Jimin e Jungkook se separaram rapidamente quando chegaram ao galpão. Enquanto o ômega procurou por sua filha para checar se estava tudo bem, o alfa caminhou para seu quarto acompanhado por Layla para que pudessem discutir sobre o inventário do grupo, mas isso não significou que algum deles deixou de pensar sobre a briga que tiveram um segundo sequer.
Jeon queria que Jimin entendesse que, para os outros, ele não seria o alfa bonzinho e doce que sorri e faz elogios, esse não era quem Jungkook foi criado para ser. Para ser honesto, o alfa nunca em sua vida imaginou que seria capaz de sentir algo além de afeto pelos seus homens e ali estava ele, sofrendo por estar longe do seu ômega, mesmo que ele estivesse apenas há alguns metros de distância. Jungkook sentia como se suas almas tivessem se afastado e isso era fodidamente dolorido.
— O que o Senhor acha? — Layla perguntou com um ar de preocupação, questionando a si mesma se seu líder havia escutado alguma coisa do que ela disse.
— O que… O que disse? — Jeon perguntou enquanto esfregava seus olhos com a ponta de seu dedão e indicador, tentando livrar seu cérebro de ser consumido por Jimin mais uma vez. Ele tinha que ser um bom líder e ouvir o pedido da alfa naquele momento, não se preocupar com sua vida pessoal. Essa era uma promessa, seus homens vinham antes de qualquer coisa.
— Disse que as roupas de calor estão muito desgastadas pelos verões passados, fazem anos que não trocamos, precisamos de coisas novas.
Jeon assentiu enquanto suspirava, encarando o caderno cheio de anotações da alfa sobre sua mesa.
— Certo, quanto temos agora?
— Nosso capital está baixo, Senhor, não temos o suficiente para compras. Além do que, roupas usadas nem sempre valem a pena…
Jungkook concordou com a cabeça enquanto pensava sobre isso. A maior parte do dinheiro que conseguiam era roubada de homens ricos o suficiente para não notarem o sumiço e isso lhes proporcionava uma boa quantia, mas tudo aquilo devia ser usado com sabedoria. As betas deviam ser pagas e seus trabalhos não eram baratos, além do que, nem tudo o que precisavam ter poderia ser roubado como, por exemplo, o anel que Jeon pretendia comprar para seu ômega caso se casassem, ou a decoração de seu ninho caso um dia chegassem a ter um. Ele não queria arriscar.
— Eu darei um jeito nisso, mas essa não é uma emergência, então podemos continuar assim por enquanto. Sobre armas, como estamos? — O alfa perguntou andando pelo quarto, quase marchando como um general.
— Muito bem, Senhor, conseguimos repor toda a munição bem rápido. Estamos bem seguros com aquelas armas novas. — A alfa disse sem conter o orgulho que sentia de seu grupo.
Há pouco tempo os Procurados foram até um departamento de polícia, roubando uma carga de armamentos que fora apreendida do tráfico e agora pertenciam a eles.
— Ótimo, por enquanto é só. Se certifique de contabilizar toda a comida que temos essa noite, logo precisaremos buscar por mais.
A alfa assentiu enquanto fechava seu caderno, onde guardava todo o balancete para que as coisas corressem bem.
[...]
Quando a noite caiu, Park demorou mais do que o normal para voltar ao seu quarto e, como sempre, o alfa não ousou se deitar enquanto seu ômega não estivesse bem onde seus olhos poderiam ver, mas também não era como se Jungkook fosse atrás do ômega e o puxar para seu quarto, não depois da briga que tiveram.
Após o jantar sem a presença de Jimin no galpão, o alfa se aproximou de um pequeno grupo onde jogavam truco. Jeon não permitia nenhum tipo de aposta em sua matilha, mas isso não significava que não podiam fazer desafios e, como bons alfas desgostosos da vida, a maioria deles envolviam álcool e Jungkook se sentia extremamente propenso a perder algumas rodadas naquela noite.
Era a sexta dose que o líder tomava naquele momento, logo depois deixando sair uma risada alta, sendo seguido pelos outros, rindo de nada em específico. A maioria dos alfas gostavam do Senhor Bêbado, ele era bem menos rígido e um pouco mais sentimental, mas nada como aqueles ratos que não aguentavam suas bebidas e começavam a chorar no ombro dos amigos, acabando a noite com todos. Jeon se tornava mais humano, mais sociável, como se, por algumas horas, o rei se juntasse com sua plebe e, para aqueles homens, nada era melhor do que se embebedar com o homem mais honroso que conheciam.
— Wooyoung, pare de olhar a porra das minhas cartas! — Tristan disse enquanto as escondia contra seu peito.
