Macayla respirou fundo ao engolir a água com tudo.
— Ah não. — Disse a voz de sua mãe entrando na cozinha vestida com um vestido preto e uma garrafa de vinho. — Nada dessa cara. Vamos, erga essa cabeça. — Disse ela enchendo duas taças.
— Isso é pra mim? — Perguntou Maca estranhando a disposição de Rebecca. — Eu não bebo.
— Grossa, mas tudo bem, é filha do meu marido, bem compreensível a agressividade. — Rebecca sorriu entregando o copo. — Estamos todos de luto, um copo não vai te matar, mas também não vou forçá-la. — Disse colocando a taça na pia. Não se houve resposta de Macayla enquanto Becca a encarava. — Você está bem?
— Você está? — Retrucou já sabendo a resposta de Rebecca à aquela pergunta. — Foi o que pensei. — sorriu tristonha.
— Eu não era tão próxima do Taylor quanto o Blake. Ele... Eles eram amigos próximos, não sei bem como reagir, Adam é meu melhor amigo e vê-lo desse jeito... Me causa dor.
— Chegou a ir vê-lo no quarto?
— Vi quando estava descansando mais cedo. Agora mesmo não, inclusive um dos subordinados de Rachel está aí pra falar com Adam e com ela. Viu Rachel por aí?
— Não. — Respondeu Macayla desconfortável.
— Me desculpa se eu estiver sendo muito coruja, mas... Conversa comigo Macayla. O que sente? O que está acontecendo com você?
— Ela venceu mãe. — Macayla pegou a taça e encarou o líquido. — Aurora venceu. Acredite em mim, não tem como vencê-la.
— Lizzy disse que há um jeito...
— Não. Não há, provavelmente Aurora já sabe exatamente o que vamos fazer agora. E depois, e depois e depois, e eu irei morrer.
— Você não vai morrer. — Becca largou a taça imediatamente abraçando sua filha. — Eu não vou deixar isso acontecer. Não mesmo.
— É... Já ouvi isso. — Respondeu Macayla virando a taça de vinho de uma única vez e se virando para sair.
— Aonde você vai?
— Respirar. — Disse indo em direção a porta da saída.
***
Damon havia finalmente encontrado Rachel, ela se escondia justamente no telhado da casa, escutando tudo e vendo tudo.
— Ser uma Deusa as vezes é ruim né? Ter que ouvir tudo e todos ao mesmo tempo...
— Deveria estar no inferno em meu lugar enquanto cuido das coisas Damon.
— E estou. Porém não sou o rei Rachel, então não tem 100% por cento de controle de um local repleto de demônios querendo explicações! — Disse ele e Rachel fechou os olhos antes de se virar para encará-lo.
— Estou aqui pelo inferno e não somente por motivos pessoais. Se Aurora vencer...
— É eu sei, o inferno deixa de ser o ápice do medo do mundo. Entendi, mas ainda é o inferno, e ainda são demônios, alguns estão exigindo sua presença. Sugiro que se apresse.
— É só isso que veio avisar?
— Não. — Damon suspirou enquanto pensava em palavras para avisá-la, decidiu ser bem curto e direto. — O criador veio falar comigo majestade. — Respondeu e a rainha do inferno franziu o cenho da testa. — É eu sei... Nunca aconteceu isso desde a morte de Azrael. Ele disse que você sabe exatamente o que tem que fazer agora.
Rachel franziu o cenho da testa.
— Se realmente está aqui pelo inferno, fará o que ele quer. — Ela sabia o que era, mas engoliu em seco sem afirmar nada.
— É sempre do jeito que ele quer não é mesmo?
— Majestade... Eu sei que você...
— Mais alguma coisa? — Interrompeu e Damon se sentou do lado dela.
— O inferno está uma bagunça, estão todos confusos acreditando em uma nova rebelião. Não só você como todo os príncipes do inferno foram tirados de lá, o mais engraçado é que Azazel retornou e está em uma cela. Belfegor está preso por traição, mas já está juntando ladainhas em cima dos demônios para que te tirem do trono e coloquem a herdeira. — Rachel ia discordar imediatamente quando Damon fez sinal para que deixasse ele concluir. — E deveria saber que além dos príncipes, mais alguém escapou do inferno Rachel.
Ela se levantou imediatamente.
— Impossível, Aurora só trouxe os príncipes do inferno...
— parece que ela tinha outra aliada.
— Quem? — Perguntou e Damon ficou sério. — DAMON! QUEM?!
— A única pessoa que esteve do seu lado por séculos, e ainda ajudou Aurora a parecer que ela era inofensiva. Como se fosse a irmã dela assim confirmando a mentira da mãe dos arcanjos...
— Mentira sua. — Respondeu Rachel.
— Majestade...
— CLARKE NÃO É UMA TRAIDORA! — Disse com firmeza.
— Rachel! — Exclamou. — Ela é uma renegada do inferno! E uma bruxa negra! Achou mesmo que uma bruxa negra poderia ser boazinha?? Acorda! Ela te usou para ajudar Aurora! — Rachel se acalmou, mas não disse nada para ele. Estava em choque, afinal Clarke era amiga de Rachel. — Preciso voltar... Aquele lugar está uma bagunça, e serei sincero. Faça o que tiver de fazer, mas seja breve. O inferno está decaindo sem a rainha, e eu não sei até quando os demônios vão se segurar e pedir a sua renúncia. Vejo você em breve majestade. — Disse por fim antes de uma rajada de fogo abrir uma portal de volta para o inferno e transportar Damon em direção a ele.
