À Sua Espera - DEGUSTAÇÃO

By TamiresBarcellos

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OBS.: Disponível apenas 10 capítulos para degustação. O livro se encontra completo na Amazon. Sinopse: Dono... More

Avisos + Personagens
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 10

Capítulo 9

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By TamiresBarcellos


A Fazenda Baldez é aqui? Se for, avisa pra todo mundo que cheguei com capítulo novo! 

Só queria dizer que leio todos os comentários e vi muita gente me pedindo um livro do Caio. Esse homem é tudo, né? Se ele souber desse sucesso todo, vai ficar se achando o último Bis do pacote! Kkkkkkkk. Também amo muito esse advogato! 

Vamos para mais um capítulo, porque vocês merecem! 

Um beijo <3 

 Depois que Caio foi embora, ocupei-me com as tarefas da fazenda e pedi para que Cissa acompanhasse Gabriela até o hospital. Depois da nossa discussão na sala, não sabia como deveria estar o seu humor, mas tinha plena consciência de que o meu estava péssimo, por inúmeros motivos.

Pela manhã, acordei com a lembrança do que havia acontecido naquela madrugada. Presenciar aquele momento frágil de Gabriela, estar ao seu lado, dar suporte, tê-la em meus braços, foi algo que nunca imaginei que pudesse acontecer. Claro, nossa relação era boa, às vezes ela me acompanhava durante a tarde quando eu ia ver os cavalos que ficavam nas baias mais afastadas, jantávamos juntos, conversávamos, mas nunca havia ultrapassado esse limite — e eu pretendia que continuasse assim — até vê-la naquele estado.

Eu estaria mentindo se dissesse que faria o que fiz por qualquer outra pessoa. Não que eu fosse um homem ruim, mas ficava extremamente desconfortável em situações em que tinha que confortar alguém. Era muito prático e preferia mil vezes ajudar uma pessoa com trabalho físico do que com toques exagerados, mas, naquele momento, a única coisa que eu queria fazer era colocá-la em meus braços e deixar que desabafasse pelo tempo que precisasse. Essa constatação me manteve acordado por mais algumas horas na cama e continuou martelando em minha cabeça depois que acordei.

Queria entender o porquê. Poderia pegar aquele momento e levar para um lado mais fraternal ou concluir que era isso que eu queria que fizessem por um filho meu, mas estaria sendo hipócrita. Não a consolei porque a enxergava como uma filha, nem sequer pensei nisso. A consolei porque algo dentro de mim me impeliu a isso. Não me arrependia, mas isso não queria dizer que minhas emoções não estavam confusas.

Passei o resto da manhã tentando deixar tudo isso de lado, até outra situação me incomodar. Essa, na verdade, nem deveria ser um motivo para incomodo, mas me peguei muito irritado quando vi Gabriela ao lado daquele garoto. Eu a observei discretamente enquanto corria com pressa para perto do cercado, usando um short jeans curto, tênis e uma camiseta que desenhava o corpo e precisei me obrigar a parar de olhar e dar atenção a Mário, meu veterinário, mas não consegui ficar muito tempo sem colocar os olhos sobre ela e, assim que a vi, ela estava sorrindo e apertando a mão de Luan, que olhava para ela como se fosse um cachorro cheio de sede, quase babando.

A primeira coisa que veio à minha cabeça, era que ele era muito abusado para olhar para ela daquela forma, bem na minha frente. Então, me dei conta de que ele não estava fazendo nada demais, só admirando uma garota que tinha idade para ser sua namorada e foi isso que me deixou mais chocado. A constatação de que eles tinham, praticamente, a mesma idade. Ele podia admirar a beleza dela, eu não. Ele podia sorrir para ela daquele jeito, eu não.

Demorei mais tempo para tentar entender o porquê de isso me irritar tanto, do que para compreender como esse tapa na cara havia me influenciado a agir como um babaca com ela na sala. Precisei falar em voz alta que ela era apenas uma menina porque, talvez assim, eu voltasse a entender que era isso que ela realmente era. Eu não tinha motivo algum para ficar irritado com o fato de um funcionário meu, que não deveria ter mais do que vinte e dois anos, estar olhando para ela como se ela fosse alguém que ele pudesse levar para sair, pelo amor de Deus!

