De Volta à Primavera • yoonmin

By zettaiwa

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Depois de cumprir o serviço militar obrigatório de dois anos e voltar para casa para descobrir da pior maneir... More

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Taehyung

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By zettaiwa

Gostar de alguém consome grande parte dos pensamentos de uma pessoa, ainda que não consuma sua vida por completo.

Algo no inconsciente de Jimin dizia para ele se arrumar mais de manhã, gastar alguns minutos que ele não tinha de sobra apenas para garantir que seu cabelo estaria bem arrumado, e que ele estaria devidamente cheiroso. Ele sabia por que estava fazendo aquilo, apesar do nome de Yoongi não ficar constantemente em sua cabeça para lembrá-lo do motivo de suas ações. Era só algo que acontecia naturalmente, e que Jimin estava inserindo em sua rotina, adaptando-se e trazendo aquilo como algo normal. Porque era.

Mas aceitar que ele gostava de Yoongi, e aceitar que aquilo era normal para ele não fazia Jimin ter menos dúvidas sobre o rumo que sua vida estava tomando. Ainda era algo novo. Ainda era um tanto assustador, por mais que ele tenha visto seus amigos com outros homens durante muitos anos. E, mesmo que estivesse gostando de Yoongi, aonde isso o levaria? O advogado podia nem mesmo olhar para Jimin da mesma forma, podia vê-lo como mais um amigo. E até onde ia a atração de Jimin? Ele estaria disposto a tentar um relacionamento de verdade, um relacionamento com um homem, um relacionamento novo depois de terminar de forma quase traumática uma união que durou tanto tempo?

Apesar do fim de semana ter lhe dado tempo o suficiente para pensar naquilo tudo, a segunda-feira não foi tão gentil assim. A rotina voltou com força, o alarme de manhã cedo o lembrando de ir à academia, e só restou a Jimin fazer tudo no automático. Até mesmo os minutos a mais que ele perdia dando atenção a detalhes mínimos de sua aparência já vinham automaticamente, então, sair de casa apertando o passo e reclamando do frio que fazia antes que ele pudesse vestir seu casaco direito já era algo natural. Tudo que ele pensava e fazia ultimamente vinha com uma leveza que ele já não encontrava havia tempo.

Os olhos de Jeongguk ainda estavam inchados de sono quando Jimin chegou no escritório, murmurando cumprimentos e se apressando para se sentar em seu lugar de sempre. Seu colega respondeu com pouco entusiasmo ao que Jimin havia dito, segurando-se com força em seu casaco, reclamando baixo das pessoas que ligaram o ar-condicionado quando o frio do lado de fora só se intensificava à medida que os dias se passavam. Jimin precisava concordar. Apesar de ter ido andando até ali, consequentemente aquecendo seu corpo, ele ainda se agarrava à sua jaqueta um tanto quanto informal para se usar em ambiente de trabalho.

O horário do almoço chegou em um instante. Jimin estava distraído demais para perceber aquilo por conta própria, mas uma mensagem de Yoongi acompanhada de uma foto de seu rosto o lembraram da melhor parte de seu dia – "desce, seu advogado favorito está te esperando". Jimin nem teve tempo de pensar em responder antes de ver Jeongguk caminhando em direção à sua mesa ao mesmo tempo em que fazia menção para sair dali, e, assim, levantou-se em um pulo com um sorriso que ia de orelha a orelha, deixando seu chefe confuso em relação ao seu bom humor repentino.

Ver Yoongi pela primeira vez desde que finalmente havia admitido para si mesmo que gostava dele, para Jimin, foi como entrar em uma banheira de água quente. Sua pele se arrepiou por completo, seus músculos relaxaram, e ele sentiu que flutuou no paraíso durante breves segundos. Um sorriso cresceu no rosto do engenheiro assim que ele viu Yoongi ali, parado no saguão, os ombros caídos e as mãos dentro do bolso da calça, a gravata levemente frouxa em volta de seu pescoço e um blazer de aparência cara por cima de tudo. Jimin ainda podia ter muitas dúvidas, alguns receios, e ainda gostaria de ter respostas para todas as perguntas que constantemente rondavam por sua cabeça, mas sua única certeza era de que ele se sentia extremamente atraído por aquele homem.

