De Volta à Primavera • yoonmin

By zettaiwa

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Depois de cumprir o serviço militar obrigatório de dois anos e voltar para casa para descobrir da pior maneir... More

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By zettaiwa

Jimin tinha um problema enorme em suas mãos chamado Jeon Jeongguk e sua total falta de discrição.

Ele também tinha outro problema, mas, pelo menos, esse outro problema cabia somente a ele resolver. Com Jeongguk era um pouco mais complicado, até porque eles estavam em horário de trabalho e gritar com seu chefe não era uma opção muito viável apesar de ser o que Jimin queria fazer.

Tudo tinha começado na manhã ensolarada e um tanto gelada daquela segunda-feira no final do inverno. Jimin acordou, foi à academia conforme tinha prometido a Seokjin que iria no dia anterior durante o almoço deles, mas voltou para seu apartamento sem um terço da paz que ele tinha na noite anterior. Quanto mais ele acordava e mais o sono ia embora, Jimin ia notando um enorme problema que havia surgido depois do domingo: ele não sabia o que fazer. Agora que finalmente entendia o motivo de Yoongi estar distante, ele achou que solucionaria pelo menos metade das coisas que andavam o incomodando, mas, parando para pensar, ele simplesmente não sabia o que fazer.

Uma das opções que Seokjin havia dado a ele para que finalmente se resolvesse com Yoongi, era que Jimin também se resolvesse com Taehyung. Mas surgia o problema de que aquilo não estava mais em suas mãos, e ele não sabia como conseguiria convencer o advogado de que nada daquilo era culpa dele se ainda não tivesse isso resolvido. Jimin sabia que, em partes, ele precisava ser paciente. Mas quanto mais rápido ele recuperasse sua amizade com Taehyung, mais rápido ele recuperaria seu relacionamento com Yoongi, e então Jimin teria a paz que tanto precisava em sua mente, sem contar que teria de volta as duas pessoas mais importantes em sua vida no momento.

E como se não bastasse aquela preocupação em sua cabeça, Jimin também estava precisando lidar com um Jeon Jeongguk indiscreto o encarando em toda e qualquer oportunidade que ele tinha. Aquilo não seria inteiramente ruim, até porque, para Jimin, era um sinal claro de que o homem queria conversar, mas Jeongguk simplesmente virava o rosto toda vez que o engenheiro o olhava de volta. E ele não estava disposto a mandar uma mensagem perguntando o que estava acontecendo, mesmo que ele estivesse muito curioso, já que Jeongguk era uma de suas principais fontes de informação sobre Kim Taehyung no momento.

Então, com os nervos à flor da pele, sem nem mesmo conseguir se concentrar direito em seu trabalho – o que não era exclusivo seu, porque Jeongguk também parecia estar no mundo da lua toda vez que Jimin o encarava de volta – a manhã dele seguiu. Vez ou outra, um suspiro frustrado saía de sua boca e seu colega de mesa o observava por alguns segundos até perder o interesse, mas nada além acontecia. Ele sentia olhos arregalados o encarando de uma mesa central no andar, mas, toda vez que olhava de volta, Jeongguk estava fazendo algo completamente ridículo, como coçar a parte de trás de sua cabeça, olhar para o teto, literalmente qualquer coisa que pudesse disfarçar o fato de estar encarando.

Em algum momento, Jimin cansou. Ele fingia que estava dando atenção ao seu trabalho, mas seus olhos estavam totalmente presos a Jeon Jeongguk e sua postura claramente desconfortável. Vez ou outra, seus olhos desviavam na direção do engenheiro, mas ele fingia que não tinha feito nada, fazendo mais uma das coisas ridículas para tentar disfarçar. Até que, enquanto Jimin tentava perfurar o cérebro do homem com a força do pensamento, ele viu Jeongguk soltar um longo suspiro e o encarar de volta com os olhos enormes que pareciam dez vezes maiores agora. Tentando fazer perguntas sem dizer uma única palavra, Jimin franziu o cenho e levantou os ombros, a expressão levemente irritada e claramente confusa em seu rosto servindo de ajuda. A única coisa que Jeongguk fez foi arregalar ainda mais os olhos e arquear suas sobrancelhas como se aquilo fosse resposta. Jimin fez uma careta, sacudiu a cabeça de um lado para o outro, e, depois de soltar um suspiro, seu chefe olhou para o lado, na direção da copinha, e subiu e desceu suas sobrancelhas com uma certa velocidade para enfatizar sua mensagem.

Depois que Jeongguk se levantou de seu lugar ainda com os olhos arregalados presos na direção de Jimin, o engenheiro quase bateu com a testa na mesa. Quase. Mas ele achava que as caretas que eles trocaram provavelmente já tinham chamado atenção suficiente, e ele não precisava de mais.

Jimin contou até sessenta dentro de sua cabeça em uma velocidade maior do que a dos segundos passando, impaciente com tudo que estava acontecendo desde cedo. Ele nem mesmo reparou em como seu colega o encarou de cenho franzido assim que ele se levantou, ocupado demais em caminhar apressado até a copinha para ter algumas respostas de Jeongguk. O homem não podia simplesmente ficar o encarando durante a manhã toda sabendo da situação de Jimin com Taehyung e sair completamente ileso. Não. Jimin sanaria suas dúvidas nem que fosse à força.

Assim que Jeongguk entrou em seu campo de visão de novo, Jimin reparou em como o homem parecia verdadeiramente nervoso. Os olhos arregalados encarando o vazio, as mãos puxando as mangas da camisa social que usava, e os dentes grandes mordiscando o lábio inferior como se fosse uma maneira de se distrair do que quer que passasse por sua cabeça. Por dois segundos, antes que Jeongguk o notasse ali, Jimin começou a ficar mais preocupado do que curioso com o comportamento de seu chefe, temendo o assunto daquela possível conversa. Mas então, o jovem gerente percebeu que tinha companhia e se virou para encará-lo da mesma maneira que tinha feito durante a manhã inteira.

— Quer me explicar por que você ficou a manhã inteira tentando me fazer saber o que você estava pensando com a força da mente? — Jimin foi direto ao ponto, aproximando-se mais de Jeongguk perto da máquina de café, ignorando a maneira como o homem se encolheu no mesmo instante. — Eu estou ficando preocupado. Você fica com cara de criança perdida quando parece estar assustado.

— Eu tenho uma fofoca muito séria para te contar, mas, como eu disse, é fofoca. — Jeongguk disparou em sussurros apressados ainda com os olhos arregalados, fazendo Jimin se surpreender com o que havia sido dito e a maneira que havia sido dita. O mais velho piscou algumas vezes antes de assentir com a cabeça, afirmando que entendia a seriedade da fofoca que ele nem sabia qual era ainda. — E eu acho que não te contaria em circunstâncias normais, mas aquela discussão já atingiu muito mais gente do que eu esperava e eu sinto que é meu dever fofocar.

— Então você sabe da minha situação com o Yoongi. — Jimin estreitou os olhos, tentando aparentar o mais ameaçador que ele conseguia ser. Jeongguk fez uma leve careta, assentindo, mas não disse nada. — A fofoca é sobre isso? Sobre meu relacionamento com ele? Porque eu já arranquei tudo do Seokjin hyung ontem–

Não, não é, mas tem um pouco a ver. — Jeongguk o interrompeu com o tom apressado, gesticulando algumas vezes para impedir Jimin de continuar falando. O homem respirou fundo, aproximou-se um pouco mais do engenheiro, e disse com toda a calma do mundo: — Taehyung está planejando falar com você essa semana.

Na mesma hora, Jimin sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Seu mundo parou de girar, os pássaros pararam de cantar, e os sons típicos que era possível de se ouvir em um escritório pareciam ter ficado mudos. Todo o ar que ele tinha inalado em uma respiração normal ficou preso dentro de seus pulmões, queimando-o por dentro, impossibilitando-o de se esquecer das palavras que ele tinha acabado de ouvir de Jeongguk. Porque, de fato, a fofoca era séria. E agora ele entendia um pouco mais o porquê de seu chefe ter ficado nervoso o encarando durante a manhã inteira.

— Não brinca comigo, Jeongguk. — Jimin disse em um sussurro, o alerta claro em sua voz.

— Eu não brincaria com uma coisa dessas. Mesmo. — Jeongguk garantiu, seu olhar e postura muito mais sérios agora que ele já tinha falado o que precisava ter falado. Um suspiro saiu de sua boca e ele trocou o peso entre os pés, querendo deixar a conversa mais privada em um local não tão privado. — Eu sei como vocês são importantes um para o outro. Por isso eu resolvi fofocar.

