De Volta à Primavera • yoonmin

By zettaiwa

88.5K 10.9K 18K

Depois de cumprir o serviço militar obrigatório de dois anos e voltar para casa para descobrir da pior maneir... More

Avisos
Recomeço
Almoço
Advogado
Camisa
Sonho
Carro
Arroz
Academia
Cabelo
Livros
Mãos
Vacilante
Palácio
Taehyung
Bobagem
Cama
Estacionamento
Natal
Busan
Bege
Cinema
Trilhos
Eunju
Amor
Cerejeiras
Notas Finais

Aumento

3.4K 437 1.8K
By zettaiwa


Yoongi [09:57]: me diz o que você quer, e eu faço.

Jimin agradeceu a todas as entidades religiosas existentes por estar sentado no momento em que leu aquela mensagem, pois ele não tinha certeza se suas pernas aguentariam o peso de seu corpo depois de terem virado gelatina. Ele abriu um sorriso exagerado, mordeu o próprio lábio inferior tentando escondê-lo, e passou sua mão livre por seu cabelo, afastando os fios de sua testa enquanto lia e relia aquela frase tão simples. Ele ouvia vagamente o som de alguns colegas conversando e o telefone de Jeongguk tocando sem parar, mas sua mente só conseguia pensar naquela frase, tentando imaginar como ela seria dita na voz grave de Yoongi ao pé de sua orelha. Jimin precisou segurar um suspiro que quis sair de sua boca. Não era hora para pensar no que sentia, e certamente não era hora para ver um duplo sentido em uma pergunta sobre o jantar deles.

Park Jimin [09:58]: qualquer coisa?

Jimin quis acreditar que Yoongi percebeu o duplo sentido de suas palavras, e, consequentemente, perceberia o duplo sentido da resposta que obteve. Ele saiu da posição que estava antes, deixando o cabelo cair sobre seu rosto, e segurou o celular com as duas mãos por cima de seu colo. O telefone de Jeongguk ainda tocava, os minutos passavam, e Jimin estava prestes a arrancar a pele de seus lábios de nervoso caso Yoongi não respondesse logo. Então, quando ele estava prestes a desistir e deixar o aparelho de lado, uma nova mensagem fez seu coração parar de bater por uns instantes antes mesmo que ele pudesse ler o conteúdo.

Yoongi [10:01]: qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.

Aquilo fez um calafrio percorrer pelo corpo de Jimin. Ele estava dividido entre acreditar que Yoongi havia entendido o duplo sentido daquela conversa, e entre tentar se convencer de que, na verdade, Yoongi só estava disposto a fazer qualquer coisa para o jantar deles. Jimin engoliu em seco, umedeceu os lábios com a ponta da língua, e levantou a cabeça para olhar ao seu redor e ver o que acontecia. Era um dia devagar na empresa, por algum milagre, e todos pareciam bem distraídos pelo que ele estava observando. Com um suspiro, Jimin decidiu que não valia o risco de falar alguma besteira como resposta, e, como decisão final, tornou a olhar para seu colo enquanto seus dedos já digitavam um prato qualquer que ele gostava. Ele podia ter lido tudo aquilo de maneira errada. Não queria criar um possível desconforto entre eles apenas porque seu cérebro interpretou o diálogo de uma maneira que poderia ser favorável para Jimin e seus sentimentos.

Park Jimin [10:03]: bibimguksu, hyung.

Apesar de estar diante de um evento comum em sua vida – jantar com Yoongi, algo completamente normal –, Jimin estava encarando a situação com certa particularidade, sentindo que seria diferente das outras. Desde que o advogado havia conhecido Taehyung, na semana anterior, a única coisa que passava pelos pensamentos de Jimin era aquela segunda-feira tão, tão especial. Ele até mesmo fez questão de arrastar Hoseok para o salão no sábado, insistindo em ter uma companhia para cortar seu cabelo, e, apesar do dançarino ter ficado um pouco confuso com seu entusiasmo misturado a um nervosismo diferente, ele não questionou e o acompanhou de cima à baixo, elogiando-o quando Jimin decidiu cortar um pouco mais que o normal de sua franja. O corte anterior, aquele que o fez parecer uma celebridade, certamente tinha ficado bom, mas ele quis acreditar que os centímetros a menos de seus fios o davam um ar mais maduro.

E, se ele queria arrancar uma reação de Yoongi novamente, ninguém além dele próprio precisava saber. Ele gostava de ser elogiado, qual era o problema?

Jimin sentiu uma certa satisfação na hora do almoço quando viu Seokjin e Yoongi esperando por ele e Jeongguk na recepção, e não foi por simplesmente vê-los ali. Seu advogado favorito, assim como gostava de chamá-lo, ficou visivelmente surpreso quando o viu, suas sobrancelhas saltando para o meio de sua testa assim que Jeongguk chamou ambos com uma voz grave para mostrar sua presença ali. Jimin precisou segurar o riso ao perceber que Yoongi não estava dando a mínima para a presença de seu amigo, focado totalmente em quem estava ao lado dele. Aquele era o tipo de reação que Jimin queria. Mesmo que não fosse com palavras, Yoongi tinha feito seus elogios, consequentemente fazendo o coração do engenheiro bater forte em seu peito.

— Você não me falou que ia cortar o cabelo. — Yoongi disse com a voz um pouco mais baixa que o normal, olhando com atenção para o rosto de Jimin. Um pequeno sorriso mostrava que ele estava pensativo, mas não desgostoso com o que via. — Ficou muito bom. De verdade.

— Decidi largar o look de celebridade de antes. — Jimin arqueou uma sobrancelha na hora, levantando uma mão para ir até seu cabelo ajeitar os fios. Yoongi tinha deixado de observar seu rosto por completo e passou a encará-lo nos olhos, atento ao que ele dizia. — Surpresa para o nosso jantar. Gostou?

— Não sabia que um humilde jantar lá em casa era digno da presença de um modelo. — Yoongi arqueou as sobrancelhas, fez um bico com os lábios e assentiu sua cabeça. Na mesma hora, Jimin socou seu ombro de leve e o fez rir, e Yoongi, aproveitando a oportunidade, segurou seu braço e o trouxe para mais perto para eles começarem o caminho em direção ao restaurante. — Tenho que garantir que minha visita será bem recebida.

As horas pareciam não passar durante a tarde. Parecia que trinta minutos já tinham se passado de tantas coisas que Jimin fazia, mas, quando olhava para o relógio, ele via que não havia passado mais do que dez minutos. Sua ansiedade para terminar o dia de uma vez por todas fazia sua perna balançar de cima para baixo, a sola de seu sapato batendo no carpete e emitindo um som abafado incômodo para seus próprios ouvidos. Ele queria ir embora de uma vez por todas. Queria caminhar ao lado de Yoongi nas ruas movimentadas da cidade, usar o frio como desculpa para se aproximar mais, tentar arrancar um ou dois elogios do advogado, e quem sabe usar a oportunidade para elogiá-lo de volta também.

Em dias que o frio não era tão intenso, Yoongi costumava deixar de lado seu casaco mais grosso para o inverno e se contentava com um sobretudo preto que dava a Jimin a impressão de que ele era mais alto. Mais bonito também, e muito mais sério, mas esses eram comentários que ele guardaria para si mesmo ao invés de dizê-los em voz alta e arriscar ter uma reação ruim do advogado. Aquela segunda-feira era um desses dias, quando Yoongi parecia querer testar até que ponto o flerte de Jimin deixaria de ser uma brincadeira e passaria a se tornar algo mais sério. Em dados momentos, ouvindo certas coisas, Jimin achava que poderia expor mais o que sentia, mas sua incerteza sempre o forçava a dar dois passos para trás temendo por algo ruim.

Yoongi não se afastava quando Jimin se aproximava demais, e Yoongi não rejeitava seus toques bobos quando Jimin buscava pelo mínimo de contato. A voz de Yoongi sempre parecia mais baixa e mais grave que o normal quando fazia algum elogio a Jimin, ou fazia alguma provocação rasa que era parte da amizade deles, tudo isso acompanhado de um sorriso de canto que não passava despercebido pelo engenheiro. Jimin sentia um arrepio percorrer sua pele quando estava distraído pensando nesses mínimos detalhes, porque ele não queria arriscar levar seus flertes mais à sério, mas também achava que poderia ter a liberdade para fazê-lo caso Yoongi permitisse.

Sua cabeça estava à mil quando ele recebeu uma mensagem de Yoongi, já à noite, dizendo que estava pronto para ir assim que Jimin estivesse pronto. O engenheiro segurou o celular com força em suas mãos e olhou para Jeongguk, que estava concentrado lendo algo na tela de seu computador, e murmurava despedidas cansadas para cada pessoa que ia embora com o passar da hora. Jimin olhou para alguns papéis em sua mesa, documentos antigos que ele havia ficado encarregado de enviar para o governo, mas que Jeongguk havia dito com todas as letras que não eram de extrema urgência. Ele olhou novamente para seu celular, leu e releu a frase simples que Yoongi tinha o enviado havia apenas três minutos, e decidiu que podia deixar qualquer trabalho que fosse para o dia seguinte.

