De Volta à Primavera • yoonmin

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Depois de cumprir o serviço militar obrigatório de dois anos e voltar para casa para descobrir da pior maneir... עוד

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— Até semana que vem, Jimin.

Aquela era uma frase que Jimin poderia se acostumar a ouvir sendo direcionada a ele. O sorriso que surgiu em seu rosto ao ouvi-la foi natural, e a maneira como seu corpo se curvou em respeito e despedida à profissional fez a mulher sorrir também. As rugas de expressão mais visíveis ao redor de seus olhos indicavam uma idade mais avançada que a dele próprio, uma maturidade que ele um dia esperava alcançar, e, de certa forma, ajudavam Jimin a se sentir um pouco mais confortável falando. Há pouco menos de um mês, Yoongi tinha dito que havia a possibilidade de Jimin não achar uma terapeuta compatível com ele na primeira tentativa, mas, já na segunda sessão – ambas às quartas, exatamente às sete e meia da noite – ele acreditava que Minkyung mostrava ser mais do que suficiente.

A porta de madeira do consultório da mulher se fechou diante de seu rosto em um clique baixo. Jimin, depois de soltar um suspiro contente, puxou o celular da mochila e andou em direção à porta de vidro com o nome de Minkyung gravado na frente, abrindo-a ao mesmo tempo em que checava as notificações que tinha recebido nos últimos cinquenta minutos. Um sorriso largo voltou para seu rosto de imediato assim que ele viu uma mensagem que havia chegado apenas dois minutos antes, suas bochechas ficando avermelhadas enquanto ele andava pelo corredor em direção aos elevadores do prédio comercial.

Yoongi [20:26]: seu advogado favorito está te esperando no carro em frente ao prédio.

Surpreendendo até mesmo a eles próprios, depois que voltaram a se falar, Jimin e Yoongi tornaram-se ainda mais próximos do que já eram antes de se afastarem por algumas semanas. Era como se a ideia de ficar longe de novo fosse terrível, como se o tempo que passaram distantes tivesse sido a prova de algo que eles não queriam novamente. Os momentos em que passavam juntos se estendiam em conversas intermináveis sobre o que fizeram naqueles dias afastados, sobre tudo que pensaram, sobre como se sentiam e o que queriam fazer dali em diante. E foi em um desses dias, quando falavam sobre tantas coisas em seus mais variados graus de seriedade, que Yoongi disse com um suspiro aliviado que finalmente tinha voltado à terapia.

Naquele exato momento, os olhos de Jimin brilharam em interesse, e ele não conseguiu segurar sua língua enquanto perguntava mais sobre aquele assunto em específico. Ele sabia que tinha que melhorar, que queria melhorar, e que não havia maneira fácil de fazê-lo. Foi como havia dito para Eunju: ele tinha muita coisa para trabalhar consigo mesmo antes de ser capaz de perdoá-la. Naquela noite, Yoongi abriu um sorriso minúsculo depois de Jimin perguntar se podia se consultar com o terapeuta do advogado também. No segundo seguinte, Yoongi puxou Jimin para um beijo, deu uma risada fraca, e respondeu que não, era um tanto antiético, mas ele poderia perguntar ao homem se conhecia alguém para dar o número ao engenheiro.

Coincidentemente – ou propositalmente, considerando o quanto eles gostavam de ficar juntos –, as sessões de ambos aconteciam no mesmo horário, no mesmo dia, no mesmo prédio, apenas em andares e consultórios diferentes. E toda semana, um deles saía de carro de manhã cedo para eles voltarem juntos à noite e decidirem o que fazer logo depois. Era uma rotina inusitada, que Jimin nunca imaginou para sua vida, mas ele estava gostando. Falar era libertador. Começar a se entender, entender suas reações e trabalhar todos os sentimentos confusos dentro de seu peito era melhor ainda.

— Será que meu advogado favorito está tão distraído que não consegue enxergar o engenheiro favorito dele nem de perto?

Apesar de um grito surpreso de Yoongi não ter se perdido na rua movimentada de pessoas e comércios, os olhos de homem ainda se arregalaram com a proximidade de Jimin, e seus braços imediatamente se encolheram em um reflexo de proteção. A tela do celular estava ligada, indicando que, sim, ele estava distraído, e a posição confortável que ele portava encostado ao carro de Jimin se transformou em uma tensa num piscar de olhos. Ambos ficaram em silêncio enquanto processavam o que estava acontecendo, mas, ao reconhecer quem estava invadindo seu espaço pessoal com um sorriso travesso no rosto, Yoongi simplesmente rolou os olhos e bloqueou a tela do celular, usando a mão ocupada para dar um leve soco no peito do Jimin e afastá-lo mesmo com um sorriso se formando em seus lábios.

— Parece que seu elevador vem do céu, você estava demorando. — Yoongi murmurou uma desculpa qualquer, desencostando-se do carro enquanto esperava que Jimin o abrisse. — Fiquei uma eternidade aqui.

— Minha sessão acaba cinco minutos depois da sua, e você sente falta de mim dessa maneira. — Jimin clicou a língua, balançando sua cabeça de um lado para o outro em falsa decepção enquanto puxava a chave do carro do bolso. As portas se destrancaram com dois apitos que indicavam que estavam abertas, e Yoongi, soltando um grunhido, abriu a do carona para se sentar. — Parece que alguém gosta até demais de mim.

— Convencido. — Yoongi disse com uma careta no rosto, fechando a porta com um pouco mais de força que o necessário. Jimin abriu um sorriso e foi até o outro lado com passos rápidos, entrando no carro com um grunhido e imediatamente sentindo um par de mãos familiar alcançá-lo. — Mas eu senti sua falta mesmo. Não te vejo desde ontem à noite.

— Realmente... — Jimin começou em um tom de voz sarcástico, mas sentiu a palavra ficar mais fraca à medida que as sílabas seguiam quando as mãos de Yoongi tocaram seu rosto, tentando virá-lo em sua direção. Ele abriu um sorriso quando ficou de frente para o advogado, ignorando o som abafado do mundo girando do lado de fora para dar toda a atenção ao homem que amava. Lábios um tanto secos se encostaram aos seus sem pressa, seu sorriso cresceu um pouco mais, e ele completou seu pensamento com uma sinceridade que saiu de seu coração que acelerava rápido. — É uma eternidade sem você.

Passar semanas afastado de uma pessoa que se gosta muito traz um certo desconforto no momento em que voltam a se falar. Apesar de ter passado a noite com Yoongi e ter lhe dado o exato presente que sugeriu na manhã de seu aniversário, Jimin sentiu como ambos estavam mais cautelosos com o ritmo que levavam o relacionamento deles assim que a semana útil começou. Os almoços entre os quatro haviam voltado durante o dia, mas, em certas noites, Yoongi e Jimin evitavam dormir juntos, ou chegavam a um acordo silencioso para não levar seus toques muito longe. Era como se estivessem recomeçando, reaprendendo a se envolver romanticamente um com o outro, mas em um ritmo mais acelerado em comparação à primeira tentativa.

Jimin acreditava que agora, quase um mês depois, eles já tinham conseguido voltar ao que eram antes de algumas coisas saírem de seu eixo. Com tantas conversas, tantas noites em que foram dormir mais tarde do que deveriam, um acordo claro havia sido feito e que ambos imploraram um ao outro para que fosse cumprido: qualquer dúvida, qualquer insegurança, qualquer mínimo pensamento que pudesse atrapalhar o que eles tinham devia ser dialogado. Estar em um relacionamento não era fácil, e não exigia apenas que duas pessoas se amassem. Yoongi sabia disso, Jimin sabia disso. E, quase como se estivessem em sintonia, ambos queriam deixar tudo claro antes de realmente darem um nome ao que tinham, tornar ainda mais sério algo que já cursava um caminho natural para ser completamente sólido.

— Ei, você não me disse como foi sua entrevista hoje. — Yoongi chamou em um tom animado, quebrando o silêncio confortável que havia se formado no carro. Ele se mexeu em cima do banco, virando-se na direção de Jimin, e abriu um sorriso. — Você estava animado, era essa a da mesma área que você trabalhava antes?

— Na verdade, era a maior rival no mercado da que eu trabalhava antes. — Jimin murmurou com um sorriso em seu rosto, sentindo-o se alargar ainda mais com a risada que Yoongi soltou. — Acho que eu ganhei uma vantagem por já ter experiência específica nessa área. Não sei, acho que foi bom, agora só me resta esperar a ligação deles com uma paciência que não me pertence.

— Estou torcendo por você. — Yoongi respondeu em uma voz suave, e Jimin aproveitou o trânsito parado para dar atenção ao homem por alguns segundos, sentindo um sorriso natural surgir em seu rosto. — E se não der certo agora, você sabe que eu vou te apoiar até você conseguir o que quer.

— Eu acho que não importa quantas vezes eu repita a palavra "obrigado", eu nunca vou ser capaz de expressar totalmente o quão grato eu sou por isso. — Jimin confessou em um murmúrio, voltando a prestar atenção na rua e perdendo a reação de Yoongi enquanto trocava a marcha para dar vida novamente ao carro. — De verdade. Se você algum dia quiser sair daquela empresa infernal e ir atrás de outro emprego, eu vou fazer o dobro do que você faz por mim para tentar te mostrar um terço da gratidão que eu sinto.

— Park Jimin, você não pode me superar na minha declaração. — Yoongi soltou um resmungo, ajeitando-se no banco novamente e arrancando uma risada do mais novo, que ainda prestava atenção na rua. — Eu falo isso do coração. Eu sei o quanto isso significa para você, eu nunca vou me esquecer daquele dia que nós montamos suas estantes. Eu te dou apoio porque eu gosto de você e quero te ver feliz. Entende?

— Eu entendo, e é por isso que eu digo que faria o dobro por você. — Jimin assentiu, seu olhar sério focado na rua. O carro ficou em silêncio por longos segundos, como se ambos estivessem pensando, e, na primeira oportunidade que teve, Jimin olhou para o lado e viu Yoongi o encarando com um pequeno sorriso no rosto. — Eu só não te dou as estrelas porque–

— Como você é cafona, Park Jimin. — Yoongi o interrompeu em um resmungo, mas, logo em seguida, o ambiente foi tomado por risadas de ambos, mesmo quando Jimin tinha sua atenção presa à rua. — Fala menos e dirige mais. Você costuma ser maluco no trânsito, não sei o que te deu para não ter cortado todo mundo até agora.

— Maneira sutil de pedir para chegar em casa logo para me beijar, hyung. — Jimin comentou com um sorriso de canto em seus lábios, fazendo logo em seguida exatamente o que Yoongi havia o acusado de fazer no trânsito e arrancando um grito assustado do homem. — Mas você tem razão, eu estou demorando mesmo.

Enquanto entrava em seu apartamento em meio a beijos intensos, mãos desesperadas e suspiros agudos, Jimin só conseguia pensar que, de forma curiosa, a sensação que ele tinha era de que sua vida estava muito mais normal agora. Uma risada fraca escapou de sua boca quando ele sentiu as mãos de Yoongi dentro de sua camisa, acariciando sua pele, e, ao ser questionado sobre o que ele estava pensando, Jimin balançou a cabeça em um pedido para deixar aquilo para lá, sabendo que seria difícil explicar sua linha de raciocínio no momento. Ele só achava engraçado sua vida ter mudado tanto no último ano que ele achava normal e rotineiro entrar em casa daquela maneira com um homem.

