Solace ϟ Potterverso

By EvanoraCaligari

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🐍 Vencedor do Prêmio Wattys 2020 na categoria Fanfiction 🏆 Com antigos seguidores de Voldemort ainda à solt... More

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By EvanoraCaligari

Isis não tirava os olhos da pintura de Dumbledore, pendurada na parede atrás da cadeira onde Minerva se acomodara. Devia muito ao antigo diretor e esperava que seus últimos atos servissem para abrandar a dívida. Esperava, mas não acreditava que fosse possível, apesar do olhar gentil dele na sua direção. Afinal, lá estava ela, levando mais uma vez o perigo de volta à escola de magia e bruxaria ao aceitar se esconder em seus limites refortificados.

O único ruído na sala circular era o da pena correndo pelo pergaminho. Minerva se reservara ao silêncio após avisar, sucinta, que começariam a reunião assim que Kingsley Shacklebolt chegasse. Ao contrário de Aurora, calma e concentrada, a perna de Isis tremia enquanto ela roía as unhas que lhe restaram após o breve incidente em frente no Beco Diagonal. Após passar a noite em claro — a mente agitada recusando-se a descansar —, a bruxa desceu ao salão de jantar do Caldeirão Furado e se sentou a uma das mesas mais afastada, sentindo-se como um inferius.

O ambiente estava menos tumultuado, então não demorou quase nada para Tom aparecer com uma xícara de café e uma tigela com mingau de aveia forrado com açúcar. Seu "obrigada" saiu como um grunhido ininteligível. A fome passara longe naquela manhã, mas se tinha uma coisa importante que aprendera a duras penas era a não desperdiçar comida.

Quando Aurora surgiu, já tinha terminado de comer e bebia a segunda xícara de café. Isis ainda estava irritada com a reticência da professora em lhe esclarecer seu disfarce dentro de Hogwarts. "Minerva explicará", fora a resposta repetida à exaustão nas vezes em que a bruxa abordara o assunto. Não havia abertura para dúvida quanto à sua gratidão pela ajuda. Auxiliaria o guarda-caça se fosse o caso ou limparia o castelo junto com Filch, contanto que atingisse seu objetivo.

Com o passar dos minutos, as duas se apressaram até o Beco Diagonal. Sair pela Charing Cross era um risco desnecessário, por isso Aurora criara a chave de portal em uma das muitas vielas da área. O beco conservava uma aparência decadente, com várias lojas fechadas com tapumes, e cartazes rasgados da época anterior à guerra colados às paredes rachadas. A segurança por lá contava com aurores por todos os lados, alguns distribuindo panfletos informativos sobre as mudanças que ocorreriam a curto e médio prazo, para facilitar a vida dos bruxos. As aulas voltariam em breve e o Ministério não pouparia esforços para manter as crianças sãs e salvas.

Enquanto se dirigiam à viela, guardada por dois aurores, um estalo repentino fez Isis se abaixar e sacar a varinha, apontando-a na direção do barulho, pronta para se defender de quem quer que fosse. Com o coração acelerado, ela viu um grupo de crianças rirem não muito longe dali, brincando com snap explosivo. Aurora se apressou em ajudá-la, desculpando-se com os bruxos que estavam por perto.

— Não se preocupe. Isso tem acontecido muito por aqui — comentou um dos aurores com tranquilidade, ao ver o rosto de Isis queimar de vergonha.

Batidas à porta da sala de Minerva levaram a bruxa de volta ao presente. Ela se aprumou e virou para trás, vendo o primeiro-ministro entrar, acompanhado de três bruxos. As mulheres se levantaram para cumprimentá-los e Shacklebolt fez questão de quebrar as formalidades desnecessárias.

— É uma felicidade sem tamanho ver como vocês reergueram Hogwarts, Minerva — disse ele, acomodando-se na cadeira vazia ao lado de Isis. — Queria ter ajudado mais.

— Suas responsabilidades com o Ministério já o consomem o suficiente, Quim. — A diretora deixou o pergaminho e a pena de lado. — Chá?

Ele aceitou, dispensando os aurores assim que os três também foram servidos. Isis respirou fundo, acalmando-se para a conversa que teria, como se prestes a passar por um crivo digno dos julgamentos do Ministério. Uma cadeira, contudo, continuava vazia, ao lado de Aurora, fazendo Blakeley se perguntar quem mais estava para chegar.

Após uma breve troca de amenidades e o comunicado final de que Harry Potter não voltaria para concluir o último ano, um momento de silêncio se seguiu antes de Minerva quebrá-lo.

— Srta. Blakeley, acredito que não será necessário explicar os perigos que envolvem abrigá-la em Hogwarts. — Isis não hesitou sob o olhar austero da diretora. — O ministro e eu aceitamos após uma pesquisa minuciosa do seu passado. — Ela colocou a mão sobre uma pilha alta de papeis na escrivaninha. — Sinistra falou ao seu favor e os professores de Uagadou relataram que você foi uma aluna modelo em seu último ano, apesar dos pesares.

