noite, não mais do que eu estou comigo mesma. Claro.

- É melhor você contar tudo no seu instagram e apenas ignorar esses comentários, acredite quem quiser. Sua cirurgia acontece daqui a pouco.

- Tem razão - mordisco meu lábio, pensativa. - Vou fazer isso agora.

- Não vai falar algo que te comprometa - meu pai se levanta. - Vou te deixar sozinha.

- Está bem - me estico para pegar meu celular no canto da mesa.

Assim que ele sai, eu entro na minha conta do instagram e me preparo para gravar os stories esclarecedores. Faz tempo que não apareço aqui, com certeza isso vai atrair a curiosidade das pessoas. Não demoro mais que cinco minutos para gravar e postar tudo, agora só me resta esperar que a notícia oficial se espalhe por completo.

Manobro a cadeira de rodas para fora do escritório do meu pai. Assim que chego no corredor começo escutar vozes vindo da sala.

Ao chegar lá, me deparo com meu irmão mais velho e meus pais conversando. É esquisito pensar que Johnny não mora mais aqui, apesar de suas visitas serem constantes, bom, pelo menos desde que cheguei. É bom que ao menos um de nós ainda tenha tempo de vir e uma curta distância.

- Alguém parece estressada? - pergunta de forma provocativa.

- A fama é um saco - resmungo. - E as pessoas que elas atraem mais ainda.

Eles dão risada, ao menos alguém acha isso engraçado.

A fama é complicada. Tem proporções negativas e positivas, ambas com a mesma imensidão. Ainda tenho sorte em dizer que nasci com ela, pude crescer com isso e me acostumar. Claro que depois do futebol, as coisas triplicaram de uma forma veloz e absurda.

- É bom te ver aqui - me aproximo dele. - Mas sabe que estamos de saída, né?

- Sei, sua cirurgia é daqui a pouco - checa o relógio em seu pulso. - Melanie também queria muito vir, mas ficou presa em um ensaio.

- Você já está pronta? Já podemos ir - meu pai avisa.

- Sim - olho para mamãe. - E o Peter?

- Tô aqui - escuto seus passos na escada. Um segundo depois ele surge com a cara enfiada no celular. - Vocês já estão indo?

- Sim.

Ele finalmente larga o celular e se concentra na conversa, vindo em minha direção.

- Vai dar tudo certo - beija minha bochecha. - A mãe vai avisar depois que você sair da cirurgia, e Johnny e eu iremos te visitar.

Faz sentido, John veio para ficar de babá do Peter. Não que ele realmente necessite, esse garoto é muito comportado.

Recebo fortes abraços dos meus dois irmãos, em seguida partindo rumo ao momento que mais tem me apavorado nos últimos dias. A discussão que tive com os gestores hoje não ajudou muito, parece que tudo vai dar errado de alguma forma. Não sei o que vai acontecer se eu ficar tantos meses sem jogar, odeio admitir que isso vai ser prejudicial para minha carreira. Nós, mulheres jogadoras, precisamos de muito esforço para alcançarmos sucesso nesse ramo. E agora que finalmente consegui, estou colocando tudo a perder.

Cada vez que nos aproximamos mais do hospital, mais me sinto assustada e aflita. Não devia ter tido essa reunião justo hoje, já estava nervosa o suficiente.

Mesmo meus pais parecem preocupados, já que não disseram uma única palavra durante todo o trajeto. Minha mãe tem pavor de lesões no joelho, e, apesar de não dizer em voz alta, imagino que passe pela sua cabeça a hipótese de que pode ser o fim para mim. Se minha principal profissão fosse o ballet, já poderia dizer adeus com certeza. Nenhuma companhia estaria interessada em mim. Tudo estaria acabado. Se com Isabella isso quase aconteceu anos atrás com uma lesão bem mais simples do que a minha, imagina só. 

Será que nunca mais vou poder dançar também?

Sei que o doutor Carter me disse que eu poderia voltar para os campos, mas será mesmo que será como antes? Terei o mesmo desempenho? As mesmas habilidades? Facilidade em correr tão rápido e driblar ao mesmo tempo? E dançar? Subir em uma sapatilha de ponta novamente?

Deveria parar de pensar nisso, mas sei que não vai acontecer até o momento que eu for apagada pela anestesia.

