Lorena narrando
Na manhã seguinte fui acordada por meu irmão me chacoalhando, já estava ficando aborrecida, se há algo que eu odeio é ser acordada por alguém.
— O que você quer garoto? — falei alto ainda de olhos fechados.
— Nesse hotel tem uma piscina e o dia tá lindo, podemos ir por favor — subiu na cama e ficou pulando.
— Eu não quero ir, me deixa dormir mais!!! — puxei o lançou e virei pro outro lado.
— Mamãe só deixa eu ir se você for, então faz isso por mim — abri os olhos e vi aquela carinha fofa que me convence a fazer tudo, que criança insistente!
— Aff eu vou então, agora deixa eu me arrumar.
— Tá Bom eba!! — me abraçou e saiu pulando e gritando do quarto.
"Irmãos" — pensei revirando os olhos.
Levantei e fui procurar por uma roupa de banho na mala, não lembro se havia colocado. De repente minha mãe entra no quarto me assustando, pois não estava preparado para receber ninguém.
— Procurando isso? — segurava um biquíni vinho com uma estampa colorida em sua mão.
— Esse não é um dos meus — estranhei.
— Agora é, comprei hoje a pedido do seu irmão — explicou enquanto se aproximava de onde eu estava.
— Obrigada, agora vou logo me trocar, daqui a pouco vejo vocês — abracei-a.
Já estava a do banheiro quando ouço uma pergunta vindo de minha mãe, aquela pergunta que mexeu com meu psicológico me deixando atônita e fazendo ir até a cama.
— Você chamou Eduardo pra ir também?
— Não — baixei a cabeça e sentei na cama.
— O que aconteceu, filha? — perguntou preocupada.
— A gente brigou ontem...
— Mas qual motivo?
— Lembra do Erik? Pois é, ele tá aqui e encontrei ele ontem, acabamos brigando por causa dele — expliquei cabisbaixa.
— Queria detalhes, mas aparentemente você não quer contar, então tudo bem, saiba que vai dar tudo certo, vocês se amam e vão superar isso.
— Obrigada super mãe — a olhei nos olhos e forcei um sorriso — Agora eu vou me arrumar e descer pra piscina.
Ela saiu do quarto e eu entrei no banheiro ainda meio triste, mas eu ia melhorar, tinha que melhorar e para isso iria tomar um remédio chamado "sol e água" recomendando por meu irmãozinho. Quando fiz tudo que precisava peguei uma bolsa e coloquei protetor solar e uma toalha. Pôs meus óculos de sol segurando o cabelo, e fui rumo ao elevador junto com meu irmão.
Chegando na piscina e me deitei em uma das espreguiçadeiras para pegar sol enquanto meu irmão brincava na beirada da piscina.
Eduardo narrando:
Era uma manhã linda e ensolarada em Nova York, acordei com os raios de sol entrando pela janela e a brisa leve que me fazia sentir um pouco de frio, peguei o celular e olhei a barra de notificações onde havia algumas mensagens, decidi checá-las.
78 mensagens de 10 conversas
Tantas mensagens, mas nenhuma que me interessava, algumas de meninas desconhecidas que vinham falando coisas do tipo: "Oi bb, dormiu bem?" "Bom dia gatinho"; outras de grupos, porém nenhuma de Lorena. Uma tristeza veio enquanto levantava e ia rumo a janela no pensamento de fechar e voltar a dormir, logo ouvi barulhos, sem hesitar caminhei até a sacada e vi a piscina logo abaixo, tinha várias pessoas lá e então pensei que deveria descer também, me divertir e espairecer um pouco. Estava decidido que eu iria me divertir sem ela, essa manhã era minha, nada daquela garota na minha cabeça.
Coloquei uma roupa de banho e um shorts fino por cima, peguei a toalha e a joguei em meus ombros, saí do quarto e fui até onde meus pais estavam:
— Bom dia, melhores pais! — falei enquanto caminhava até eles sorrindo.
Em um movimento rápido eles me olharam e cumprimentaram de volta, avisei que queria passar o resto do dia na piscina e fui rumo ao elevador. Chegando lá em baixo, tirei o shorts e joguei em uma das espreguiçadeiras junto com a toalha, olhei em volta e pedi pra quem estava naquela área da piscina se afastasse pois eu queria pular.
Me afastei da borda com alguns passos para trás, parei, corri rumo a água e saltei segurando os joelhos, espirrou água para todos os lados. Quando subi para superfície tive uma surpresa e acho que essa pessoa também, Lorena estava na borda, com alguns respingos d'água e braços cruzados esperando uma explicação óbvia de por quê eu ter feito aquilo, sua face expressava uma raiva que eu sabia que era momentânea, parecia que a qualquer momento iria lançar fogo com os olhos, olhei pra ela e sorri sem jeito.