Rachel o observou e engoliu em seco novamente. Precisava sair dali, tinha de beber ou caçar, qualquer coisa, exceto ficar ali.
Porém havia uma enterro a sua espera, e ela definitivamente parecia querer surtar a qualquer momento.
***
Enquanto todos foram ao enterro de Taylor, Carmilla ficou sentada na poltrona de frente a cama de Laura, pois a mesma, continuava em coma. Carm não queria que continuasse assim, queria que Laura acordasse e as duas tivesse finalmente a paz que queriam, mas parecia que quanto mais se envolviam, mais problemas se encaixavam.
Carmilla amava Laura, entretanto, quanto mais ambas estivessem juntas, pareciam que algo ruim acontecia... E dessa vez ela estava certa, algo ruim estava acontecendo, pois ela mesma estava ficando cansada...
Para quem não a conhecia acreditaria que era algo normal ela querer descansar depois de tanta maldade e guerra, porém a sonolência que ela sentia não era nada normal. Ela era uma vampira. Vampiros não dormiam. Não tinham sono, então por que Carmilla Karnstein queria dormir? E por que ela não conseguiu controlar seu sono?
Havia apagado. As luzes começaram a piscar quando Laura moveu os dedos, seu corpo havia se arrepiado por completo mesmo estando desacordada.
Era como se por instinto todos os nervos a pedisse para acordar. Foi então que ela acordou respirando fundo em choque com um impulso do coma. Os olhos de Laura continuavam alaranjados como as de uma bruxa negra, entretanto, ela não sentia como se fosse domada pelas consequências da magia negra. Sentia-se normal, um pouco mais leve talvez?
Aparentemente a magia de Macayla havia dado certo, porém algo estava errado... A casa estava tão quieta.
Quando os olhos de Laura retornaram aos seus castanhos, ela virou para o lado e encarou sua amada. Carmilla estava adormecida na poltrona o que fez Laura desconfiar que havia algo errado.
— Carm? — Chamou ela e nada da vampira responder. Estava em um sono profundo?
Foi então que Laura se levantou e encarou o espelho a sua frente. Virou-se de costas e levantou sua blusa tentando olhar pelo espelho se a marca ainda estava ali, e franziu o cenho em estranheza.
Ainda estava ali, porém havia mudado... Estava dourada e o mais estranho é que o desenho também havia mudado. Não estava apenas a marca das bruxas negras, mas consigo estava também a marca das bruxas iluminadas misturando-se com a outra.
Laura engoliu em seco ainda estranhando o que estava acontecendo.
Sabia que tinha algo estranho na casa, pois a energia que sentia era de um ser poderoso. Talvez fosse o tal demônio que estava atormentando a casa com sonhos eróticos buscando algo... Talvez se alimentar deles?
— íncubus... — Disse Laura ao tocar em Carmilla e sentir a energia de um demônio íncubos nela, só que este era bem mais forte. Algo nele o fazia ser muito poderoso...
Ela andou pelo corredor vagamente, abriu o quarto de Macayla, e viu que ela não estava lá o que era menos mal. Estava no enterro de Taylor junto com os outros. O que faz ela pensar que somente ela, Carmilla e Eva estavam na casa. Laura correu para o quarto de visitas em busca da sua mãe e se pensar duas vezes abriu a porta com tudo.
Lá estava ela...
Sendo sugada por um homem loiro de longos cabelos lisos, ele era bonito de corpo mediano, alto e muito bem vestido com um casaco dourado de seda. Ele beijava Eva que parecia inerte enquanto dormia um sono profundo e ele estava se alimentando dela. Dava para ver pois o corpo de Eva emanava uma energia estranha, uma cor azulada como se fosse drenada por completo.
— MÃE! — Gritou ela despertando o demônio que largou Eva na hora. Ela se remexia aparentemente feliz, como se estivesse excitada, o que fez Laura estranhar ainda mais. Que tipo de magia estranha era essa?
— Você... — Disse ela. — Eu já te vi antes...
— É. Da última vez eu tive que fingir ser derrotado para deixar vocês felizes. — Ele respondeu com um sorriso encantador no rosto. — Sabe, se vocês pensam que venceram a guerra, Aurora fica feliz. Então... Eu fico feliz. — Ele deu um passo a frente. — Achei que estava dormindo como a outra. Acho que não terei opção além de fazê-la ter ótimos sonhos.
— Asmodeus... — Esse era o príncipe da luxúria. Um demônio do sexo e primeiro Íncubos a nascer do inferno.
— Soube que derrotou Belfegor. Não fique se achando viu? O nome dele já o entregava. "Demônio da preguiça". Era o mais fraco dentre nós. — E ela ainda teve de usar até a última gota de sua magia. — Agora seja uma boa menina, por que já passou da hora de dormir. — Asmodeus estalou os dedos.
Laura cambaleou para trás até se segurar na parede e encarar o príncipe da luxúria com um ar feroz. Ele franziu o cenho e estalou o dedo novamente, mas Laura não se moveu. Continuou o encarando com aquele olhar irritado.
— Por que você não cede??
Laura sorriu.
— Se tem uma coisa que eu passei a minha vida conhecendo. É magia do sono. — Seus olhos ficaram alaranjados e o globo ocular se preencheu com um vermelho escuro; — E eu cansei de dormir.