Jimin mal ouvia a conversa escandalosa de Seokjin e Jeongguk um pouco mais à frente porque estava dando sua total atenção à Yoongi, que contava sobre o sonho assustador que teve durante aquela noite. O advogado fazia caretas, tirava as mãos do bolso da calça para gesticular em momentos específicos, e fazia cada centímetro do corpo de Jimin se aquecer mesmo com o vento gelado correndo pelas ruas. Não importava o quão assustado ele ficasse vez ou outra, não importava o tamanho de suas dúvidas, Jimin sempre se lembraria da frase de Taehyung – vale a pena gostar de alguém quando você está com a pessoa.

— Eu detesto frio. — Yoongi resmungou enquanto se sentava, ainda imerso em seu assunto com Jimin mesmo que Seokjin e Jeongguk discutissem por qualquer motivo que fosse ao lado deles. — Minhas mãos já são geladas naturalmente, nessa época do ano só piora.

— É para isso que servem as mãos quentes. — Jimin arqueou uma sobrancelha enquanto olhava para Yoongi, inclinou-se sobre a mesa para buscar as mãos do advogado e cobri-las com as suas próprias. — Sempre soube que ser um aquecedor humano ia servir para alguma coisa.

— Park Jimin, você é um anjo. — Yoongi disse com a boca entreaberta, olhando para as próprias mãos sendo cobertas pelas mãos ligeiramente menores de Jimin. O engenheiro fazia carinho sobre a pele pálida com seus polegares, murmurando em concordância, e tentava ignorar a maneira como seu coração começava a bater mais rápido em seu peito. — Agora que você me mostrou seu segredo, eu vou te usar de aquecedor o tempo inteiro. Sério. Quando você menos esperar–

— Vou sofrer um ataque das suas mãos enormes e geladas. — Jimin completou com um certo toque de drama em sua voz, como quando Taehyung queria algo e exagerava suas ações para amolecer o coração do melhor amigo. Yoongi riu fraco e moveu suas mãos de tal maneira que ele passou a segurar os dedos de Jimin, devolvendo o carinho de antes. — Fica à vontade, hyung. Eu não me incomodo de você fazer isso.

Parte de Jimin ficava preocupada em estar sendo óbvio demais, de tal maneira que qualquer um ao redor dele seria capaz de enxergar sua queda enorme pelo advogado, mas outra parte, uma mais livre e mais apaixonada, simplesmente não ligava para nada daquilo. Ele não queria nem saber se ria demais das piadas de Yoongi, ou se perdia tempo demais passando uma mão pelo braço do advogado, ele só queria se permitir fazer aquilo tudo. Afinal, aquela sempre havia sido sua maneira de agir, apesar de Jimin ter completa noção de que estava muito mais exagerado com Yoongi, já que ele realmente sentia alguma coisa pelo homem.

Jimin se lembrava de uma época antes do exército, quando ele aparentemente se jogava de um lado para o outro enquanto ria, e flertava com tudo e todos sem nem perceber o que estava fazendo. Aquela era sua personalidade real. Não era de seu feitio ficar quieto observando conversas alheias sempre, não fazia parte dele ficar calado e evitar o assunto sempre. Jimin nunca se esqueceria de quando Hoseok brigou com ele no jantar em que finalmente apresentou Namjoon ao amigo, e que na época era apenas um novo interesse romântico do dançarino, porque Jimin estava flertando demais com Hoseok e Namjoon havia notado e perguntado se eles tinham algo. O charme e a espontaneidade faziam parte de sua natureza, e conseguir perceber que aquilo estava voltando aos poucos era um enorme alívio para o engenheiro.