— Eu não estava olhando, seu idiota, você que estava mostrando para todo mundo.
— Dê um tempo para ele, Woo, Tristan não aguenta seus próprios olhos abertos. — Samantha zombou, logo em seguida recebendo um rosnado de Tristan, fazendo todos em volta rirem.
— Jogue essa porra de uma vez, Wooyoung. — Jeon mandou, impaciente para que chegasse sua vez, sabia que nenhum dos três teria algo melhor do que sua espadilha e estava certo, quando Wooyoung deixou seus dois de copas sobre a mesa, Jeon rapidamente lançou seu ás de espadas, vencendo o jogo. — Bebam, seus vermes. — O homem disse vitorioso enquanto pegava a garrafa de rum que já estava próxima do fim, enchendo seus copos e os fazendo beber o líquido que já não amargava tanto em suas gargantas.
Estavam prestes a iniciar mais um jogo quando foram interrompidos por um leve limpar de garganta e os quatro se viraram para onde Jimin estava com seus braços cruzados e uma cara não muito feliz.
— Não acham que deveriam estar dormindo? — O ômega perguntou para todos, mesmo que seus olhos focados em seu alfa o entregasse.
Jeon o encarou por algum tempo, vendo a imagem de Jimin se duplicar diante de seus olhos, em seguida voltando ao normal, mas deixando pensamentos em sua cabeça. Agora ele se lembrava porque havia decidido beber naquela noite e não era uma lembrança agradável.
— Ele está certo. — Disse agora mais sério do que antes, mas com sua voz ainda mais lenta do que o normal. — Vão dormir e não mijem em ninguém. — O alfa disse tentando se levantar, mas sentiu tudo girando em torno de si, quase como se não estivesse em seu próprio corpo. Fazia algum tempo desde que havia se sentido assim pela última vez.
Tudo parecia estranho até que um pequeno braço se enrolou em sua cintura, dando um pouco mais de sustentação para seu corpo. Jeon abaixou os olhos e viu seu ômega ali, com um cara aborrecida enquanto passava seu braço por cima dos ombros curtos.
— Se segure, alfa, você é pesado. — Ele disse enquanto dava alguns passos em direção às escadas.
Jeon não estava em nenhuma condição de negar, muito menos de perceber o quanto aquilo poderia ser humilhante para si próprio. Era ele quem deveria estar protegendo Jimin, não ao contrário, mas isso não se passou por sua cabeça enquanto seu cérebro fazia um esforço extremo para que ele subisse as escadas sem morrer e nem matar seu ômega.
— Você cheira tão bem… — Jeon disse quando faltavam apenas três degraus para que finalmente chegasse ao corredor. — Eu fedo. — Ele constatou.
— Não se faça de vítima agora, alfa, eu ainda estou bravo com você. — Jimin disse cansado por aguentar o corpo tão grande dependendo de sua ajuda.
— Você está bravo. — O alfa constatou novamente e Jimin passou a desconfiar que Jungkook pensava em voz alta quando estava bêbado. — Você está bravo por minha culpa.
— Não vamos conversar sobre isso agora, ok? — Jimin parou para suspirar quando finalmente alcançaram o segundo andar e, num segundo de descuido, Jungkook cambaleou para trás novamente, quase ao ponto de rolar pela escada, mas o ômega foi mais rápido em agarrar sua cintura. — Porra, alfa! — Reclamou quando percebeu que Jungkook havia realmente passado dos limites. — Não vai poder se embebedar toda vez que brigarmos. — Disse o puxando em direção ao seu quarto, bem longe da escada.
— Me perdoe, Jimin, por favor. — Ele pediu enquanto se sentia um tanto enjoado. — Eu sou a porra de um covarde de merda, você sabe, eu tentei te dizer, mas você era tão bom e porra, você precisava de mim, mas você não me merece, não que eu seja bom, eu não sou, você é, você é bom, eu sou covarde, a porra de um rato, você sabe.
Jimin negou com a cabeça enquanto ainda caminhava pelo longo corredor, que parecia ainda maior com Jungkook embolando suas pernas e quase o fazendo perder o equilíbrio também.
— Jungkook, você não precisa…
— Eu preciso, Jimin. Eu preciso. — Ele parou, completamente empacado e nem os leves empurrões de Jimin o fizeram perceber que precisava mexer suas pernas caso quisesse andar. — Você é a porra de um anjo, mas eu não sou quem você acha que eu sou, eu não sou bom como você merece, Jimin. Eu sou um filho da puta arrogante. Me solte. — Falou tirando as mãos de Jimin de seu corpo. — Você não tem que me ajudar, essa é minha merda, você não tem... porra, porque você cheira tão bem? — Jungkook soou como se estivesse completamente derrotado naquele momento. — Escuta, eu sou mau com você, tudo bem? Você não merece, eu sou egoísta, faço tudo pensando na porra da minha honra e no meu nome, mas a única pessoa com um nome aqui é você.