— E seus esforços para ajudar nascidos-trouxas no ano passado também contaram muito em nossa decisão. — A voz grave e o tom gentil de Shacklebolt deixaram Isis mais calma, porém preservando o estado de alerta. — Aurora nos falou por alto sobre sua vida antes e durante Hogwarts e, sendo muito sincero, não creio que a senhorita tenha ido atrás de problemas. Ele... Eles que a encontraram.

— Embora isso não exclua de modo algum as ações infelizes de sua parte — acrescentou Minerva, crispando os lábios. — Então não nos obrigue a nos arrependermos de nossa escolha. Coloque apenas um de meus alunos deliberadamente em perigo e eu farei questão de vê-la definhar em Azkaban pelo resto da vida.

Isis encarava Minerva de volta sem piscar. Ao seu lado, a astrônoma tremeu. Não sabia se a tensão vinda de Aurora era fundamentada na a) intensidade da diretora em acuar a ex-aluna ou b) no medo de ter cometido um erro ao confiar em uma pessoa instável. A bruxa não a culpava por nenhuma das duas opções. Também conhecia a nova diretora bem o suficiente para não se intimidar.

— Não esperaria nada diferente, McGonagall — respondeu Isis, sem se abalar, pegando a xícara de chá ainda cheia e molhando a garganta antes de dar prosseguimento: — Minhas intenções aqui são as melhores e não peço que acredite em mim por completo agora. Deixarei isso bem claro através de minhas ações... nada infelizes.

Isis sentiu Aurora relaxar um pouco mais ao seu lado enquanto Minerva semicerrava o olhar, como se ainda estivesse decidindo se aquela era uma boa ideia. Gostando ou não, a jovem bruxa era a única errada ali. A única com um passado questionável. Contudo, isso mudou segundos depois, quando novas batidas à porta chamaram a atenção de todos.

Os olhos de Isis se fixaram primeiro na barra da capa preta, que se elevava com delicadeza enquanto passos silenciosos se acercavam da mesa de Minerva. Quando ergueu o olhar, controlou-se para não contrair o rosto em uma careta ao ver a cortina de cabelos escuros emoldurando a face encovada e pálida de Severus Snape. O pescoço ainda estava enfaixado apesar dos quatros meses passados após o ataque de Nagini.

— Sente-se, Severus. Isso não demorará muito. — Minerva se ajeitou na cadeira. — Srta. Blakeley, presumo que se lembre do professor Snape. — Isis acenou sem muito entusiasmo.

— Não é nosso intento cutucar velhas feridas. — Shacklebolt virou-se na direção de Isis, fitando-a com seriedade. — O professor Snape vem fazendo um ótimo trabalho conosco. Prendemos 14 comensais e identificamos dezenas de outros graças a ele. O que queremos é que vocês reúnam o conhecimento que possuem para que encontremos Underhill o quanto antes.

As mãos de Isis se fecharam com força nos braços da cadeira ao ouvir aquele nome. As palavras seguintes do ministro não chegaram aos seus ouvidos latejantes. O suor frio escorreu pela nuca enquanto memórias acerca de Erastus Underhill nublavam sua visão, obrigando-a a revisitar sentimentos que embrulhavam o estômago.

— Srta. Blakeley? Srta. Blakeley... a senhorita está bem? — O toque do ministro em sua mão a despertou de sobressalto.

— Eu... claro, estou bem. — Ela engoliu em seco, aprumando-se. — Algumas memórias ruins são difíceis de controlar.

Isis olhou para Aurora, em busca de apoio, mas se arrependeu no instante em que viu Snape encarando-a do outro lado; os olhos negros e frios a estudavam com cuidado, sem expressar nada além de apatia. Fechou a mente com oclumência no mesmo instante, temendo que lesse seus pensamentos. O conhecimento dele no campo não lhe era um segredo, por isso mesmo fora levada a estudar o assunto, considerando a antipatia que seu antigo tutor nutria pelo mestre de Poções.

— Entendo. — Minerva entrelaçou os dedos sobre a mesa, quase parecendo simpática à situação. — A senhorita terá algumas semanas para repassar o que falaremos aqui. Sobre o disfarce — a diretora olhou para Aurora, que negou com a cabeça —, pensamos bastante sobre e pesamos os prós e contras. A primeira opção foi a mais óbvia: professora. Um risco grande demais. Poderíamos contornar a questão da aparência, mas nossos alunos precisam de mestres que estejam aqui por eles e não para usá-los como manobra para outros planos. — Ela olhou enviesado para Snape, que fingiu não notar a indireta.

— Então o que será? — adiantou-se antes que resolvessem contar todas as opções inviáveis.