— Quando isso vai acontecer? — Jimin perguntou, a voz de Jeongguk mencionando Taehyung ainda ecoando em sua cabeça sem parar. — Eu não achei que ele ainda estaria pensando nisso.

— Ele só precisava de tempo. — Jeongguk tentou abrir um pequeno sorriso, mostrando o mínimo do lado de Taehyung em toda aquela confusão. Uma de suas mãos foi até o ombro de Jimin, apertando-o de leve na região como maneira de confortá-lo. — E vai ser essa semana. Eu garanto. Acho que consigo dar o último empurrão para ele ir em frente com isso.

Para Jimin, era desnecessário afirmar para qualquer pessoa que ele passou o resto do dia tenso. Ele nem mesmo se incomodou com a ausência de Yoongi no almoço, depois que Seokjin explicou que seu amigo ainda estava sendo covarde em não aparecer, porque, em sua cabeça, tudo que ecoava sem parar era a voz de Jeongguk dizendo que Taehyung estava planejando ir falar com ele naquela semana. Ele ficou aéreo, pensativo, ignorando sem querer todos ao seu redor porque simplesmente não conseguia pensar em outra coisa. Jimin só voltou ao normal à noite, quando chegou no apartamento de Hoseok e Namjoon e contou a novidade em um sussurro pesado. Um comunicado sério, que deixou o casal tão espantado quanto ele próprio havia ficado mais cedo.

— Acho que agora vai dar tudo certo. — Namjoon disse com uma piscadela servindo de pontuação, voltando a focar em seu jantar para não dar um peso desnecessário à conversa. — Foi como eu disse, era só dar tempo a ele.

Nos dias seguintes, o nervosismo com a possível conversa que estava por vir não foi embora, ele simplesmente diminuiu. Jimin já não ficava aéreo e ignorava algumas pessoas ao seu redor sem querer, mas, vez ou outra, a voz de Jeongguk ainda ecoava em sua mente e ele pensava em todos os diálogos que poderiam acontecer no grande dia. Ele acabava pensando naquilo com ainda mais frequência porque, bem, Jeongguk estava logo ali, então era mais fácil se lembrar das palavras do homem em momentos inoportunos quando o rosto dele estava em seu campo de visão durante o dia inteiro.

No marco oficial da metade da semana, uma nova dúvida surgiu na mente de Jimin: em que momento ele seria chamado para conversar? Taehyung o ligaria, mandaria uma mensagem, ou usaria Jeongguk de pombo correio (apesar dessa opção soar ridícula e um tanto exagerada)? Ele seria pego de surpresa no trabalho, ou teria que fazer um caminho diferente do seu quando estivesse indo para casa porque seu amigo o chamou tarde demais? Eram tantas opções, e a semana estava cada vez mais perto de acabar. Jimin já não sabia mais se gostaria de ser pego completamente de surpresa com um convite de Taehyung, ou se estava satisfeito com a fofoca de Jeongguk porque serviu para ajudá-lo a se preparar para o impacto – apesar de também tê-lo deixado à beira de algo durante todos aqueles dias.

Mas o susto veio exatamente na quinta-feira. E não foi durante seu expediente, não foi quando estava a caminho de casa, e nem foi durante o almoço, quando ele corria o risco de se engasgar com a comida ao receber um convite como aquele. Naquela quinta-feira, Jimin acordou com o despertador o mandando ir à academia, e a mensagem de Taehyung estava lá. A primeira em semanas. Com palavras simples e diretas, mas que fizeram o engenheiro acordar mais do que qualquer copo de café seria capaz de fazer.

Kim Taehyung [03:23]: me desculpa. Eu sinto sua falta. Podemos conversar hoje na sua casa? Eu devo sair tarde do trabalho, senão te convidava para vir aqui, mas queria muito esclarecer nossa situação.

Jimin aceitou o convite assim que o viu, é claro, mesmo que parecesse mais que Taehyung estava se convidando para seu apartamento. Mas aquele não era o foco. Jeongguk estava certo afinal, e ele realmente não brincou com algo tão sério. A conversa aconteceria naquela quinta-feira um tanto gelada que mal havia começado direito, e Jimin sentia como se seu mês inteiro estivesse a salvo agora. Ele poderia até ficar preocupado com a possível conclusão daquele reencontro deles, mas as palavras de Taehyung deixaram claras suas intenções: "eu sinto sua falta" não era sinal de que algo ruim estava por vir. Jimin sabia que esclarecia tudo com seu melhor amigo e conseguiria recuperar a amizade deles.

Não era como se todas as suas preocupações tivessem sumido de uma hora para outra. Ele ainda tinha um lembrete constante de sua situação com Yoongi no fundo de sua mente, mas a mensagem de Taehyung havia trazido um alívio que Jimin precisava desesperadamente. Ele sentiu seu rosto se abrindo em mais sorrisos com mais frequência, e sabia que sua risada ecoava mais alto na academia parcialmente vazia. Seokjin notou ainda cedo, quando eram apenas eles dois, e Jeongguk também notou que ele parecia mais leve quando os três se reuniram para almoçar depois.

— Eu te disse. — Jeongguk murmurou quando ele estava dentro do elevador ao lado de Jimin, voltando ao trabalho. Assim que notou que tinha a atenção do mais velho, piscou com um de seus olhos e abriu um sorriso, recebendo um de volta no mesmo instante.

— Obrigado, chefinho. — Jimin respondeu em um tom divertido, tomando a frente assim que a porta do elevador se abriu no andar do setor financeiro.

Ainda era um tanto estranho para Jimin receber informações sobre seu melhor amigo justamente de Jeon Jeongguk. Toda vez que ele parava para pensar na situação, seu cérebro não conseguia enxergar muito bem uma relação entre os dois, não importava de qual grau fosse, porque a possibilidade nunca havia passado por sua cabeça antes. Claro, ele já tinha imaginado um jantar onde tanto seus amigos de longa data quanto seus amigos do trabalho se encontravam, mas Jimin não esperava que dois deles já se conhecessem bem até demais. Às vezes, ele se pegava pensando em qual era o nível de intimidade entre seus dois amigos, como tinham se conhecido, e como mantiveram aquela relação por tanto tempo sem que outras pessoas descobrissem. Jimin tinha muitas, muitas perguntas, e acreditava que, com a conversa que estava prestes a ter com Taehyung, ele poderia ter algumas respostas, já que a briga deles estava atrelada a isso.

Quando juntou seus pertences para ir para casa, Jeongguk lhe deu uma última informação de que Taehyung ainda estava em aula, mas que sairia da faculdade em pouco mais de duas horas. Jimin parou por alguns segundos, absorveu toda aquela situação absurda em que se encontrava, e agradeceu ao homem por mantê-lo informado quando ele não tinha obrigação nenhuma de fazer isso, e quando existia uma enorme possibilidade do engenheiro também estar chateado com ele. O que não era uma mentira, Jimin havia ficado um tanto irritado por duas pessoas terem escondido algo daquela magnitude dele, mas, depois que Jeongguk disse que não cabia a ele explicar tudo que tinha acontecido até o momento em que o engenheiro descobriu sobre seus dois amigos, ele ficou um pouco mais relaxado. E era mais do que claro que seu chefe estava tentando dar seu máximo para amenizar a situação.

Entrar em seu apartamento sabendo que Taehyung estaria ali em breve foi um tanto assustador. Antes parecia algo tão natural receber a visita de seu melhor amigo, mas agora havia um peso a mais na ciência de que ele botaria os pés ali, ainda mais depois da bendita briga de quase um mês antes. Jimin comeu alguns restos do fim de semana que estavam em sua geladeira, e arrumou a sala diversas vezes enquanto xingava o tempo por não passar tão rápido quanto ele gostaria. Os minutos pareciam se arrastar, e ele não se lembrava da última vez que tinha se sentido tão nervoso. Jimin não gostava de conflitos, não gostava de desentendimentos. Ele só queria a amizade de Taehyung de volta, queria ver o amigo parado em sua porta depois de tanto tempo.

Mesmo assim, mesmo querendo tanto, ele não deixou de ficar nervoso quando ouviu a campainha tocar já tarde, seus olhos já começando a pesar com o cansaço do dia se acumulando em seus ombros. Ele respirou fundo, contou até cinco, e caminhou até a porta com passos decididos, sabendo que Taehyung estaria do outro lado disposto a consertar tudo da mesma maneira que Jimin estava.

Segurando a respiração, Jimin abriu a porta.