Ele também sabia que ninguém era a mesma pessoa para sempre. O Jimin pós-exército não era o Jimin do ensino médio, nem o Jimin da faculdade, mas haviam certos detalhes que ficavam com ele para sempre. Ele sentia que era uma pessoa mais paciente agora, que sabia reconhecer seu próprio tempo e sabia que tudo deveria ser feito aos poucos. Fazia parte do crescimento, e aqueles novos conhecimentos vinham com novas experiências. Mas ele sabia que aquilo, aquela espontaneidade e a parte que Jimin mais gostava em si mesmo, nada disso tinha ido embora. Estava apenas escondido debaixo de camadas que ele criou para si mesmo, e que, depois de mais de seis meses, estavam voltando a ficar à mostra.

Não. Você vai ter que me mostrar agora.

Uma risada escandalosa de Jimin ecoou pelas ruas frias do bairro pouco frequentado. Alguns adolescentes passavam em grupos pela calçada estreita do outro lado da rua, mas eles não faziam tanto barulho quanto Jimin naquele momento. Tentando segurar o riso, o engenheiro parou em seu lugar, respirou fundo, e conseguiu ver a imagem borrada de Yoongi parado também com as mãos nos bolsos da calça. A vontade de rir ainda era grande, mas ele conseguiu se concentrar o suficiente e abriu seus olhos o bastante para encarar o advogado no exato momento em que ele encostou a língua na ponta do nariz com facilidade.

— Sua língua é enorme, mas que porra–

— Eu sei! — Jimin disse, risadas voltando a escapulir de sua boca e fazendo seus olhos se fecharem involuntariamente. Ele ainda estava parado, mas sentiu a mão firme de Yoongi em sua cintura, empurrando-o um pouco para frente na intenção de fazê-lo voltar a andar. — Sabe, quando eu era mais... Você sabe que adolescente é meio idiota, né? Eu ficava tentando tirar–

— Eu não quero nem saber aonde você ia com essa frase, Park Jimin! — Yoongi interrompeu com a voz alta, uma risada saindo logo em seguida, como se tentasse imaginar o que ele ia dizer a seguir. Eles andavam lado a lado pela calçada estreita, a mão de Yoongi ainda na cintura de Jimin o guiando e o ajudando a ficar de pé enquanto o engenheiro ainda ria da situação. — Já entendi, sua língua é enorme. Alcança a ponta do seu nariz. Incrível. Deve ser muito útil.

"Você bem podia querer descobrir se é útil assim", Jimin pensou em dizer, mas se segurou antes que as palavras saíssem e arruinassem o clima confortável que havia entre eles. Suas risadas morreram aos poucos, mas seu corpo ainda estava bambo, cansado do esforço físico das gargalhadas que havia dado. A mão de Yoongi era um conforto em suas costas, apesar de ela não estar tão próxima de sua pele quanto ele gostaria. Ainda havia a camada grossa da jaqueta que ele usava o impedindo de sentir com mais firmeza os dedos de Yoongi, mas ele não reclamaria, já que apenas a proximidade do corpo do advogado era o suficiente para deixá-lo com a alma mais leve.

Ele soltou uma risada fraca, curta, pensando que devia estar enlouquecendo aos poucos com toda aquela história de gostar de Yoongi.

— Não basta colocar a língua no nariz, agora está rindo sozinho. — Yoongi comentou quebrando o silêncio entre eles, fazendo Jimin encará-lo com um sorriso de canto no rosto. — O que houve?

— Nada. — Jimin deu de ombros, fez um bico com os lábios. Ele achava que um pouco de seu bom humor vinha do fato de estar com sono, ansiando pelo momento em que deitaria em sua cama, então se permitiu fechar os olhos por alguns segundos enquanto se apoiava no ombro de Yoongi, sabendo que o advogado o guiaria pelas ruas. — Acho que estou com sono.

— Eu também ficaria se acordasse cedo para ir à academia todos os dias. — Yoongi disse com a voz bem mais baixa que antes, fazendo Jimin abrir os olhos na mesma hora. O advogado estava muito mais próximo do que agora, talvez até próximo demais, mas Jimin não conseguia se importar. — Só não deixa de comer antes de dormir.