— A senhorita será Hannah Cooper, estudante intercambista de Ilvermorny. Sexto ano, da casa Pukwudgie — explicou Shacklebolt. — Perto de completar seus estudos, não abriu mão de conhecer e estudar em Hogwarts antes de se formar. Felizmente, seus pais são trouxas e não compreendem direito a gravidade da segunda guerra bruxa, por isso não se opuseram à viagem.

Isis arqueou a sobrancelha, fitando os presentes em busca de um sinal que deixasse claro que aquilo não passava de uma brincadeira. Julgando pela expressão de Minerva, duvidava que a bruxa fosse brincar com algo do tipo, ou que brincasse de maneira geral.

Aluna? Eu? — Ela umedeceu os lábios, contendo um riso de escárnio. — Não posso ser uma aluna. O que esperam que eu faça? Que viva de poção polissuco?

— A sua segunda melhor nota nas provas finais de Uagadou foi em Transfiguração, perdendo apenas para Astronomia. — As narinas infladas de Minerva deixaram claro o descontentamento. — Consegue fazer algo além de transformar um rato em uma taça, não? Então não caçoe de minha inteligência e dos nossos esforços, Srta. Blakeley.

— Você ficará bem camuflada em meio a tantos estudantes — disse Aurora, finalmente abrindo a boca. — Como professora, por outro lado... Hogwarts receberá mais dois intercambistas esse ano, uma de Castelobruxo e um de Koldovstoretz, o que contribuirá para o disfarce. O Ministério também plantará um auror como aluno. Seja razoável, Isis. Provas e trabalhos serão a título de disfarce. Sua maior preocupação será encontrar... hum, ele.

Isis olhou para Minerva, sem esconder a irritação. Ela sabia muito bem por que a estavam colocando como estudante. Mesmo depois do discurso de Shacklebolt sobre seus atos heroicos, não havia dúvidas de que a desconfiança era maior do que a própria diretora deixava transparecer. Querendo ou não, seus passos seriam mais fáceis de monitorar enquanto aluna.

— Como intercambista — continuou Aurora —, você será colocada sob a responsabilidade de uma das cas...

— Sonserina não. — Isis falou tão rápido que os surpreendeu. Snape até prestou-se a se virar na cadeira para encará-la com desprezo. — Há filhos de comensais na Sonserina. Sem contar que foi a minha casa, então o ideal seria ficar no extremo oposto. — O mestre de Poções soltou um muxoxo. — Não concorda, professor?

— Se me permite, Minerva — disse ele, ignorando Isis —, a ideia de abrigar a Srta. Blakeley em Hogwarts é um erro. Underhill não é uma pessoa com quem se deve brincar. Os alunos ficarão em risco e, dessa vez, sem necessidade. — A voz saiu em um sussurro rouco, mas todos foram capazes de entendê-lo.

— Não se preocupe, professor. — Isis riu e cruzou as pernas. — Tenho certeza de que seus queridos alunos da Sonserina ficarão bem. Eles nunca estiveram em perigo de verdade, afinal.

— O que di...

— Já basta! — As orelhas de Minerva estavam vermelho sangue. — Severus, se tem uma pessoa que conhece Underhill nessa sala, é a Srta. Blakeley. E Srta. Blakeley, filhos não devem ser reféns dos males causados por seus pais. Entraremos em uma nova era no mundo bruxo a partir do dia 1 de setembro. Pensamentos nocivos como esses não serão mais tolerados. — A diretora respirou fundo e soltou o ar devagar, ajeitando os óculos. — Me desculpe, ministro.

— Concordo inteiramente, Prof.ª McGonagall. — Ele puxou o relógio de bolso e verificou as horas. — Sinto muito, mas precisarei me retirar. Srta. Blakeley, um dos nossos aurores ficará responsável pela sua segurança até o regresso a Hogwarts. Até lá, peço que não deixe as imediações do Caldeirão Furado. Quando for visitar o Beco Diagonal, que seja com a nova identidade, sim?

Isis concordou, apertando a mão de Shacklebolt. O ministro também prometeu, antes de partir, que enviaria regularmente relatórios sobre Underhill através dos aurores.

— Isso é tudo, Minerva? — perguntou Snape, levantando-se antes de receber a resposta; o queixo erguido, deixando o nariz adunco em evidência.

— Sim. — Naquele momento, Minerva aparentou ter quinze anos a mais nas costas, apertando a ponte do nariz. — Não se esqueça de passar na enfermaria para Papoula trocar a bandagem.

Ele encarou Isis uma última vez — irritação desprendendo-se dos poros — e saiu da sala da mesma forma que entrara: carregando o silêncio nas pontas dos pés. Precisavam encontrar Underhill o quanto antes e, até que esse dia chegasse, Isis se prometeu ficar distante da presença peçonhenta de Snape a todo custo.

Notas

Para quem não sabe ou não lembra, a Escola de Magia Uagadou está localizada no topo das Montanhas da Lua, a oeste de Uganda, e é a maior das onze escolas de magia espalhadas pelo mundo. Rowling comentou sobre ela no Pottermore.

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