Em silêncio, Taehyung levantou o olhar – que antes estava em seus pés – e encarou Jimin de frente, depois de quase um mês, e fechou a boca em uma linha fina. Longos segundos se passaram sem que ninguém dissesse uma única palavra, ambos simplesmente se encarando e absorvendo o momento e o peso que ele carregava. Então, com um suspiro pesado, Jimin abriu seus braços e viu o menor dos sorrisos surgir no rosto de Taehyung antes de ele se aproximar e envolvê-lo em um abraço apertado, que fez o ar que restava em seus pulmões sair com velocidade por sua boca.

Assim como colocar os pés dentro de seu apartamento em Busan, abraçar Taehyung, para Jimin, era como estar em casa novamente. Era natural que a pessoa que mais o conhecia soubesse exatamente onde apertar e acariciar para fazê-lo se sentir realmente confortável. Taehyung era quente, Taehyung era família, e, senti-lo tão perto novamente depois de achar por tantos dias e semanas que nunca mais o teria em sua vida quase fez algumas lágrimas escorrerem pelo rosto de Jimin. Ele sentiu seus olhos ficarem marejados, principalmente quando Taehyung começou a sussurrar incontáveis pedidos de desculpas, mas não se permitiu chorar, não ainda. Jimin queria lembrar daquele momento como um reencontro, e não com um toque de tristeza que ele sentia que seu choro causaria.

— Você sabe que eu já te perdoei. — Jimin murmurou, segundos depois, quando encontrou coragem dentro de si mesmo para se afastar de Taehyung. Ainda com os braços ao redor de sua cintura, ele viu como o amigo também estava com os olhos marejados ainda que um sorriso desenhasse seus lábios. — Eu só quero uma explicação, Tae, porque eu realmente fiquei magoado com tudo.

— Então vamos direto ao assunto, porque eu sei que te devo muitas explicações. — Taehyung disse com uma sobrancelha arqueada, tentando dar um ar leve à conversa deles, e tirou seus sapatos já se sentindo em casa.

Ainda que houvesse um silêncio que escondia alguns esclarecimentos entre eles, Jimin não conseguiu fazer o sorriso sumir de seu rosto ao notar que Taehyung ainda era familiarizado com um ambiente que pertencia ao melhor amigo. O corpo do professor não o dizia que ele sentia como se estivesse invadindo um espaço que não o pertencia, pelo contrário, Jimin conseguia ver na maneira de Taehyung andar que ele se sentia bem em estar ali. Sua falta momentânea de palavras sinalizava apenas que ele estava pensativo. Ele sabia que não era para tratar a situação como se fosse nada, mas também sabia que, no fim do dia, era com Jimin que ele estava falando. E, se era algo entre eles dois, então tudo daria certo.

— Eu acho... — Taehyung começou com um longo suspiro, sentando-se no sofá em uma posição confortável, deixando espaço para Jimin se sentar também. Ele passou alguns segundos pensando, deixando um braço descansar sobre as costas do móvel enquanto via o amigo se acomodar de pernas cruzadas diante dele. — Que você não devia me perdoar assim tão fácil. De verdade. Eu sei que eu fiz e falei coisas que chateiam qualquer um.

— Da mesma forma que eu também falei coisas com a intenção de te chatear. — Jimin deu de ombros, como se quisesse tirar das costas de Taehyung o pouco da culpa que ele mostrou sentir com aquela frase. — Mas você está aqui, não está?

— Jimin, nossa situação não estava balanceada. Eu sei que errei feio. — Taehyung disse com a voz firme, o olhar sério. O engenheiro foi incapaz de dar uma resposta, escolhendo engolir em seco e ouvir o amigo. — Eu tenho um longo pedido de desculpas para te fazer, mas eu queria começar te explicando tudo. Desde o momento que eu conheci o Jeongguk até o dia em que você descobriu sobre meu envolvimento com ele.

— Vá em frente. — Jimin respondeu, a voz saindo falha. Ele encolheu as próprias pernas em cima do sofá e as abraçou, descansando o queixo sobre seus joelhos enquanto via Taehyung ajeitar sua postura para começar a falar. — Não tenho hora para dormir.

A história, Taehyung disse, começou no Natal anterior, quando Jimin ainda estava no exército e nem mesmo sabia que seria liberado mais cedo de seu serviço. Namjoon e Hoseok estavam comemorando a data juntos, claro, e ele estava com viagem marcada com seus pais dentro de alguns dias, mas, naquela noite em específico, ele estava carente, com tesão, e tão entediado que até mesmo tinha tirado o feriado para planejar coisas da faculdade. Um absurdo, porque Taehyung sabia usar seu tempo de descanso muito bem. E então, movido única e exclusivamente pela vontade de dar, ele baixou um aplicativo de relacionamentos em busca de uma foda rápida para aquela noite.

— Isso não é muito sua cara. — Jimin fez uma careta ouvindo a parte inicial da história, e Taehyung o imitou.

— Eu estava desesperado. — Taehyung suspirou, balançando a cabeça como se quisesse apagar aquela memória. — Sem comentários.

Acontece que, na noite de Natal, havia muito mais gente procurando por uma transa rápida e casual do que ele esperava, mas ninguém disposto a sair de casa em um clima tão gélido. Taehyung levou praticamente uma hora para achar alguém disposto a sair do conforto de sua própria casa apenas para ir fodê-lo conforme havia sido combinado na troca de mensagens ainda no aplicativo. O cara tinha o corpo sarado, um pau honestamente delicioso, e, depois de Taehyung pedir uma foto do rosto, ele constatou que o homem também era bonito. E foi assim que o usuário Guk de 28 anos entrou em sua vida. Aparecendo na porta de seu apartamento já com uma ereção, sem paciência, e dando a Taehyung exatamente o que ele queria.

— E foi só isso. — Taehyung deu de ombros, olhando para um ponto fixo como se estivesse relembrando aquela noite. — Era para ter sido só isso. Ele me fodeu, vestiu a calça e foi embora.

— Bom, eu sei que a história não acaba aí. — Jimin arqueou uma sobrancelha, incentivando o amigo a continuar a falar.

Puxando o ar e logo em seguida o exalando em um longo suspiro, Taehyung explicou que, por volta de duas semanas depois, quando ele já tinha se esquecido do aplicativo em seu celular, ele resolveu abri-lo apenas para apagar sua conta, mas foi surpreendido com uma mensagem que chegou no exato momento em que ele estava com o dedo por cima do botão de excluir o perfil. Era o tal Guk, chamando-o de maneira despretensiosa, mas que chamou a atenção de Taehyung. Porque ele sabia o quão difícil era para alguém chamar de novo em um aplicativo como aquele, então sua curiosidade o levou a responder o homem.

— Ele foi bem direto, disse que não ia forçar a barra porque sabia que tinha muita gente que não gostava de repetir a dose, mas que também tinha ficado curioso para saber como seria se... — Taehyung fez uma pausa, engoliu em seco. Ele olhou para o amigo com as sobrancelhas arqueadas, como se quisesse fazê-lo entender o que queria dizer. — Fosse ao contrário. Só que ele disse de uma maneira mais... explícita, digamos assim.

— Eu prefiro não saber o quão explícito foi isso. — Jimin se apressou em dizer, querendo apagar qualquer imagem em sua cabeça antes mesmo que alguma surgisse. — Obrigado.

— Enfim. — Taehyung ajeitou sua postura, limpou a garganta e fez uma pausa antes de continuar. — Nós trocamos números depois porque meio que entramos em um acordo de que aquela não seria a última vez. Então, basicamente, eu tinha para quem correr caso precisasse, e eu literalmente só sabia o apelido dele, Guk.

Taehyung continuou explicando, dizendo que, depois daquele dia, eles começaram a se ver com bastante frequência. Pelo menos uma vez por semana, com mensagens um tanto frias trocadas apenas para decidir onde seria e a que horas seria. Era quase como se estivessem tratando de negócios. Taehyung não se incomodava porque ele estava em um momento de sua carreira que não havia espaço para iniciar um romance, mas era bom ter alguém para controlar seus acessos de tesão inexplicáveis. E foi aí que ele fez uma longa pausa, engolindo suas palavras por vários segundos antes de soltar um suspiro e falar.

— Eu vou te fazer duas confissões que não parecem ter relação, mas elas têm. — Taehyung levantou dois dedos da sua mão direita, usando a esquerda para puxar uma almofada e colocar sobre seu colo. Ele parou por mais alguns segundos, olhando para frente, na direção contrária de Jimin, até finalmente voltar a falar. — Eu realmente queria me dedicar mais à minha carreira, mas eu não sabia se pegar mais turmas para lecionar era o jeito certo de fazer isso. Mas naquela época, lá para a metade de fevereiro, foi a decisão que eu acabei tomando.