Pouco mais de uma hora depois, entregando uma calça de pijama a Yoongi e indo em direção à cozinha para eles jantarem, Jimin pensava que finalmente teve o recomeço que merecia. Seu "normal" não era mais chegar em casa e ver Eunju concentrada em diversos papéis espalhados pela mesa de centro – um conforto antigo que já não lhe trazia mais felicidade –, assim como não era chegar e ver um apartamento vazio e escuro que o trazia a sensação terrível de solidão – uma memória que ele preferia esquecer –, mas ele finalmente sentia que tinha algo bom de novo. Não era como suas outras primaveras, era certamente inesperado em comparação ao que tinha em seu antigo casamento, mas fazia Jimin se sentir tranquilo. Abrir a porta e ver a sala escura, mas ver aquilo ao lado de uma pessoa que amava era perfeito para sua vida no momento.

Jimin também pensava que, um ano antes, mesmo que ainda tivesse seus melhores amigos ao seu lado e estivesse prestes a fazer novos, havia coisas acontecendo que ele não tinha nem ideia que afetariam sua vida num futuro distante. Aquela época havia sido uma bagunça, com Taehyung escondendo seu envolvimento com Jeongguk, e com toda a solidão que perseguiu Jimin por meses e ainda o assombrava em semanas mais difíceis. Seu merecido recomeço realmente acontecia enquanto ele pensava nisso tudo, com desentendimentos esclarecidos, muito menos dúvidas em seus pensamentos, e, como um bônus, com alguém ao seu lado para ele chamar de "meu amor". Agora, depois de ter tudo resolvido, depois de ter recuperado seu quarteto com conversas e paciência, ele acreditava que finalmente tinha tudo nos eixos.

Como por exemplo, Jimin e Taehyung voltaram a se falar na mesma frequência de sempre, apesar de não se verem na mesma medida. Eles haviam achado uma solução balanceada para seus interesses; com ambos querendo manter a amizade, é claro, mas também com Taehyung querendo aproveitar ao máximo suas últimas semanas ao lado de Jeongguk. De certa forma, Jimin sentia que tinha recomeçado com seu amigo, porque uma discussão da magnitude que eles tiveram era capaz de servir de lição para que não se repetisse. Eles aprenderam a organizar seu tempo para que fizessem o que quisessem, mas sem deixar uma distância crescer entre ambos, principalmente com tantas omissões e segredos. Foi uma forma de recomeçar, aprender com os erros e, enfim, sentir que tudo estava em seu devido lugar.

Jimin sentia o mesmo com Yoongi, ainda pensando nas conversas que teve com o homem ao longo daquele mês, onde ambos decidiram que eram maduros o suficiente para resolver seus problemas e tomar decisões benéficas para os dois lados. Afastar-se da maneira que Yoongi se afastou doeu para os dois, e afetou outras pessoas além deles, quando tudo poderia ter sido resolvido com honestidade e diálogo. Jimin também sentia que tinha recomeçado com Namjoon e Hoseok, apesar de ser uma mudança mais sutil e com um processo menos conturbado, sabendo que poderia confiar no casal para qualquer coisa. Ele ficava chateado de pensar que não havia percebido isso antes, e precisou que se afastasse de Taehyung para aceitar totalmente que os dois o conheciam também.

Ele já não sabia dizer se Jeongguk e Seokjin faziam parte desse novo recomeço – visto que eles já fizeram parte do último –, ainda mais quando sua amizade com o advogado foi evoluindo de maneira tão gradual, e seu chefe estava prestes a ser transferido para outro país, dificultando a manutenção de algo que mal havia começado direito. Talvez daquele ponto em diante fosse seu recomeço. Jimin podia considerar Seokjin um amigo, daqueles que se confia e compartilha segredos. E Jeongguk, bem, se ele resolvesse voltar para a Coreia, Jimin estaria disposto a perguntá-lo como haviam sido seus anos longe dali para retomar exatamente de onde pararam.

Por enquanto, Jimin simplesmente se contentaria em enxergar como seus diferentes grupos de amigos já se mesclavam com facilidade. Yoongi era capaz de ter uma conversa inteira com Namjoon ou Hoseok sem precisar que Jimin interferisse, e a descoberta sobre Taehyung e Jeongguk causou uma comoção tão grande que ambos foram obrigados a conhecer os amigos um do outro em jantares separados como se estivessem lidando com os pais deles. Então, segundo os cálculos de Jimin, a maioria deles já se conhecia. Restava apenas juntar todos em um único ambiente para saber que tipo de caos os sete eram capazes de causar.

— Namjoon hyung conseguiu um super desconto para nós sete nesse sábado, lá no Grande Coração. — Jimin anunciou com uma de suas mãos caindo sobre a mesa do restaurante, ganhando a atenção dos outros três que comiam em silêncio. Os olhos de Yoongi se arregalaram na mesma hora, claramente animado com a notícia, mas os outros dois continuaram atentos. — Ele não trabalha aos fins de semana, então seria uma oportunidade para fazer nossa primeira reunião oficial.

— Uma oportunidade para eu ficar segurando vela para três casais, você quer dizer. — Seokjin comentou com uma sobrancelha arqueada, e, na mesma hora, Jeongguk rolou os olhos. — Não sei se vale a pena.

— O desconto é de setenta por cento. — Jimin o desafiou com uma sobrancelha arqueada também, agora ouvindo a tosse engasgada de Yoongi ao fundo. — Ainda acha que não vale a pena?

— Nós vamos! — Yoongi se apressou em dizer, sem dar uma chance para Seokjin estender sua teimosia pelo simples prazer de iniciar discussões bobas. Sua voz ainda soava fraca depois de tanto tossir, mas ele se recuperou em poucos segundos, colocando a mão por cima da de Jimin onde ele havia deixado antes. — Os sete. Pode confirmar com o Namjoon.

No sábado, enquanto ouvia os pedidos desesperados de ajuda de Taehyung para decidir o que vestir, Jimin também arrastava cabides de um lado para o outro e soltava bufadas esporádicas, insatisfeito com o que via diante dele. O professor soltou um grunhido frustrado no viva-voz depois de sua milésima opção de roupa não ter ficado de acordo com o que ele queria, e o engenheiro seguia quieto, murmurando vez ou outra para mostrar que estava ouvindo. A verdade é que Jimin não estava inteiramente indeciso com sua escolha, mas ele não sabia se a que queria fazer era a ideal para sua noite. Foi assim que ele se desligou da voz de Taehyung falando sobre a "sagrada camisa da Gucci" e se virou para trás, chamando a atenção de Yoongi, que, até então, estava calado mexendo em seu celular e esperando o mais novo ficar pronto.

Na mão de Jimin estava a mesma camisa bege de aparência simples, mas que carregava um significado extenso. Yoongi, deitado na cama do mais novo, encarou-o de cenho franzido para entender o que estava acontecendo, e, fazendo gestos para Taehyung não o ouvir falando do outro lado da linha, Jimin pediu a opinião para saber se deveria vesti-la. Depois de alguns segundos de consideração, o advogado negou com a cabeça e se levantou, mexendo no armário de Jimin até finalmente achar uma camisa branca ainda mais simples do que a outra. Antes mesmo que pudesse ouvir uma reclamação ou sentir um "cutucão indignado", Yoongi se aproximou do rosto de Jimin para sussurrar uma frase misteriosa que deixou o mais novo devidamente curioso:

— Deixa essa camisa para semana que vem.

Jimin não teve tempo de argumentar porque Taehyung começou a resmungar do outro lado da linha, implorando por atenção, e restou a ele ter como resposta para sua expressão de dúvida uma única piscadela que na verdade não respondia nada. Ele também não questionou se tinha alguma coisa marcada para "semana que vem" que não estava sabendo, nem mesmo depois do amigo desligar a chamada dizendo que finalmente estava quase satisfeito com uma roupa que tinha escolhido. Jimin simplesmente vestiu a camisa que Yoongi havia escolhido e deixou aquela frase martelar em sua cabeça até Seokjin passar em frente ao seu prédio para buscar seus dois amigos e levá-los ao restaurante.

Cercado de um grupo tão grande, foi fácil, para Jimin, de se esquecer da frase misteriosa de Yoongi. Era curioso ver Jeongguk conversando com Namjoon e Hoseok com tanta naturalidade, da mesma forma que seu peito se aquecia em um sentimento novo ao ver Taehyung rindo de alguma história que Seokjin contava não só com sua boca, mas também suas sobrancelhas expressivas. A maioria dos funcionários que passava perto da mesa barulhenta deles cumprimentava Namjoon de maneira discreta, e seus pedidos não demoravam a ser atendidos, principalmente porque a maioria deles já conhecia muito bem o cardápio do restaurante. Jimin não achava que juntar seus dois grupos de amigos de uma vez por todas seria uma ideia ruim, longe disso, mas também não achou em momento algum que daria tão certo.

Jimin percebeu a maneira gradual como aquela mistura foi acontecendo. Primeiro, seus amigos mais antigos conheceram Yoongi, e depois acabaram conhecendo Jeongguk também, mas pelo lado de Taehyung. E o professor, por já conhecer Yoongi do jantar que tiveram no apartamento de Namjoon e Hoseok, e também por com certeza conhecer Jeongguk, também não levou muito tempo até finalmente ser apresentado a Seokjin. Aquela noite servia apenas para concretizar algo que já vinha ganhando forma. Jimin, que costumava ser mais ativo nas conversas, escolheu sentar e observar a vida ao seu redor, as relações, e a maneira que aquele grupo de amigos se encaixava de uma maneira que ele não achou que seria possível e tão natural.

Yoongi pareceu notar o quão pensativo ele ficou e colocou uma mão sobre sua coxa, dando-lhe um apertão leve, escondido de olhares curiosos ao redor do restaurante, mas ganhando toda a atenção acompanhada de um sorriso sereno de Jimin. A conversa continuava animada na mesa, com histórias sendo contadas entre risadas e algumas lágrimas escorrendo dos olhos de outros, e poucos segundos de silêncio onde todos riam tanto que nenhum som era emitido. Algo que também não passou despercebido por Jimin foi a leveza com que Jeongguk e Taehyung se portaram diante dos outros, como se estivessem aliviados que todos soubessem, e como se conseguissem ficar confortáveis em meio a eles. Era bom vê-los assim, ao mesmo tempo em que o entristecia saber que Jeongguk já tinha uma data marcada para fazer as malas e se mudar para o Japão.

A noite entre os sete no Grande Coração foi leve, foi certa. Assim como Jimin se sentia em relação a encontrar Yoongi, principalmente por ter sido em um momento difícil de sua vida, ele acreditava que aquela fusão aconteceria mais cedo ou mais tarde, ele quisesse ou não. Agora, se eles pudessem manter o que solidificaram naquele sábado, Jimin sabia que teria seu recomeço completo. Uma primavera de verdade, sem parecer um inverno, com flores nascendo ao seu redor e com o sol forte e brilhante no céu, aquecendo-o por completo. Ele teria diversas pessoas para amar de diversas formas ao seu lado, e sabia que receberia todo aquele amor de volta. E, com a terapia, ele aprenderia de novo que era merecedor de tudo aquilo, e que nem todo mundo em sua vida desistiria de amá-lo.