— Achei que você se chamasse Jungkook… — Ele disse pegando o alfa pelo braço, finalmente conseguindo com que ele voltasse a andar em direção ao quarto.
— Eu me chamo, sou quem você quiser que eu seja, mas eu não mereço você. Eu só te machuco… — Aquilo soou como uma reclamação de si para si mesmo, novamente como se não fosse capaz de controlar seus pensamentos.
Park suspirou e essa foi sua vez de parar, fazendo com que o alfa parasse também, já que não era capaz de andar por si só.
— Jungkook, você foi completamente sem noção, falou como um animal apenas para expor sua dominância, mas você não precisa disso. Tenho certeza que se chamar todos aqueles alfas agora e mandar que plantem bananeira eles farão, sem se importar se você está tão bêbado que não vai se lembrar disso amanhã.
— Eu vou me lembrar. — Jungkook o interrompeu e Jimin deixou seu dedo indicador pousar em sua boca, indicando que devia se manter calado.
— O que eu quero dizer é que você realmente não precisava ter feito aquilo, mas isso foi apenas um deslize, não te torna um arrogante, filho da puta. Agora pare de tentar me impedir de te ajudar, ok? Me deixe cuidar de você, alfa.
Jeon piscou lentamente por algum tempo e, por mais que cheirasse como um barril de bebida, Jimin soube que ele havia entendido aquilo. O alfa pousou as mãos nas bochechas do ômega, em seguida o puxando mais para perto e beijando sua testa, deixando seus lábios descansado ali por algum tempo.
— Diga que me perdoa. — Ele disse quase numa ordem, mas Jimin sabia que esse era seu pedido de desculpas.
— Claro que sim alfa, não seja tolo. Agora entre aqui e não faça nenhum barulho, Olivia já está dormindo e se ela acordar eu juro que te mato, tudo bem?
Jeon havia parado de escutar depois do “claro que sim, alfa”, então quando ele percebeu o questionamento no final da frase, apenas assentiu, esperando que fosse o suficiente. Entraram juntos no quarto e Jimin o amparou até o banheiro, onde tirou as roupas do alfa e o ajudou a entrar na banheira.
— Porra! — Reclamou enquanto entrava em contato com a água gelada da banheira.
— Shh! — Jimin o repreendeu. — Se acordar Liv será um homem morto, alfa. — Disse enquanto molhava seus cabelos com um pequeno recipiente usado em seus banhos.
— Sabe o quanto fica bonito quando está bravo? — Jeon disse com um sorriso quase infantilizado nos lábios, fazendo Jimin sorrir também, porque ele sabia que não havia nada mais sincero do que o elogio de um bêbado.
— Você também vai ficar muito bonito quando acabar esse banho. — Park falou enquanto espalhava shampoo pelos cabelos de seu alfa, seguido de condicionador.
Jeon tinha que admitir que seu cabelo tinha um aspecto muito melhor quando era cuidado pelo ômega e ele adorava isso.
— Ômega, — Jungkook chamou depois de algum tempo calado. — eu não sei o que Jane quer tanto te mostrar e eu não posso impedir isso, mas eu gostaria que você me falasse se vai me deixar.
— Jungkook! — Jimin disse num tom repreensivo. — Claro que não. De onde tirou isso, alfa?
— Eu não sei, ela parecia tão ridícula hoje com todas aquelas promessas e você… — Jeon o encarou por algum tempo, piscando os cílios longos. — você parecia tão animado com a ideia de algo novo.
Jimin suspirou antes de despejar uma boa quantidade de água sobre a cabeça do alfa, fazendo os cabelos longos se grudarem em seu rosto.
— Gardien, eu não me importo com nenhuma promessa vazia que ela pode me fazer. Você é meu alfa, não a Jane. Se ela quiser me mostrar alguma coisa, terá que mostrar para você também, porque nós somos um. — Falou acariciando de leve o rosto, passando os dedos delicados sobre a barba rala de seu alfa.
O alfa segurou Jimin pelo pulso e abriu sua mão, em seguida deixando um beijo em sua palma. Aquilo já havia se tornado um costume do casal e, por algum motivo, Jimin se derretia completamente com os beijos castos em sua mão enquanto o alfa o encarava, prometendo o mundo apenas com seus olhos castanhos e brilhantes.
— Eu não sei viver sem você, Jimin. — O alfa confidenciou num cochicho.