Só de pensar nisso, já sentia a frustração me consumir e tirei Capitão da sua baia com um pouco mais de pressa. Era final de tarde, já havia cumprido com todas as minhas funções e liberado os meus funcionários, por isso, decidi que cavalgar com Capitão era a escolha perfeita para me desfazer de toda a tensão do dia. Ou era isso, ou algumas doses de uísque e não estava afim de extrapolar o meu limite. Já havia bebido com Caio mais cedo, não queria beber novamente.

Capitão parecia compreender o meu humor apenas com o olhar. Assim que o montei, ele começou a cavalgar forte e fomos em direção ao norte da fazenda, a parte mais afastada e aberta, onde poderíamos descontar tudo o que quiséssemos. Ele, a sua energia e eu, a minha irritação. O vento batia forte no meu rosto e o barulho dos cascos de Capitão contra a grama era como música para os meus ouvidos. Logo me senti desligar de qualquer pensamento ruim e só me restou algumas imagens na mente. A que ficou por mais tempo, foi Gabriela.

Primeiro me lembrei de seus olhos tão únicos e diferentes ao mesmo tempo. As írises castanha e azul se completavam e faziam um trabalho incrível em seu rosto delicado. Como se isso não fosse o bastante, a danada ainda tinha um corpo que, pela primeira vez, me deixei lembrar com detalhes. Não havia me permitido a olhar mais do que o necessário até o dia de hoje. Primeiro, quando ela veio correndo para me ver com Trovão e, segundo, quando a olhei de cima a baixo antes de falar que a via como uma menina.

Realmente, perto da minha idade, ela era apenas uma menina, mas seria hipócrita se dissesse que seu corpo era de uma adolescente, pois não era. Gabriela era linda, tinha os seios médios, que preenchiam bem a blusa, as pernas levemente torneadas, os quadris estreitos com uma bunda arrebitada. Eu ficava dividido entre me sentir mal por ter reparado nisso tudo e em fingir que eu não tinha notado nada. Como estava sozinho, no meio de cavalgada intensa com Capitão, resolvi me dar alguns minutinhos com aquela imagem na cabeça, antes de me obrigar a deletá-la da minha memória definitivamente.

Gabriela ficaria em minha casa por tempo indeterminado, era meu dever fazer com que ela se sentisse bem e confortável e não reparar em sua beleza ou em qualquer parte do seu corpo. Era errado, de inúmeras maneiras.

Só voltei com Capitão quando o céu estava totalmente escuro e nós dois estávamos esgotados. O deixei em sua baia e chequei se tinha água e ração suficiente, antes de entrar no casarão e ir direto para o meu quarto. Não encontrei com ninguém pelo caminho e só voltei a descer quando já estava no horário do jantar. Parte de mim tinha certeza de que Gabriela não jantaria comigo, mas foi com surpresa que a encontrei ajudando Cissa a colocar a mesa. Ela estava de costas para mim, rindo de algo que Cissa havia dito e quando se virou, estacou no lugar com um garfo e uma faca na mão. Por um momento, não consegui deixar de olhar de para ela, até a voz de Cissa me fazer sair do transe:

— Achei que ia ter que ir lá em cima arrastar você pra comer.

Gabriela se virou e colocou os talheres ao lado do meu prato, antes de se sentar em seu lugar.

— Sabe que não durmo antes de comer a sua comida, Cissa — falei, me sentando. — Cadê o seu prato? Não vai jantar com a gente?

Às vezes Cissa jantava conosco, outras, ela preferia se reunir na casa de Rosana e jantar com ela. Balançando a cabeça, ela sorriu.

— Hoje eu vou pra farra!

Parei com a jarra de suco no ar e olhei para ela sem entender.

— Como assim?

— Isso mesmo que você ouviu. Estou cansada de ficar nessa fazenda, vou cair na noite com as meninas.

— Vai cair na noite? — Eu ainda estava um pouco chocado.

— Sim. Vai ter um grupo de forró tocando no Bar das Onze hoje. A noite de sexta-feira é sempre maravilhosa por lá e eu quero conhecer — disse ela.

— Cissa, tem certeza disso? Olha a sua saúde, pelo amor de Deus.