Park Jimin tinha prioridades, e no topo da lista estava Min Yoongi.

Sua despedida de Jeongguk foi rápida. Seu chefe nem precisou olhar para trás para ver que Min Yoongi estava parado na porta esperando sua companhia para a noite, e Jimin não estava preocupado em esconder sua empolgação em vê-lo. O sorriso no rosto do advogado aumentava à medida que Jimin se aproximava, até que seus olhos ficassem difíceis de se ver por trás de suas pálpebras, e suas gengivas estivessem à mostra, exatamente do jeito que o engenheiro gostava. Yoongi colocou as mãos nos bolsos de seu sobretudo e se virou em direção aos elevadores, perguntando a Jimin com a voz suave como havia sido seu dia.

O caminho até a casa de Yoongi foi normal, exatamente do jeito que era quando eles caminhavam lado a lado; com toques que pareciam durar demais, e risadas que se perdiam entre os arranha-céus da cidade. Jimin ouvia com atenção cada palavra que saía da boca do advogado – aproveitando a oportunidade para observar seus lábios também, claro –, sobre os preparativos para o jantar, sobre como ele sentia que tinha algo diferente daquela vez. O engenheiro concordou, dizendo que também estava um pouco mais nervoso sem motivo aparente, e ambos caíram na gargalhada logo em seguida, trocando provocações sobre como estavam levando aquilo à sério demais.

Talvez fosse a sensação de que estava sozinho em um jantar com Yoongi pela primeira vez em muito tempo. Talvez fosse a noção de que não teria nenhum conhecido seu por perto para ver e entender a maneira como Jimin se comportava perto do homem. Cada mínimo toque, cada mínimo esbarrão fazia sua pele pegar fogo, e Jimin não sabia se queria se controlar muito quando era só ele e Yoongi. Se o advogado ficasse se questionando, que assim fosse, mas, enquanto ninguém de fora sabia o que Jimin estava fazendo, ele não tinha mais tanta certeza se ficaria incomodado. Dentro do elevador, encostado ao espelho, vendo Yoongi observando o próprio reflexo usando roupas que caíam tão bem em seu corpo, Jimin queria se deixar levar pelo que sentia pelo menos um pouco.

Os casacos e sapatos foram largados perto da porta de entrada, deixando-os com mangas de camisas sociais dobradas e meias escorregando pelo chão de madeira. O apartamento de Yoongi tinha o conforto e a aparência de um lar, um pouco diferente do apartamento de Jimin, que ainda precisava de mais personalidade. As músicas de R&B que Yoongi havia escolhido como trilha sonora para o jantar deles vinha de uma pequena caixa de som de bluetooth que estava na sala, preenchendo o silêncio desconfortável, mas deixando o ambiente silencioso o suficiente para que suas conversas fluíssem com naturalidade.

Jimin estava encostado à pia de braços cruzados, vendo Yoongi cortar o pepino em tiras finas enquanto falava sobre sua época de estagiário no Tribunal de Seul. O assunto saía de risadas escandalosas e socos amigáveis para tons mais sombrios de voz, mais olhares pesados e silêncios um pouco mais longos que o normal. Ao contrário de antes, agora era possível ouvir com mais clareza quais músicas tocavam da caixa de som na sala, mas Jimin não se sentia desconfortável, não quando estava ao lado de Yoongi. Depois de trocarem um breve sorriso, o advogado se concentrou em sua tarefa de preparar o jantar, sem se incomodar com a presença constante de Jimin ao seu lado.

— Eu acho que é justo eu te falar que tive um motivo para te convidar para jantar. Tipo, só nós dois. — Yoongi disse em um tom de voz baixo, soltando um longo suspiro em seguida. Ele parou de cortar o pepino por alguns instantes, mas logo continuou a atividade, como se precisasse daquela distração para conseguir falar sem pausas. — Eu queria te agradecer por você ter me ajudado naquele dia, sabe?

— Quando você estava triste por causa do...

— Cheolsoo, sim. — Yoongi abriu um pequeno sorriso, olhou para o lado, e voltou a se concentrar em sua tarefa. — Você me ajudou bastante naquele dia. Naquela semana, aliás. Todo ano essa data me deixa pensativo, e tanto o Seokjin hyung quanto o Jeongguk tentam me distrair, mas foi bom ter uma pessoa nova na minha vida tentando me ajudar também.

— Te entendo. — Jimin abriu um sorriso também, soltou um riso nasalado. Ele, que antes prestava atenção no rosto de Yoongi, resolveu olhar para suas mãos enquanto elas trabalhavam. — Todo o lance com a Eunju ainda é recente, mas eu recebi bastante ajuda dos meus amigos lá para o final do inverno e início da primavera. Eu nunca esperava receber ajuda que não fosse deles. Você foi uma grande surpresa na minha vida, hyung.

— Você foi a primeira surpresa agradável na minha vida em muito tempo, nisso eu concordo com você. — Yoongi riu, mas soou debochado demais para os ouvidos de Jimin. Ele ficou em silêncio, cortando os pepinos com mais agressividade, e talvez também cortando mais que o necessário, mas o engenheiro resolveu não interrompê-lo. — Por isso eu quis te agradecer. Por ser uma surpresa agradável para mim, porque eu já estava de saco cheio de surpresas ruins.

— Você sempre fala coisas tão positivas para mim, para sempre olhar para frente, procurar melhorar a todo instante... — Jimin disse, pensativo, sua voz saindo em um tom muito mais baixo que o normal, perto de se tornar rouca. Yoongi largou o que estava fazendo para tentar ocupar suas mãos com outra coisa, mas travou ao ouvir as palavras do engenheiro. — Eu não vou mentir, pensar que pode ser por experiência própria me deixa meio triste. Te ver mal me preocuparia.

— Eu já tomei muita rasteira da vida, Jimin. Precisei arrumar uma forma de me levantar todas as vezes. — Yoongi abriu um pequeno sorriso triste, encarando suas mãos fechadas em punhos em cima da pia, e logo em seguida virou o olhar para o mais novo. — Cheolsoo foi a maior delas, com certeza. Eu tento falar coisas positivas por você porque eu sei como ouvir certas palavras pode ajudar, pode fazer a dor diminuir nem que seja um pouco.

— Acho que dor faz parte da vida, não tem como fugir muito dessas coisas. — Jimin acrescentou, deixando-se pensar por alguns segundos. Enquanto limpava a garganta, ele se virou de frente para a pia e se colocou ao lado de Yoongi, tocando seus braços, e abrindo um sorriso que ele esperava que parecesse reconfortante. — Às vezes eu só queria que o impacto de algumas coisas fosse menor para que a dor que vem depois também fosse.

— Ah, com certeza. — Yoongi deu uma risada sem divertimento, como se uma memória ruim estivesse passando por sua cabeça. Ele parou, passou a língua pelo lado interno de sua bochecha enquanto olhava para a torneira, e puxou ar para falar. — Você falou sobre essa coisa de impacto. Eu te disse que o Cheolsoo tinha uma família, não disse? Esposa e filha.

— Disse. — Jimin afirmou, lembrando-se vagamente da conversa que teve com o advogado um tempo atrás. — Mas nunca me disse como descobriu isso.

— E é que entra essa história do impacto. — Yoongi arqueou uma sobrancelha, olhou para Jimin novamente, e, apesar de sorrir, ele ainda não parecia estar feliz. — Porque acho que descobrir sobre a família dele teria sido ruim de qualquer forma. Eu amei o Cheolsoo, e saber que o que a gente teve foi uma mentira me deixou mal. De verdade.

Jimin sentiu um arrepio passar por seus braços, pensando em impacto em descobertas, em família. Mas deixou Yoongi continuar a falar, determinado a ser para o homem exatamente o que ele era para Jimin. Um apoio. Uma ajuda, de certa forma, mesmo que fosse como ouvinte.

— Eu descobri que o Cheolsoo tinha uma família em um dia que eu decidi ir na casa dele sem ele me chamar. — Yoongi começou a falar, seu tom ficando mais baixo à medida que a frase seguia, como se a memória estivesse o distraindo. — Eu já tinha ido antes, mas ele sempre me levava ou me ligava pedindo para ir. Tinha um quarto que ele não deixava eu entrar, dizia que era um escritório pessoal, e eu respeitava, até porque não tinha motivos para querer invadir a privacidade dele.

— Você confiava nele. — Jimin acrescentou, fazendo Yoongi assentir com uma careta no rosto. — Você não fez errado. Era um relacionamento sério que você acreditava ser exclusivo.