— Ok, foda-se, a casa está meio bagunçada, mas vocês estão convidados para ir lá se quiserem. — Hoseok disse, já na porta, onde todos se reuniam para ir embora depois de terem pagado a conta. Jeongguk chegava com passos largos, colocando a carteira no bolso de trás de sua calça, e seus olhos se arregalaram com a notícia. — Acho que tem vinho o suficiente para quem não vai dirigir mais tarde. E se não tiver, a gente compra mais.

Estar em um ambiente familiar e fechado dava a Jimin a oportunidade de se aproximar mais de Yoongi, aconchegar-se em seu abraço enquanto participava um pouco mais da conversa dessa vez. De alguma forma, com a maioria deles ali bebendo, as risadas que davam no restaurante se tornaram ainda mais altas, e as histórias constrangedoras da época da faculdade de todos era o assunto principal, mesmo quando alguém gritava desesperado para que certas coisas não fossem compartilhadas. Jimin descobriu sobre as diversas vezes que Jeongguk havia desmaiado nos braços de Seokjin ou Yoongi depois de noites de festas, e também compartilhou sobre as vezes que ele precisou arrastar Hoseok ou Taehyung pela cidade completamente sozinho porque ele era o único que tinha resistência boa ao álcool. Namjoon não perdia tempo em contar sobre um de seus primeiros encontros com o atual esposo, quando eles foram a um bar e Hoseok o mostrou da pior maneira que era fraco para bebidas.

Em algum momento, quando o vinho deixou o grupo mais sonolento do que enérgico, as vozes se tornaram mais baixas e os assuntos variaram para tópicos mais sérios ou que não eram tão engraçados. Eles também iniciaram conversas paralelas, alguns se dispersavam por alguns minutos e voltavam em silêncio, e outros simplesmente escolhiam se abster de palavras. Em algum momento, Jimin notou que estava quieto há alguns minutos, simplesmente observando Hoseok e Yoongi falando sem parar com seus olhos alternando entre um e outro. Do outro lado do sofá, Namjoon e Seokjin também mantinham uma conversa, mas alguns sorrisos ainda surgiam em seus rostos enquanto falavam. Fazendo uma contagem rápida em sua cabeça, Jimin começou a olhar ao redor da sala à procura dos outros dois que faltavam, e sentiu um pequeno sorriso crescer em seu rosto quando os achou na pequena varanda do apartamento, alheios a todo o resto.

Vendo Taehyung e Jeongguk abraçados um ao outro, observando a cidade, e rindo como se não tivessem preocupações, Jimin começou a se perguntar se tudo não estava sendo um pouco mais difícil para eles agora. O amigo havia o dito que eles nunca conversaram realmente sobre um namoro, nunca nem mencionaram a palavra, mas Taehyung deixou bem claro que não gostava de relacionamentos à distância e Jeongguk não seria uma exceção para ele. Com a data da viagem se aproximando, e com todos saindo com mais frequência, Jimin se perguntou se, agora, não seria mais doloroso se separar. Porque se escondendo do mundo, fingindo que não era sério, vivendo em uma bolha somente deles, devia ser mais fácil de se esquecer que algo tinha acontecido já que não havia testemunhas. Com tantas pessoas sabendo, e vendo aquilo, com tantas pessoas aprovando o que poderia ter sido um relacionamento muito menos conturbado e mais longo, devia haver um pesar maior na despedida entre os dois sabendo tudo que eles poderiam ter sido.

Seus pensamentos se dispersaram no exato momento em que ele viu Taehyung e Jeongguk se aproximando mais, talvez para trocar um beijo, e Jimin escolheu desviar sua atenção para não ver um momento possivelmente íntimo. Assim que voltou a olhar para Yoongi, o advogado pareceu notar sua movimentação e o olhou de volta por breves segundos com um sorriso no rosto, esticando sua mão na direção de Jimin, e logo em seguida voltando a olhar para Hoseok enquanto o dançarino falava. O engenheiro sorriu fraco também e entrelaçou seus dedos nos de Yoongi, apertando-o sem usar muita força, e ainda aproveitou para se aproximar do mais velho simplesmente para sentir seu calor. Jimin só queria apreciar a pessoa que tinha ao seu lado, e ficar agradecido por saber que, num futuro próximo, não havia nenhum motivo para eles se separarem.

As despedidas vieram alguns minutos mais tarde com bocejos e frases arrastadas, mas também com algumas risadas que se perdiam pela sala de estar cheia. Ninguém fez promessa de marcar algo parecido de novo não só pela dificuldade de juntar sete pessoas em um mesmo lugar, mas também porque, no fundo, ninguém sabia se daria tempo de repetir a dose antes de Jeongguk se mudar. As únicas coisas que prometiam é que tinham gostado da união, e Seokjin sussurrava para Jimin que não se incomodaria de ser convidado vez ou outra para jantar com Namjoon e Hoseok também. O clima entre eles era leve, apesar de tudo que havia acontecido até que chegassem naquele ponto, e Jimin não se incomodaria de ficar por mais alguns minutos se não estivesse tão sonolento.

Chegando em casa ao lado de Yoongi, sentindo o álcool e o cansaço o acertando em cheio agora que sabia que sua cama estava a poucos metros de distância, Jimin se deixou ser guiado pelo advogado, permitiu-se ser cuidado enquanto resmungava sonolento e pedia para o homem se deitar logo para eles dormirem. No entanto, quando sentiu que seria finalmente capaz de pegar no sono com as batidas do coração de Yoongi servindo de canção de ninar, Jimin voltou a pensar no que tinha visto mais cedo, no momento íntimo que Taehyung e Jeongguk compartilharam na varanda do apartamento. Ele pensou nos detalhes que seu amigo acabou o contando eventualmente, sobre como ambos sabiam que queriam um relacionamento sério, mas sempre negavam e preferiam deixar tudo como estava para diminuir o impacto da despedida depois. Jimin levantou a cabeça, vendo a expressão serena no rosto de Yoongi, e se perguntou se tinha algo os impedindo de namorar agora.

— Hmmm... — Yoongi murmurou ainda de olhos fechados, como se sentisse que estava sendo observado. — Não era você que estava reclamando de sono cinco minutos atrás?

— Tem alguma coisa que você planeja fazer sábado? — Jimin perguntou em um tom baixo, sua voz saindo rouca pelo sono. No mesmo instante, Yoongi abriu um de seus olhos e o encarou em silêncio, sem dar uma resposta. — Eu queria sair com você. Só nós dois.

— Eu falei da sua camisa mais cedo por um motivo. — Yoongi voltou a fechar os olhos e segurou Jimin um pouco mais perto, tentando fazê-lo voltar à posição que estava antes. Mas o engenheiro não se mexeu e simplesmente continuou o encarando. — Essa semana as flores de cerejeira vão desabrochar. Pensei em levar meu amor para o parque Yeouido. Acha que ele vai gostar?

No mesmo instante, uma única ideia veio à mente de Jimin: aquela seria a oportunidade perfeita para dar o passo adiante que ele já queria dar há um tempo. Ele tinha esperado para ver se daria certo em um relacionamento romântico com Yoongi – sim, daria –, e ele tinha esperado para que eles se recuperassem do afastamento indesejado de um mês antes. A única coisa que realmente faltava na relação deles era um rótulo. A única coisa que realmente faltava era a oportunidade de um chamar o outro de "namorado" em uma situação que nem era necessário o uso do termo, mas eles falariam mesmo assim pelo simples prazer de saber que estavam juntos. E acima da vontade, acima de achar que ambos em união eram capazes de dar um passo à frente, Jimin acreditava que ele estava pronto. Ele estava convicto de que se sentia bem consigo mesmo ao ponto de ser capaz de se entregar a alguém de novo.

Então, um sorriso preguiçoso surgiu em seu rosto, e Jimin apoiou os cotovelos na cama para ficar com o rosto por cima de Yoongi, finalmente o vendo abrir os olhos para encará-lo.

— Acho que ele pode gostar, sim. — Jimin sussurrou, um tom levemente sarcástico em sua voz. Depois de se abaixar para roubar um rápido beijo, ele viu Yoongi abrir um sorriso cansado e murmurar em dúvida. — Mas como você é romântico, Min Yoongi. Parque Yeouido, cerejeiras... vai dizer que também vai ter um piquenique? Uma toalha? Vocês vão ficar de frente para o rio Han, vendo as flores caindo de mãos dadas?

— Continua debochando e eu cancelo tudo. — Yoongi resmungou, um bico se formando em seus lábios quanto mais Jimin falava.

— Então você realmente está planejando isso tudo? — Jimin arregalou os olhos, surpreso com a revelação. Uma risada escapou de sua boca e ele segurou o rosto de Yoongi entre suas mãos, apertando as bochechas do homem para lhe dar um beijo estalado na boca. — Eu vou amar, de verdade. Eu só estava pensando em sair com você semana que vem, mas sua ideia é muito melhor.

— Que bom que gostou. — Yoongi abriu um sorriso pequeno, seu rosto ainda sendo apertado entre as mãos de Jimin. Eles trocaram um olhar por longos segundos até o engenheiro beijá-lo uma última vez, voltando à sua posição de antes com a cabeça deitada no peito do advogado. — Agora dorme. Acumula energia até semana que vem porque nós vamos acordar cedo.

Depois de passar um longo ano detestando a maioria das coisas que agora faziam parte de sua vida, Jimin acreditava que finalmente tinha chegado a um ponto em que não necessariamente havia aprendido a gostar delas, mas certamente havia aprendido a lidar com tais coisas. Em um investimento pessoal, com a ajuda de Yoongi, ele tirou um fim de semana para comprar colchão e travesseiros novos, e também renovar um pouco a decoração de seu apartamento. Ele poderia colocar tudo em seu devido lugar de novo caso não renovasse o contrato do aluguel no ano seguinte, mas, ainda vivendo ali, Jimin gostaria de tornar o ambiente um pouco mais seu, como ele sentia falta de que fosse. Alguns porta-retratos passaram a ganhar lugar em cima dos móveis, e Yoongi, um tanto constrangido, perguntou se precisava mesmo daquela foto em que ele estava com cara de sono logo ao lado da televisão, onde qualquer um poderia ver.

Também havia a questão de seu trabalho, claro, e, no momento, era o que ele mais corria atrás para mudar. O ambiente do setor financeiro não era o pior de todos, mas Jimin sabia que grande parte do motivo para ele não ter ficado completamente desmotivado com seu emprego era sua companhia. Ter Jeongguk como chefe era uma bênção, e ele não sabia se queria ficar mais alguns meses para saber como seria o novo gerente. Poder almoçar com Yoongi e Seokjin também ajudava, descansando sua mente do estresse que números e clientes o causavam, mas nada daquilo compensava trabalhar com algo que não era sua especialidade. Jimin gostava da parte numérica de sua formação, mas ele gostava ainda mais da química, da física, e de tantas outras coisas que ele esperava ter de volta a cada entrevista que comparecia.

Viver nunca havia sido fácil, e também nunca seria, Jimin sabia disso. Mas ele estava grato por ter mais dias em que conseguia respirar tranquilo, sem nenhuma angústia o puxando para baixo, e, mesmo quando acontecia, pelo menos agora ele sabia lidar muito melhor com a dor. Ele não cansava de se olhar no espelho e repetir que aquele era o recomeço que sempre mereceu, apesar de entender que tudo que tinha acontecido no último ano agora fazia parte da história de sua vida e da transformação de sua personalidade. Foi o que Jimin disse para sua terapeuta em sua terceira sessão, ouvindo-a murmurar enquanto ele olhava para o teto, procurando organizar seus pensamentos da melhor maneira possível.