— Por incrível que pareça, eu também não. — Jimin disse se inclinando um pouco em direção ao seu alfa, tocando suas bocas num beijo apaixonado e desejoso.
Suas línguas se acariciavam suavemente, mas ainda de maneira intensa, como se nunca mais pudessem ser separados e seus beijos fossem uma fonte de vida. Jeon em especial imaginava que sim, o ômega trouxe cor para seu mundo novamente, uma nova forma de ver as coisas e um novo frio na barriga todas as vezes que estavam prestes a se encontrar. Quando seus lábios se tocavam, ambos sabiam que estava em casa.
— Agora saia logo dessa banheira e venha para cama, estou te esperando. — O ômega disse após deixar os lábios de Jungkook, olhando profundamente em seus olhos.
Jeon simplesmente não podia dizer não para uma coisa dessas, então apenas se limpou melhor e saiu, ainda se sentindo um tanto bêbado, mas bem melhor do que antes, como se o simples fato de Jimin ter o perdoado fosse o suficiente para que ficasse sóbrio novamente.
Quando o alfa chegou em seu quarto, viu Jimin dormindo completamente enrolado em seus lençóis e abraçado com o travesseiro de Jungkook, respirando fundo ao sentir o cheiro de seu parceiro em suas roupas de cama. O alfa se aproximou devagar e subiu na cama, tirando o travesseiro dos braços de ômega, que choramingou em descontentamento, mas suspirou satisfeito quando teve seus braços pousados sobre a cintura de Jeon, podendo o abraçar com firmeza e sentir o cheiro de seu peito bem perto de seu nariz.
Jungkook desejou estar sóbrio para que pudesse passar toda a noite acordado observando como seu pequeno ômega dormia tranquilo em seus braços, mas o álcool em seu organismo o fez dormir alguns minutos depois.
[...]
No dia seguinte, Jimin acordou animado e especialmente ansioso para ir até a casa de Jane, ou cabana, como ela chamava, mas Jungkook estava com uma enorme ressaca e isso atrasou um pouco as coisas, já que Park precisou cuidar de seu alfa antes de irem.
— Isso tem gosto de morte. — Jeon disse após beber a receita que Jimin fazia com limão e alho.
— Não foi isso que você disse quando bebeu a primeira vez.
Jungkook se lembrava daquilo, da última vez que se embebedou tanto quanto ontem e acabou colocando Jimin em sua cama. Aquilo parecia ter acontecido há uma vida atrás e ele não podia dizer que havia se arrependido, afinal, aquele foi um dos primeiros passos que tomou para que o ômega se aproximasse e ele era feliz por ter dado certo.
— Não disse porque estava feliz por ter te encontrado, achei que você tinha fugido.
Jimin riu e se encostou no balcão de sua cozinha, surpreso com a revelação que teve.
— Achou que eu tinha fugido? — Perguntou olhando o alfa por baixo, ainda se sentia especialmente envergonhado quando Jungkook dizia coisas do tipo. — Achei que queria que eu fosse embora.
— Eu queria, — Jeon esclareceu. — mas também queria que ficasse em segurança, por isso foi uma decisão difícil deixar que permanecesse. Eu não sabia até onde estava te colocando em perigo aqui, talvez você estivesse mais seguro com os betas, entende?
Jimin assentiu, podia ver como aquela decisão havia sido complicada para o alfa. Se ele o mantivesse por perto como desejava, poderia estar o colocando em perigo com tantos alfas em volta o tempo todo, mas se o deixasse ir, existia uma grande chance que fosse assassinado. Por sorte, Jimin conseguiu fazer com que o único homem capaz de o proteger se apaixonasse por ele e isso realmente se parecia com um milagre da natureza.
— Mas agora nós estamos juntos e está tudo bem. — O ômega disse conforme se aproximava de seu alfa e apoiava as mãos em seu peito, sentindo o quanto aquelas lembranças o deixavam tenso, quase como se tivesse que escolher tudo aquilo de novo.
Jeon se sentia ansioso ao pensar que tudo poderia ter sido diferente. Se uma sequência de coincidências não tivessem acontecido, talvez ele não tivesse conhecido o amor de sua vida e pensar nisso era quase sufocante, então ele tentava manter tudo calmo, apenas apreciando os momentos em que estava na presença do ômega que o deixava em seus joelhos.
— Sim, está. — Ele concordou enquanto pegava as mãos de Jimin, beijando suas duas palmas com carinho. Estava tudo bem e era isso o que importava.
O Jungkook bêbado shsjshsh não sei lidar
Me falem tudinho, sobre o que acharam do Jungkook bêbado, sobre o que acharam do Jimin ajudando ele. Tudo tudo.
Au revouir