— Eu confiei até o último segundo, juro. Eu só fui até o apartamento dele porque já tinha umas semanas que a gente não passava um tempo junto, e eu só sentia falta. Quis fazer uma surpresa, acredita? — Yoongi rolou os olhos e riu da ironia. Jimin não disse nada, apenas fez um carinho nele com o braço, querendo mostrar seu apoio. — Quem atendeu a porta foi a esposa dele. Ela era linda. Me recebeu com um sorriso enorme, perguntou se eu era amigo do Cheolsoo, e eu fiquei sem entender nada.

Yoongi fez silêncio, engoliu em seco. Jimin conseguia ver como os músculos de seu rosto estavam tensos enquanto ele olhava para a torneira, a memória passando como um filme em sua mente.

— Aí a filha dela apareceu correndo atrás, perguntando se era o papai na porta. — Yoongi mordeu o lábio inferior e olhou para Jimin, seus olhos brilhando um pouco mais que o normal com lágrimas que ele não queria deixar cair. — Foi só eu olhar para a mão esquerda da mulher que eu entendi o que estava acontecendo. Nem sei como consegui inventar uma desculpa na hora para estar ali, e eu nem lembro o que eu falei, eu só sei que depois eu saí correndo e fiquei chorando na escada de incêndio do prédio dele.

— Eu lamento. — Jimin conseguiu dizer com a voz saindo em um sopro, suas próprias lágrimas se formando em seus olhos. Yoongi desviou a atenção para as mãos, evitando encarar o engenheiro a todo custo. — Hyung, eu lamento, de verdade. Eu sei como é. Dói muito, eu sei. Eu lamento saber que você teve que passar por isso.

Yoongi virou a cabeça em sua direção de novo, a expressão chorosa em seu rosto dando lugar à confusão. Logo em seguida, ele começou a negar, de um lado para o outro, como se entendesse o que Jimin quis dizer.

— A Eunju teve uma filha quando eu estava no exército. — Jimin confessou, sua voz saindo cortada pelas lágrimas que queriam cair a todo custo. Yoongi fez uma careta ao ouvir aquilo, mas não o interrompeu. — Ela me evitou no meu segundo ano servindo. Evitou minha família, e fingiu que meus amigos não existiam. Toda vez que eu tinha uma folga, ela tinha uma desculpa pronta para não me ver.

— Jimin... — Yoongi balançou a cabeça de um lado para o outro, sabendo a dor que o ex-soldado tinha sentido.

— De início eu só achei que a distância não dava certo para ela, e ela estava frustrada com tudo. E eu entendia, porque nas minhas folgas, às vezes eu não pensava nela, só pensava em dormir na minha cama durante um feriado. — Jimin tirou uma das mãos de cima da pia, coçou o espaço entre suas sobrancelhas, e fechou os olhos para se lembrar do maldito dia no final do inverno que ele voltou para casa. — Eu acabei sendo liberado um pouco mais cedo por qualquer motivo que fosse. E resolvi fazer uma surpresa para ela, achando que o problema era esse da distância. Só avisei ao Taehyung, que me buscou na minha antiga base e me deixou em casa.

De repente, Jimin sentiu a mão gelada de Yoongi repousando sobre a sua, um leve apertão acentuando o gesto de carinho do advogado. Jimin abriu um pequeno sorriso, deixando as primeiras lágrimas caírem, e continuou a falar.

— A Eunju estava de costas para a porta quando eu entrei. Ela estava com a filha no colo, balançando de um lado para o outro, e chamou o nome do Yunbok quando ouviu um barulho. — Jimin continuou falando, gesticulando com sua mão livre enquanto sentia a outra sendo apertada com mais força por Yoongi. — Aí ela virou, me viu, e daí para frente eu sinceramente não lembro de muita coisa. Eu não gritei porque a bebê estava dormindo. A Eunju falava que podia se explicar várias vezes, mas eu só queria sair daquele lugar o quanto antes. O Yunbok... ele nem falava nada, só olhava entre a gente todo assustado.

— Jimin, que merda. — Yoongi disse, sua voz soando muito mais firme agora, mas ele ainda fungava vez ou outra. O aperto de sua mão suavizou por alguns instantes, apenas para Jimin senti-lo segurando seu pulso, puxando para mais perto aos poucos. — Que merda, eu não acredito que você passou por isso também.

— Eu sei que o jantar é seu, que você está agradecendo, mas eu também tenho tanto a agradecer. — Jimin deixou as lágrimas caírem livres por seu rosto, sentindo como Yoongi o puxava para um abraço enquanto ele falava. Um soluço cortou sua respiração, e, em um piscar de olhos, ele sentia sua cabeça apoiada no ombro do mais velho. — Eu nunca ia esperar receber uma surpresa tão boa da vida depois daquilo. Você não tem ideia do quanto me ajudou nesses últimos meses, hyung.

Você é que não sabe o quanto me ajudou. — Yoongi apertou a cintura de Jimin, dando ênfase em suas palavras, e recebeu uma resposta física ao sentir os braços do engenheiro se apertando mais em volta de seus ombros. — Eu lamento de verdade que você tenha passado por isso. Ninguém merece isso, ninguém, e eu te entendo. De verdade, eu te entendo, Jimin.

O pepino em tiras e o macarrão ficaram esquecidos por longos minutos. Em meio aos soluços e respirações pesadas na cozinha de Yoongi, era possível ouvir a música ainda tocando na sala, servindo como melodia para os passos que eles davam de um lado para o outro no abraço que trocavam. Aos poucos, o aperto de seus braços ia se afrouxando, até que se tornassem apenas um conforto quente onde estavam ao redor um do outro. Jimin conseguia sentir o carinho que Yoongi fazia em sua cintura, e achava que não existia posição mais confortável no mundo do que ficar com o rosto apoiado no ombro do advogado, sentindo o cheiro de perfume ainda em seu pescoço.

Eventualmente, eles se separaram do abraço, apesar de Jimin acreditar que conseguiria ficar naquela posição por horas e horas. Eles se olharam com os rostos ainda vermelhos e molhados com suas lágrimas, riram, e usaram seus dedos para secar as bochechas um do outro. Yoongi soltou um grunhido longo e olhou para a pia atordoado, sem nem lembrar onde tinha parado com o jantar. Algumas poucas palavras eram trocadas aqui e ali, sabendo que não seria fácil restaurar um clima leve depois do que tinha acontecido, mas Jimin não estava arrependido de ter contado sua história, assim como acreditava que Yoongi também não estava. Ele estava até contente, de certa forma, por eles terem compartilhado mais sobre suas vidas, consequentemente fortalecendo sua conexão.

Apesar de não ter sido o mais agradável dos jantares, Jimin não estava errado mais cedo ao sentir que seria importante.

No dia seguinte, a dinâmica deles estava de volta ao normal. Yoongi o provocava, falava sobre como o corte de seu cabelo acentuava todas as imperfeições que ele não tinha, e Jimin o perguntava qual era o problema do advogado enquanto escondia seu rosto atrás de suas mãos, envergonhado com os elogios ao mesmo tempo em que estava amando todos eles. A única diferença que ele sentia vinha com os segundos de silêncio, com olhares trocados e sorrisos pequenos que asseguravam um ao outro que tudo estava bem. Yoongi queria mostrar que sim, sua história já tinha o abalado muito, mas não era mais como antes. Jimin queria mostrar também que, aos poucos, ele se recuperava da descoberta que tinha feito no início do ano. Havia um cuidado ali, uma vontade de garantir que o outro não estava sofrendo como haviam sofrido um dia.

As caminhadas até o apartamento de Hoseok e Namjoon continuaram as mesmas pelo resto da semana. As mesmas conversas bobas, os mesmos assuntos sérios que surgiam do nada, e a mesma proximidade que fazia a pele de Jimin formigar. Era como se nada tivesse acontecido, com um leve toque de algo que não tinha antes. Além dos silêncios e dos sorrisos, o engenheiro sentia a mão de Yoongi mais firme em seus ombros ou em sua cintura, como se ele tentasse, de alguma forma, ser um conforto físico maior do que já era. E Jimin sabia que ele também fazia o mesmo, sentindo como o advogado permitia seus abraços de lado, e dava mais espaço para ele se aconchegar no mais velho.

A proximidade física entre eles deixava Jimin pensativo enquanto uma conversa qualquer acontecia na mesa. Ele conseguia sentir o braço de Yoongi apoiado na cadeira onde estava sentado, quase tocando suas costas, e, vez ou outra, sentia a ponta do dedo do advogado deslizando pelo tecido de sua camisa com leveza, de cima para baixo. Momentos como aquele, ou situações onde eles andavam pelas ruas grudados um no outro, faziam-no pensar se tudo aquilo não podia ser algo a mais. Como se a necessidade de estar perto também viesse de Yoongi, e não fosse algo que apenas Jimin sentisse.