Jimin sabia que, com os acontecimentos de sua vida assim que ele saiu do exército, não seria possível trazer de volta por inteiro quem ele costumava ser antes, mas ele acreditava que tinha sido capaz de recuperar sua melhor parte. Ele sabia ser paciente e compreensivo quando necessário, dava amor e carinho para as pessoas ao seu redor, e sorria para quem quisesse ou não quisesse vê-lo sorrir. E, no último ano, ele também havia aprendido a importância do diálogo, da compreensão de que relacionamentos precisam de manutenção, e, principalmente, havia aprendido que ele merecia seus pontos finais e esclarecimentos. Ele sabia que precisava se impor mais, se permitir ser cuidado e não só cuidar, e ser mais paciente com a interpretação dos outros sobre uma certa situação.

Na quarta-feira à noite, ainda pensativo depois de sua sessão, Jimin ouviu seu celular tocando enquanto fazia o jantar e esperava Yoongi sair do banho. Ele murmurou um palavrão e desligou o fogo, saindo correndo até sua mochila para a pessoa do outro lado não desistir antes que ele pudesse atendê-la, e, assim que pegou o aparelho e viu o nome escrito na tela, um sorriso leve surgiu em seu rosto.

— Boa noite, professor Kim. — Jimin atendeu à chamada em um tom respeitoso, fazendo o amigo rir do outro lado da linha antes mesmo que pudesse cumprimentá-lo. — A que devo a honra de sua ligação?

— Veja bem, Park, tem um certo Jeon Jeongguk que queria te fazer um pedido ao vivo, mas ele está com vergonha... — Taehyung disse em meio a risadas que soavam infantis, e, ao mesmo tempo, era possível de ouvir Jeongguk resmungando sobre alguma coisa ao fundo. — Então cabe a mim te fazer o convite. Está pronto?

— Tae, não precisava disso! — Jeongguk falou do outro lado da linha, dessa vez com mais clareza, e Taehyung só conseguiu rir mais.

— Eu estou pronto, professor Kim. — Jimin comentou com uma risada fraca. Quando estava prestes a se virar de costas para andar pela sala enquanto falava, ele viu Yoongi surgir no corredor com uma toalha amarrada na cintura e um olhar curioso. Sem querer perder a oportunidade, Jimin o chamou com uma mão, apressado, e, com a outra, colocou a chamada no viva-voz. — Pode falar.

— Nosso querido Jeonggukie teve a brilhante ideia de chamar você e Yoongi hyung para um encontro duplo nessa sexta. — Taehyung falou com uma voz doce claramente falsa, e, no mesmo instante, foi possível ouvir o grunhido do mais novo ao fundo. Jimin riu fraco e murmurou, mostrando que estava ouvindo. — Com nós dois! Mas como ele estava com vergonha de te pedir, eu achei que seria bom dar uma ajudinha. O que você diz?

— Só não conta para o Yoongi hyung! Eu quero chamá-lo, já que o Taehyung fez o favor de me envergonhar com você. — Jeongguk falou com a voz mais clara ao telefone, como se tivesse se aproximado do microfone para ser ouvido.

— Tarde demais, Jeonggukie. — Yoongi respondeu em um tom debochado. Na mesma hora, Taehyung começou a gargalhar na chamada e se afastou do microfone, sem conseguir formar uma frase coerente. Yoongi começou a rir fraco também, dando mais um passo em direção à Jimin e colocando um braço ao redor dos ombros do homem. — Hyung vai adorar o encontro duplo. Sexta-feira, né?

— É. — Jeongguk respondeu, sua voz soando claramente derrotada, ainda mais com o suspiro que acompanhou a confirmação. Ao fundo, Taehyung se recuperava de suas risadas, mas era Jeongguk que estava com o telefone nas mãos agora. — Seria legal aproveitar essas coisas.

A conversa não durou muito mais depois que eles quatro chegaram a um acordo para o horário, e as despedidas foram feitas em meio a alguns gritos e risadas, o que deixou o ambiente da sala de Jimin mais alegre mesmo com a chamada finalizada. Yoongi riu fraco e fez um comentário sobre Jeongguk sempre ficar constrangido com as coisas mais bobas, mas, antes que pudesse tomar distância para ir se vestir, Jimin o segurou pelo braço com delicadeza, uma expressão com uma pitada de preocupação desenhando seu rosto.

— Você acha que isso vai fazer bem a eles? — Jimin perguntou com a voz fraca, sua mão deslizando pelo braço de Yoongi até que encontrasse os dedos do homem, segurando-o sem muita força. — Ficar fingindo que estão namorando quando o Jeongguk está a menos de um mês de ir embora?

— Acho que eles já são bem grandinhos para saber as consequências das coisas que eles fazem. — Yoongi respondeu depois de alguns segundos de consideração, entrelaçando seus dedos nos de Jimin e voltando a se aproximar para roubar um beijo dele. — Se eu estivesse me mudando, ou se você estivesse se mudando, acho que não faria diferente. Eu ia querer aproveitar cada minuto com você. Com ou sem essas coisas, a dor seria a mesma no final.

— É. — Jimin concordou, pensativo. Ele se perguntava como Taehyung se comportaria depois, se estaria vivendo uma primavera amarga sem Jeongguk, ou se ficaria preso ao inverno por longos meses. Forçando-se a sorrir, Jimin se aproximou de Yoongi e o beijou mais uma vez, mais demorado, e depois o empurrou para que ele fosse se vestir logo. — Eu só me preocupo com o Tae.

Jimin aprendeu na sexta-feira que poderia deixar para se preocupar com seu amigo depois, porque, por enquanto, Taehyung parecia estar radiante. Vendo-o ao lado de Jeongguk, vendo como seu sorriso parecia muito maior e suas risadas eram muito mais sinceras, Jimin soube que o professor estava aproveitando seu momento de euforia com o homem. Era exatamente como Taehyung havia dito quando tiveram uma conversa sobre amor, muitos meses antes, quando nenhum dos dois tinha a menor noção do que estava acontecendo na vida amorosa um do outro: se apaixonar valia a pena quando se estava com a pessoa. Era a sensação de calmaria em meio a uma tempestade, era como receber um abraço quente depois de um dia frio. Observando a maneira como Taehyung olhava para Jeongguk, e também como era olhado pelo gerente de volta, Jimin se perguntou se sua felicidade e amor eram tão transparentes quanto as deles, e se foi assim que todos os seus amigos decidiram que ele e Yoongi poderiam dar certo.

E foi quando estava voltando para casa, sentado em um táxi sentindo sua cabeça leve depois de beber algumas taças de vinho, que Jimin chegou à simples conclusão em seus pensamentos de que, sim, ele queria ficar com Yoongi por tempo indeterminado. Ele não estava correndo contra o tempo, e nem precisava fingir que não queria namorar para evitar a dor da separação mais tarde. Jimin sabia o que queria ter com Yoongi, e sabia que poderia tê-lo. Jimin era feliz com Yoongi, e sabia que ainda seria muito feliz pelo tempo que o universo escolhesse para eles. Jimin, tentando misturar a lógica aos seus sentimentos, decidiu que não precisava mais esperar tanto para chamar Yoongi de seu namorado.

Antes de dormir, dessa vez sozinho em seu quarto, Jimin pegou seu celular para dar vida à sua vontade, sem ter a chance de desistir no último minuto caso não tivesse testemunhas. Ele abriu o grupo de mensagens com Taehyung, Namjoon e Hoseok, e digitou com pressa a ideia que o perseguia desde o momento em que se resolveu com Yoongi no mês anterior.

Park Jimin [23:01]: eu vou pedir o Yoongi hyung em namoro amanhã.

Park Jimin [23:01]: me desejem sorte.

Acordando no sábado ensolarado, Jimin sentiu medo de desistir. Ficou com medo de deixar aquela história de namoro para trás, de adiar algo que já parecia tão certo, mas nada daquilo aconteceu. Ele acordou calmo como o canto dos pássaros que vinha do lado de fora, e aquecido como o sol preguiçoso da manhã. Jimin coçou os olhos sem muita força, bocejou e pegou o celular em cima da mesa de cabeceira, abrindo as mensagens que já o esperavam há dez minutos. Um largo sorriso surgiu em seu rosto sonolento ao ver a foto que Yoongi havia mandado de olhos inchados, expressão emburrada e cabelo apontando em diversas direções diferentes. Ele não queria desistir porque não era certo. Não fazia sentido. Para que descartar aquela ideia quando Yoongi era capaz de fazê-lo feliz com tão pouco?

Seu bom humor deixou sua manhã mais leve enquanto ele se arrumava. Yoongi falou sobre o difícil processo de dobrar uma toalha para caber na mochila pequena que ele tinha, e fez questão de enviar várias mensagens de voz com suas considerações raivosas sobre a foto que Jimin havia enviado com o peito desnudo em frente ao espelho, antes de abotoar a camisa favorita deles. À medida que os minutos passavam, a cada mensagem que recebia, a cada qualquer coisa que Yoongi fazia, Jimin só tinha mais e mais certeza do que deveria fazer.

Era irônico e ao mesmo tempo libertador que se sentisse tão tranquilo com a ideia de namorar Yoongi quando, poucos menos de um ano antes, nada daquilo seria motivo de tranquilidade. Jimin se lembrava de quando seus sentimentos pelo advogado começaram a surgir, e uma das coisas que mais passeavam por sua cabeça era sua falta de vontade de começar outro relacionamento. Não porque queria curtir a "vida de solteiro" que já tinha se esquecido de como era, mas porque ele sabia o quão difícil era confiar em alguém daquela forma. Seu casamento havia terminado de forma traumática, e, na época, ele estava longe de se recuperar do baque. E ainda havia o fator de que ele nunca tinha se imaginado gostando de um homem, nem tinha cogitado gostar de um em algum momento. A vida, quando não era cruel, podia ser engraçada. Ou podia ser os dois ao mesmo tempo, como Jimin acreditava, mas podia pender mais para um lado do que para o outro dependendo da maneira que se enxergava a situação.

Ele não iria se crucificar por não ser heterossexual como sempre achou que fosse, nem ia desistir de algo que o fazia feliz simplesmente porque havia se divorciado há um ano apenas. Jimin merecia ser feliz, com quem quer que fosse, em qualquer época que fosse. E, se sua felicidade podia ser alcançada em um sábado de primavera enquanto via as flores de cerejeira pintando a paisagem de Seul, então ele correria e se esticaria para pegá-la.

— Sábado de manhã e você me manda uma foto gostoso daquele jeito. De manhã! Sábado! Eu não sou de ferro, Park Jimin!

Jimin, que já sorria quando viu Yoongi se aproximar com passos apressados e sua maneira engraçada de andar, soltou uma risada ao ouvir o que o advogado tinha a dizer assim que eles estavam perto o suficiente. Havia poucas pessoas na rua, todas caminhando na mesma direção que eles estavam prestes a ir, provavelmente indo para a estação do metrô também. Jimin quis se esquecer que elas existiam por alguns segundos, esticando seus braços e puxando Yoongi para perto, dando-lhe um beijo estalado na bochecha.