— Cuidado, viu, Cissa? Hoje ele me chamou de criança, daqui a pouco vai te chamar de velha — Gabriela disse sem olhar para mim. Dando um sorrisão para Cissa, continuou: — Vai se divertir, você merece. Volte com um namorado!

— Como é que é que o Caio diz mesmo? Ah, já sei! Vou voltar cheia de contatinhos. Já sei mexer no WhatsApp, agora ninguém me segura! — Ela disse e me olhou com uma sobrancelha arqueada. — E você, deixa de ser chato.

— Cissa, espera. Vou pedir para algum dos meninos levar e buscar você — falei já sacando meu celular do bolso. Ela balançou a mão na frente do rosto.

— Não precisa, já pedi pro Augusto me dar uma carona, ele está indo pra cidade. Eu vou dormir na casa da Maria, aquela minha amiga que mora lá perto do bar, e volto amanhã de manhã. — Ela deu a volta na mesa e beijou a minha bochecha. — Parece que não, mas eu sei me cuidar, menino.

— Certo. Bom, divirta-se.

Ela soprou um beijo para mim e Gabriela e deixou a sala de jantar. Eu fiquei alguns minutos olhando para o meu prato, tentando assimilar o que havia acabado de acontecer. Cissa, minha segunda mãe, que tinha mais de sessenta anos, estava indo pra farra. Caindo na noite. Por essa eu não esperava. Depois de servir o suco para mim e para Gabriela, comecei a comer ainda um pouco atordoado, ficando incomodado com o silêncio à mesa. Só se ouvia o barulho dos talheres.

— Como está o seu pai? — perguntei, decidido a romper o silêncio.

— Na mesma.

Esperei que continuasse, mas estava bem claro que Gabriela estava me ignorando deliberadamente. Ou era isso, ou realmente não queria conversar. Como ela estava toda sorrisos para Cissa, acreditei mais na primeira opção. Ela cortou um pedaço de carne e mastigou sem tirar os olhos do prato, enquanto eu pensava em um modo de reverter aquela situação. Se havia entrado em um consenso comigo mesmo de que queria que a menina se sentisse bem na minha casa, não poderia deixar que aquele clima ruim continuasse entre a gente. Pousando os talheres no prato, falei olhando para ela, que, claro, sequer levantou a cabeça para retribuir o meu olhar.

— Não te chamei de criança. — Ela pareceu surpresa com o que falei e parou de movimentar os talheres, mas não me olhou. — Só falei aquilo porque, perto de mim e de Caio, você é bem mais jovem e eu acho que os lugares que ele frequenta não são legais para alguém da sua idade.

Ela finalmente me olhou, mas continuou séria.

— Quando você me chama de menina daquela maneira petulante, não tem como entender outra coisa. Sei que sou jovem, mas deixei de ser uma menina ou uma criança, há muito tempo. Espero que você consiga enxergar isso em algum momento.

Porra. Ela não se parecia uma menina naquele instante, nem um pouco.

— Tem razão, fui mesmo petulante e arrogante, peço desculpas por isso e por ter falado que dito regras... Jamais obrigaria você a fazer qualquer coisa.

Ela pareceu se desfazer da armadura que usava depois que me ouviu pedir desculpas e me deu um olhar mais doce. Pegando a taça com suco, ela apontou na minha direção.

— Está desculpado, Baldez.

Não pude deixar de sorrir quando arqueou a sobrancelha. Sua expressão era divertida e superior ao mesmo tempo. "Sedutora, sem nem mesmo perceber", disse uma voz louca em minha mente, que logo tratei de calar. Toquei minha taça na dela e bebemos juntos.

— Agora que voltou a falar comigo, me explique melhor sobre como está o seu pai.

— Não tenho muito o que falar, ele está do mesmo jeito que ontem e, provavelmente, estará assim amanhã também — ela disse, soltando um suspiro. — Estava pesquisando sobre o que aconteceu com ele na internet, mas só encontrei o que o médico nos disse. Não há um tempo exato para um paciente no estado dele acordar, pode ser hoje ou daqui a dez anos... É muito complicado.

— Eu entendo. No momento, só nos resta ter fé — falei, porque não tinha mais o que dizer para tentar aliviar o medo dela.