A cada pessoa que entra no meu quarto de hospital, penso que a hora chegou. Não tenho mais unhas, apenas mãos extremamente avermelhadas e com bolinhas de sangue pela quantidade de vezes que as esfrego com força.

- Olá? - ergo minha cabeça na direção da porta imediatamente.

Meus ombros ficam ainda mais tensos ao ver que se trata de um médico. Não qualquer médico, inclusive.

- É agora?

Mike entra no quarto, ajeitando seu estetoscópio envolto no pescoço.

- Não, não deveria nem estar aqui. Dei uma escapada para poder falar com você antes da cirurgia - seus passos são cautelosos conforme se aproxima.

É esquisito. Faz cinco dias desde que conversamos, desde então não nos falamos. Sei que uma das razões é o fato de seu trabalho exigir muito tempo, mas me pergunto se não existe outro motivo protagonista.

- Sei que não nos falamos mais desde domingo e... nós prometemos recomeçar como amigos, mas nem mesmo conseguimos olhar um para o outro sem sentir um peso no clima.

- Pensei que seria mais fácil - controlo meu gesto ansioso de torcer as mãos ao notar que Mike focou seus olhos nela. - Você quer falar sobre alguma coisa? Desculpa, não é um bom momento.

- Eu sei, por isso estou aqui.

Prendo a respiração quando Mike, enfim, chega na lateral da cama e se senta ao meu lado.

- Esse é o momento que eu deveria dizer que estou me cagando de medo?

Mike sorri, olhando para a parede branca e vazia diante de nós.

- Só se você quiser.

- Ok. Eu estou me cagando de medo.

- Já havia percebido isso assim que coloquei meus olhos em você.

- Ah, você é realmente ridículo - empurro ele com o ombro. - A verdade é que eu estou com medo de não estar estilosa o suficiente nesse traje sofisticado de hospital.

Desço meus olhos para o tecido azul, sem nenhum corte específico.

Mike consegue rir da minha piada, espero que ele não perceba que estou usando o senso de humor como forma de distração.

- Não se preocupe, você dificilmente não ficaria bem em algo.

Coço meu nariz para disfarçar o sorriso involuntário que dominou meu rosto.

- Acho que posso sair tranquilamente com isso para um evento grandioso.

- Certamente lançaria uma nova tendência.

Solto uma risadinha pelo nariz, imaginando a situação ridícula.

- Não. Desculpa. Não deveria fazer piadas agora, você está tão nervosa e eu aqui.

- É bom, me distrai - nós dois olhamos para minhas mãos, tento esconder discretamente a região ferida.

- Isso é um tanto inadequado - Mike olha para a porta. - Você é uma paciente vip e eu estou aqui sentado na sua cama, bem diferente da postura de um profissional.

- Não é como se fossemos apenas médico e paciente - mordo meu lábio ao pensar.

- É, não mesmo - ele se levanta, checando o relógio em seu pulso. - Minha mãe, sua cirurgiã, já deve estar a caminho com a anestesista.

Aperto o lençol da cama sem que ele veja.

- Só queria dizer que vai dar tudo certo e em alguns meses você vai estar encantando o mundo por aí novamente. E... - Mike se volta para mim, pegando minhas mãos e as segurando entre as suas. Passando seus polegares levemente na região sensível e avermelhada. - Você vai vencer tudo isso.

- Será mesmo?

- Eu posso garantir - Mike beija minhas duas mãos com paciência. - Preciso ir, não quero que me flagrem aqui. Além do mais, tenho que voltar para o meu consultório.

Fico sem reação nos primeiros segundos, seu gesto foi tão doce que perdi os sentidos.

- Obrigada.

Mike sorri por cima do ombro antes de sair e me deixar um pouco mais calma.

Um minuto depois de sua saída, vieram me medicar para a cirurgia. Mas eu estava tão distraída pensando nele que nem me dei conta de como fui perdendo os sentidos lentamente.

- Tá pronta? - Dona Haydee sorri, mas não consigo focar muito.

- Não.

Escuto as duas darem risada conforme minhas pálpebras começam a pesar até se fecharem por completo.

Sinto uma ardência irritante assim que abro os olhos, mesmo estando em um ambiente totalmente escuro.

Passo as mãos pelo meu rosto e cabelo, tentando me despertar por completo. É quando sinto uma sensação esquisita no joelho direito e me lembro da cirurgia.