— E a segunda confissão? — Jimin incentivou, sua voz em um sussurro enquanto ele observava o amigo.

— O Jeongguk é extremamente carinhoso na cama. Muito mesmo, um doce. Até quando não é para ser, ele mostra uma coisa um duas dessa parte carinhosa dele. — Taehyung abaixou seus dois dedos, respirando fundo, passando a língua pelos dentes antes de voltar a olhar para Jimin com os olhos um tanto entristecidos. — E isso pode confundir às vezes. Eu sei que podia me confundir, ainda mais quando a gente começou a se ver com tanta frequência.

— Ah, Tae...

— Na minha cabeça, quanto mais eu trabalhasse, menos tempo eu teria para pensar em coisas que eu não devia. — Taehyung engoliu em seco, virando sua atenção para a janela entreaberta que estava na parede oposta à deles. — E foi isso. Eu peguei mais turmas. Às vezes eu não podia ver o Jeongguk porque eu saía tarde de verdade da faculdade e não tinha energia para fazer mais nada.

Mas aí, segundo Taehyung, as coisas mudaram mais ainda quando Jimin voltou do exército. É claro que ele dava prioridade ao engenheiro acima de qualquer coisa, e é claro que isso causaria um afastamento maior entre ele e Jeongguk. Às vezes, quando algo estava marcado entre eles, Taehyung desmarcava em cima da hora porque Jimin tinha o chamado, ou porque Hoseok e Namjoon haviam o convidado para um jantar surpresa com a intenção de animar o amigo deles. Era natural. Jeongguk era só um cara de um aplicativo, e, apesar de ser bonito, havia muitos outros homens bonitos espalhados por Seul.

— Teve um dia que ele veio cheio de sarcasmo para cima de mim falando sobre meus furos com ele, reclamando que eu não dava explicações. — Taehyung soltou uma risada um tanto sarcástica depois de falar, como se fosse uma piada que só ele entendia. — E, honestamente, eu devia ter falado tchau na hora. Jimin, eu nem sabia o nome dele nessa época. Para mim era só "Guk". Mas eu discuti, disse que tinha um amigo que estava passando por um momento difícil, e que se ele não pudesse entender isso, ele que fosse embora.

— Mas ele não foi embora. — Jimin completou, sua voz saindo rouca.

— Claro que não. — Taehyung soltou uma risada em sopro pelo nariz, seus ombros se mexendo junto. Ele fez uma longa pausa e voltou a falar depois, sua voz um pouco mais cansada. — A gente começou a se ver mais em horários que a gente não se via antes. Eu saía tarde do trabalho, ele começou a sair também. E foi mais ou menos nessa época que você arrumou seu emprego, acho. Mas eu não sabia de nada porque ele não me contava nada da vida dele da mesma forma que eu não contava. Porra, eu tinha acabado de descobrir o primeiro nome dele na nossa discussão, e a gente já transava há meses.

— Então não era nada sério. — Jimin assentiu com a cabeça, acompanhando a história. Taehyung concordou com um aceno fraco, ainda pensando nas suas próximas palavras. — E você nem tinha ideia que eu trabalhava com ele.

— Não. — Taehyung negou com a cabeça, uma careta surgindo em seu rosto logo em seguida. — Eu só sabia o nome dele e que ele fodia bem.

Depois de Jimin soltar uma risada com o comentário, Taehyung continuou explicando que as coisas voltaram ao normal entre eles. Era o mesmo diálogo rápido de sempre, a decisão de onde iriam e em que horário, e então cada um seguia sua vida normalmente. Ele garantiu que só aquilo estava o satisfazendo e o deixando com um humor um pouco melhor no dia seguinte, mas, voltando ao que ele havia dito antes, Jeongguk era muito carinhoso. E, às vezes, por culpa da proximidade física entre os dois, o mais novo o puxava para alguns beijos em momentos que não fazia tanto sentido que aquilo acontecesse. Em cumprimentos, despedidas, e em situações em que um simples selinho era uma demonstração um tanto íntima de afeto.

— Eu me deixei levar por essas pequenas coisas. — Taehyung comentou em um sussurro, sua mente claramente distante, relembrando aqueles momentos da relação que os dois tinham construído. — Porque o Jeongguk... Jimin, é muito difícil não se apaixonar por ele. Ainda mais quando ele dá carinho dessa forma. Jeongguk faz uma pessoa se sentir como se ela fosse única no mundo.

Então, Taehyung explicou, ele foi deixando que Jeongguk fosse carinhoso. Ele foi se permitindo ser cuidado por outra pessoa, mesmo que não soubesse de praticamente nada da vida dele. Jeongguk usava ternos e gravatas, tinha olheiras profundas e reclamava constantemente de dor de cabeça, mas nada disso deixava claro para Taehyung o que ele fazia de sua vida. Ele também não queria pensar muito naquilo porque não queria ficar curioso, até porque mostrar esse interesse o dizia que ele queria se aprofundar naquilo que eles tinham construído até então.

— Teve uma época que nós começamos a dormir juntos. Tipo, dormir mesmo. — Taehyung explicou com os olhos estreitos. Ele ficou alguns segundos em silêncio, mas logo voltou a falar. — Ele saía muito tarde lá de casa, eu saía muito tarde da casa dele, e estava começando a ficar muito desgastante para os dois. E foi por aí também que você começou a falar dos seus amigos do trabalho.

— Então foi realmente você que fez a comida para ele naquela época. — Jimin riu fraco, um sopro saindo de seu nariz ao se lembrar da ocasião. Taehyung tinha feito a comida. Era com Taehyung que Jeongguk tinha um "lance que não era para ser sério". — Tinha alguma coisa crescendo dentro de vocês, não tinha?

— Tinha, com certeza, e eu só coloquei mais lenha nessa fogueira. — Taehyung soltou um longo suspiro e rolou os olhos. Jimin riu da frustração do amigo, mas esperou que ele continuasse. — Eu fui percebendo que você estava um pouco melhor, também. Você saiu com aquela menina, e saía com o pessoal do trabalho. E aqui eu peço desculpas mais uma vez, porque eu não senti em momento algum que estava sendo substituído. Eu só falei aquilo no calor do momento.

— Tudo bem, eu entendo. — Jimin assentiu, querendo se esquecer daquela discussão por completo depois que eles estivessem com o assunto em dia. — Acontece. Eu também falei muita coisa no calor do momento.

Taehyung desviou o olhar para o amigo, abriu um pequeno sorriso e puxou sua mão para lhe dar um leve apertão, um agradecimento silencioso antes de continuar sua história para não enrolar tanto. Assim, ele voltou ao ponto em que Jimin aparentava estar melhor, então, na mesma época, Taehyung decidiu que talvez pudesse se dar mais atenção, atender aos seus desejos antes de correr para ajudar o amigo. E, é claro, aquilo envolvia ver Jeongguk com mais frequência, e por muito mais tempo. Claro que ele ainda voltava vez ou outra para jantar com seus amigos, ver como Jimin estava, mas, bem lá no fundo, ele ainda continuava pensando em Jeongguk, em seus braços fortes e gentis, seus beijos delicados e apaixonados.

— Nós ficamos assim por meses. Meses. Nós não falávamos uma palavra sobre nossas vidas profissionais, mas teve uma vez que a mãe dele o ligou quando ele estava comigo, e ele começou a falar da vida dele. — Taehyung abriu um sorriso com a memória, mas logo seu rosto voltou a ficar sério enquanto seus olhos vazios buscavam por mais informações em sua mente. — Ele é de Busan. É claro que isso rendeu muito assunto entre a gente. Eu disse que tinha um amigo de infância que também era de lá. E esse papo de amizade engatou em ele me contar que os dois melhores amigos dele eram advogados, e que os dois cuidaram dele na época da faculdade.

— E ninguém dizia um nome sequer. — Jimin balançou a cabeça de um lado para o outro, atraindo a atenção de Taehyung, que riu fraco ao pensar no quão absurdo aquilo era. — Não foi à toa que vocês duraram tanto tempo sem contar nada para os outros. Nem vocês sabiam do que estava acontecendo.

— Bom. — Taehyung soltou um logo suspiro, arqueou suas duas sobrancelhas como se aquele fosse seu próximo tópico. — Teve uma época que tudo que você falava sobre já era o "Yoongi hyung" — Taehyung desenhou as aspas no ar —, então eu meio que senti que você estava em boas mãos, sabe? E eu sei que eu me afastei, eu lembro até hoje de quando você saiu com aquela menina de novo e reclamou sobre eu estar trabalhando muito... Jimin, eu fui me jogando em uma coisa completamente incerta.