— Isso não foi nem um terço do que eu devia ter feito de vingança por você ter me mandado aquela foto no banheiro da empresa essa semana. — Jimin murmurou próximo à orelha de Yoongi, sentindo as mãos do advogado espalmarem seu peito para empurrá-lo para longe. — Então se prepara, porque ainda vem coisa pior por aí.

— Eu vou voltar para casa. Cancela o parque. — Yoongi empurrou o peito de Jimin com força, uma careta se formando em seu rosto enquanto o homem mais novo ria de sua reação exagerada e tentava puxá-lo pela mão de novo. — Eu faço sanduíches e é isso que eu ganho em troca!

— Deixa os sanduíches aqui e eu vou para o parque sozinho, eu não preciso de você. — Jimin tentou falar com o rosto sério, mas a expressão cômica de choque de Yoongi o fez rir ainda mais alto, chamando atenção de algumas pessoas que andavam por ali. — Brincadeira! Brincadeira, eu juro! Quero muito sua companhia, meu amor, meu mel...

— Eu sou fraco demais. — Yoongi resmungou, ajeitando a alça da mochila sobre seu ombro e aceitando ser puxado por Jimin na direção da estação do metrô. Um sorriso surgiu em seu rosto e ele começou a caminhar ao lado do engenheiro, sentindo seu pulso ser soltado aos poucos, até que seus passos caíssem em um ritmo parecido. — Tinha que criar uma resistência maior a você.

Por breves momentos, enquanto conversava com Yoongi sobre qualquer besteira que viesse à mente durante o caminho até o parque, Jimin deixava sua mente ir longe para se perguntar: como seria sua vida agora sem o advogado? Ele queria saber como teria se reerguido em alguns momentos difíceis, e queria saber se teria pensado em começar a fazer terapia. Apoiando o rosto no próprio braço, sua mão segurando a barra de ferro no metrô, Jimin se perguntava se teria se apaixonado por outra pessoa, se teria se apaixonado por outro homem. Ele queria saber como sua vida seria diferente para ter a mínima noção do impacto que Yoongi havia causado. Sua força de vontade para lutar e seguir seu rumo não tinha vindo inteiramente do advogado, mas Jimin reconhecia a ajuda que havia recebido.

Ele se perguntava se estaria a caminho do Parque Yeouido para ver as flores de cerejeira, ou se teria escolhido ficar em casa, recluso, conforme tinha acontecido no ano anterior. Jimin se perguntava se teria a camisa que estava vestindo no momento, e se gostaria tanto dela da maneira que gostava. Jimin pensava e pensava, tentava imaginar uma vida sem Min Yoongi, mas não conseguia. Não queria. Aliás, nem importava. Porque a única coisa que valia de verdade era que aquele era seu presente. Ele não vivia mais desejando viver seu passado de novo, querendo tudo de volta, porque finalmente estava satisfeito com tudo o que tinha e que ainda poderia conquistar.

Agora, o mais distante que ia ao seu passado era pouco menos de um ano antes, quando conheceu Yoongi. Naquela primavera tão fria em sua vida, um raio de sol surgiu para aquecê-lo. Naquele banheiro desconhecido em um restaurante qualquer, Jimin sentiu um carinho imaginado das palavras de um estranho. Sentiu conforto. Yoongi, que podia ter continuado como um ninguém em sua existência, acabou ficando. E ficou, e ouviu, e chegou aonde estava hoje. Com lugar fixo no coração de Jimin por tempo indeterminado.

— Corre comigo até aquele lugar ali antes que alguém mais rápido chegue, vem!

O vento diante do rio Han era um pouco mais forte do que em meio aos prédios da cidade grande, dificultando a vida de Jimin, que forrava o gramado com a toalha que Yoongi havia levado em sua mochila. Ao fundo, era possível ouvir crianças brincando, vendedores tentando ganhar a vida, e pessoas das mais variadas idades aproveitando a paisagem de tirar o fôlego. Pétalas cor-de-rosa voavam pelo ar com delicadeza, sem pressa, e traziam uma tranquilidade necessária a um lugar normalmente tão cinza. Jimin soltou um suspiro ao se sentar sobre a toalha, bem ao lado de Yoongi, e não perdeu tempo antes de se deitar com um resmungo enquanto fechava os olhos.

O espaço onde estavam era levemente inclinado em direção ao rio, dificultando a visão deles do chão de pedras e gramado um pouco acima. Ali, eles podiam passar despercebidos com facilidade pelos pedestres, e ainda haviam algumas árvores por perto que faziam uma sombra muito bem-vinda. Yoongi murmurava uma canção qualquer enquanto se ocupava em tirar alguns sanduíches da mochila, claramente orgulhoso da sua força de vontade para acordar mais cedo e fazê-los. Jimin alternava sua atenção entre a extensão de água diante dele e o rosto do advogado, mas sem deixar o sorriso sair de seus lábios.

Eles trocaram poucas palavras antes de comer, e também enquanto comiam. Era como se o clima pedisse silêncio. As pétalas que voavam até eles caíam sobre a toalha e assim ficavam, tranquilas, assim como ambos se sentiam enquanto viam tudo ao seu redor. Jimin aproveitava alguns segundos de distração, quando Yoongi fechava os olhos e virava o rosto em direção ao sol, para apreciá-lo. Rir fraco de seu cenho franzido, claramente incomodado com a luz forte mesmo que não a olhasse diretamente, e observar com atenção a maneira que suas bochechas se enchiam de comida a cada mordida que dava em seu sanduíche.

Jimin voltou a pensar na possibilidade de nunca ter conhecido Yoongi, de nunca ter se apaixonado por ele. Por um homem. Aquele era o pensamento que mais passava por sua cabeça, a dúvida que mais o deixava acordado à noite. Algumas vezes, Jimin considerou a opção de Yoongi ser uma exceção à regra. Um caso único, algo que não havia a menor possibilidade de se repetir. Por alguns segundos, aquela ideia fazia sentido em sua cabeça, até ele pensar no quão ridículo aquilo soava. Se ele não esperava se apaixonar por Yoongi naquela fase de sua vida, o que o levava a pensar que não poderia ter sido outro homem? O que o levava a pensar que a realização não podia ter chegado em outro momento? Aquela era só a maneira que sua história estava sendo contada. Outro homem podia ter surgido antes de Eunju, e, agora, tudo poderia ser completamente diferente. Mas foi Yoongi que surgiu, foi depois de seus trinta anos, e estava tudo bem. Jimin simplesmente nunca teve espaço ou interesse para considerar a possibilidade antes.

Ele pensava com frequência na conversa que teve com Namjoon. Jimin fez uma pausa em seus pensamentos para sorrir para Yoongi, que tinha aberto os olhos, confuso, mas logo os fechou para continuar aproveitando o calor da manhã. Observando-o, Jimin se lembrava da conversa com o amigo, da maneira que ele introduziu a possibilidade de não se limitar a apenas uma coisa. Ter sido casado com uma mulher e estar prestes a namorar com um homem agora não significava que ele tinha deixado de ser uma coisa para ser outra. Ele tinha só... aberto mais uma porta, deixando as duas abertas ao invés de fechar a outra. Jimin poderia muito bem estar apaixonado por outra mulher agora. Jimin poderia muito bem ter se apaixonado por um homem na época da faculdade. Ele só teve um tempo diferente de descobrir, até porque a atração mais fácil de aceitar internamente sempre esteve presente em sua vida.

Jimin pensava e pensava, tirava dúvidas idiotas na internet, pensava mais um pouco. Parava, refletia, e decidia que, agora que já se entendia um pouco melhor, a ideia de gostar de outro homem que não fosse Yoongi não soava absurda. Ele não queria gostar de outro homem no momento, e nem se via gostando num futuro próximo – até porque estava bem feliz com o que tinha agora –, mas também sabia que o advogado não era uma "exceção à regra" estúpida.

Ele puxou o ar com força, sabendo que fez barulho, e viu como Yoongi abriu um olho para encará-lo curioso.

— Você se lembra de uma vez... — Jimin começou, prestando atenção em seu indicador esquerdo, que desenhava círculos imaginários na toalha enquanto ele se apoiava com a palma da mão. — Que eu disse que não sabia exatamente o que eu era? Que eu só sabia que gostava de você, mas...

— Lembro. — Yoongi respondeu com o olhar neutro, puxado para o carinhoso. Ele grunhiu fraco enquanto se ajeitava por cima da toalha, buscando se virar de frente para o engenheiro para lhe dar total atenção. — O que tem?

— Eu andei pensando bastante sobre isso. Ainda mais agora que a quantidade de preocupação diminuiu na minha cabeça. — Jimin soltou uma risada fraca, notando como a velocidade de seus círculos aumentou. Ele sabia que Yoongi estava o encarando, mas não tinha coragem para olhá-lo de volta. — E-eu acho que cheguei a uma conclusão.

— Jura? — Yoongi perguntou em uma voz suave. Jimin sentia que estava recebendo espaço para formular mais frases, e seria eternamente agradecido ao homem por isso. — E você quer me dizer qual é essa conclusão?

— Eu sou bi... sexual? — Jimin disse uma leve careta no rosto, estranhando a frase de primeira. Ele fungou uma, duas vezes, e umedeceu os lábios com a ponta da língua, sentindo que podia falar aquilo com mais firmeza. Sua cabeça se levantou e ele finalmente olhou para Yoongi, que o encarava com um sorriso largo no rosto. — Eu sou bissexual.

Yoongi não disse nada, simplesmente continuou sorrindo. Era como se ele soubesse de alguma coisa que Jimin ainda não soubesse. Então, o engenheiro repetiu as palavras dentro de sua cabeça. Eu sou bissexual, diversas vezes, sem parar, até não soar mais tão estranho. Soava bom, até. De uma forma curiosa, Jimin achava que combinava com ele. Bissexual. Soava certo, da mesma maneira que soou certo quando admitiu em voz alta que gostava de Yoongi. Fazia sentido, encaixava as peças em seus devidos lugares. Ele até sentia que era capaz de falar aquilo com mais facilidade do que falou durante sua vida inteira que era heterossexual. As sílabas rolavam fáceis por sua língua.

— Caralho, eu sou bissexual. — Jimin disse, uma confiança nova saindo em sua voz. Ele deu uma risada desacreditada e viu Yoongi rir junto, seus ombros subindo e descendo enquanto ele balançava a cabeça de um lado para o outro. — Dá para acreditar?

— Dá, sim. — Yoongi parou de rir, mas um sorriso afetuoso continuou em seu rosto. — Como você se sente, senhor Park Jimin bissexual?

— Muito bem. — Jimin disse com uma sobrancelha arqueada, sua mão, agora livre, segurando em sua cintura em uma pose debochada. — Me sinto muito bem. E você, senhor Min Yoongi...?

— Gay. — Yoongi piscou os olhos com velocidade, apoiando o rosto entre as duas palmas da mão e balançando seus dedos, fazendo Jimin rir. Ele logo voltou à pose de antes, o mesmo sorriso afetuoso desenhando os lábios, e respondeu à pergunta. — Eu estou feliz por você, Jimin.

— É. — Jimin tentou impedir um sorriso enorme de surgir em seu rosto, mas nem mesmo mordendo o próprio lábio inferior ele foi capaz de conter sua felicidade. Com pulos desengonçados, ele se aproximou mais de Yoongi e o puxou para um meio abraço, descansando o queixo no ombro do homem. — Eu também estou feliz, hyung.