Me sento com cautela, vendo que minha perna está apoiada em uma espécie de aparelho que a sustenta e a deixa elevada. Já era? Caramba, parece que eu apenas pulei o tempo. Há um minuto atrás eu estava aqui morrendo de medo e no outro já sai da cirurgia.

Não dói nem nada do tipo, mas é um pouco incômodo. Imagino que vou ter longos meses até cicatrizar o corte e o meu corpo se adaptar ao novo LCA.

Escuto alguém se mexer ao meu lado, na poltrona reclinável que estava aqui perto.

- Você dormiu bastante.

- Mãe? - consigo visualizar a sombra do seu rosto, estou me acostumando com o escuro do quarto.

- Como está se sentindo? - ela se levanta e acende o abajur, arrumando o travesseiro para eu me sentir mais confortável.

- Remendada?

- Melhor ficar quietinha, está doendo alguma coisa?

- Não exatamente, só um pequeno incômodo no joelho.

Arrumo minha postura contra o travesseiro, passando meus olhos pelo quarto. Vejo uma cesta de doces na mesa ao lado e alguns buquês de flores.

- De quem são?

- De todos as pessoas que se importam com você - mamãe afasta meus cabelos do rosto. - Ficaram aqui o dia todo, mas o horário de visitas não se estende até a madrugada. Só um familiar pôde ficar.

- Que horas são?

- Deve ser quase três da manhã.

Ergo minhas sobrancelhas em choque.

- Espera, eu fiquei o dia todo dormindo?

- Sim, sua cirurgia foi um pouco longa e tiveram que aumentar a dose na sua anestesia. Mas foi um sucesso.

- Mesmo? - relaxo um pouco mais.

- Sim. Quer comer alguma coisa?

- Não, tô um pouco enjoada. Você deveria ir dormir, eu estou bem, mãe.

- Todo mundo foi embora, não vou te deixar sozinha. Seu pai não queria ir, mas precisava ficar com o Peter para o seu irmão ir trabalhar. Acho que...

Ela para de falar, ponderando.

- Acha o quê?

- Que Mike é o único que ficou, cumpriu seu horário de trabalho e veio direto pra cá.

- Ele está aí?

- Imagino que sim - sorrio discretamente. - O que aconteceu pra essa mudança repentina?

- Bem, nós conversamos e esclarecemos tudo.

- Então vocês estão juntos?

- Vamos com calma, dona Isabella - coloco minha mão em seu ombro. - Estamos tentando restaurar a amizade.

- Isso é uma excelente notícia, filha. Vocês eram tão... parceiros. Espero que possam voltar ao que eram.

- Acho que eu também.

Minha mãe sorri com doçura, está realmente contente de uma forma genuína por ter resolvido meu problema com Mike. Deve imaginar que agora não vou mais fugir. Na verdade, nem tive tempo de pensar sobre isso ainda. Se vou ou não vou embora na próxima semana.

- Tudo bem, peguei minha deixa. Vou chamar seu amigo. Acredito que ele possa entrar já que não é exatamente um visitante e sim seu médico.

- Ah, faça-me um favor, Isabella - mamãe gargalha, indo em direção a porta.

- Fiquei de mandar mensagem pro pessoal depois que você acordasse. Depois eu volto.

Respiro fundo repetidas vezes, me sentindo uma idiota por estar ansiosa.

Quando será que poderei andar novamente? Ou mesmo apenas dobrar o joelho? Acho que já passei pela pior parte, só me resta esperar com paciência. Vou me esforçar ao máximo na fisioterapia para conseguir me recuperar o mais rápido possível.

Tenho tantas perguntas sem respostas na minha cabeça, só o tempo me dirá.

- Como vai minha paciente favorita?

Tiro meus olhos do joelho e foco em Mike se aproximando. Diferente de mais cedo, não está usando seu jaleco branco, agora ele exibe uma calça preta e camisa social azul, parecendo levemente amarrotada. Acho que roupas formais o favorecem bastante, não estou tão acostumada a vê-lo com esse estilo. Com certeza lhe cai muito bem.

- Todos os médicos são falsos assim?

- Me senti profundamente ofendido - seu sorriso nos lábios me diz o contrário. - Como você se sente?

- Estranha, mas acho que bem. Na medida do possível. Você que deveria ir dormir, sério, daqui a pouco vão te confundir com um zombie.