Aquela mesma dúvida de levar seus flertes mais a sério voltava com frequência aos seus pensamentos. Era em momentos mais inesperados, como quando estava relembrando uma memória da faculdade com Hoseok, e sentia o pé de Yoongi tocando o seu por baixo da mesa. Jimin precisou se controlar para não soltar um suspiro no meio de sua frase, dando atenção ao advogado apenas alguns minutos depois, quando o assunto já tinha mudado e a atenção do amigo agora estava presa a Namjoon. O peso de seu olhar pareceu despertar Yoongi, que o encarou de volta com um sorriso no rosto e insistiu em brincar com seu pé, agindo como se aquilo fosse normal. E talvez fosse, certo? Porque Jimin sabia o quanto ele podia se aproximar demais, e fazer carinho demais. Talvez Yoongi só estivesse retribuindo à sua maneira.

Jimin deu um sorriso, pensou no que sentia por Yoongi, pensou em seus receios e suas dúvidas, e decidiu que dar ouvidos às suas vontades de fazer uma tentativa talvez não fosse tão ruim. Ele piscou algumas vezes, e, tentando ser discreto para seus amigos não prestarem muita atenção no que ele fazia, aproximou sua cadeira de Yoongi, jogando sua perna por cima da coxa do advogado. Jimin não tinha mais coragem para encará-lo, sabendo que aquilo era uma aproximação um pouco maior do que ele geralmente fazia, e escolheu encostar a cabeça no ombro do mais velho enquanto olhava para seus amigos debatendo sobre algo em tons de voz amenos. Apesar de estar olhando para frente, ele sentia que toda sua atenção estava presa a Yoongi, tentando identificar qualquer reação que fosse através de sua respiração, ou através da maneira que seu corpo estava reagindo a aquele novo contato entre eles.

A resposta que ele teve foi o braço de Yoongi completamente em volta de seu ombro agora. Sem usar a cadeira como uma desculpa para se manter perto, e sem o toque delicado de dedos, porque agora sua mão o tocava por completo.

Jimin participava das conversas, fazia seus comentários, mas tudo sem sair de sua posição. Ele se sentia confortável demais no abraço de Yoongi daquela maneira, sentindo cada centímetro de sua pele pegar fogo, além de sentir as familiares borboletas voando em seu estômago sem parar. Ele não se importou em pensar no que seus amigos achariam do que estavam vendo, mesmo quando Hoseok ficava quieto demais o observando com as duas mãos em frente ao rosto. Jimin podia pensar em tudo aquilo depois, quando estivesse a sós com o casal, ou quando já estivesse deitado em sua cama se perguntando o que ele queria com o rumo que sua vida estava tomando.

Eventualmente, o cansaço do dia foi maior do que a vontade de contar histórias antigas e conversar como se o amanhã não fosse acontecer. Namjoon e Hoseok garantiram que podiam tirar a mesa sozinhos, sem a ajuda dos amigos, e assim partiram em direção à cozinha comentando sobre algo que só eles seriam capazes de entender. Jimin notou o peso do silêncio na sala assim que os dois sumiram de sua vista, e engoliu em seco. Sua mão, que antes estava relaxada por cima de sua própria perna, fez caminho por trás das costas de Yoongi, descansando em sua cintura com um aperto suave.

— Às vezes paro para pensar no dia que te conheci, e eu nunca ia imaginar que você ia ser uma pessoa tão... carinhosa. — Yoongi disse com uma pausa em sua frase, como se estivesse medindo suas palavras com cuidado. Ele ficou quieto por alguns segundos, mas levou sua mão até então livre para o joelho de Jimin, deslizando seu polegar de um lado para o outro por cima da calça. — Você é assim com todo mundo, Jimin?

— Não. — Jimin respondeu com a voz fraca depois de alguns segundos considerando o que deveria dizer. Ele limpou a garganta e ajeitou sua perna por cima de Yoongi, aproximando-se mais dele. — Só com quem eu quero ter por perto.

— Você me confunde às vezes, Jimin... — Yoongi deixou a frase sair em um murmúrio, quase como se fosse um pensamento que escapou sem que ele quisesse.

Jimin ajeitou sua postura, tirando a cabeça do ombro de Yoongi e afastando-se um pouco dele na intenção de encará-lo. Suas duas mãos estavam apoiadas na cadeira agora, sua perna ainda por cima do advogado, e seus ombros estavam relaxados demais, apesar de seu coração estar batendo com força em seu peito. Se ele deixava Yoongi confuso, Jimin nem saberia explicar como ele se sentia em relação ao outro. Mas quanto ao que ele demonstrava – quanto a isso ele não ficava confuso, e agora sabia exatamente o que estava fazendo.

— Eu não sei como te deixo confuso, hyung. — Jimin respondeu, passando os olhos por toda a expressão de Yoongi, sem querer perder um único detalhe que poderia ser vital para sua leitura de toda a situação deles. — Porque eu acho que sou bem direto nas coisas que eu faço.

Em algum momento, Namjoon e Hoseok voltaram para a sala, e Yoongi precisou ir ao banheiro antes de eles fazerem seu caminho de volta para suas respectivas casas. Jimin respirou fundo, sentindo o ar saindo de seus pulmões cheios aos poucos enquanto ele olhava para o teto pensando no que tinha acabado de acontecer, mas o som de Hoseok limpando a garganta o tirou de seus devaneios como se ele tivesse levado um choque.

— Vocês parecem ser bem próximos, Jimin. — Hoseok comentou. Seu tom de voz não era acusatório, e suas sobrancelhas não estavam arqueadas, quase alcançando o meio de sua testa. Era como se ele soubesse que o assunto era mais sério, e ia muito além de uma simples provocação. — Quer dizer, eu já tinha percebido. Mas...

— Mas a gente não sabia que vocês eram tão próximos assim. — Namjoon completou, um sorriso simpático em seu rosto. Jimin estava olhando para ele, tentando controlar a vontade de mordiscar seu lábio inferior enquanto pensava, e se perguntou se o casal tinha ouvido da cozinha a conversa que ele teve com Yoongi na sala. — Se você quiser... falar do quanto você tem se aproximado dos seus amigos ultimamente, você pode ficar à vontade. A gente adoraria ouvir.

Um peso antigo se formou no estômago de Jimin depois daquela frase. Ele deu um sorriso com os lábios fechados, e encarou o corredor mal iluminado até Yoongi surgir dali, uma expressão tranquila em seu rosto. As despedidas foram curtas e rápidas, e havia uma promessa implícita de voltar no dia seguinte, mas Jimin só conseguia pensar em como tudo estava se tornando real demais de novo. Reconhecer seus sentimentos foi uma luta complicada, mas que ele tinha conseguido vencer, e agora ele já se sentia confortável quanto a isso. Colocar o que ele sentia em prática com mais seriedade estava sendo um tanto assustador, ao mesmo tempo em que parecia ser certo, e ter a noção de que seus amigos estavam atentos ao que acontecia e às suas reações o fazia pensar nas palavras de Yoongi de mais cedo, assim como na sua resposta.

"Você me confunde às vezes."

Jimin entendia. Ele também ficava confuso quando pensava que, até poucos meses antes, achava que era heterossexual. E agora a única certeza que tinha era que estava gostando de verdade de um homem, mas não tinha a mínima ideia do que isso significava para ele. Era natural que Hoseok e Namjoon também ganhassem um interesse maior na amizade de Jimin e Yoongi, porque eles deviam estar igualmente confusos com o que tinham visto naquela noite.

No decorrer dos dias, Jimin sentia os olhos de seus amigos em cada mínimo movimento seu, mas não dizia nada, e nem tentava dar mais motivos para eles ficarem tão tensos na presença dele e de Yoongi. Quanto ao advogado, se a conversa que tiveram na segunda-feira não serviu para alterar a dinâmica deles, aquela nova troca de toques no apartamento de Namjoon e Hoseok certamente serviu. Não de um jeito ruim, isso não, até porque Jimin ainda queria ficar perto dele e sentia que a vontade era mútua, mas ambos estavam mais calados. O engenheiro sabia que, de sua parte, ele só estava mais pensativo em relação a tudo que estava acontecendo e à sensação de que estava caminhando em direção a algo agora entre ele e Yoongi.

As mensagens que trocavam no fim de semana não viraram longas conversas que atrasavam Jimin enquanto ele limpava a casa, mas serviam para mostrar que tudo estava bem entre eles. Ele sabia que tinha alguma coisa acontecendo. A fala de Yoongi sobre ele ficar confuso, o silêncio que mostrava o quanto estavam pensando na presença um do outro, mas com a proximidade física entre eles completamente intacta, tudo isso dizia a Jimin que uma mudança já tinha ocorrido. Ele só precisava se dar tempo, refletir sobre o que queria fazer e como agiria perto de Yoongi, e então poderia seguir com sua vida.

Na segunda-feira, Jimin foi surpreendido pela presença de Yoongi e Seokjin no andar do setor financeiro na hora do almoço. Ele franziu o cenho, sorriu, e decidiu a partir dali que poderia deixar suas tarefas para depois, levantando-se na mesma hora quando os viu parados na porta já chamando por Jeongguk também. O gerente colocou o indicador em frente aos lábios, seus olhos se abrindo em um aviso sério aos amigos para que ficassem quietos sobre o que estava acontecendo, e só quando já estavam na rua, caminhando em direção ao usual restaurante onde eles comiam, que Jeongguk puxou os três e impediu todos de continuarem andando.