Quanto mais a manhã seguia, mais quente ficava. Jimin não sentia fome graças aos sanduíches que Yoongi havia preparado, mas começava a achar que sua escolha de roupa havia sido boa somente pelo significado que carregava. Ouvindo as mais diversas pessoas aproveitando o parque e as cerejeiras assim como eles dois, Jimin se deitou sobre a toalha e resmungou enquanto tentava fazer o braço de Yoongi de travesseiro, recebendo uma risada e o exato conforto que ele buscava como resposta. Minutos passavam sem pressa, assim como as pessoas, e ambos seguiam em silêncio aproveitando a presença um do outro, o carinho e o abraço. Jimin sentia que seria capaz de adormecer a qualquer momento ouvindo a respiração de Yoongi tão de perto, sentindo seu calor tão próximo, como se fosse tudo que ele precisasse para se acalmar.

No entanto, mesmo depois de falar sobre sua sexualidade e sentir que havia se livrado de um peso significativo de suas costas, Jimin sabia que tinha mais uma maneira de melhorar seu dia. Abrindo seus olhos lentamente, deparando-se com o rosto relaxado de Yoongi a poucos centímetros do seu, mexendo seus dedos por cima do peito do homem em um carinho involuntário, ele chegou à conclusão de que estava pronto. Jimin sabia que ainda tinha muitas coisas a resolver, e já havia aprendido que a caminhada seria longa, mas ele também sabia que já estava muito melhor. Ele não pensava mais tanto no exército, e, se pensasse, procurava fazer algo para se distrair daquela dor. Ele já não pensava mais tanto em seu divórcio, principalmente porque ouvir o lado de Eunju havia trazido uma certa paz. Jimin dedicava seu tempo a viver por ele mesmo, e, se tinha uma coisa que ele queria muito e seria capaz de deixá-lo feliz, essa coisa envolvia Yoongi.

E Jimin achava que estava pronto. Realmente achava. E queria acreditar que Yoongi estava pronto também.

— Hyung. — Jimin murmurou, um som tão baixo que ele se perguntou por alguns instantes se Yoongi teria o ouvido em meio a todo o barulho do parque. Sua mão, que antes descansava sobre o peito do mais velho, esticou-se na direção do rosto dele, acariciando suas bochechas com a parte de trás dos dedos. Na mesma hora, Yoongi abriu os olhos e o encarou, piscando devagar. — Obrigado por me trazer aqui hoje. Eu estou adorando.

— Considerando que você vai à academia cedo, eu imaginei que você fosse o tipo de pessoa que gosta de apreciar a natureza. — Yoongi disse com a voz rouca de sono, um sorriso preguiçoso surgindo em seu rosto enquanto Jimin rolava os olhos. — Mas é bom saber que você está gostando.

— Sabe... — Jimin suspirou, tirando sua cabeça de onde estava apoiada no braço de Yoongi para apoiar o rosto em sua própria mão, o cotovelo apoiado sobre a toalha enquanto observava o mais velho de cima. — Vai parecer meio do nada, mas desde que fez um ano da minha volta do exército, e desde que nós dois voltamos a nos falar, eu ando pensando muito.

— Eu noto como você fica aéreo às vezes. — Yoongi comentou, um riso fraco saindo como um sopro de seu nariz. Ele se ajeitou sobre a toalha, colocando um braço por baixo de sua cabeça como apoio, e encarou Jimin em silêncio por alguns segundos antes de voltar a falar. — Mas eu senti que seria bom esperar você falar.

— Bom, a hora é agora. — Jimin bufou e fez uma careta, arrancando uma risada de Yoongi. Na mesma hora, seu coração começou a bater mais rápido em seu peito, e ele tentou organizar as palavras em sua cabeça antes de colocá-las para fora. — Eu não vou perder meu tempo falando o quanto eu gosto de você, ou sobre como você é especial para mim... você sabe.

— Eu sei. — Yoongi respondeu em um sussurro, abrindo um pequeno sorriso enquanto observava cada centímetro do rosto de Jimin.

O silêncio durou longos segundos depois disso. Jimin ainda tentava organizar as palavras, ainda tentava achar a frase perfeita para fazer o que queria há tanto tempo. Ele soltou uma risada fraca, nervoso, e desviou a atenção para o rio Han por um tempo, observando as águas calmas, e depois olhou para as árvores ao seu redor, vendo as pétalas cor-de-rosa caindo com leveza. Seu coração ainda batia acelerado, sua mente tentava mostrá-lo mil e uma coisas para dizer, mas Jimin tentava se acalmar. Ele pensava em tudo que Yoongi significava, e tudo que ele ainda podia significar. Jimin tentava pensar em abraços quentes, noites confortáveis e carinhos discretos que o relaxavam em meros instantes. Beijos apaixonados, toques pesados e sussurros que pertenciam somente a eles. Jimin pensava, principalmente, no quanto amava e no quanto ainda seria capaz de amar Yoongi, por todos os anos que ele ainda planejava ficar ao seu lado.

— Eu aprendi nesse último ano a importância de se comunicar e de confiar. — Jimin começou a falar, engolindo em seco logo em seguida. Yoongi, que sorria largo, ficou um pouco mais sério e assentiu com a cabeça, mostrando que entendia. — Não importa em que situação, ou que tipo de relação. E eu acho que nós aprendemos isso juntos também.

— É. — Yoongi fez uma pequena careta, seu nariz se franzindo com a lembrança das semanas que eles passaram distantes um do outro. — Prometo não fazer o que fiz de novo. Aliás, nós prometemos conversar sempre que tiver alguma coisa acontecendo, não é?

— Sim, nós prometemos. — Jimin abriu um sorriso um pouco mais largo, feliz de ter ouvido exatamente o que queria. Ele respirou fundo e desviou a atenção para a mão de Yoongi que descansava sobre sua própria barriga, tocando-a de leve com seus dedos antes de voltar a olhar para o homem. — Eu acho que confiança é a base de tudo. Antes de qualquer coisa, qualquer sentimento, você precisa confiar na pessoa. Mas eu acho que– Acho que é o sentimento que muda a relação.

— É? — Yoongi murmurou, dando corda aos pensamentos de Jimin.

— Tudo que eu sinto com você é muito intenso. É explosivo, elétrico. Eu sinto que estou pegando fogo quando você está perto, minha pele fica formigando e... — Jimin fez uma pausa, sua boca aberta e suas sobrancelhas arqueadas enquanto ele buscava mais palavras para explicar o que sentia. Yoongi acabou rindo, fazendo-o rir também. — É muito bom. É queimar por dentro, mas é se sentir vivo. É sair do inverno, é parar de sentir frio, é–

Jimin fez uma pausa, respirou fundo. Ele encarou o rosto de Yoongi por longos segundos, apreciando a vista. Os olhos ainda inchados de sono, os lábios bem desenhados, a pele pálida. O pequeno sorriso que parecia não sair de sua feição nem por um segundo, como se ele fosse incapaz de conter a felicidade que sentia. O que era irônico, porque, por vezes, Jimin acreditava que era incapaz de conter tudo de positivo que sentia e vinha com o ato de amar Min Yoongi.

— É viver a primavera de novo. Você é minha flor de cerejeira, hyung. Você é calor, raio de sol, é luz. — Jimin disse em um murmúrio, assustado com a sinceridade das próprias palavras, com o significado que elas carregavam. Ele sorriu, riu fraco, e observou o rosto sorridente de Yoongi por todos aqueles segundos enquanto tomava coragem para completar seu raciocínio de uma vez por todas. — E eu queria ser tudo isso para você também. Oficialmente.

Se antes Jimin achava que seu coração estava batendo rápido, agora ele tinha certeza de que o cuspiria caso abrisse a boca. Yoongi não dizia nada, não movia um músculo. Então, depois de alguns segundos, ele tirou a mão de onde estava apoiada em sua barriga e a levou até a nuca de Jimin, entrelaçando seus dedos nos fios curtos da região, acariciando-o e puxando ar antes de falar.

— Você sempre foi isso tudo para mim, Jiminie. — Yoongi confessou em um murmúrio, rindo fraco assim que Jimin arregalou os olhos, surpreso. — Eu só estava esperando você perceber sua capacidade de brilhar na minha vida.

Enquanto as pétalas caíam ao seu redor, enquanto adultos e crianças apreciavam a beleza do mundo, enquanto o rio corria e o mundo girava, Jimin só conseguia pensar no quanto estava feliz. Com seu coração ameaçando rasgar seu peito, ele não pensou duas vezes antes de jogar seu peso sobre Yoongi, abraçando-o e o fazendo resmungar com o "ataque" repentino. Eles riam, resmungavam de dor enquanto se apertavam, e tentavam se controlar para não rolar pela terra de tanto que se movimentavam por cima da toalha com o carinho.

— Isso quer dizer que eu vou poder me referir a você como "meu namorado" mesmo em situações completamente desnecessárias? — Yoongi arqueou uma sobrancelha assim que se afastou, ainda deitado sobre a toalha enquanto Jimin o observava de cima com um sorriso enorme no rosto. — Sabe, tipo, quando Hoseok me perguntar onde você está e eu falar com voz de sonso que "meu namorado está no banheiro".

— Eu escolhi namorar o cara certo, porque eu estava planejando fazer exatamente o mesmo. — Jimin levantou as duas sobrancelhas, sorriu, e fez Yoongi rir ainda mais alto do que ele. — Meu namorado foi ao banheiro. Sabia que meu namorado é advogado? Meu namorado chora ouvindo Epik High. Meu namorado já dormiu por vinte horas seguidas, sabia? Mas meu namorado disse que é porque ele trabalha muito!

Enquanto ria, Yoongi o puxou para mais perto, abraçando-o com a mesma força de antes. A risada morria aos poucos, dando lugar a respirações pesadas e carinhos mais calmos, mas eles não se soltavam. Jimin sentia seu coração batendo mais devagar, acalmando-se, mas não com menos força. Os dedos de Yoongi estavam em seu cabelo, acariciando-o, e ele devolvia o carinho nas costas do advogado, querendo mais do que tudo transmitir exatamente o que ele sentia. Com cada afago, com cada suspiro, com cada beijo estalado que ele se aventurava em dar no pescoço de Yoongi, sem nem ligar se alguém pararia e olharia para baixo para vê-los, ele esperava traduzir em ações o que seu coração gritava há meses.

Mas, dessa vez, não foi o suficiente. Seu silêncio não foi o bastante.

— Eu te amo. — Jimin sussurrou ao pé do ouvido de Yoongi, engolindo em seco logo em seguida. Ele não parou, e nem sentiu o advogado parar, mas não sabia se devia dizer alguma coisa a mais.

— Eu também te amo, Jiminie. — Yoongi murmurou de volta, afastando-se um pouco para ter visão do rosto do mais novo. Assim que o viu, seu sorriso deu lugar a uma expressão emburrada claramente falsa, e Jimin arregalou um pouco os olhos em receio. — Mas agora eu te amo um pouco menos porque você já me pediu em namoro, eu queria ter sido o primeiro a dizer isso.

— Tarde demais. — Jimin mostrou a língua, rindo alto quando Yoongi rolou os olhos ao ver sua reação infantil. — Pelo menos eu sei que amo mais.

Yoongi o encarou de cenho franzido, sua boca se abrindo em um formato oval de indignação, e, empurrando o mais novo para longe, ele apontou um dedo no rosto de Jimin, que sorria em meio à situação.