Estico meus braços para tentar arrumar seu cabelo extremamente bagunçado.

- Olha só que bagunça - comento, ainda passando meus dedos pelos seus fios cor de caramelo. - Você tem que ir dormir, Mike. Sabe que não precisava ficar aqui. Ainda mais quando você tem trabalhado tanto.

- Estou acostumado com essa rotina.

- Ok, mas senta ai. Pode deitar, minha mãe não vai se importar - empurro ele até cair sentado na poltrona reclinável. - Agradeço pela sua preocupação, de verdade.

- Não posso evitar - ele apoia seu rosto abatido no encosto, olhando para mim.

É visível o quanto ele está exausto e sobrecarregado. Mike poderia ter ido embora descansar, mas ao invés disso escolheu ficar a noite inteira em um corredor frio me esperando acordar.

- É tão esquisito pensar que há algumas semanas eu achava que você era um babaca e agora vejo o quão adorável e incrível você é. Contínua sendo.

- Acho que já tô sonhando.

Um sorriso brinca em meus lábios, gostaria de poder me virar por completo. Mas com a tipóia segurando minha perna fica impossível. Apenas me remexo um pouco, o suficiente para olhar em seus olhos brilhantes e cansados.

Ele mexe tanto comigo, é assustador. Parece ser ainda pior do que antes, mas tenho razão em não entrar em um relacionamento agora. Iria estragar tudo com todo o meu lado problemático. Preciso mesmo me curar para não acabar o machucando mais.

- Dorme - coloco minha mão em seu cabelo macio novamente, fazendo um cafuné para o incentivar a dormir. - Não quero você caindo de sono enquanto atende seus pacientes.

- Uma parte minha quer dormir, mas a outra, a mais resistente, quer aproveitar esse tempo com você.

Porque eu vou embora. Não importa se daqui uma semana ou seis meses, de qualquer forma eu vou ter que ir algum dia. Minha vida não é mais em Hills.

- Não vai ser como nesses quatro anos - garanto.

Mike ergue sua mão, tirando a minha de seus cabelos. Olho para nossas mãos enquanto ele entrelaça nossos dedos com delicadeza e receio. A energia entre nós parece quase visível. Não sou idiota de pensar que não existe nada além de amizade, é nítido que é muito mais que isso. Só não posso agora.

Mas, nesse momento, acho que preciso desse sentimento pelo menos um pouco.

- Essas são suas? - pego o buquê de margaridas.

- Você ainda não viu todos os cartões? - Alex cruza os braços, fazendo Carlos sorrir enquanto a olha como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.

- Vi, eu dou valor aos meus presentes! - aproximo as flores do meu rosto, inalando o cheiro agradável que elas exalam.

- E de quem é essa cesta enorme de doces? - os olhos de Carlos brilham ao se aproximar.

Dou um tapa em sua mão antes que ele possa alcançar a cesta.

- Você ainda pergunta? Olha para a pelúcia do M&M vermelho - Alexsandra me olha de escanteio.

A verdade é que ainda não falei com ninguém sobre a conversa que tive com o Mike no início da semana, acho que queria guardar o momento só para mim por mais alguns dias. Mas parece que a fofoca já correu. Peter sabia porque eu o avisei que estava indo na casa dos Collins, e, bem, o Peter deve ter contado para o Johnny, que contou para a Mel, depois foi para a Alex, Carlos e por aí vai, até todo mundo estar sabendo.

- Ainda não falamos sobre isso.

- O importante é que não existe mais desavenças - digo.

- Qual é, Ma? - Carlos faz bico. - Precisamos saber da fofoca completa, com detalhes e clareza.

- Eu não vou dar detalhes, foi um momento... nosso.

- Caramba, nossa, calma, respira - Alex coloca a mão sobre o peito. - Carlos Eduardo, me segura.

- Te segurar o quê, me segura você porque eu vou desmaiar.

Reviro os olhos da cena que os dois estão fazendo, sem dúvidas eles são o casal idiota perfeito.

- E o que é agora?

- É o quê?

- A relação que você tem com o Mike.

- Nada. Só estamos na paz, talvez sejamos amigos novamente, algum dia. Quem sabe?

- E se...

Antes que Carlos possa concluir seu raciocínio, a porta do quarto se abre bruscamente e uma baixinha ruiva entra correndo, vestindo seu uniforme escolar composto por saia, gravata, camisa e blazer.