— Não vou. — Jimin negou com a cabeça, virando-a para frente logo em seguida. Com a proximidade que estava de Yoongi, ele tinha medo de acabar agindo por impulso, e também tinha medo do advogado ouvir as batidas irregulares de seu coração. — Por falar nisso, você vai jantar comigo na casa do Hoseok hyung essa semana? Acho que consigo convencer o Taehyung de aparecer dessa vez. Queria muito que vocês se conhecessem.

— Enquanto eu for bem-vindo, eu vou com você. — Yoongi disse com a voz suave, e um sorriso se abriu de imediato no rosto de Jimin. Eles passaram mais alguns segundos em silêncio, caminhando a passos lentos, sem tirar o braço de onde estavam ao redor um do outro. — Mas semana que vem queria jantar um dia só com você. O que me diz?

— Só nós dois? — Jimin voltou a olhar para Yoongi, mas a mesma proximidade de antes não o pegou de surpresa dessa vez. Eles se encaravam nos olhos, caminhando ainda mais devagar, soltando respirações pesadas como se esperassem que alguma coisa acontecesse. Mas Jimin "perdeu" daquela vez, desviando a atenção para o chão e concordando com a cabeça. — Pode ser. Eu sinto falta de jantar só com você. Segunda-feira que vem?

— Ok. — Yoongi murmurou, sua voz soando um pouco mais distante agora. Quando Jimin olhou para o lado para entender o porquê, viu Yoongi olhando para os próprios pés, e viu também um tom avermelhado evidente nas orelhas do advogado. — Segunda está perfeito.

Jimin se sentia cansado quando se deitou naquela noite, depois de mandar uma foto para Yoongi comprovando que tinha jantado antes de ir dormir, mas não conseguia fechar os olhos por mais do que alguns poucos segundos. Sua mente fazia questão de lembrá-lo da mão firme de Yoongi o segurando pela cintura, além de lembrá-lo da proximidade que estiveram enquanto caminhavam juntos em direção às suas casas. Da voz suave do advogado pedindo para eles jantarem sozinhos na segunda-feira seguinte, da maneira que suas orelhas ficaram vermelhas depois de eles ficarem tantos segundos se encarando. Um sorriso se abria em seu rosto, ele tentava se esconder atrás de suas mãos por mais que ninguém pudesse vê-lo naquele estado, e longos suspiros saíam de sua boca, mostrando que ele estava se comportando exatamente como um adolescente apaixonado.

— Eu vou matar o Namjoon, eu não estou nem– Sim, eu estou falando de você! Porque você acha que vai alimentar uma família de elefantes– Ai, Jimin, daqui a pouco eu te ligo.

O andar do setor financeiro estava bem mais vazio quando Jimin resolveu ligar para Hoseok perguntando se o jantar usual deles aconteceria naquela noite. Algumas luzes já estavam apagadas, o telefone de Jeongguk tinha parado de tocar tanto, e o burburinho de diversas pessoas coexistindo em um escritório cinzento tinha se dissipado por completo. Poucos segundos antes, Jimin tinha recebido uma mensagem de Yoongi perguntando quais eram os planos para o resto do dia, e imediatamente o engenheiro ligou para o amigo para fazer aquela exata pergunta. Hoseok tinha confirmado que sim, o jantar aconteceria, e era bom que ele estivesse com fome porque Namjoon tinha levado comida demais para casa – já pensando em Yoongi – e, em algum momento, a discussão entre o casal havia começado. Jimin preferiu esperar ao invés de ligar de novo. Ele sabia que as discussões entre os dois nunca duravam muito tempo.

Park Jimin [18:55]: jantar confirmado. Passa aqui.

