Merda! Eu não sei quantas vezes minha mente está falando palavrões, mas estou indo ver Esther. Preciso entender algumas coisas.
Já estou em frente a porta de sua cela provisória, seu julgamento será daqui três meses, eles precisam recolher provas.
O guarda libera minha entrada e adentro a cela da minha titia.
— "Bruna, minha querida, como vai?"- ela diz sorrindo, um sorriso cínico.
— "Bem, titia." - eu digo e ela sorri novamente.
— "Não vai perguntar como estou, querida?" - ela diz, sem sorriso agora.
— "Não, não me importo!" - eu digo sem pensar, mas não me arrependo. Ela me olha surpresa.
— "Não foi dessa maneira que eu te criei, mocinha!" - ela diz em tom de advertência.
— "Você tentou me matar, se isso é criação, eu não sei mais o que pensar!" - eu digo e ela continua incrédula. Não ligo.
— "E pensar que estávamos no mesmo lugar, minha princesinha!" - ela diz. Chegou onde eu queria, titia.
— "Ah, isso me fez lembrar de algo. Por que não fez nada? Você poderia me ter em sua mão." - eu digo e ela suspira.
— "Não sou o monstro que pensa. E eu estava me divertindo vendo seu namoradinho com as prostitutas!" - ela diz debochando.
— "Não estávamos mais juntos!" - eu digo frustada, não posso cair no jogo dela.
— "Você não quer admitir que ele te traiu?" - ela diz tentando me manipular.
Toda a cena passa pela minha cabeça novamente, como um filme. Eu imagino o que deve ter acontecido. A cena repete, repete, repete, repete...
— "Para!" - eu grito, ela apenas ri. Coloco as minhas mãos na cabeça.
— "Não quer admitir que não é boa para ele?" - ela diz e eu estou ofegante. Eu estou com raiva. Raiva de acreditar no amor, de pensar que isso daria certo.
— "Talvez fosse melhor ter sequestrado seu namoradinho, opa... Ex. Ele é lindo, poderia me servir para algo, assim como serviu para Ella Steele, e para você. E se ele não quisesse, poderia acabar com ele. Não seria o primeiro a morrer da sua família, seria?" - ela diz rindo.
Eu pulo em seu pescoço.
— "Sua desgraçada! Eu te odeio, EU TE ODEIO!" - meu grito é desesperado, zangado, raivoso.
Eu poderia matar essa mulher apenas com uma unha minha.
— "Me mata logo, Bruninha. Me poupe do sofrimento da prisão!" - ela diz e eu chuto seu estômago.
Quando vou avançar, Taylor me segura.
— "Nunca esqueça do que eu te ensinei..." - ele sussura com firmeza, enquanto me tira da cela provisória - "O que eu te ensinei, filha?" - ele diz, agora olhando em meus olhos.
— "Não suje suas mãos, com sangue sujo. Foi isso que você me ensinou!" - eu digo em um sussuro, ele assente.
—"O que mais, filha?" - ele acaricia meu cabelo.
— "Não ceda a vaidade fatigante. Não precisa ser a primeira a chegar, muito menos a primeira a desvendar, mas ter sabedoria em seu percurso. Mantenha a fé e a calma. A solução exige cautela." - eu sussuro suas palavras, ele sorri fracamente.
— "De fato, foi isso, filha!" - ele diz e eu o abraço.
— "Sei que algo deu errado na casa de Felipe... As pessoas têm diferentes maneiras de sofrer!" - ele diz enquanto eu o abraço.
— "Sim, eu sei disso, estudei na faculdade, lembra? Mas não quero falar disso agora!" - eu digo e ele concorda. Sinto que ele queria dizer algo, mas ele não fala.
— "Luke vai te levar para casa!" - ele diz, e eu concordo.
— "Obrigada, papai!" - eu digo sem pensar, seus olhos brilham em lágrimas — "D-desculpa, e-eu... Apenas senti falta!" - ele se recompõe, e me dá um beijo na testa. Eu o magoei?
Começo a pensar, pensar, pensar... Quando percebo, estou na frente da minha casa. Uau, como eu parei nesse carro?
Luke desce, e abre a porta para mim, depositando um beijo na minha testa, e outro na minha bochecha.
— "Te amo, maninha. Tudo vai ficar bem!" - ele sussura e eu sorrio.
Caminho lentamente até a porta de casa, antes de girar a maçaneta, respiro fundo. Abro a porta, e vejo Liam correndo, Blake e Ian chorando de rir, Anthony e Jessi fazendo cambalhota junto de Liam - que parece não ligar muito.
Quando meu pequeno homenzinho sente minha presença, ele rapidamente me procura, seu olhar para no meu, e ele corre até meus braços.
— "Titi!" - ele grita tão animado que me arranca um bom sorriso. O único verdadeiro depois de tudo.
Liam não me solta, acho que ele sente que não estou bem, caminho até o sofá, Lili ainda em meu colo, com seus bracinhos envolta do meu corpo, seu rostinho enterrado na curva do meu pescoço, e suas perninhas cruzadas em minha cintura.
— "Como foi seu dia, amor?" - eu pergunto, ele me olha sorrindo.
— "Muitu ligal, Titi!" - ele diz calmamente, sorrindo.
— "Que bom, amor!" - eu digo acariciando seus cabelos claros — "Titia vai subir, continue a brincar!" - eu digo e ele, relutante, saí do meu colo. Antes de ir, deposita um beijo em minha bochecha e sussura em meu ouvido:
— "Eu ti amu, Titi linda, maix qui tudu, e vuxe é inclível!" - ele diz com um sorriso lindo.
Porra, eu não mereço esse anjo!
— "Eu te amo, 'muitãotissimo' do muitão, e você é tudo na minha vida!" - eu sussurro e ele sorri amplamente.
Ele sabia que eu precisa ouvir isso. Ele sabia. Ele sempre sabe.
Enxugo algumas lágrimas que caíram.
Olho em volta para meus amigos, e dou um olhar como se falasse "me deixem sozinha um pouquinho". Eles concordam com a cabeça, estão desconfiados.
Subo as escadas de cabeça baixa, segurando os soluços, e vou até meu quarto, fecho e tranco a porta.
Vou deslizando, e caindo no chão, encostada a porta. Me permito chorar.
Não apenas pelo o que aconteceu com Felipe, mas por tudo.
Todas as lembranças que me machucaram, todas minhas janelas da memória estão abertas, para sentir a dor. A dor precisa ser sentida.
Choro pelos meus pais, por quando Anthony foi embora, por quando Adele morreu, por quase perder Liam, por ficar longe do meu irmão e do meu sobrinho, por ser traída pela minha própria tia, pelos anos que me rendi a tristeza, pela depressão, pelas crises, por cada maldito dia que queria apenas morrer, por todas as tentativas de, simplesmente, não existir mais, pela fé que eu perdi, pelas pessoas que perdi, pelas "amizades" que não tenho mais, pelo amor que um dia tive... Choro por tudo.
Os soluços balançam meu corpo, rasgam meu peito. Meu choro é de sofrimento, que parte o coração, aquele que você tem vontade de abraçar a si mesmo. Meu soluço é minha libertação, meu refúgio. O ar vai faltando, e entre os soluços eu vou puxando ar. As lágrimas esquentam meu rosto, eu sinto que estou fraca, mas é como se eu não tivesse previsão para parar.
A dor irá ser sentida, para nunca mais voltar.
Eu sou mais forte que isso, eu sei que sou.
Está na hora de reagir, de realmente, reagir.
• Eu já disse que está quase acabando? Pois é, está quase acabando! 😦