— Ok, eu não queria falar isso lá na empresa porque não queria ninguém além de vocês ouvindo. — Jeongguk impediu que os três seguissem reto na rua por onde andavam, forçando-os a virar na primeira esquina, iniciando um caminho que nenhum dos outros conhecia. — Tem um restaurante novo aqui perto, e eu achei que seria uma boa comer lá para a nossa comemoração.

— Comemoração? — Jimin arqueou uma sobrancelha, curioso e surpreso com o que tinha ouvido. Na mesma hora, um dos braços de Yoongi rodeou o ombro de Jeongguk, e o advogado sacudiu o amigo de um lado para o outro com um sorriso enorme no rosto. — O que houve? Aquele lance seu ficou oficialmente sério?

— O lance já é sério, ele só não quer admitir. — Seokjin deu de ombros e ignorou o protesto fraco de Jeongguk, jogando um braço em volta do ombro do mais novo também. — Nosso bebê recebeu um aumento, dá para acreditar? Jeonggukie é sempre tão dedicado, já devia ser dono daquela empresa.

— Isso é sério? — Jimin arregalou os olhos e virou sua atenção para Jeongguk, que assentiu em resposta ao mesmo tempo em que dava uma cotovelada de leve nas costelas de Seokjin, fazendo-o recuar e começar a reclamar em voz baixa. — Que ótimo! Fico feliz por você, senhor Jeon.

— Ah, hyung, nós não estamos no escritório, não me chama assim. — Jeongguk fez uma careta com a fala de Jimin, o que arrancou uma risada dos outros três. — Mas eu queria comemorar pagando o almoço para vocês hoje. E também na sexta, naquele bar. Pode ser?

— Ah, pode, e dessa vez o Jimin vai. — Yoongi tirou o braço de onde estava em volta de Jeongguk e colocou em volta do ombro de Jimin, puxando-o para mais perto até que seus corpos encostassem um no outro por completo. — Tem que ser uma comemoração com os quatro.

— É claro que eu vou, você não precisa mandar em mim. — Jimin rolou os olhos e deixou seu braço descansar ao redor da cintura de Yoongi, trazendo-o para mais perto também. Se já não estivesse se acostumando com as reações de seu corpo toda vez que o advogado se aproximava, ele não teria conseguido controlar a urgência que sentiu de virá-lo ali mesmo na calçada para beijá-lo. — Sexta-feira eu vou sair do bar carregado. Uma dose para cada mil won a mais no salário do Jeongguk. E dose dupla para ele.

O restaurante novo que Jeongguk tinha descoberto não tinha a aparência tão aconchegante quanto o que eles geralmente frequentavam, mas o aspecto de novo e o desconto até o fim do ano na comida certamente os fizeram querer ficar. Os assuntos na mesa eram os mesmos de sempre com a conversa fluindo fácil, mas, vez ou outra, Jimin não conseguia se concentrar por completo no que os outros estavam dizendo. O toque de Yoongi em seu pé era constante, e o lembrava do jantar no apartamento de seus amigos da semana anterior, quando as dúvidas voltaram para seus pensamentos com força. Jimin agradeceu por não estar sentado ao lado do advogado, porque sabia que não teria resistido à tentação de se aproximar mais e tocá-lo de alguma forma também.

Por duas noites, quando estavam caminhando pelas ruas vazias do bairro onde moravam, depois de se despedir de Namjoon e Hoseok com a promessa de que voltariam, Jimin sentia que o silêncio entre eles começava a ser incômodo. Não porque ele tinha a sensação de que ambos queriam falar algo, mas não sabiam como, e sim porque ele próprio sentia que deveria estar fazendo alguma coisa, qualquer coisa. Segurando o braço de Yoongi na tentativa de se esquentar e se proteger do vento frio que corria entre as poucas árvores da cidade, ele sentia que aquilo devia ser mais. Jimin sabia que queria mais, mas não conseguia fazer nada além de seguir seus passos e se aconchegar mais em Yoongi, recebendo o carinho de volta em forma de um apertão leve em seu ombro, ou em sua mão, onde estava apoiada por dentro do braço do advogado.

As palmas das mãos de Jimin formigavam na manhã seguinte, quando Yoongi o mandou uma mensagem perguntando se ele podia falar ao telefone por alguns breves minutos, talvez até segundos. A mesma sensação incômoda de que ele deveria fazer algo voltou com força, apesar de não estar na presença do advogado. Ainda era cedo demais para aquilo, para sentimentos que mexiam com seu corpo todo, mas ele tentou se concentrar a todo custo na tela de seu celular esperando a ligação de Yoongi chegar a qualquer instante.

— Eu tinha me esquecido completamente. — Yoongi disse do outro lado da linha, sua voz ainda rouca pela falta de uso durante a manhã. Jimin se encolheu em sua cadeira e colocou uma mão em frente ao rosto, sabendo que suas bochechas estavam esquentando apenas por ouvir a voz do advogado. — Tenho uns problemas para resolver, e vou ficar fora o dia inteiro. É coisa da empresa, mas eu vou ter que ir em outro lugar e não vou poder nem almoçar nem jantar com você.

— Tudo bem, o dever o chama. — Jimin respondeu em um tom baixo, sem querer atrapalhar seu colega sentado ao seu lado, e sem querer chamar atenção de qualquer outra pessoa que poderia ouvi-lo. — Só me liga quando chegar em casa? E não esquece de comer. Como eu vou saber se você está se alimentando bem se eu não estou lá para ver, hyung?

— Preocupado com seu advogado favorito, Park Jimin? — Yoongi perguntou, o tom de brincadeira evidente em sua voz fazendo o engenheiro soltar uma risada fraca, mordendo o lábio inferior para tentar conter seu sorriso de crescer demais. — Não se preocupa, eu te aviso quando chegar.

Jimin teve a sensação de estar entre o céu e a terra pelo resto do expediente. Ele ouvia o que Seokjin e Jeongguk diziam na hora do almoço, mas não conseguia formular nenhuma resposta ou comentário para acrescentar à conversa, ainda pensando na voz de Yoongi durante a ligação de manhã cedo. Ele conseguia fazer tudo que seu chefe lhe pedia ao longo da tarde e início da noite, mas não conseguia afastar o formigamento incômodo toda vez que recebia uma mensagem de Yoongi, uma atualização de como andava o dia resolvendo seus problemas. Era um pouco sufocante, até. Como se algo estivesse entalado em sua garganta, entalado em cada poro e cada centímetro de pele seu, ansiando para que ele fizesse qualquer coisa que o permitisse explodir.

Ele não conseguiu afastar o formigamento e o incômodo nem quando estava com Namjoon e Hoseok, conversando sobre como havia sido seu dia, falando de tudo que não o remetia a Yoongi. As sensações só pioraram quando ele foi obrigado a dar uma explicação para a ausência do advogado daquela noite, o sufoco piorando e deixando o ar preso em seus pulmões por alguns instantes. O assunto na mesa acabava vez ou outra sem uma terceira pessoa, que deveria ser Jimin, para dar continuidade à conversa, mas o casal não fazia nenhum comentário sobre isso. O engenheiro sentia sua perna subindo e descendo debaixo da mesa, seu pé batendo no chão, sua própria inquietação começando a irritá-lo, mas ele não conseguia dizer exatamente o que estava o deixando daquele jeito.

Sabia que tinha relação com Yoongi, porque a sensação havia começado apenas dois dias antes, quando estava caminhando ao lado do advogado e sentia que precisava extravasar aquilo de alguma forma, o que quer que fosse. Enquanto pensava, olhando para Namjoon e Hoseok, mas sem absorver nada da conversa deles, Jimin sentiu uma pontada de decepção no peito ao constatar que, se Taehyung estivesse ali, ele seria capaz de ajudá-lo a chegar a alguma conclusão. Ou então o professor diria meia dúzia de palavras capaz de fazê-lo se acalmar por alguns instantes, mas, de qualquer forma, seria melhor do que a inquietação que estava sentindo.

A conversa que teve com Taehyung em seu apartamento sobre se apaixonar voltou à sua mente, e agora o incômodo viajava para as pontas de seus dedos também, além de ter começado a fazer seu coração bater rápido. Sua perna balançava, seus dentes mordiscavam seu lábio inferior e o interior de suas bochechas com mais força que o necessário, e ele até mesmo tinha começado a cutucar suas cutículas em uma tentativa de aliviar tudo aquilo. As palavras de Taehyung sobre como a paixão surgia em momentos que menos se esperava, a lembrança dos toques firmes de Yoongi, da confusão dele, a vontade que Jimin tinha de beijá-lo e de tê-lo por perto, e a sensação de que estava caminhando em direção a algum lugar imaginário com o advogado desde a semana anterior fizeram-no pensar em uma única pergunta. A última coisa que precisava fazer para tornar real mesmo tudo que andava sentindo há semanas, meses.