Em poucos minutos, Jimin estava andando pelas ruas movimentadas do centro de Seul ao lado de Yoongi, encolhendo seu corpo o máximo que ele podia como se isso fosse diminuir o frio que ele sentia. O advogado falava com a voz alta em meio a tanto barulho, contando sobre uma nova coordenadora do judiciário que estava maltratando os estagiários e fazendo fios de cabelo branco crescerem em sua cabeça muito antes do esperado. Jimin sorria com a maneira que ele exagerava os acontecimentos apenas para fazê-lo rir, e sentia uma vontade sobrenatural de se manter perto de Yoongi, mas nada daquilo o incomodava mais. Saber que gostava de um homem não era mais um problema para ele.

— Desculpa por ter desligado a chamada daquele jeito mais cedo. — Hoseok disse com a voz calma, muito mais calma do que estava antes quando Jimin havia ligado. Agora, ele já estava dentro do metrô com Yoongi, torcendo para que a ligação não caísse a qualquer instante. — Você sabe como eu e Namjoon somos, mas já está tudo bem. Prometo que não vai ter clima estranho na mesa quando vocês chegarem.

— Eu conheço vocês dois tão bem que já sabia disso. — Jimin respondeu, levantando o rosto com uma sobrancelha arqueada quando sentiu a mão de Yoongi em seu ombro, mexendo em um fio solto de sua camisa de maneira distraída. — Se está tudo certo para hoje, então nós já estamos a caminho. Devo chegar em uns vinte minutos, mais ou menos.

Assim que desligou a chamada, Jimin passou a prestar atenção no rosto de Yoongi. Ficar naquele silêncio confortável havia se tornado algo comum entre eles. Apesar de nunca faltar assunto entre os dois, Jimin havia aprendido com o tempo que Yoongi apreciava a quietude vez ou outra, e ficava contente em apenas observá-lo observando o mundo à sua volta. Isso quando não era ele recebendo aquela atenção – mais de uma vez, Jimin já havia sentido o olhar perfurante do advogado em seu rosto enquanto ele caminhava olhando para os próprios pés na rua, mas nunca iria reclamar daquela sensação. Vez ou outra, quando deixava sua imaginação ir longe demais, Jimin se via em seu apartamento junto com Yoongi, ambos trazendo aquele conforto para um ambiente onde havia menos distrações. A comodidade, a falta de necessidade de falar o tempo todo, tudo se encaixava para Jimin, dentro de sua cabeça, em quesitos menos notáveis de intimidade.

E pensar que eles conseguiam ficar daquela maneira, em silêncio, apenas se observando e apreciando a presença um do outro, juntando ao fato de estarem indo juntos jantar com Hoseok e Namjoon – "nós já estamos a caminho", ele disse com naturalidade poucos minutos antes – fazia Jimin sentir coisas demais ao mesmo tempo. Felicidade, medo, surpresa. Com tantos amigos de longa data em sua vida, com um relacionamento que durou tantos anos e parecia tão certo, Jimin sempre achava improvável conhecer novas pessoas que o fariam se sentir tão bem quanto as pessoas que já o conheciam de trás para frente, de cabeça para baixo e do lado avesso. Ter Yoongi em sua vida, saber que o advogado o fazia se sentir tão livre e confortável, e ainda ter a completa ciência de que eles haviam criado aquela relação em menos de um ano era surpreendente para Jimin. Fazia com que ele se sentisse inteiramente aquecido, e com uma vontade boba de abraçar Yoongi apenas para sentir aquele conforto emocional também em sua pele.

A caminhada até o palácio Jung-Kim era sempre leve, com algumas palavras trocadas e novos fatos descobertos sobre o outro. Jimin gostava de ler livros e assistir filmes de romances clichês, Yoongi sabia tocar piano e um pouco de bateria. O primeiro e único porre de Jimin havia sido durante a faculdade, no primeiro período, e foi Hoseok que o ajudou enquanto ele vomitava e tomava banho chorando por dar trabalho aos outros. Yoongi já tinha passado mal algumas outras vezes, e em absolutamente todas foi Seokjin que o ajudou enquanto reclamava em seu ouvido por ser obrigado a fazer aquilo. Eles riam, diziam que iam pedir para ouvir aquelas histórias do outro ponto de vista, e deixavam que seus braços se cruzassem e que seus corpos se aproximassem um pouco mais do que o necessário.