- Malu!

- Ei, baixinha, quanta saudade - abro meus braços para recebê-la.

Mamãe, papai e Peter também estão na porta assistindo, acho que eles a trouxeram. Seria impossível ela ter vindo sozinha, além de ser menor de idade e não ser permitida a entrada sem um adulto.

Beijo seus cabelos alaranjados, agradecendo aos meus pais com um movimento silencioso de lábios.

- Foi tudo bem? - Ela se afasta para ver meu joelho com os próprios olhos.

- Parece que sim.

- Isso é ótimo - seu sorriso some aos poucos. - Mas... isso quer dizer que você já vai embora?

- Ainda não, vai me aturar por mais alguns dias - não contei para ela que planejo ir embora na próxima semana, nem tenho mais certeza quanto a isso.

Por que ir se já acertei tudo o que me mantinha longe daqui? Não sei, é esquisito. Essa cidade me assusta, acho que me fragiliza.

- Como vocês a trouxeram?

Até onde eu sei, meus pais não tem contato com ela. Peter estuda na mesma escola que Sierra, mas não tenho certeza se foi essa a conexão. Meu irmão está uniformizado como ela, acho que é uma pista.

- Sei que ela é importante pra você - meu irmãozinho dá de ombros, como quem não quer nada. - Contei para ela que você já havia feito a cirurgia, insistiu muito para vir e acabei ligando para o papai quando fomos liberados.

- Você é tão fofo!

Estico meus braços na direção do meu irmão, mas ele apenas faz uma careta para minha demonstração de afeto, como se eu estivesse o envergonhando.

- Acha que os remédios afetaram o cérebro dela? - Sierra finge cochichar para ele.

- Ei! - cutuco as costelas dela, até ela escapar.

- Acho que sim ou talvez tenha sido o... Mike! - Ele aumenta o tom de voz subitamente.

- Conta, conta, conta - Sierra sobe na minha cama, perto da minha perna. Peter faz o mesmo, do outro lado. - Vocês são namorados de novo?!

- Olha os presentes que ele deu pra ela - Peter aponta para a cesta. - Certeza que estão namorando em segredo.

Escuto a risada dos meus pais no fundo, mesmo o papai parece ser a favor de alguma coisa com o Mike. Quem diria.

- Como vocês são enxeridos. E, aliás, - cruzo meus braços, encabulada. - como vocês sabem de algo? O que os faz pensarem que resolvemos as coisas?

- Peter me contou - Sierra acusa.

- Ah, mas... - meu irmão olha para ela como se estivesse lhe dando uma bronca. Quase deixo uma risada escapar. - Você foi pra casa dele no outro dia e voltou toda sorridente. O que podiam ter feito para te deixar tão feliz? É óbvio que conversaram. Mesmo o padrinho parece estar muito mais contente nos últimos dias.

- Vocês são dois fofoqueiros, isso sim - cutuco o ombro do Peter com a ponta do indicador. -  E você, mocinho, saiu espalhando a notícia sem antes falar comigo ou com o seu padrinho. Isso não foi legal.

- Desculpa - ele abaixa a cabeça, como um cachorrinho que caiu da mudança. - Não pensei por esse lado. É que, você sabe como eu sou, falei pelos cotovelos e quando vi já tinha escapado. Não fiz por mal.

Olho para os meus pais, sem ter idéia de como continuar dando uma bronca neles. Os dois apenas fingem que não sabem de nada.

- Toma cuidado, você precisa aprender a segurar essa língua - tento apertar seu bico emburrado, mas ele desvia antes.

- Tá bem - ele resmunga.

Sierra apenas observa calada, sem saber como reagir. Mas logo trata de voltar a si.

- Tá, então nos conte você mesma: conversaram ou não?

Garota espertinha, agora ela me cercou. Não tem porquê mentir para eles, todo mundo já percebeu a verdade e algo me diz que esses dois foram os primeiros.

- Sim.

- Eu sabia! - Os dois chocam as palmas de suas mãos em um high five.

- Então vocês se reconciliaram? - Sierra insiste.

- Você não vai mais embora?

- Estão namorando?

- Você vai voltar a morar aqui?

Franzo minha testa com a abordagem direta que eles fazem.