— E o Jeongguk não se jogava junto?

— O Jeongguk se jogava mais que eu. — Taehyung arqueou as sobrancelhas novamente em espanto, arrancando uma risada de Jimin. Ele sorriu também, por breves instantes, mas seu rosto voltou a ficar sério quando ele puxou ar para continuar falando. — O problema é que eu sempre notava que, toda vez que eu demonstrava, ele parecia meio... hesitante? Esquisito? Quase como se ele se tocasse de alguma coisa que ele não percebia antes quando era ele sendo carinhoso.

Taehyung lembrou Jimin da conversa que eles tiveram sobre se apaixonar. Por uns instantes, ele parou, pensou e perguntou ao amigo se, na época, estava falando de Yoongi, e, ao receber a confirmação, ele riu e fez uma piada sobre a ironia de os dois estarem falando de outros dois melhores amigos. Sua risada morreu logo depois, ao mesmo tempo em que seus olhos marejaram, e ele comentou que foi um pouco antes daquela conversa acontecer que Jeongguk finalmente mostrou por que ficava tão hesitante quando Taehyung demonstrava gostar dele. As palavras exatas do professor foram, com um toque de sarcasmo, que Jeongguk "jogou a bomba" na esperança de frear o que eles tinham. Jimin franziu o cenho, perguntando-se do que se tratava a tal "bomba", mas por ser uma parte aparentemente delicada da história que Taehyung o contava, ele o deixou continuar sem interrupções.

— Eu não vou mentir, eu já estava completamente apaixonado por ele. Foi conversando com você que eu finalmente admiti, mas eu já sabia. Então foi por total estupidez minha que eu decidi não ir embora. — Taehyung contou, sua voz soando quebrada quando ele se esforçava para não deixar nenhuma lágrima escorrer. Jimin estava ficando aflito o vendo daquela maneira, mas permitiu que ele continuasse falando porque uma interrupção poderia ser pior. — E acho que ele também sentiu que não tinha mais nada a perder quando eu decidi ficar. Foi aí que ele me falou que os amigos advogados dele eram Seokjin e Yoongi. Que ele também sempre almoçava com um tal de Jimin, funcionário dele, e que ele trabalhava como gerente do setor financeiro de uma empresa que, pasmem, meu melhor amigo também trabalhava. E eu finalmente descobri que o sobrenome dele era Jeon.

Naquela época, algumas coisas começaram a fazer sentido na cabeça de Taehyung, apesar de ele odiar o resultado das peças do quebra cabeça se montando aos poucos em sua mente. Foi quando ele conheceu Yoongi que tudo finalmente se encaixou e Taehyung percebeu o enorme problema que tinha caído em seus ombros. Imediatamente, ele contou a Jeongguk tudo que sabia, das suas suspeitas, e começou a falar mais de sua vida também. De Jimin, seu melhor amigo de infância, de como ele falava dos três amigos dele do trabalho que coincidentemente se chamavam Seokjin, Jeongguk e Yoongi. Ambos ficaram chocados ao notar como suas vidas estiveram interligadas durante quase um ano e eles nunca perceberam.

— Aí nós brigamos, é claro, porque ele queria contar para vocês, mas eu não quis porque nós não tínhamos nada sério. Ainda mais que... . — Taehyung deu uma ênfase na última palavra, rolando seus olhos, mas era algo que fazia sentido apenas para ele. Jimin se perguntava se tinha a ver com a "bomba" que ele havia mencionado mais cedo, mas, novamente, não o interrompeu para fazer perguntas. — Mas eu acabei me agarrando ainda mais a ele. Eu me afastei, eu reconheço, e não me orgulho disso. Só que é muito, muito difícil deixar um Jeon Jeongguk ir. Eu sabia que eu ia me machucar no final, mas eu quis ficar mesmo assim.

Jimin não disse nada, apesar da curiosidade estar começando a corroê-lo por dentro. Ele mordiscava a ponta de seu próprio polegar, atento, vendo cada reação de Taehyung enquanto ele contava sua história.

— Enfim, o tempo passou. Eu sumi total, eu sei. Minha vida era só trabalho e Jeongguk. Eu pensei em te contar várias vezes, mas não queria porque isso daria uma seriedade ao meu relacionamento com ele que eu não queria, não podia dar. — Taehyung continuou falando, sua voz muito mais embargada agora que ele estava chegando ao ponto da história que Jimin havia descoberto. — Ele me convidou para passar o Natal e ano novo com ele, e eu ia negar porque ia passar com você, mas eu me irritei que você não tinha me contado sobre o Yoongi e acabei aceitando. Eu também me senti menos culpado por não te contar nada porque você também não tinha me contado antes, sabe? Foi estúpido, infantil. E eu acabei indo com ele.

— Tae... — Jimin murmurou, vendo como a voz do amigo ficava mais e mais quebrada quanto mais ele falava, até que a primeira lágrima escorreu por seu rosto.

— Nós viajamos de carro para vários lugares. E em algum momento, nós paramos em Busan. Eu conheci os pais dele, e o Jeongguk me apresentou como namorado só porque eles não entenderiam nossa relação se ele explicasse. — Taehyung comentou, seu lábio inferior tremendo enquanto ele falava, lembrando-se do acontecido. — Nós daríamos tão certo juntos. Chega a ser um crime eu não poder me ajoelhar e pedi-lo em casamento agora. Mesmo com todos os desentendimentos, e impedimentos, e tudo de errado que acontece entre a gente, o Jeongguk é o melhor relacionamento que eu já vivi na minha vida.

— Por isso você estava mal no início do ano. — Jimin murmurou, e viu um aceno positivo de cabeça de Taehyung no mesmo instante enquanto ele secava as lágrimas que caíram. — Eu acabei descobrindo através dos meus pais que você não passou o Natal com os seus pais, eu podia ter perguntado o que tinha acontecido.

— Se você perguntasse eu ia dizer que estava tudo bem, de qualquer forma. — Taehyung negou com a cabeça, uma careta surgindo em seu rosto só de pensar na possibilidade de aquilo acontecer. — Enfim, de novo, o tempo passou. Eu sabia que estava sumido, e estava errando com você e os hyungs. Meu emocional estava uma bagunça porque eu sabia que seria melhor eu largar o Jeongguk de uma vez, mas eu não conseguia. E aí você desmarcou comigo para ficar com seu namorado, isso só pesou em tudo que eu estava sentindo.

— Tae–

— Você não estava errado, foi uma situação entre milhares onde eu errei. — Taehyung se apressou em explicar, levantando um dedo para que Jimin não o interrompesse com um pedido de desculpas. — Era eu que estava uma bagunça. Eu só sabia correr para o Jeongguk e aproveitar cada segundo que eu ainda tenho com ele porque eu não sabia mais como consertar o resto. E, eu juro, naquele sábado que você me chamou para sair eu simplesmente esqueci do cinema. Meu celular estava descarregado, e aí...

Um longo suspiro ecoou na sala parcialmente escura de Jimin. Eles ficaram em silêncio por vários segundos, cada um relembrando da briga de sua própria maneira. Taehyung deixou mais algumas lágrimas escaparem, e Jimin, vendo-o tão machucado, vendo como se ele finalmente estivesse desabafando sobre algo que estava o consumindo há tanto tempo, também se pegou chorando. Ele sabia que Taehyung tinha cometido erros, mas conseguia ver como o amigo estava arrependido de cometê-los. Foi um desentendimento grave entre eles, mas não foi um ponto final.

— Me desculpa. — Taehyung murmurou, puxando o ar com força e sentindo-o se cortar em um soluço. Jimin se aproximou dele no sofá e o puxou para um abraço, notando o desespero do amigo ao devolvê-lo. — Me desculpa, eu sei que eu errei. Desculpa ter feito você achar que eu não queria mais sua amizade. Você é a pessoa que eu mais amo nessa vida, Jiminie, me desculpa ter feito você pensar o contrário.

— Está tudo bem, já passou. Eu te amo. — Jimin abraçou Taehyung com mais força, sentindo o peso dele se mexer em cima do sofá para abraçá-lo com força também. — Eu te amo, Tae. Está tudo bem.