Agora, toda vez que Yoongi jantava com ele e seus amigos no apartamento do casal, Jimin conseguia perceber como ele se encaixava naturalmente naquele meio. Era como se ele sempre tivesse feito parte do grupo, falando com tanta naturalidade e se sentindo tão confortável que havia surpreendido Jimin. O advogado já tinha comentado antes sobre como era mais reservado ao redor de pessoas que não conhecia tão bem, então vê-lo rindo abertamente, batendo na mesa, e discutindo de maneira cômica com Namjoon como se fossem amigos há anos só dava a impressão de que aquele encaixe era perfeito. Que era para ser. E Jimin realmente não queria alimentar esperanças que ele nem achava que deviam existir, mas ver como seus melhores amigos se davam tão bem com Yoongi deixava seu coração aliviado até demais, achando que aquilo poderia ser bom no futuro.

— Taehyung disse que vai poder vir na quinta. — Hoseok comentou quando terminou de comer, virando seu olhar para Jimin, que parou tudo o que estava fazendo a meio caminho de levar arroz à sua boca. — Eu liguei hoje para saber se ele podia vir, mas parecia que ele estava correndo...? Disse que com certeza pode jantar com a gente na quinta.

— Finalmente, né? — Jimin arqueou uma sobrancelha, colocou o arroz na boca e ignorou o silêncio levemente constrangedor que caiu sobre a mesa. — Não me lembro de quando foi a última vez que vi o Taehyung sentado nessas suas cadeiras.

— Melhor guardar a bronca para quinta. — Namjoon disse baixo, balançando a cabeça de um lado para o outro enquanto sorria. — Ele disse para nós que esse ano ia ser puxado para ele. Não disse?

— Eu só não esperava que fosse esquecer como é a cara do meu amigo, só isso. — Hoseok deu de ombros e fez uma careta logo em seguida. Namjoon soltou um suspiro e bateu com seu cotovelo de leve nas costelas dele, um pedido para que o esposo não esquentasse com aquilo. — Ai, eu sei, é o trabalho dele, eu deveria estar feliz porque ele está fazendo o que sempre quis fazer, mas sei lá, vocês não ficam preocupados que ele está trabalhando demais?

— Jeonggukie também anda assim. — Yoongi se pronunciou na conversa, sentindo todos os pares de olhos se virarem em sua direção. Ninguém disse nada, esperando que ele continuasse, então o advogado se virou para Jimin, sabendo que ele era o único que conhecia Jeongguk ali. — Quando foi a última vez que ele saiu antes de você? Às vezes eu saio daqui e ligo para ele, ou mando uma mensagem, e ele diz que ainda está ocupado...

— Ele bem tem aparecido com mais olheiras ultimamente. — Jimin murmurou. Parou, pensou, e voltou a olhar para Hoseok com uma frase já pronta na ponta da língua. — Algum dia a gente vai falar com ele. Mas deixa isso para outra vez, pode ser? Eu estou para apresentar o Yoongi para o Tae já tem tanto tempo...

— Ah, Yoongi hyung não vai querer ver a bronca que eu vou dar no Taehyung, pode deixar que isso vai ser entre nós quatro. — Hoseok bateu com uma mão na mesa algumas vezes, arrancando risadas dos outros presentes, e começou a rir junto. — E você, dá uma bronca nesse amigo de vocês também. Ainda mais se for alguma coisa partindo dele, e não da empresa.

— As coisas andam um pouco pesadas lá no financeiro, mas não acredito que seja ao ponto do Jeongguk precisar ficar trabalhando até altas horas. — Jimin comentou, dando de ombros, e voltou a comer em silêncio. Os outros na mesa conversavam entre si sobre o assunto em vozes baixas, até que Jimin terminou seu raciocínio com um murmúrio. — Mas sabe-se lá se tem alguma coisa acontecendo com ele que a gente não tem nem ideia.