— Eu sei que pode ser errado ou cruel, mas... O que vai acontecer se o meu pai não acordar mais? Eu não sei o que realmente estava acontecendo com as nossas finanças, ele não teve tempo de me explicar, mas entendi que estava passando por uma situação bem difícil, tanto que iria vender a cobertura em que eu morava em São Paulo e dispensou praticamente todos os funcionários... Eu me sinto no escuro, de verdade. É como se a vida estivesse estagnada até o meu pai acordar, mas sei que as coisas não funcionam assim. O mundo continua a girar, independentemente de como meu pai esteja.

— Não precisa se preocupar com nada disso por enquanto. Sei que seu pai não conseguiu te explicar o que estava acontecendo, mas agora eu sou sócio dele e, do mesmo jeito que cuido da minha fazenda, vou cuidar dos negócios de Abraão enquanto ele estiver ausente. Não há muito o que eu possa fazer para levantar a fazenda de vocês no momento, mas vou manter os funcionários que estão trabalhando lá e fazer de tudo para que a situação não se agrave mais.

— Entendo, mas sei que essas são medidas a curto prazo. O que me preocupa é o fato de que meu pai pode simplesmente não acordar mais — ela disse com uma pontada terrível de dor na voz e os olhos atordoados. — Nunca pensei que poderia o perder dessa forma, nem a fazenda...

— Ei, escute — pedi, tocando em sua mão por cima da mesa. — Não se preocupe com isso agora, tudo bem? Vamos cuidar de uma coisa de cada vez. No momento, está tudo sob controle e o mais importante, é que seu pai se recupere. Sei que há a possibilidade de ele não acordar e não podemos fingir que ela não existe, mas vamos ter pensamento positivo.

— Estou tentando — ela disse baixinho, olhando para a minha mão em cima da dela. — Obrigada, Ramon, de verdade. Sei que já agradeci antes, mas acho que não imagina como está sendo importante para mim neste momento. Estar aqui e não sozinha naquela casa, ter a companhia da Cissa, ter a sua companhia, tudo isso está me fazendo muito bem.

— Não precisa agradecer. Só quero que saiba que pode contar comigo, de verdade.

— Está bem, só não me irrite de novo. Se me chamar de menina, vou te chamar de velho — disse com um sorrisinho que, finalmente, estava chegando aos olhos. Não pude deixar de rir.

— Se você soubesse quantas vezes eu fui chamado de velho hoje...

— Pelo Caio, com certeza.

— Sim. A vida dele é esfregar na minha cara que ele é bem mais jovem por ser apenas dois anos mais novo que eu.

— A cabeça dele é jovem.

Parei de comer e olhei para ela com interesse.

— Você e ele estão fazendo um complô contra mim? Porque ele me disse exatamente isso hoje.

— Não, é só o que eu acho. Hoje, por exemplo, é sexta-feira e você está aqui. É um homem solteiro, bonito, charmoso, cheiroso... — Ela parou de repente, como se estivesse se dando conta, naquele momento, do tanto de elogio que estava me fazendo. Meu interesse sobre ela se duplicou e, um pouco nervosa, ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e desviou o olhar. — Quer dizer, é cheiroso porque usa um bom perfume, lógico e, claro, você tem espelho, sabe que é bonito e tem esse charme de caubói e...

Ela parou de novo e eu apoiei meus cotovelos na mesa, aproximando-me um pouco mais dela.

— E?

Seus olhos encontraram os meus e, em meio a certo constrangimento, vi um brilho intenso neles. Parte de mim deixava claro que eu tinha que me afastar e parar de alimentar aquilo, mas a outra parte... A outra parte estava excitada, querendo saber o que mais ela achava sobre mim.

— E, mesmo assim, está em casa — ela completou. — Acho que é por isso que Caio te chama de velho, porque ele deve estar em alguma festa a essa hora e você está em casa.

Algo me dizia que não era isso que ela iria falar, mas meu bom-senso agradeceu por ela ter tomado esse caminho. Só isso para me fazer despertar daquele transe.

— Não sou muito de ir pra farra, como Cissa fala. Nunca fui.

— Por quê?