— Você é um–

Jimin acreditava que jamais seria capaz de se esquecer de toda a solidão e angústia intensa que sentiu durante o exército. Ele não se esqueceria de noites mal dormidas em sua antiga base mesmo que seu corpo implorasse por descanso, e não se esqueceria da vontade imensa de não voltar para ser serviço quando passava feriados e folgas em casa. Ele seria ainda mais incapaz de se esquecer de quando finalmente deixou o exército, sonhando com sua cama e seu lar, apenas para ser privado de tudo aquilo de maneira cruel por Eunju. Jimin nunca, nunca se esqueceria do quanto demorou para se adaptar ao apartamento novo, ao emprego novo, e da dificuldade que sentiu de se reinserir na sociedade. Não, ele não se esqueceria de sua dor em seu auge, e sabia que ela não tinha ido embora por completo, mas surgia um certo orgulho em seu peito quando ele pensava que aquilo fazia parte de um passado que ele não ficava preso em reviver constantemente.

Ele não sentia mais falta do apartamento de Seocho porque gostava de Sangam, e do fato de morar perto de Yoongi. Não sentia mais falta do conforto do casamento com Eunju porque agora estava em um relacionamento novo que fazia seu coração se acelerar e sua alma ficar em paz. Não sentia mais tanta falta do antigo laboratório e seus antigos colegas porque estava correndo atrás de algo novo agora, de novas experiências, e de novas histórias para contar tanto para seu namorado quanto para seus amigos. Jimin afastava pensamentos sobre o exército, lembrando-se do que tinha agora e de que aquilo não fazia mais parte de sua rotina. Ele estava melhorando. Todos os dias, devagar, até poder olhar ao seu redor e pensar que tudo de ruim havia definitivamente ficado para trás.

Seu riso vinha mais fácil, suas frases eram mais longas. Ele não sentia mais a necessidade de mencionar acontecimentos de sua vida antes, e, quando acontecia, ninguém o olhava preocupado, com medo de sua reação. Jimin sempre participava de conversas, flertava como nunca e deixava Yoongi constrangido, e mostrou que voltou a ser o que era antes, mesmo com os toques de seriedade e maturidade que havia adquirido com tudo que aconteceu. Jimin sabia que estava melhor. Ele sentia que estava. E, mesmo assim, quando seus amigos o diziam o mesmo em momentos inesperados, ele não deixava de ficar emocionado em saber que havia chegado tão longe.

As flores pintaram a paisagem da cidade por poucos dias, mas foi tempo o suficiente para Jimin aproveitar ao lado de Yoongi. Eles passaram mais algumas horas conversando e admirando a vista até decidirem que estava ficando muito quente, e eles não se manteriam satisfeitos apenas com os sanduíches que haviam levado. O almoço foi frango frito, o passeio à tarde foi em um fliperama que milagrosamente se manteve aberto durante anos, e que causou sérias discussões entre o casal por culpa de sua competitividade. À noite, ambos estavam exaustos demais para fazer qualquer outra coisa, mas Jimin ficou contente o suficiente em dormir nos braços de seu namorado – seu namorado – para ligar.

A primavera seguia morna e devagar, sem pressa, mostrando a Jimin que a vida não precisava mais ser um batalhão de sentimentos indesejados. As flores pararam de cair logo no início da semana, e, junto com a segunda-feira, Jimin recebeu uma ligação de Hoseok com um convite para jantar. No mesmo palácio, com a mesma comida e a mesma companhia de sempre.

— Depois você tem que me dizer como foi no sábado. — Hoseok disse com a voz soando quase desinteressada, como se estivesse fazendo outra coisa além de falar com Jimin ao telefone. — Eu entendo que você deve ter aproveitado o fim de semana inteiro para transar, tudo bem, eu também já tive essa fase do relacionamento com o Namjoonie. Você vai trazer o Yoongi hyung?

— Claro que eu vou levar meu namorado, hyung. Quem você acha–

Vai trazer seu o quê?!

O grito de Hoseok do outro lado da linha foi tão alto que Jimin ficou com medo de alguém além dele ter ouvido. Isso porque ele estava no banheiro do escritório, completamente sozinho, mas o amigo tinha cordas vocais impressionantes e ele não duvidaria da potência delas. Depois de afastar o celular do rosto, Jimin só conseguia ouvir mais e mais gritos vindo do aparelho, apesar de não conseguir entender as palavras ditas com perfeição. Quando sentiu que seu tímpano não sofreria dano permanente por culpa de Hoseok, o engenheiro voltou à chamada, mas agora ouvindo a voz preocupada de Namjoon do outro lado perguntando se alguma coisa tinha acontecido para o esposo berrar tanto.

— Namjoon, liga para o Taehyung! E o Seokjin hyung, liga para todo mundo, o Jimin realmente cumpriu a promessa dele nesse fim de semana!

Acabou que o que era para ser um simples jantar virou um reencontro inesperado dos sete. Jimin sentia que podia se esconder dentro de seu próprio pescoço com literalmente qualquer coisa que Hoseok falava, ou Taehyung e Namjoon, porque todos os três estavam determinados a envergonhá-lo agora que eles sabiam que Jimin estava namorando. Yoongi também não era de muita ajuda. Ele dava corda, adicionava informações que absolutamente ninguém precisava saber, e ignorava todo e qualquer protesto que vinha de Jimin implorando para ele não compartilhar a intimidade deles daquela forma. O que era para ser um jantar em família virou uma troca de recomendação de posições e brinquedos sexuais que deixou o engenheiro perto de horrorizado, mas certamente interessado.

Depois desse dia, depois de oficializar seu namoro com Yoongi e ter a aprovação de todos os seus amigos – até mesmo os que ele havia "roubado" do namorado –, abril seguiu mais calmo. Eles iam jantar com Namjoon e Hoseok com frequência. Vez ou outra, recebiam também a companhia de Seokjin, e, em dias mais incomuns, Jeongguk e Taehyung apareciam para compartilhar tempo com os outros dois casais. Era uma rotina boa, morna como as noites de primavera se tornavam aos poucos, e combinava com a calma que havia finalmente se instalado na vida de Jimin.

Aquela calmaria só foi quebrada perto do fim do mês, quando Jimin estava andando ao lado de Yoongi nas ruas depois de almoçar e recebeu uma ligação de um número desconhecido em seu celular. Ele atendeu sem pensar muito, esperando alguém tentando vender alguma coisa e treinando sua voz para falar de maneira educada que ele não estava interessado em comprar nada, mas parecia que seus pés haviam grudado no chão quando ele ouviu algo completamente diferente. Yoongi, que percebeu logo que ele havia travado, encarou-o de cenho franzido como se quisesse saber o que estava acontecendo. Seokjin e Jeongguk, que andavam mais à frente, pararam assim que notaram que estavam sozinhos, e também olharam para trás para saber se tinha algo de errado com o casal.

Jimin ouvia atento à mulher do outro lado da linha. Ela era do setor de recursos humanos, seu nome pouco importava, mas ele se lembrava perfeitamente do nome da empresa para qual havia feito uma entrevista não muito tempo antes. Jimin precisava levar alguns documentos para eles e então começaria a trabalhar como engenheiro químico oficialmente. Todas as suas palavras saíam em um tom mais baixo que o normal, como se ele ainda não acreditasse no que estava ouvindo. Yoongi se aproximava para tentar entender o que ele estava falando, mas Jimin não tinha nem certeza se ele próprio se entendia. A mulher o parabenizou, confirmou mais uma vez o que ele precisava levar para ser contratado, e se despediu como se não tivesse acabado de dar uma das melhores notícias que Jimin tinha ouvido nos últimos tempos.

— Amor? — Yoongi chamou assim que Jimin desligou a chamada ainda de olhos arregalados, absorvendo tudo que tinha acabado de acontecer. O advogado estava de cenho franzido, estalando os dedos na frente do rosto do engenheiro, mostrando mais e mais preocupação. — O que houve? Você está bem?

— Hyung, eu acho que vou ter que escrever uma carta de demissão muito em breve. — Jimin disse, sabendo que havia escolhido as piores palavras possíveis para dar a notícia assim que viu a expressão confusa de Yoongi se acentuar ainda mais.

Mas aí, o rosto do advogado se acendeu em entendimento. Seus olhos se arregalaram, sua boca se abriu em um formato oval, e, como se também tivesse percebido de verdade o que havia acabado de acontecer, Jimin deixou um sorriso enorme desenhar seus lábios. Yoongi soltou uma risada incrédula e segurou o engenheiro em suas bochechas, seus olhos brilhando em felicidade.

— Mentira! — ele exclamou, ainda tentando processar a informação.

— Acabaram de me ligar! É verdade! — Jimin assentiu com a cabeça, segurando os pulsos de Yoongi com força e rindo alto. — Eu só preciso levar uns documentos e posso começar a trabalhar!

Enquanto trocavam um abraço apertado no meio da rua, sem nem ligar para quem achava a cena estranha e um tanto exagerada, Jeongguk e Seokjin se aproximaram, curiosos para saber o que estava acontecendo. Assim que Jimin deu a notícia, ele sentiu uma porção de mãos dando tapas em suas costas e bagunçando seu cabelo, além de ouvir mais e mais "parabéns" de todos os três. Yoongi era o que mais falava, disparando mil palavras a cada segundo, gritando algo sobre eles irem comemorar o mais rápido possível porque aquilo merecia uma noite inesquecível em um bar. Jimin só conseguia rir, concordando, porque mal conseguia acreditar na felicidade que estava sentindo.

A reunião entre os sete aconteceu no dia seguinte no mesmo bar que Jimin já tinha ido antes duas vezes com seus amigos. Além de ser a vez mais inesquecível, que rendeu risadas escandalosas e lágrimas de felicidade, foi, muito provavelmente, a última. Em vários momentos, o engenheiro olhava ao seu redor para gravar a cena perfeita de todos se divertindo, rindo sem preocupações, interagindo como se todos se conhecessem há anos, e torcia para que algum dia eles pudessem voltar exatamente de onde tinham parado, naquele dia.

Enquanto ia a entrevistas e esperava por uma ligação para tirá-lo de seu atual cargo, Jimin se perguntava como seria trabalhar naquele setor sem a presença de Jeongguk em sua mesa, chamando-o para almoçar todos os dias como acontecia desde a primavera passada. Ele se perguntava se seu novo chefe seria tão jovem ou tão simpático, se seria uma mulher, se seria tão agradável de se ter por perto. Ele se perguntava como ficariam os almoços com uma quarta cadeira vazia, e sem alguém para Seokjin implicar durante todos os poucos minutos que eles tinham para comer. Mas depois de receber a ligação, depois de assinar sua carta de demissão e entregar todos os documentos necessários para começar em seu novo emprego, Jimin percebeu que todos os seus questionamentos foram em vão.

A sexta-feira seguinte foi a última de ambos na empresa.

Jimin começaria seu novo emprego na outra segunda-feira, a primeira de maio.

E Jeongguk se mudaria para o Japão no sábado.