Alguns minutos se passaram onde era possível ouvir apenas os soluços de ambos, as fungadas, e sussurros pedindo por perdão que se perdiam pelo ambiente. Quando Jimin sentiu que o amigo finalmente tinha se acalmado em seus braços, ele se separou com um sorriso no rosto, vendo Taehyung tentar imitá-lo para garantir que estava tudo bem. Eles riram, deram mais um abraço, e então voltaram a se sentar um de frente para o outro, com seus ombros muito mais leves agora. No entanto, Jimin ainda tinha uma dúvida. Taehyung não pareceu ter notado que estava falando de algo que seu amigo não sabia sobre, mas o engenheiro reparou em como aquele era um ponto crucial para a história, então a pergunta saiu com facilidade de sua boca, ainda que ele hesitasse um pouco por culpa do momento sensível em que estavam.

— Eu sei que o assunto já acabou, mas eu ainda não entendi... — Jimin procurou as palavras em sua mente, umedecendo seus lábios com a ponta da língua para usar de pausa e pensar. — Você falou tanto do Jeongguk como se tivesse data marcada para nunca mais vê-lo. O que houve?

— Ele não...? — Taehyung perguntou, seu cenho franzindo em clara confusão. Jimin, sem saber que resposta dar a aquela pergunta, simplesmente deu de ombros. A expressão no rosto do professor se suavizou de imediato, mas o suspiro que ele soltou logo em seguida não indicava alívio. — É claro que ele deixou uma coisa dessas para eu explicar. A história nem é minha.

— Ele disse que seria melhor você me contar. — Jimin murmurou, lembrando-se do que Jeongguk havia dito a ele logo depois da briga. Taehyung bufou, murmurando alguns palavrões, mas não disse nada. Jimin resolveu pressioná-lo. — Então? O que houve?

— Jimin... — Taehyung respirou fundo, parando por alguns segundos para formular a frase em sua cabeça. Ele estreitou os olhos por um tempo até estalar a língua, decidindo que não ligava para a maneira como a notícia seria dada. — O Jeongguk recebeu uma promoção absurda no trabalho. Ele vai se mudar para o Japão ainda esse ano.

A informação caiu como um balde de água fria na cabeça de Jimin. Seus olhos se arregalaram, sua boca se abriu em um formato oval, e ele não conseguiu esconder o choque nem quando Taehyung acenou com a cabeça, um sorriso triste surgindo em seu rosto. Então o relacionamento – que não era sério, não – dos dois realmente tinha uma data marcada para acabar. Foi por isso que Taehyung mencionou tantas vezes que seria melhor ir embora de uma vez por todas, por isso ele dizia que era melhor não assumir nada, não valeria a pena porque Jeongguk se mudaria para outro país. Por isso também que o gerente ficava até tarde trabalhando, por isso Yoongi comentou que ele tinha planos para o futuro – Jeongguk já sabia daquela transferência havia tempo.

— Guk me disse que finalmente contou aos amigos dele. — Taehyung franziu o cenho, interrompendo a confusão de Jimin enquanto ele murmurava alguns palavrões quando peças soltas finalmente se encaixavam em sua cabeça. Assim que percebeu que tinha a atenção do amigo de novo, voltou a falar. — Achei que você ia saber também, por causa do Yoongi.

— Yoongi... — Jimin murmurou o nome, lembrou-se de sua conversa com Seokjin no último domingo e soltou uma risada fraca. — Ele se afastou de mim há algumas semanas, mas eu já sei o que aconteceu, e eu já sei como consertar. Eu estava bem por fora das novidades.

— Então agora que você já sabe de tudo sobre eu e Jeongguk... — Taehyung começou, um sorriso sugestivo surgindo em seu rosto ao mesmo tempo em que suas sobrancelhas subiram e desceram com velocidade. — Será que eu posso saber como meu melhor amigo "hétero" foi parar em um relacionamento com um homem?

Jimin sabia que nada se reconstruiria da noite para o dia com Taehyung, mas, naquela quinta-feira, depois de uma conversa tão pesada com confissões que o deixaram de olhos arregalados mesmo quando o sono tentava consumi-lo, ele só queria falar besteira e rir com uma pessoa que ele antes estava convicto de que perderia. O engenheiro não queria dar todos os detalhes sobre seu relacionamento porque havia certas memórias que deixavam ele próprio constrangido, mas Taehyung era insistente, e acabou conseguindo exatamente o que queria. Jimin deu a ele a história completa, desde o momento em que Min Yoongi entrou no banheiro para confortá-lo quando nem ao menos o conhecia, passando por todas as "primeiras vezes" deles ("só faltou a chuva para esse beijo ficar mais de novela", "no estacionamento do Lotteria?!", "eu te disse que dar era bom", etc.), e chegando até o momento em que Yoongi perguntou a Jimin se ele já tinha se resolvido com Taehyung e o beijou como se fosse a última vez.

O conselho de Taehyung foi exatamente o mesmo de Eunju: chame para conversar. Então, Jimin explicou que ele tinha falado com Seokjin, e, agora que também tinha se resolvido com o melhor amigo, ele estava um pouco mais positivo com o futuro do relacionamento dele. Taehyung abriu um sorriso largo e disse, com toda a sinceridade que Jimin conseguia enxergar nele, que desejava que o engenheiro fosse muito feliz ao lado de Yoongi. E também, como o bom informante que era, ainda adicionou que Jeongguk sempre comentava sobre um de seus amigos estar perdidamente apaixonado pelo seu funcionário em uma época que nenhum deles tinham noção alguma do que estava acontecendo.

O sono que sentiu na sexta-feira foi inevitável. Taehyung acabou dormindo em sua casa por ser tarde demais para ir embora quando ambos decidiram que já estavam com o assunto em dia, e Jimin quase continuou dormindo mesmo depois do seu segundo despertador tocar. Mesmo assim, mesmo sentindo que era capaz de cochilar em cima de sua mesa a qualquer momento, Jimin acreditava que estava genuinamente feliz. Ele sentia que agora era muito mais fácil de controlar o trem sobre os trilhos de sua vida, achava o norte que deveria seguir muito mais visível. Jimin tinha a amizade de Taehyung de volta, não completamente intacta, mas definitivamente ali. E, com o tempo, eles podiam curar as feridas que se abriram durante aquele período, contanto que fizessem isso juntos e reconhecendo tudo que aconteceu para que não se repetisse.

Jeongguk também parecia mais relaxado quando eles caminharam lado a lado até o restaurante, sabendo que Seokjin os esperava. Jimin contou aos dois com uma empolgação clara em sua voz que tinha se resolvido com Taehyung, e seu chefe, claro, suspirou aliviado com aquela informação. Ele não deu detalhes sobre a conversa porque havia coisas que cabia somente a ele e seu melhor amigo saberem, mas, lembrando-se de como eles deram um ponto final ao assunto, Jimin só conseguiu olhar para Jeongguk de cenho franzido e fazer uma pergunta:

— Por que você demorou tanto para contar para todos nós sobre o Japão?

Jeongguk foi pego de surpresa, arregalando os olhos com a irritação controlada no tom de Jimin, mas logo o respondeu.

— Eu meio que já sabia que ia ser transferido para o Japão há um tempo, mas só fui ter certeza da data mês passado. — Jeongguk suspirou, brincando com seu guardanapo para evitar encarar os dois amigos na mesa. Jimin e Seokjin trocaram um olhar sério, sem dizer nada, e voltaram a prestar atenção nele. — Contei para o Tae primeiro porque eu senti que nós dois queríamos investir no que temos, mas ele mesmo disse que não aceita relacionamento à distância.

— Ele é grudento demais para aguentar ficar longe. — Jimin comentou com um sussurro, um sorriso se abrindo em seu rosto também.

— É. — Jeongguk concordou, uma risada fraca fazendo seus ombros se mexerem enquanto ele pensava em alguma coisa. Ele fez silêncio por alguns segundos antes de limpar a garganta e voltar a falar. — Enfim, acabou que todo mundo descobriu sobre nós dois, e o Taehyung disse que, se fosse para contar a história toda, ele ia falar sobre o Japão também. Aí eu contei para o Yoongi hyung e para você — Jeongguk olhou para Seokjin —, disse para o hyung que ele podia contar para Jimin hyung e foi assim que eu descobri que a discussão atingiu muito mais gente do que o esperado.

— O que eu entendi dessa merda toda é que nós todos somos muito fofoqueiros. — Seokjin comentou com uma careta desgostosa em seu rosto, arrancando uma risada alta dos mais novos, que tiveram com concordar. Arqueando as sobrancelhas como se tivesse se lembrado de algo em um estalo, Seokijn virou toda sua atenção para Jimin e apontou para ele. — Por falar em fofoca, Jeongguk me disse que você e Taehyung-ssi iam conversar, então eu já me apressei e disse para o Yoongi que ia na casa dele amanhã.