— Porque desde muito cedo, eu entendi que se quisesse vencer na vida, eu deveria focar mais no trabalho do que em curtição — falei, desejando um vinho para poder iniciar aquela conversa. — Não sei se você sabe, mas a minha família é de origem espanhola. Meu avô chegou aqui junto com a minha avó e o meu pai. Ele comprou uma parte pequena dessa terra que moro hoje, quando meu pai já tinha quase vinte anos e, com muito esforço, conseguiu a manter na família. Os planos do meu pai era expandir o negócio para comprar os arredores e ele conseguiu comprar mais uma pequena parte, mas levou um golpe e quase perdeu tudo. Nessa época, eu tinha uns dezessete anos e, enquanto a maioria do pessoal da minha idade estava indo pra cidade beber e fazer arruaça, eu estava aqui, tentando arrumar um jeito de manter um teto sobre as nossas cabeças, porque meu pai quase se entregou à loucura. Ele não aceitava que tinha sido enganado. Passamos por uma fase muito difícil e quando ele e minha mãe morreram três anos depois, no incêndio do celeiro, eu tive que comandar tudo sozinho.

— Incêndio?

— Sim. Eu estava em Goiânia na época, lutando para pegar um empréstimo em algum banco, fazendo contato com investidores. Enquanto isso, meu pai e minha mãe ficaram aqui cuidando de tudo. Ele já estava melhor na época, mas havia passado os últimos anos bebendo muito e estava lutando para se controlar e não beber mais. Nós tínhamos um celeiro pequeno, onde guardávamos materiais que não usávamos mais e minha mãe o encontrou escondido, bebendo e fumando cigarro. Não sabemos ao certo o que aconteceu, mas eles brigaram e parece que a guimba do cigarro caiu acesa perto do galão de gasolina que estava armazenado... Quando os funcionários notaram que estava pegando fogo, já era tarde demais.

— Meu Deus, Ramon... Eu nunca soube disso — ela falou com pesar, tocando em meu braço.

— Não esperava que você soubesse, na época você deveria ter o quê? Uns dois, três anos? Foi em 2001.

— Eu tinha dois anos — ela confirmou. — Nem consigo imaginar como deve ter sido difícil para você.

— Foi a pior época da minha vida. Parecia que o mundo estava desabando sobre a minha cabeça e eu não tinha lugar algum para me proteger. Então, eu fiz o que tinha que fazer. Encarei a dor e enfrentei o desafio de transformar essa fazenda em algo que deixaria meu pai e meu avô orgulhosos.

— E você conseguiu. Tenho certeza de que eles estão muito orgulhosos de você, onde quer que estejam.

— Eu espero que sim — falei, olhando pra ela. — Entende agora porque não sou muito de sair e cair na noite, como a Cissa disse que iria fazer? Me acostumei a viver assim. Claro, isso não quer dizer que sou um eremita e só vivo em casa, mas esse é o meu estilo.

— Agora eu entendo. Quando Caio vier te perturbar, vou sair em sua defesa.

— Mesmo? E vai falar o quê?

— Vou falar que você é só meio velho, não completamente velho — ela disse, me dando uma piscadela que me arrancou uma gargalhada e me fez estremecer de uma forma que não era apropriada.

— Acho melhor não, essa vai ser mais uma munição que ele terá contra mim. Ser meio velho parece ser pior do que ser completamente velho.

— Já falei que tudo depende da perspectiva, né? Um meio velho acompanharia essa jovem até a sala e veria um filme com ela sem cochilar, um velho de verdade, aceitaria, mas dormiria no meio do filme.

— Está me chamando para ver um filme com você?

— Sim. Quer ver um filme comigo na sua sala de TV, Ramon Baldez?

Seu convite me pegou de surpresa, mas me vi sorrindo, aceitando e a acompanhando até a sala depois de termos colocado a comida na geladeira e lavado a louça. Sentados lado a lado no sofá confortável, mas que eu pouco usava, me perguntei se, em algum momento da minha vida, me imaginei sentado na minha sala com uma garota linda e extrovertida ao meu lado, assistindo a um filme. Bem, a resposta era nunca e me peguei pensando que a vida, às vezes, gostava de ser surpreendente.


***

A vida não me surpreende com um fazendeiro desses, aff! Algo me diz que essa sessão de cinema vai ser interessante... 

Meta para o próximo capítulo: 400 estrelinhas e 200 comentários. Mal posso esperar para ler o que vocês acharam desse capítulo...

Beijos, beijos!

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