Uma confirmação. Uma aceitação, também.

— Gente. — Jimin chamou, sua voz saindo alta demais em meio à conversa baixa do casal. Eles dois pararam, olharam para o amigo, e ficaram em silêncio esperando uma continuação. O engenheiro sentia que estava respirando melhor agora, mas ainda faltava colocar para fora uma única pergunta que faria com que seus pulmões relaxassem por completo. — Como... como uma pessoa descobre se é gay? Como vocês descobriram?

A sala caiu em completo silêncio. As sobrancelhas de Hoseok se arquearam, Namjoon recuou um pouco para trás, e Jimin sentiu suas mãos começando a tremer de leve onde estavam descansando em seu colo. Sua pele parou de formigar, seu peito parecia estar mais leve. E, se tivesse imaginação fértil o suficiente, teria conseguido ver o peso que saiu de suas costas sendo atirado pela janela em um impulso. Admitir para si mesmo na frente de um espelho que gostava de Yoongi era uma coisa. Era grande, mas era ele sozinho admitindo seus sentimentos. Fazer uma perguntar tão direta sobre sexualidade para seus amigos era novo. Era a primeira vez que admitia para uma pessoa além de Junghwa que ele não era tão heterossexual quanto acreditava ser.

Estava admitindo aquilo para Hoseok e Namjoon, dois de seus melhores amigos. Jimin finalmente, finalmente teve coragem de falar com alguém sobre algo que estava o acompanhando havia meses.

— Bom. — Hoseok começou a falar, ajeitando sua postura na cadeira e entrelaçando seus dedos por cima da mesa. Ele parou, olhou para o lado enquanto formulava uma frase, e puxou ar antes de continuar sua fala olhando para Jimin. — Isso vai de pessoa para pessoa, Jimin. Eu sempre percebi que eu tinha algo... diferente, digamos assim. Mas eu não entendi isso até ficar mais velho, quando já estava na metade do ensino médio, e acabei aceitando depois de alguns meses.

— Mas e se... — Jimin engoliu em seco, colocou as mãos em cima da mesa também, e encarou seus dedos enquanto pensava em como continuar aquela frase. — E se você nunca desconfiou disso? Por trinta anos, trinta anos, você nunca nem cogitou a ideia de gostar de um homem.

— Da mesma maneira que cada um descobre do seu jeito, cada um descobre no seu tempo. — Namjoon respondeu com a voz firme, dando uma segurança a Jimin que ele nunca havia sentido desde sua descoberta. — Hoseokie falou que sempre soube e assimilou o que era no ensino médio. Eu nunca tinha desconfiado até terminar a faculdade. Eu tinha um amigo que sempre flertava comigo, e eu não achava estranho, nem rejeitava, eu na verdade gostava. Mas eu tinha ficado com e me apaixonado por mulheres durante minha vida inteira, então como aquilo estava acontecendo tão de repente, sabe?

— Sei. — Jimin tentou abrir um sorriso, mas uma expressão preocupada tomou conta de seu rosto. — Mas vocês não acham estranho? Demorar tanto para descobrir, não ter nenhuma desconfiança antes?

— Não é estranho, Jimin. — Hoseok afirmou, passando confiança com sua voz assim como Namjoon tinha feito. — Cada um tem seu tempo, e não tem porquê se apressar em nada. Não importa se você já namorou mulheres, se você já foi casado... se em algum momento na sua vida você começa a gostar de um homem, então tudo bem. Não tem nada de errado. Não tem hora certa nem jeito certo para descobrir essas coisas.

— Eu também... — Jimin respirou fundo, apoiou seus cotovelos sobre a mesa e apoiou também a testa nas palmas de suas mãos, reunindo seus pensamentos desorganizados em uma única coisa. — Eu ainda gosto de mulheres. Disso eu tenho certeza. A Junghwa foi incrível, mas eu estava tão confuso com tudo da segunda vez que saí com ela que não consegui fazer nada.

— Jimin, eu não sei se você sabe, mas eu não gosto exclusivamente de homens. — Namjoon tomou à frente da conversa, esticando sua mão por cima da mesa para que ficasse no campo de visão do amigo. — Sim, eu sou casado com um agora, mas isso não muda o fato de que eu também me sinto atraído por mulheres.

— Para mim não é assim. Eu sei que eu gosto de homens, e todas as experiências que eu tive com mulheres não foram a mesma coisa. — Hoseok adicionou, como se tentasse ajudar Jimin a colocar seus pensamentos no lugar. — Da mesma forma que cada um descobre do seu jeito, no seu tempo, cada um tem sua maneira de se atrair por pessoas. Então se você achou a Junghwa ótima e agora acha um cara ótimo, tudo bem. Sabe-se lá quantas pessoas você ainda pode gostar nessa vida.

— Eu só não esperava por isso agora. — Jimin disse em voz alta um pensamento que ele não esperava que fosse sair. — Depois de tantos anos, sabe? Nunca tinha passado por minha cabeça. Eu tenho certeza do que eu sinto, mas ainda acho inesperado...

— É assustador de primeira, não vou mentir. — Namjoon esticou um pouco mais sua mão, colocando-o por cima da mão de Jimin e apertando seus dedos com delicadeza. — Você fica achando que tudo antes foi uma mentira até perceber que não é bem assim.

— Foi o que eu pensei. — Jimin soltou uma risada fraca e arrumou coragem para olhar para cima, deparando-se com seus dois amigos sorrindo de volta para ele. — Quando eu comecei a sentir coisas por ele, quando eu comecei a querer beijá-lo... eu ficava me perguntando como eu podia querer tudo aquilo quando já quis com uma mulher antes.

— Jimin, foca no que você sente por ele agora. Você gosta dele, você já gostou de mulheres e poderia gostar de uma de novo, não é? — Namjoon disse com a voz mais firme. Jimin assentiu, concordando e mostrando que estava escutando e entendendo. — Você não precisa resolver tudo de uma vez só. Vai pensando, vai descobrindo, mas não deixa isso atrapalhar o que você sente.

— Obrigado. — Jimin concordou com a cabeça, sentiu um nó se formar em sua garganta, mas tentou abrir um sorriso para disfarçar aquele incômodo. — Eu fiquei um bom tempo pensando nisso sozinho. É bom... finalmente colocar para fora, entender pelo menos um pouco o que está acontecendo.

— Você está se apaixonando por uma pessoa, isso não é novidade. — Hoseok deu de ombros, simplificando uma situação que sempre pareceu tão complicada para Jimin. — Ele ser um homem muda algumas coisas, mas não muda tudo. Você está cercado de pessoas que entendem disso e podem te ajudar.

O formigamento, a agonia e o incômodo foram embora como se nunca tivessem aparecido, dando a Jimin uma de suas melhores noites de sono em meses. Sentado à mesa com seus amigos, sentindo o pé de Yoongi esbarrando no seu, e sentindo principalmente o calor do corpo do advogado tão próximo do seu, Jimin achava que suas dúvidas persistentes tornaram-se apenas questionamentos corriqueiros. Namjoon tinha dito para o engenheiro focar em seus sentimentos, então era isso que ele estava fazendo. Jimin teria tempo para pensar depois, se resolver depois, por agora ele só queria aproveitar a sensação de estar se apaixonando de novo depois de tantos anos, mesmo que fosse com um homem, mesmo que ele soubesse que ainda podia se sentir da mesma forma por uma mulher, ou quem sabe até outro homem de novo.

Jimin se permitiu dormir alguns minutos a mais na sexta-feira ao invés de ir à academia, sabendo que precisaria de energia para ficar bebendo até tarde com seus amigos. Vestindo-se, ele não precisou pensar duas vezes antes de pegar sua camisa bege do armário, sabendo que era a ocasião perfeita para usá-la. Era dia de comemoração, de se sentir bem, e de não deixar nenhuma preocupação atormentá-lo em momentos inconvenientes. A conversa com Namjoon ainda estava em sua cabeça, com Jimin se lembrando de pensar apenas no fato de que gostava de Yoongi, e que qualquer resolução para seus questionamentos poderia vir com o tempo. Ele não precisava se apressar em nada.

Mas Jimin ainda tinha algumas urgências.

Ele passou alguns minutos a mais em frente ao espelho antes de sair de casa arrumando seu cabelo, querendo deixar seu novo corte mais apropriado para uma comemoração. Jimin achava que era um dia para ele se sentir bem. Depois de começar sua semana com uma sensação incômoda persistente, ele achava que merecia uma sexta-feira de paz completa, cercado de amigos e com a certeza de que seria acolhido nos braços da pessoa que tomava conta de seus pensamentos. Depois de tanto tempo sentindo suas dúvidas o engolindo vivo, Jimin tinha certeza de que merecia andar por novos caminhos que Namjoon havia lhe mostrado para que conseguisse achar suas respostas.