Entre eles quatro, conversar era fácil. Era óbvio que Taehyung fazia falta, até porque Taehyung era melhor amigo de infância de Jimin, e acabou virando um dos melhores amigos de Hoseok e Namjoon também, mas a adição de Yoongi entre eles era confortável. Não era como se eles se esquecessem por completo do amigo que sempre ocupou aquele lugar na mesa, mas não era como se a presença do advogado fosse indesejada. Jimin sentia seu corpo tombando mais para o lado, vendo o braço de Yoongi ao redor de sua cadeira, quase como se estivesse o convidando para se aconchegar ali em seu abraço. Aquela era a única diferença gritante entre Yoongi e Taehyung, para ele. Porque com Taehyung as risadas vinham fácil, os socos leves eram amigáveis, e tudo era como a infância. Mas com Yoongi vinha a vontade de ficar perto, vinham as bochechas avermelhadas, e vinham as batidas fortes de seu coração. Eram sentimentos intensos, mas de maneiras diferentes.

Talvez os outros começassem a reparar, mas Jimin não sabia se devia se importar tanto. Se te faz bem, não tem porquê ligar para o que os outros pensam, foi o que Yoongi disse uma vez (ou algo parecido), e ele havia começado a levar aquilo para o coração. Se Jimin queria passar tempo demais encarando o rosto de Yoongi enquanto ele falava, então ele encarava; se ele queria se aproximar sem motivo algum, então ele se aproximava. Às vezes, durante o jantar, Jimin sentia o peso de dois pares de olhos em cima dele, mostrando que talvez ele estivesse sendo óbvio demais mesmo, mas ele não ligava. Porque eram só seus amigos de sempre, observando-o como eles sempre fizeram, e se Jimin seria motivo de fofoca entre os dois quando eles estivessem prestes a dormir – que fosse.

— Eu tive que terminar tudo às pressas na faculdade para jantar com você, Park Jimin. — Taehyung dizia do outro lado da linha, sua voz saindo um pouco cortada por sua respiração. Ele parecia estar andando durante a chamada, e Jimin só pôde rir e rolar os olhos com o comentário do amigo. — Acho que só hoje eu recebi mais ligações do Hoseok hyung do que já recebi na minha vida inteira.

A quinta-feira começou ensolarada, mas com previsão de chuva fraca para o final do dia. Jimin tinha passado o curto caminho da empresa onde trabalhava até o metrô reclamando no ouvido de Yoongi sobre como ele deveria começar a ver o aplicativo do tempo antes de sair de casa, agarrando-o contra seu corpo enquanto tentava garantir que nenhum dos dois se molharia com as gotas finas que caíam do céu. Yoongi ria, dizia "desculpa, pai", e se deixava ser agarrado por Jimin mesmo que o guarda-chuva que o engenheiro carregava não fosse assim tão pequeno. O braço de Jimin estava ao redor do ombro de Yoongi, e ele sentia a mão firme do advogado segurando em sua cintura com força, querendo se manter perto e seco.

Já dentro do metrô, recuperando o fôlego depois de caminhar tão rápido debaixo de um único guarda-chuva, Yoongi e Jimin comentavam sobre o jantar que estava programado para mais tarde. Hoseok havia ligado mais cedo para avisar que estava tudo certo – inclusive a presença de Taehyung – e, poucos minutos depois, já dentro do trem a caminho do apartamento do amigo, Jimin recebeu uma ligação do professor apenas para confirmar que ele realmente iria.

— Você não aparecia nesses jantares há tanto tempo, mereceu essa quantidade toda de ligações. — Jimin disse em um tom brincalhão, mas havia um fundo de verdade ali que ele não queria pensar sobre no momento. Taehyung riu fraco, talvez percebendo isso, mas escolheu apenas concordar com um murmúrio. — Não dá para trás de última hora. Sério.

— Eu já estou a caminho! — Taehyung reclamou, sua voz falhando em algumas sílabas, e arrancou uma risada um pouco alta demais de Jimin para o vagão silencioso. — Ainda vou pegar o metrô, mas já saí do prédio de Artes Cênicas. Vou chegar depois de você, mas prometo que vou.