— O que isso–

— Park Jimin, isso quer dizer que ele não vai sair amanhã. — Seokjin o interrompeu, arregalando os olhos e subindo e descendo as sobrancelhas sugestivamente. Assim que o mais novo entendeu o que ele quis dizer, a boca de Jimin se abriu em um formato oval e Seokjin sorriu. — É sua deixa para chegar lá e ganhar o coração do Yoongi de volta. Não me decepcione.

— Ganhar de volta? — Jeongguk arqueou uma sobrancelha, soltando uma risada debochada. — Até parece que em algum momento o Jimin hyung precisou devolver. Yoongi hyung está mais do que apaixonado.

Assim como se sentia em relação à sua amizade com Taehyung, Jimin sabia que não seria fácil de reconstruir seu relacionamento com Yoongi como se nada tivesse acontecido. Infelizmente, o afastamento entre eles surgiu de uma ferida antiga do advogado, e Jimin sabia que não seria fácil curá-lo. E nem era seu dever curá-lo, da mesma forma que não era dever de Yoongi fechar as feridas de Jimin que surgiram depois do exército e do divórcio. Eles podiam cuidar um do outro, como faziam quando estavam juntos, e era exatamente isso que o engenheiro queria de volta. Ele queria o carinho, os toques, as risadas e os beijos. Jimin queria as conversas, as confissões, e os momentos silenciosos que só eles entendiam.

Jimin queria, acima de tudo, o amor deles de volta.

E foi com essa confiança que ele acordou no sábado. Haviam três mensagens de pessoas distintas o desejando sorte com a mesma coisa: Min Yoongi. E havia uma mensagem de Namjoon com exclamações até demais, contando-o que ele e Hoseok sairiam com Taehyung naquele mesmo dia para eles se resolverem e saber tudo o que tinha acontecido. Ainda havia uma informação a mais de Seokjin dizendo que ele tinha combinado de ir ver Yoongi depois do almoço, então essa seria a hora perfeita para Jimin aparecer de surpresa e, segundo as palavras do mais velho, "não roubar o coração de volta, mas mostrá-lo que ainda tinha ele e que pretendia cuidar com carinho". Jimin riu e agradeceu, usando parte de sua manhã para se preparar para o que viria depois, e também para ligar para Taehyung para que os dois conseguissem se acalmar com os eventos importantes que aconteceriam de tarde.

Depois de almoçar, Jimin passou tempo demais em frente ao espelho se arrumando, murmurando canções um tanto românticas que vinham à sua cabeça com facilidade agora que ele estava em um humor melhor em comparação às outras semanas. Ele passava as mãos suadas pela camisa na tentativa de se livrar de partes amassadas que só existiam em sua mente ansiosa, e atrasava a cada segundo sua saída. Ele estava nervoso, claro, porque Yoongi era importante e ele não queria jogar tudo que eles haviam construído até então pela janela. Jimin queria voltar para casa depois ainda mais feliz do que ele esteve no dia anterior, com a certeza de que sua vida começava a caminhar na direção que ele havia escolhido. Com um último suspiro, uma última olhada em seu próprio reflexo, ele fechou todas as portas, apagou todas as luzes e saiu de seu apartamento com passos firmes.

Como prova de que a primavera estava a apenas alguns dias de começar, o sábado estava ensolarado, apesar da temperatura não ser das mais agradáveis. As ruas por onde andou não estavam tão movimentadas assim, e, em alguns momentos, Jimin conseguia fechar seus olhos para aproveitar a brisa que corria entre os postes e as árvores que decoravam as calçadas. Se deixasse sua imaginação ser fértil como era em sua infância, ele conseguiria imaginar a voz de Yoongi fazendo comentários sobre o equinócio de primavera, trazendo fatos científicos que Jimin nunca tinha ouvido antes e que apenas alguém como Min Yoongi era capaz de saber. Um sorriso desenhou seus lábios durante os dois quarteirões por onde andou até chegar ao seu destino.

Olhar-se no espelho do elevador de Yoongi fez um sorriso ainda maior surgir em seu rosto, lembrando-se de todos as vezes em que eles se beijaram naquele espaço pequeno, em todas as risadas e provocações que eles trocaram ali. Parecia que cada lugar por onde Jimin andava carregava um pedaço da história deles dois, e ele só queria a certeza de que aqueles mesmos pontos ainda viveriam um futuro igualmente bonito com o casal.

Ainda com seus passos firmes e decididos, Jimin caminhou pelo corredor do andar de Yoongi respirando fundo, murmurando para si mesmo que tudo daria certo. Os dois melhores amigos de Yoongi garantiram que era só ele consertar os problemas deles que tudo ficaria bem. Com um estalo de sua língua, Jimin pensou que queria ter ensaiado pelo menos uma frase para começar seu pedido de desculpas, suas explicações, e então tudo que viria depois sairia diretamente de seu coração. Mas ele não tinha nada, tinha apenas sua vontade de estar com Yoongi, e decidiu, enquanto levava o dedo até a campainha do homem, que aquilo já era mais do que suficiente.

Quando foi atendido, Jimin não ficou chateado com a surpresa evidente de Yoongi ao vê-lo ali. O advogado ficou em silêncio por longos segundos, abrindo e fechando a boca enquanto pensava em algo para falar, e, no fim, não disse nada. Ele olhou para o próprio corpo como se estivesse envergonhado por receber alguém vestindo apenas uma calça de moletom velha e furada – como se Jimin já não tivesse visto muito mais –, mas, ainda assim, não pronunciou um som que fosse. Ele só olhava para Jimin, atônito e confuso, tentando juntar peças em sua cabeça que provavelmente não faziam o menor sentido.

Então, para ajudá-lo, Jimin começou:

— Eu me resolvi com o Taehyung.

Aquela frase foi o suficiente para fazer Yoongi ficar um pouco mais sério, mas ainda surpreso. Ele engoliu em seco, olhando para o lado de dentro de seu apartamento e depois olhando para Jimin, sem saber exatamente o que fazer. O engenheiro arqueou uma sobrancelha e direcionou os olhos para o lado de dentro também, um pedido para entrar, e, sem dizer nada, Yoongi abriu espaço para ele e soltou a maçaneta da porta por uns instantes. Eles continuaram em silêncio enquanto Jimin tirava o próprio casaco, os sapatos, e tentava não sorrir com a familiaridade boa que aquelas pequenas ações traziam. Caminhando em direção ao sofá, ele mal ouviu o clique baixo da porta se fechando de novo, mas parou na metade do percurso para se virar em direção a Yoongi novamente.

— Nós dois conversamos por várias horas. Ele me explicou tudo o que aconteceu, e o porquê de ele ter se afastado por tanto tempo. — Jimin continuou, seu tom de voz suave e suas palavras perfeitamente pausadas para que Yoongi entendesse de verdade tudo que ele estava dizendo. — Taehyung só queria aproveitar o máximo de tempo possível com o Jeongguk. E ele ficou um pouco esgotado de sentir tão... intensamente. Ele arrumou qualquer argumento para brigar comigo só por estar frustrado com os dias contados do relacionamento dele.

— Você disse que ele sentiu que não era mais necessário. — Yoongi argumentou, suas palavras saindo um pouco mais apressadas, e sua voz soando muito menos suave do que a de Jimin. — Que você o trocou por–

— Taehyung sentiu que eu estava em boas mãos. E ele só ficou irritado porque eu não contei antes sobre meu envolvimento com você. — Jimin tentou abrir um sorriso, vendo como a expressão no rosto de Yoongi mudava gradativamente, as sobrancelhas do homem se curvando de maneira perigosa, a ponta de seu nariz ficando vermelha aos poucos. Jimin deu um passo para frente, notando como o mais velho não recuou, e continuou a falar. — Taehyung me perguntou sobre nossa relação. Ele pediu detalhes, ele ouviu sobre nosso primeiro beijo...

— Jimin–

— Taehyung ficou horas me ouvindo falar sobre o quanto eu gosto de você, e ele só sabia responder que estava feliz de me ver com alguém que me faz feliz. — Jimin interrompeu Yoongi, aproximando-se mais um pouco, puxando uma das mãos do homem para entrelaçar seus dedos enquanto seu outro braço o envolvia pela cintura com delicadeza. — O Taehyung me incentivou a vir conversar com você, porque eu sei que você estava tentando se afastar de mim.