No almoço, ninguém conseguia ficar quieto sobre a comemoração à noite, com Seokjin lembrando Jeongguk a cada cinco segundos que agora ele tinha dinheiro suficiente para pagar a conta por todos. O mais novo insistia em dizer que seu aumento não tinha sido tão grande assim, mas Seokjin fingia que não estava ouvindo, e Yoongi dava corda ao mais velho porque também gostava da ideia de beber de graça. Jimin pensava em defender Jeongguk apenas para dar continuidade à discussão na mesa, mas se viu completamente calado, rindo em dados momentos e observando a reação de cada um. Ele se sentia leve, arriscava até mesmo dizer que estava vivendo dias bem felizes, e queria que aquela sensação durasse por muito mais tempo.

Yoongi [18:03]: eu sei que ele é seu chefe, mas se o Jeongguk pegar mais alguma coisa para fazer agora, tira da mão dele. Sério.

A hora se arrastou naquela tarde, como geralmente acontecia quando algo muito melhor do que trabalhar aconteceria à noite, mas Jimin sentiu que os minutos passaram muito mais rápido depois que Yoongi começou a mandar mensagens dizendo como o judiciário estava tranquilo. O engenheiro queria concordar e dizer que tudo estava igual para ele, mas Jeongguk estava pedindo tudo dos outros em uma velocidade dobrada, torcendo para que ele conseguisse sair mais cedo para ir ao bar o mais rápido possível. Jimin só não reclamou porque também estava ansiando pelo momento que sairia dali, brincando com o colarinho de sua camisa bege vez ou outra, respondendo Yoongi quando conseguia fazer uma pausa.

Park Jimin [18:04]: enche o saco dele também. Pede para o Seokjin hyung fazer o mesmo, eu não posso fazer muito aqui.

Foi exatamente dez minutos depois que Jeongguk fechou suas gavetas com um suspiro alto, recolhendo papéis e murmurando alguns palavrões, decidindo que poderia deixar tudo aquilo para a semana seguinte. Jimin se apressou em fazer o mesmo, sabendo que, a qualquer minuto, dois advogados bem conhecidos do setor judiciário apareceriam para buscá-los ali, e então eles estariam livres para fazer o que bem quisessem.

Havia algo no ambiente mal iluminado do bar que fazia risadas saírem de suas bocas com mais frequência, por mais que as bebidas em suas mãos ainda nem estivessem pela metade. Seokjin já reclamava sobre a velocidade com que Jeongguk bebia, sabendo que seria sua vez de levá-lo para casa se ele ficasse muito bêbado, e Yoongi só comentava como o mais novo tinha tropeçado nos próprios pés da última vez que eles foram ali, quando Jimin estava em um encontro e não pôde acompanhá-los. A lembrança da noite com Junghwa não o deixou triste, nem fez uma careta surgir em seu rosto, apenas o lembrou que aquilo fazia parte de sua descoberta. Não tinha nada de errado, assim como Namjoon tinha dito, e ele devia deixar apenas se levar pelos seus sentimentos.

Foi por isso que, chegando ao fim da sua primeira garrafa de soju, sabendo que o álcool estava começando a fazer alguns efeitos em seu organismo, Jimin decidiu que Yoongi seria a estrela de sua atenção naquela noite. Ele não ligava se estava sendo indiscreto, não ligava se qualquer pessoa com olhos naquele bar conseguiria entender o que ele estava fazendo, Jimin faria qualquer coisa que quisesse fazer. Ele queria acabar com a confusão de Yoongi, queria ver até que ponto o advogado acharia que seus toques eram apenas carinho amistoso, e finalmente se sentiria livre com seus próprios flertes.

— Mas a pergunta que não quer calar... — Yoongi disse em meio a um assunto qualquer na mesa, olhando diretamente para Seokjin e Jeongguk, que estavam sentados em seu lado oposto. No entanto, antes de continuar sua frase, o advogado virou toda sua atenção para Jimin ao seu lado, sua expressão séria demais para o clima descontraído entre eles. — É por que o senhor Park Jimin não parou de me encarar a noite inteira?

A pergunta pegou Jimin de surpresa, mas não mais do que a clara aproximação de Yoongi de um segundo para o outro, sua coxa agora rente à dele. O braço por trás de seus ombros apoiado no encosto do banco esteve ali o tempo todo, como sempre acontecia quando se sentavam lado a lado em bares, restaurantes, ou até no apartamento de Namjoon e Hoseok. Mas Yoongi realmente estava perto agora, não só com seu corpo, mas também com seu rosto, seus olhos encarando Jimin de volta quase como se estivesse o desafiando. O engenheiro não fez nada, apenas respirou fundo, e decidiu que não tinha nada a perder.

— Um cara bonito feito você, eu tenho mais é que ficar encarando. — Jimin respondeu com uma de suas sobrancelhas arqueadas, um sorriso de canto se abrindo em seus lábios. Seu queixo estava apoiado em sua mão, e seu cotovelo estava apoiado sobre a mesa, dando-o mais liberdade para ele se aproximar se quisesse. — Ou agora isso virou crime?

— Eu já te disse que você me deixa confuso demais, Jimin. — Yoongi respondeu sacudindo a cabeça de um lado para o outro, inclinando seu queixo levemente para cima, aproximando-se um pouco mais sem nem perceber. — E agora você fica me olhando assim...

— Eu também já te disse que sou bem direto com o que eu faço, hyung. — Jimin respondeu da mesma forma que tinha respondido na semana anterior, umedecendo seus lábios ao mesmo tempo em que desceu o olhar para os de Yoongi, jogando pela janela qualquer autocontrole que ele manteve desde que tinha descoberto seus sentimentos pelo advogado. — Eu olho por um motivo.

Nenhum deles fez nada por alguns instantes, mas, em algum momento, o som da caneca de cerveja de Seokjin batendo de leve na mesa os despertou para a realidade e lembrou de onde eles estavam. Eles não se separaram, não, apenas viraram suas cabeças em direções opostas, ignorando a maneira que os outros dois os encaravam de olhos arregalados com a cena que tinham acabado de ver. Jimin sentia seu coração batendo com força demais em seu peito, e sentia o corpo tenso de Yoongi praticamente grudado ao seu, mas não conseguia mais raciocinar direito.

Eventualmente, o assunto na mesa voltou ao normal, e Jimin conseguiu fazer seus comentários e dar corda às conversas que aconteciam. Ele não estava mais com o queixo apoiado em sua mão na intenção de observar Yoongi, mas ele estava encostado ao banco, ainda sentindo o braço do advogado ao redor de seu ombro, e com uma de suas mãos por cima da coxa dele, apenas para não perder a proximidade de antes. Vez ou outra, quando Seokjin e Jeongguk começavam uma discussão fervorosa que se perdia em risadas e gritos de ambos, Jimin sentia o peso do olhar de Yoongi sobre seu rosto e virava para encará-lo de volta, apoiando a cabeça sobre o ombro dele sem dizer uma única palavra.

— Eu vou te deixar em casa hoje. — Yoongi disse, seu tom de voz baixo, quase rouco. Jimin respirou fundo e soltou um murmúrio, sem concordar nem discordar, e continuou encarando o rosto do advogado de cima à baixo, dando atenção aos seus lábios antes de voltar a encarar seus olhos. — Não adianta discutir.

— Eu não vou. — Jimin abriu um sorriso e sentiu seus olhos pesarem tanto pelo efeito mais forte do álcool, quanto pelo cansaço do dia finalmente o acertando em cheio. — Eu quero sua companhia o máximo possível hoje, hyung.

O lado de fora do bar estava caótico quando eles saíram, já com a conta paga, e o mundo de Jimin parecia girar debaixo de seus pés. Jeongguk falava a cada cinco segundos que não estava bêbado, mas Seokjin precisava cutucar suas costelas no mesmo espaço de tempo para que o amigo não dormisse em pé no meio da rua. As despedidas foram rápidas, algumas reclamações sobre o frio que fazia na cidade foram feitas, e Jimin não deixou de notar a maneira que Seokjin encarou entre ele e Yoongi, abrindo um sorriso um tanto sugestivo antes de se virar de costas e arrastar Jeongguk para a direção oposta à deles.

O caminho de volta para casa foi silencioso. Eles escolheram ir de ônibus como da última vez, sabendo que o trânsito já teria diminuído àquela hora. Jimin mal conseguia manter seus olhos abertos. Yoongi estava sentado mais próximo à janela, um de seus braços em volta do ombro do mais novo como sempre, e seus dedos fazendo carinho em seu cabelo em um ritmo que deixava o engenheiro ainda mais sonolento. Ele reclamou com a voz arrastada que ia pegar no sono daquela maneira, levantando uma de suas mãos para tentar impedi-lo de continuar, mas Yoongi aproveitou a oportunidade para entrelaçar seus dedos e segurá-los com firmeza. Jimin abriu um sorriso, aconchegou-se mais no abraço de Yoongi, e aproveitou a oportunidade para encostar seu nariz no pescoço do advogado, respirando fundo como tinha feito no jantar da semana anterior.