Sabe aquela famosa expressão "rindo de nervoso" ? Então, naquele momento eu estava assim. Subi para a borda e ela se afastou, puxou o irmão pelo braço e seguiu para o hotel, eu peguei minhas coisas e fui atrás dela. É né, meu plano de passar a manhã inteira sem pensar nela falhou miseravelmente.
— Podemos conversar, por favor? — agarrei seu braço fazendo-a parar.
— Acho que precisamos mesmo, mas agora não, quero ficar um pouco sozinha, passa no meu quarto à noite?
— Pode ser, estarei lá — fiquei parado ali vendo ela indo embora.
Lorena narrando:
Cheguei no hotel e coloquei uma roupa confortável, não falei com ninguém, apenas passei reto para meu quarto, me joguei na cama e avistei um papel em cima do criado mudo, estava meio amassado, decidi pegá-lo.
"Veja só se não é o contado do Erik, vou ligar." — Pensei.
Com o celular na mão comecei a discar aquele número. Chamando... Desliguei. O que eu estou fazendo? Por que ligar pra esse garoto agora Lorena Zimmer?
O celular tocou e interrompeu meus pensamentos, era ele. O garoto que foi embora da minha vida e apareceu agora do nada novamente. Erik Campbell, a pessoa que havia me mostrado o significado da palavra amor e o quão doloroso pode ser amar alguém.
Hesitei algumas vezes antes de atender, até que aconteceu.
— Alô? — Uma voz grossa e calma fala.
— Oi... sou eu, Lorena — respondo timidamente.
— Não acredito, sério? — Sinto entusiasmo vindo de sua parte.
— Sim sou eu mesma, se duvidar pode perguntar qualquer coisa — dei de ombros como se o mesmo pudesse ver.
— Então tudo bem, por qual apelido eu adorava te chamar e você odiava? — Ouvi risos.
— Pegou pesado, a gente passa esses anos sem se falar e essa é sua pergunta para saber se eu sou eu mesmo? — não consegui conter a gargalhada.
— Não é você, está fugindo do assunto pra não me responder.
— Tá Bom eu falo, você me chamava de pipoquinha por causa do meu cabelo, e quando eu quebrei a perna...
— ...Eu escrevi uma mensagem no gesso dizendo "tudo vai ficar bem pipoquinha" — Ambos ficamos em silêncio — Já sabia que era você, sua voz é inesquecível.
Pipoquinha? Sério, existe um apelido mais ridículo que o meu? Esse seria um nome pra cachorro. Aquele momento me fez abrir um sorriso ao lembrar, passamos por tantas coisas, como eu pude ficar com raiva desse ser humano?
— Agora que sabe que sou eu, conta-me o que tem feito ultimamente? — perguntei curiosa.
— Eu basicamente não tenho muitas novidades como você, fui pra uma nova escola onde estou prestes a concluir o ensino médio, fiz novos amigos, comecei a trabalhar numa loja de música, essa foi a melhor parte porque você sabe o quanto eu gosto de música e foi por causa dela que te encontrei naquela festa.
— Como assim? — continuei a puxar assunto, a vergonha, medo e insegurança, tinham passado.
— Eu fui entregar e checar os equipamentos do DJ, resolvi ficar um tempinho por lá e te encontrei.
— Esse destino brinca com a gente — sorri timidamente.
— Mas e para você? Como foram esses últimos anos?
— Minha vida continuou a mesma de sempre, mesma escola, mesmos amigos e colegas, só uma coisa mudou há seis meses atrás, Edu apareceu na minha vida.
— Eu tive uma surpresa enorme quando ele falou que era seu namorado, a pequena Lorena finalmente cresceu.
— É... cresci mesmo, mas eu não era tão nova quando você foi embora, tinha 14 anos.
— Eu tinha 16 na época, não é tanta diferença mas continuo mais velho — seu egocentrismo subiu.
— Planos para o futuro?
— Vou me inscrever na Universidade de Oxford, quero passar em direito — falou com tom orgulhoso.
— Olha só... Eu não conhecia esse seu lado — debochei.
— É... Eu com 16 anos queria ser arquiteto, as coisas mudam. Mas e você ainda pensa em fazer intercâmbio?
— Agora mais do que nunca, vim aqui e fiquei encantada, decidi que quero fazer intercâmbio aqui em New York.
— Isso facilita tudo, você pode vir pra cá já que nós éramos vizinhos, nossos pais se conhecem e minha mãe ia adorar te receber, quando pensa em vir?
— Talvez no próximo ano.
— Que tal no próximo mês? Minha escola está com vagas abertas para intercambistas e sua host family poderia ser aqui. O ano letivo começa no fim de agosto, você pode passar só 6 meses se quiser.
— Adorei a ideia! Vou falar com meus pais e procurar uma agência agorinha mesmo. Até mais.
Desliguei o celular e fui até a sala, expliquei tudo aos meus pais e eles concordaram com a ideia, fomos juntos procurar a agência e achamos uma vaga, eu estava tão empolgada com aquilo tudo que nem percebi escurecer e esqueci completamente de assuntos pendentes.