Nessa hora, foi impossível não notar as lágrimas que se acumularam nos olhos de Yoongi, e foi impossível de não ver como seu rosto começava a ficar vermelho com a vontade de chorar. Jimin sentiu um nó se formando em sua própria garganta e engoliu em seco, umedecendo os lábios com a ponta da língua para continuar falando, mas quando a primeira lágrima escorreu pelo rosto limpo de Yoongi, Jimin sentiu suas próprias bochechas se molhando ao vê-lo sentir dor.

— Me desculpa. — Yoongi murmurou, a voz saindo quebrada. Ele fechou a boca em uma linha fina, tentando controlar sua respiração, e levou a mão livre até a nuca de Jimin para fazer carinho em seu cabelo. — Me desculpa, Jiminie. Me desculpa, por favor.

— Você não precisa pedir desculpas pelos seus medos, meu amor. — Jimin murmurou, balançando a cabeça de um lado para o outro lentamente, e soltando a mão de Yoongi para levar a própria ao rosto do homem, secando as lágrimas que caíam com seu polegar. — Só não pense que você atrapalha alguma coisa na minha vida, porque não tem ninguém que acrescenta mais do que você.

— Eu sei que é besteira, me desculpa–

— Não é besteira se é alguma coisa que você sente. — Jimin se apressou em negar, sabendo o tipo de dor que Yoongi estava sentindo. Não era culpa dele. Era algo profundo e inexplicável, e que precisava de cuidado para ser tratado. — Eu não vou fazer sua dor desaparecer com minhas palavras, mas eu digo quantas vezes forem necessárias que você só acrescenta na minha vida.

— Tudo bem. — Yoongi assentiu com a cabeça e fechou os olhos, aproximando o rosto de Jimin do seu, encostando suas testas enquanto tentava acalmar a própria respiração irregular. — Desculpa ter me afastado, então. Eu devia ter te explicado o que estava acontecendo, pelo menos.

— Hyung, eu quero cuidar de você da mesma forma que você cuida de mim. Eu quero te dar carinho quando você precisa, quero te mostrar como você é importante na minha vida. — Jimin sussurrou, sentindo seu nariz esbarrar contra o de Yoongi, sentindo suas respirações se misturarem. Ele fechou os olhos também, aproximou mais seus corpos, e sentiu os dedos do advogado acariciando seu cabelo. — Eu te desculpo. Mas, por favor, se você se sentir inseguro, se você sentir medo, fala para mim. Eu não posso consertar, mas eu quero dar o meu máximo para te ajudar da minha maneira.

Porque eu te amo, ele pensou, mas não disse. Jimin sentia que o momento era delicado demais para dizer algo tão sério. Mas ele esperava que seus carinhos, seus gestos e todas as suas outras palavras fossem capazes de demonstrar seus sentimentos. Ele queria que todas as sete letras fossem traduzidas no beijo calmo que eles trocavam em silêncio, com o gosto salgado das lágrimas, e com o balançar de seus quadris, de um lado para o outro, em uma dança lenta sem música. Ele queria que Yoongi fosse capaz de compreendê-lo no abraço que Jimin o deu por longos segundos, onde ele aproveitou para sentir o cheiro do mais velho, aproveitou para beijar a pele nua e pálida de seu ombro, e aproveitou para apertá-lo em seus braços de maneira que ficaria claro que ele não queria soltá-lo nunca mais.

— Você não me atrapalha em nada, meu amor. — Jimin murmurou contra o ombro de Yoongi, beijando-o com delicadeza, subindo seus lábios até encontrar os do mais velho, que sorriam. Suas bocas se grudavam, separavam-se, e se encontravam de novo em meio a sorrisos calmos que traduziam a felicidade que sentiam em estar juntos de novo. — E, se você voltar a achar o contrário, me fala. Eu vou arrumar mil e uma maneiras para te provar que você é a melhor adição na minha vida.

O sorriso de Yoongi se alargou ainda mais, e seu braço deu uma volta por trás do pescoço de Jimin, uma tentativa de aproximar ainda mais seus corpos. O advogado soltou uma risada fraca, deu-lhe um beijo, riu um pouco mais e alto e encostou seus lábios nos de Jimin, sussurrando suas palavras seguintes:

— Me chama assim para sempre.

Uma pausa, um beijo, um sorriso.

— Como quiser, meu amor.

Para Jimin, era curioso como ele se sentia em casa em um lugar não tão familiar. O sofá de Yoongi não era dos mais confortáveis, e ele ainda errava a porta do banheiro às vezes, mas, mesmo assim, Jimin acreditava que estava no lugar certo. Porém, parando para pensar, era sua companhia que fazia daquele espaço um lar. Era Yoongi, com a bochecha amassada em seu peito enquanto tirava uma soneca, e era Yoongi, com seu cabelo bagunçado e olhos inchados enquanto fazia sanduíches para eles dois na cozinha depois de acordar. Era Yoongi, engasgando de rir da história que Jimin o contou sobre a vez que Jeongguk fofocou com ele, e era Yoongi, com o rosto vermelho de vergonha, pedindo desculpas pelo pedaço de pão que voou no engenheiro em meio às suas tosses.

E, de forma curiosamente recíproca, era Yoongi, pedindo para Jimin passar a noite ali porque, por algum motivo, seu apartamento parecia muito maior e mais vazio sem o engenheiro para fazê-lo companhia.

Eles tinham tomado vinho, comido besteiras ruins para seus organismos. Jimin vestia o pijama que era para ser de Yoongi, mas, àquela altura, já era mais seu do que do mais velho. Ele tinha usado a escova de dentes que o pertencia, e tinha deixado as roupas que usou durante o dia inteiro no cesto ao lado da máquina de lavar, sabendo que elas apareceriam limpas em breve na gaveta (que também se tornava sua) dentro do armário de Yoongi. Ambos faziam suas tarefas sem dizer nada, com um arrumando a cama, os travesseiros e cobertas, e o outro recolhendo a bagunça que ficou na sala, os passos leves dos pés descalços de ambos sendo o único som no apartamento confortavelmente silencioso.

Com bocejos, eles se deitaram um do lado do outro, até que Jimin esticou um braço sabendo que Yoongi ia querer se acomodar em seu peito. O advogado se aconchegou, murmurou algumas vezes, e puxou a coberta ainda mais para cima mesmo que o engenheiro reclamasse de já estar aquecido o suficiente. Eles trocaram mais algumas palavras, perguntaram se a porta estava trancada, se a janela da cozinha estava fechada ("entrou outro morcego aqui?" "não, mas nunca se sabe"), e se tudo havia sido jogado no lixo reciclável como deveria ser. Um longo silêncio se estendeu entre eles enquanto Jimin acariciava os fios de cabelo de Yoongi, com o engenheiro ainda acordado notando como a respiração do advogado ficava cada vez mais lenta.

Jimin esticou o braço livre para apagar a luz do abajur, ouvindo alguns resmungos de Yoongi por "ser sufocado por um peitoral incrível", e, depois de rir fraco do elogio indiscreto, ele voltou à sua posição normal. Mais alguns segundos se passaram até Jimin pegar seu celular para deixá-lo na mesa de cabeceira, mas, antes que pudesse largá-lo na madeira e finalmente se deixar levar pelo sono, ele viu a hora e viu a data logo abaixo.

00:13.

9 de março.

Jimin abriu um sorriso e deixou o celular na mesa de cabeceira, chamando Yoongi com a voz rouca, e ouvindo um resmungo sonolento como resposta.

— Feliz aniversário, meu amor.

Na mesma hora, Yoongi levantou a cabeça. Jimin não conseguia ver muito bem a expressão em seu rosto, mas conseguia imaginar o cenho franzido do mais velho.

— Já passou da meia noite?

— Já.

— Ótimo. — Yoongi bufou com a voz sonolenta, voltando a deitar a cabeça no peito de Jimin, buscando achar sua posição confortável de antes. — Um ano mais perto da artrose.

— Posso te acordar com um boquete amanhã?

Yoongi levantou a cabeça de novo, ainda mais rápido do que antes, e quase acertou o queixo de Jimin com a surpresa. Eles ficaram longos segundos em silêncio, e, novamente, o advogado provavelmente estava de cenho franzido.

— Você é terrível.

Silêncio. Uma pausa em consideração.

— Pode, sim. Por favor.

Jimin deu uma risada fraca e logo sentiu a boca de Yoongi se movendo devagar contra a sua antes de se separar. O advogado voltou a se deitar no peito do mais novo, buscando por sua posição confortável até finalmente soltar um suspiro satisfeito.

— Boa noite, engenheiro favorito.

— Boa noite, advogado favorito. — Jimin respondeu com um sorriso no rosto, sentindo o braço de Yoongi ao seu redor apertá-lo um pouco mais.

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