As ruas do bairro onde moravam ficavam ainda mais silenciosas quando a maioria das famílias já estavam em seus apartamentos, e a aproximação do inverno apenas os motivavam a não querer sair. Eles andavam em silêncio, o som de seus sapatos arrastando pelo concreto fazendo um barulho um pouco alto demais para seus ouvidos, e não diziam uma única palavra. Poucos carros passavam por ali, dando a eles a liberdade de andar no meio da rua, um passo de cada vez, com os braços em volta dos ombros um do outro. Jimin sentia-se em paz, sentia-se aquecido, mas a presença constante de Yoongi ao seu lado e o calor de seu corpo estavam o despertando aos poucos, lembrando-o do que andava acontecendo nos últimos dias quando eles se viam.

— Hyung... — Jimin chamou em meio ao silêncio da rua, sua voz saindo praticamente em um sussurro. Na mesma hora, como resposta, Yoongi deslizou seu braço para a cintura do engenheiro, praticamente o puxando para mais perto. — Você já disse duas vezes que eu te confundo, mas não sabe o quanto você me deixou confuso nos últimos meses.

— É? — Yoongi fez uma pergunta simples, mas sua voz quebrou da mesma forma por conta da falta de uso. Jimin engoliu em seco, decidindo abrir seus olhos mesmo que ainda estivesse sendo guiado pelo advogado pelas ruas. — E como eu te confundo? Porque eu tenho a impressão que nós estamos confusos pelo mesmo motivo, Jimin.

— Eu tenho vontade de fazer uma bobagem. — Jimin respondeu sem usar todas as palavras que sabia que deveria, mas que representaram o que ele estava sentindo. Criando coragem aos poucos, ele levantou a cabeça do ombro de Yoongi e olhou em sua direção, dividindo sua atenção entre os olhos e os lábios do advogado. — Toda hora, sempre que eu estou com você. Eu quero muito fazer uma bobagem agora, hyung.

— Então faz, Jimin. — Yoongi respondeu em um tom parecido, quase um sussurro, e parou de andar por completo no meio da rua. Não era possível ouvir nada perto deles, nem mesmo o som de alguém dentro dos prédios que os cercavam, muito menos de carros que passavam por ali. — Pode fazer uma bobagem.

— Eu vou. — Jimin assentiu, virou o corpo de Yoongi para ficar em frente ao seu, e deu passos perdidos pela rua até achar um carro qualquer para encostar o advogado e garantir que eles não perderiam o equilíbrio. Suas testas estavam coladas, seus narizes se tocando, o olhar de ambos estava caído e focado apenas em seus lábios, e Jimin sentia que seu coração iria explodir a qualquer instante. Ele engoliu em seco, umedeceu sua boca com a ponta da língua, e olhou para os olhos de Yoongi uma última vez antes de levar uma de suas mãos até a nuca dele, inclinando sua cabeça para o lado antes de fechar os olhos e sentir a respiração do advogado se misturando à sua. — Eu vou, sim.

O primeiro contato de seus lábios quase fez Jimin perder seu equilíbrio, com ou sem apoio. O mundo à sua volta girava, sua cabeça estava leve por culpa do soju que bebeu a noite toda, e ele deixou todo seu peso se encostar ao corpo de Yoongi, ambos praticamente caindo no carro aleatório que estava estacionado ali. Jimin inspirou todo o ar que conseguiu por seu nariz, sentindo a boca de Yoongi se movimentar contra a sua, e os afastou por um breve segundo para encará-lo nos olhos.

— Puta merda. — Jimin murmurou, completamente sem ar.

— É. — Yoongi concordou com a cabeça, e, antes de fazer qualquer outra coisa, tirou a mochila que Jimin carregava de seus ombros, deixando-a cair no chão sem cerimônias e o puxando para ainda mais perto pela cintura. — Nem me fala.

Jimin deixou uma risada fraca escapar antes de fechar os olhos de novo e entrelaçar seus dedos no cabelo de Yoongi, seu outro braço passando ao redor dos ombros do mais velho. Um suspiro saiu de sua garganta quando suas bocas se chocaram novamente, suas línguas sem querer perder tempo antes de se encontrarem com urgência, e, de repente, tudo no mundo parecia certo.

Cada fibra, cada célula, cada milímetro de qualquer coisa no corpo de Jimin estava vibrando com aquele beijo. Ele sentia como se uma nova galáxia estivesse surgindo dentro de seu corpo, dentro de sua mente, porque tudo parecia finalmente se encaixar. Os braços de Yoongi ao redor de sua cintura pareciam pertencer àquele lugar, como se fizessem parte de sua fisionomia de tão certo que ele sentia que era. Sua boca, macia e quente, deixava a cabeça de Jimin ainda mais leve, com suspiros incessantes saindo de sua garganta. Suas línguas estavam em perfeita sincronia, seus corpos pareciam que iam se fundir a qualquer instante, e ele não poderia querer estar em outro lugar no mundo.

Foi Yoongi quem separou o beijo com um, dois, três selinhos, mostrando um sorriso de canto a Jimin quando o engenheiro se manteve perto e roubou um quarto selinho. Eles se encararam por alguns segundos, tocaram seus lábios novamente, até que Jimin os separou puxando de leve o lábio inferior de Yoongi entre seus dentes, dessa vez arrancando uma risada fraca do mais velho.

— Seu prédio é no final da rua. — Yoongi murmurou contra a boca de Jimin, fechando os olhos por alguns instantes quando sentiu o engenheiro roçando os lábios nos seus, incitando um beijo, mas sem dá-lo. — Vamos lá. Está ficando tarde.

— Não quero. — Jimin resmungou e recebeu um beijo rápido como resposta, e, em seguida, sentiu seu corpo sendo empurrado para que Yoongi pudesse se mover novamente. — Hyuuung...

Yoongi não deu mais nenhuma resposta. Simplesmente pegou a mochila de Jimin do chão, jogou por seu ombro, e estendeu sua mão esquerda para o engenheiro, sentindo seus dedos se entrelaçando nem um segundo depois.

A caminhada deles estava mais lenta agora, nenhum deles querendo se separar depois do beijo. Às vezes, Jimin parava no meio da rua e puxava Yoongi pela mão, iniciando um beijo lento que se tornava profundo e arrancava suspiros de ambos. Toda vez, não importava quantas acontecessem, ele sentia os pelos de seus braços se arrepiando por completo, e não conseguia evitar a risada que saía de sua boca e servia como pausa para eles continuarem andando.

— Bebe água. — Yoongi falou quando já estavam parados diante do prédio de Jimin, e roubou um beijo rápido do engenheiro. — Descansa. — outro beijo, dessa vez um pouco mais demorado por culpa de Jimin que colocou um dos braços ao redor de seus ombros e o impediu de se afastar. — Não esquece de ligar o aquecedor para dormir bem.

— Você podia me beijar mais ao invés de me dar ordens. — Jimin murmurou contra os lábios de Yoongi, mas ao invés de receber um beijo, ouviu a risada fraca do mais velho. — Está dificultando minha vida.

— Vai lá. — Yoongi se afastou com dificuldade, aos poucos, mas sem deixar seus dedos se soltarem por completo. — Dorme bem. Qualquer coisa me liga que eu venho te ajudar.

— Eu não bebi tanto assim. — Jimin rolou os olhos, mas acompanhou Yoongi em sua risada logo em seguida. Eles se olharam por longos segundos, cada um absorvendo os lábios vermelhos e inchados do outro, além do cabelo completamente bagunçado e gravatas desniveladas. — Até segunda, hyung.

Yoongi abriu um pequeno sorriso, concordou com a cabeça, e finalmente separou seus dedos. Ele deu um passo para trás sem olhar para onde estava indo, deu o segundo, e quando estava prestes a se virar de costas no terceiro, Jimin não resistiu ao impulso de puxá-lo pela mão de novo para roubar um último beijo, fazendo ambos rirem um contra a boca do outro.

— Até segunda, Jiminie. — Yoongi murmurou, deu um último selinho em Jimin, e se afastou mais rápido do que antes, sabendo que não seria capaz de resistir à vontade de ficar ali beijando o engenheiro a noite toda. 

Continue Reading

You'll Also Like

177K 11.1K 129
invenções loucas da minha mente
165K 16.4K 53
Jimin realmente odeia o destino. Algo inventado para deixar trouxas mais trouxas ainda, segundo ele. Yoongi não sabe se acredita em destino ou não...
548K 37K 53
Onde o capitão do BOPE Roberto Nascimento é obcecado por Hayla Almeida uma estudante de psicologia e fará de tudo para que ela seja sua. perfil da fa...
2.1K 289 7
Namjoon é um homem de negócios, trabalha com o pai numa empresa de produtos para pele. Seu pai é sócio de uma marca de maquiagem, e para os negócios...