O almoço foi um pouco mais silencioso, mais triste. Seokjin não implicava tanto com Jeongguk, preferindo observá-lo falar sobre como muito provavelmente seria sua vida em Tóquio. Por sorte, os minutos pareceram se estender mais, porque além de sentir o peso de ver um amigo se mudar para outro país, Jimin também sentia o peso de perder uma rotina que havia trazido tantas coisas boas ao longo daquele último ano. Sim, ele sonhava em voltar a exercer sua profissão, mas ele não podia negar a importância de ter trabalho no setor financeiro, de ter tido Jeongguk como chefe, e de ter conhecido uma pessoa que amava tanto de uma maneira inusitada. Jimin estava nostálgico, ao mesmo tempo em que estava animado com o que o futuro o prometia, exatamente igual a como Jeongguk falava sobre a mudança há semanas.

No fim da tarde de sábado, Yoongi estava um pouco mais calado enquanto pegava seu celular e a chave do carro, pronto para sair de casa. Jimin tentava não falar muito porque sabia que seu namorado estava apenas processando a ideia de ficar distante de um amigo por tanto tempo, e, mesmo com toda a tecnologia do mundo, nada superava passar algumas horas com a pessoa, ao vivo e em cores. Seokjin já tinha mandado uma mensagem dizendo que estava pronto, e Jeongguk também disse que já estava com as malas fechadas, pronto para ser levado ao aeroporto por seu "motorista particular".

Jimin ia saltar do carro quando pararam em frente ao prédio de Jeongguk, mas ele desistiu assim que viu que o amigo tinha ajuda para guardar seus pertences na mala. Assim que ele entrou, sendo acompanhado por um Kim Taehyung que não brilhava tanto quanto seu normal, Jeongguk tentou fazer piadas para aliviar o clima claramente desagradável. Jimin tentava rir no banco da frente, vendo-o pelo espelho retrovisor, e Seokjin também tentava ajudá-lo para não deixar tudo ainda mais constrangedor, mas Taehyung estava sério. Um sorriso mínimo surgia em seu rosto e sumia logo em seguida. Yoongi não estava muito diferente, mas suas mãos segurando o volante com força denunciavam que não era apenas sua concentração nas ruas que o impedia de dar mais risadas.

Assim que o trânsito começou a piorar perto do aeroporto, Jimin olhou para trás mais uma vez através do espelho retrovisor, vendo Taehyung com a cabeça encostada no ombro de Jeongguk. Ele não dizia nada, simplesmente brincava com os dedos do mais novo e tentava não olhar ao seu redor, como se não quisesse ver onde estavam para não saber que estava cada vez mais perto da despedida. Seokjin soltou um comentário sobre como a música lenta que saía do rádio não ajudava em nada no clima de enterro entre eles, o que causou uma breve risada de todos, mas logo o silêncio voltou. Jimin, ainda sem tirar os olhos do espelho retrovisor, se perguntou se Taehyung estava prestes a viver um inverno fora de época em sua vida.

O estacionamento do aeroporto era extenso, mas as vagas mais perto da entrada estavam ocupadas, fazendo com que Yoongi parasse um pouco mais distante do que gostaria. Assim que a música se desligou, algumas portas se abriram de imediato e grunhidos foram ouvidos entre eles, mas foi a voz baixa de Taehyung que chamou a atenção de todos.

— Eu posso ficar a sós com o Jeongguk por uns minutinhos?

Pouco tempo depois, Jimin tinha a visão de Seokjin sentado em uma das malas de Jeongguk encarando os próprios pés em silêncio, e de Yoongi andando de um lado para o outro com as mãos na cintura, o pensamento distante. Nenhum deles tentava ver o que acontecia dentro do carro porque sabiam que seria um momento delicado. Jimin estava de braços cruzados, observando principalmente o namorado e a clara tensão em seus ombros, e decidiu caminhar até ele para tentar acalmá-lo de alguma forma.

— Ei. — Jimin chamou, a voz tão suave que nem mesmo ecoou pelo estacionamento espaçoso. Yoongi se virou para vê-lo, e a expressão um tanto triste deu lugar a um sorriso. — Vai ficar tudo bem.

— Eu sei. Eu estou feliz por ele. — Yoongi garantiu com um aceno de sua cabeça, aceitando o abraço de lado que Jimin tentava dá-lo e se aconchegando nele. — Só é meio estranho saber que ele vai ficar longe por tanto tempo. Eu sinto que vi o Jeongguk crescer, e vê-lo indo embora agora é... novo.

Quando Jeongguk e Taehyung finalmente saíram do carro, ninguém falou nada sobre como a ponta do nariz de ambos estava vermelha, assim como seus olhos. Jeongguk simplesmente fez uma piada, uma tentativa clara de descontrair, e tentou atropelar os pés de Seokjin com suas malas grandes e pesadas diversas vezes. Yoongi ria e tentava dar uma bronca no mais novo, gritando de susto quando Jeongguk tentava pegá-lo também, e Jimin assistia a tudo de trás, dando espaço aos três para aproveitarem seus últimos momentos juntos. Taehyung estava ao seu lado ainda em completo silêncio, com o rosto relaxado, mas com evidências de que havia chorado há pouco tempo ainda em suas bochechas.

O embarque do voo internacional era mais adiantado que os outros. Jeongguk, perfeccionista do jeito que era, quis garantir que não se atrasaria nem um minuto, sem perder tempo antes de despachar suas malas e colocar a mochila pesada nas costas para iniciar o caminho até a área do embarque. Algumas risadas saíam aqui e ali, e Taehyung conseguiu esboçar um sorriso ou dois, mas, assim que todos chegaram ao último ponto em que veriam Jeongguk, um silêncio pesado se formou entre eles.

Jeongguk encarava as portas automáticas com o cartão de embarque em mãos, mas não se movia. Jimin, imaginando a tensão que o mais novo estava sentindo, foi o primeiro a puxá-lo para um abraço e desejá-lo sorte em sua nova jornada. Ele agradeceu com um sorriso infantil no rosto, resmungando que ia sentir falta de trabalhar com um funcionário tão eficiente quanto Jimin, ouvindo uma reclamação de volta sobre não sentir falta do engenheiro como amigo. Em seguida, Seokjin fez questão de tentar dar uma rasteira em Jeongguk, apenas para puxá-lo para um abraço enquanto tentava disfarçar a vermelhidão em seu rosto e as lágrimas que começaram a surgir em seus olhos. Yoongi veio em seguida, sussurrando palavras ininteligíveis para quem assistia de fora, batendo e acariciando as costas de Jeongguk a cada palavra. E por último, Taehyung abriu o sorriso mais sincero que Jimin tinha visto até então, segurando o mais novo em seus braços com força enquanto mantinha seus olhos fechados, respirando profundamente.

Assim que finalmente se separou de Taehyung, Jeongguk grunhiu e piscou diversas vezes, logo em seguida mexendo a cabeça para o lado em um movimento rápido como se quisesse afastar as lágrimas. Todos riram com vontade, sem esconder nenhum desconforto ou tristeza por trás, e encararam Jeongguk enquanto ele ajeitava a mochila em suas costas.

— Bom, eu tenho que ir. — Jeongguk soltou um longo suspiro, olhando para os portões mais uma vez e depois voltando a prestar atenção no pequeno grupo de pessoas diante dele. Ele abriu um sorriso que fazia seus olhos se fecharem, e jogou seu cabelo imaginário para o lado enquanto se virava de costas, ainda mantendo o olhar preso aos quatro. — Tentem não sentir muito minha falta. E não se esqueçam que um dia eu volto, ou acharam mesmo que iam ficar sem ninguém para perturbar vocês?

Quando Jeongguk finalmente sumiu da visão deles, muito provavelmente indo em direção ao seu portão, Jimin ouviu uma risada fraca vindo de seu lado, seguida de um suspiro que soava suspeito. Ao virar a cabeça para ver do que se tratava, seus braços imediatamente foram em direção a Taehyung, envolvendo o amigo pelos ombros enquanto ele tentava segurar algumas lágrimas.

— Eu estou aqui por você, Tae. — Jimin sussurrou, ignorando as pessoas ao seu redor para abraçar o amigo com mais força enquanto ouvia suas fungadas constantes. — Vai passar.

— Eu sei que não parece, mas eu estou feliz por ele. — Taehyung murmurou, a voz saindo quebrada com o esforço que fazia para não chorar. Jimin acariciava seu cabelo e dava espaço para ele falar, sabendo que o amigo precisava disso, e não demorou para ele levantar a cabeça um pouco mais centrado do que antes. — Eu admiro muito o Jeongguk. Ele é muito ambicioso, muito dedicado, e eu sei o quanto essa mudança significa para ele.

— Yoongi hyung sempre me contou que ele tinha planos mirabolantes para a carreira dele. — Jimin sussurrou, lembrando-se daquela informação. Taehyung olhou na direção do portão por onde Jeongguk havia passado há pouco tempo e sorriu, concordando com a cabeça. — Ele deve estar feliz.

— Ele está. E eu estou feliz por ele. — Taehyung voltou a olhar para Jimin, mas sua atenção desviou por uns instantes quando Yoongi se aproximou, jogando um braço em volta do ombro de cada um deles. — O Jeongguk me inspira. Acho que é isso que me faz amar tanto ele.

Ao contrário de como Jimin achou que aconteceria, de volta para o carro, o clima estava um pouco mais leve. Todos sorriam com mais frequência, e era fácil de uma conversa surgir mesmo que houvesse uma falta clara em meio a eles. A risada foi generalizada quando Jeongguk mandou uma mensagem para Seokjin com uma falsa expressão chorosa, reclamando por ter comprado um café aguado e absurdamente caro enquanto esperava por seu voo. Jimin, que tinha medo de ver o inverno surgir na vida das pessoas ao seu redor, percebeu que todos viviam apenas uma primavera mais fria, mas que não deixava de ser um recomeço.

Yoongi reclamou do trânsito parado em algum momento, dizendo que eles se atrasariam para chegar no palácio Jung-Kim, e tirou Jimin de seus devaneios. O advogado batucava no volante no ritmo da música que tocava no rádio, enquanto Taehyung e Seokjin cantavam em uníssono, sem se esforçar muito. Jimin deixou um sorriso crescer em seu rosto com a cena, observando atento o perfil de Yoongi e achando adorável a maneira como seus lábios ficavam em um bico enquanto ele fingia cantar a música também. Depois de ver Jeongguk ir embora, sabendo que Taehyung estava vivendo seu recomeço, sabendo que as pessoas ao redor dele também recomeçavam a vida sem um amigo que amavam por perto constantemente, Jimin sentiu seu peito se aquecer.

Seu recomeço estava bem ali ao seu lado. Sua primavera, seu amor.

Enquanto Yoongi cantava, Jimin esticou a mão em direção ao homem, segurando o lábio inferior dele entre o polegar e o indicador, vendo como ele ficou confuso por alguns segundos. Depois, entendendo o que estava acontecendo, Yoongi tentou deixar um beijo no dedo do namorado, virando o rosto agora sorridente para encará-lo.

Jimin riu fraco, recolhendo a mão e deixando que ela caísse sobre seu colo. Vendo Yoongi sorrir, vendo a maneira que ele o olhava de volta, com carinho e amor num gesto tão simples, ele se sentiu na obrigação de, no mínimo, sussurrar as palavras que seu coração o mandava gritar.

Te amo.

Yoongi fez uma careta, olhou para frente por alguns segundos, e depois voltou a olhar para Jimin da mesma maneira de antes.

Te amo mais.

Park Jimin sentiu uma flor de cerejeira desabrochar em seu peito, sabendo que seria capaz de viver uma primavera eterna ao lado de Min Yoongi. 

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