- Nós conversamos, somos... - não vou complicar a explicação, preciso ser objetiva. - amigos. Não somos namorados. E, crianças, entendam, eu tenho que ir embora de qualquer jeito. Meu trabalho exige isso, lembram dele? Jogadora de futebol e tudo mais? Eu poderia casar com o Mike e mesmo assim teria que voltar para Manchester.

- Vou casar e não tô sabendo? - outra voz ecoa por trás dos meus pais.

- Mas você já está aqui?! - encaro Mike, ele chegou na pior frase possível.

- O noivo chegou! - Peter puxa o braço do seu padrinho.

- Devo perguntar? - Mike me lança um falso olhar de preocupação.

- Não, pelo amor de Deus. Não dá mais corda para esses dois - belisco a perna de Sierra quando noto o olhar apaixonado que ela estava fazendo em nossa direção. - Você parece melhor.

- Estraguei minha fantasia de zombie?

Olho para a prancheta em sua mão e seu jaleco de trabalho, ele definitivamente não está aqui como visitante.

- Trocou pela de médico. Qual a novidade?

- Você vai receber alta assim que vierem te dar todas as instruções necessárias para a sua recuperação - ele diz, passando seus olhos no que está escrito na folha. - E tenho que passar a lista de medicamentos e seus horários.

- Tudo bem - recebo as receitas que ele me entrega com profissionalismo.

Acho que estou descobrindo adorar seu lado todo focado e concentrado de quando está trabalhando.

- Também posso te indicar um fisioterapeuta muito bom.

- Sério? - Me encosto contra a cama. - Você não pode fingir ser um?

- Acredite, eu adoraria fazer isso. Mas sua lesão é séria e a recuperação deve ser tratada por um especialista nessa área.

- Certo.

Vou ser completamente obediente, preciso disso para me recuperar depressa.

- Você é mesmo médico! - Sierra exclama.

- Achou que fosse de mentirinha? - Mike sorri para ela como costuma fazer com o Peter.

Mike não escolheu ter um irmão tão terrível quanto Tommy, mas com certeza encontrou outros excelentes de coração. Gosto do fato de nossa família ter o acolhido de braços abertos. Foi muito satisfatório ver que eles não o afastaram após tudo o que aconteceu entre nós dois. O que eu mais amo nos meus familiares, são o fato de que eles recebem qualquer pessoa com tanto carinho. Acho que a prova viva disso é que nenhum dos meus tios não são irmãos de sangue dos meus pais.

- Bom, não. Você parece muito novo pra ser médico, só isso.

Mike olha para mim quando dou risada.

- Ele é quase um idoso - provoco.

- Não escute essa pirralha - rebate.

Peter e Sierra se contorcem de rir, normalmente sou eu que os chamo disso.

- Preciso voltar - Mike aponta por cima do ombro. - Vê se você se cuida agora, paciente mais teimosa do mundo.

- Sim, senhor - faço uma continência.

Continuo olhando suas costas conforme se afasta, ele cumprimenta meus pais com apertos em seus ombros e some da minha vista. É tão engraçado pensar em como o mundo dá voltas.

- Ele é tão bonito! - Sierra exclama

Balanço minha cabeça de um lado para o outro, reprovando de brincadeira sua atitude. Mas é claro que ela está coberta de razão. Mike conseguiu ficar ainda mais lindo, está com uma aparência mais madura. Em seu ambiente de trabalho principalmente, ele parece tão centrado, profissional e ao mesmo tempo tão... não sei, sexy?

- Você não negou - acusa.

- Sua pestinha - faço cócegas nela, a fazendo pular para fora da cama.

- Garotas... - escuto meu irmãozinho resmungar, o flagrando revirar os olhos.

É bom ter eles por perto, esses dois conseguem me divertir pra valer. Com o passar dos anos, acabei me esquecendo de como eu realmente adoro estar com todos os meus amigos e familiares. Esses dias aqui estão me fazendo relembrar tudo o que vivi com tanta intensidade até meus dezessete anos, me pergunto o que me fez mudar tanto.


Eu sei, eu sei, me desculpem pela demora, meus amores. Bloqueio criativo é um saco, esse capítulo teve umas quatro versões diferentes até chegar nessa que foi a mais razoável. Agradeço a todos vocês que deixaram comentários me incentivando, é muito bom receber esse retorno.

Deixo vocês com um tal médico sério e bonitinho, haha


Beijos

Alice.

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