— Acho bom mesmo. — Jimin disse no mesmo tom de brincadeira de antes, mas, novamente, havia um fundo de verdade que talvez estivesse um pouco transparente demais em sua voz. — Sua presença é muito importante hoje. Sempre é, mas é que hoje...

Naquele momento, Jimin deixou a frase morrer e olhou para cima, na direção de Yoongi. O advogado parecia estar atento demais a algo em seu celular para prestar atenção na conversa ao telefone que acontecia bem ao seu lado, então nem reparou como estava sendo observado naquele instante. Jimin abriu um sorriso, lembrou-se da maneira que Hoseok e Namjoon já estavam mais do que confortáveis com a presença de Yoongi em seu apartamento, e torceu para que Taehyung se sentisse da mesma forma. Aquela vontade estranha de ter a aprovação de todos os seus amigos para o homem que ele gostava – o homem que ele gostava – sempre voltava vez ou outra, mas agora que faltava uma última "avaliação" de extrema importância, Jimin sentia seu pé começar a bater com insistência no chão, um sinal claro de que estava nervoso.

— Enfim, te vejo daqui a pouco. — a voz cansada de Taehyung seguida de um suspiro longo fez Jimin piscar os olhos, limpar a garganta e encarar os próprios pés ao invés do homem diante dele. O que quer que o professor tenha falado naquele meio tempo não foi ouvido pelo amigo, porque ele estava ocupado demais pensando em Yoongi. Para variar. — Só liguei para te confirmar que vou para o jantar, e vou finalmente conhecer esse seu amiguinho do trabalho.

Já não chovia mais quando Yoongi e Jimin saíram do metrô, então, tecnicamente, eles não tinham mais motivos para ficar agarrados um ao outro, mas o engenheiro ainda sentia a presença quente do advogado bem ao seu lado, grudado em seu braço. Jimin falava sem parar sobre sua infância ao lado de Taehyung, sobre sua adolescência e sobre como eles mantiveram a amizade por todos aqueles anos, mesmo com algumas brigas sérias no meio do caminho. O único momento em que ficou calado foi quando ele próprio se interrompeu, falando que estava tagarelando sem parar e devia estar irritante, mas Yoongi o garantiu que gostava de ouvi-lo. Com o olhar calmo, a expressão neutra e o rosto que parecia prestar tanta atenção em Jimin, Yoongi afirmou que preferia que ele falasse pelos cotovelos ao invés de ficar calado como costumava ser quando eles tinham se conhecido, todos aqueles meses antes.

Passando pela porta da frente de Namjoon e Hoseok, Jimin reparou em como ele estava nervoso para aquela noite, mesmo sabendo que não tinha motivos para aquilo. A sensação o lembrava um pouco de quando ele havia apresentado Eunju para Taehyung, muitos anos antes, quando Jimin ainda sofria com o ciclo básico de matérias do curso de engenharia e sua única preocupação era se formar, e um dia, quem sabe, se casar e construir uma família. Pensar naquilo vivendo a situação que estava vivendo era quase cômico. Seu casamento havia acabado de maneira dramática, e agora ele estava gostando de uma pessoa com quem certamente não poderia ter filhos biológicos. Claro, Jimin ainda não estava cem por cento recuperado do baque que sofreu depois de sair do exército, mas sentia que estava muito melhor agora, muito mais acostumado com tudo. Sentia que sabia lidar melhor com a sua nova vida, e, aos poucos, ele sabia que poderia recuperar as melhores partes de sua antiga personalidade.

Foi Yoongi que atendeu à porta quando a campainha tocou, pois os outros três estavam ocupados colocando pratos e talheres à mesa. Jimin quase largou tudo que estava segurando para dar sua total atenção à primeira interação de Yoongi e Taehyung, mas escolheu apenas ir para o outro lado da mesa, onde teria uma visão melhor da cena. Eles se apresentavam com sorrisos simpáticos, apertos de mãos breves e reverências curtas, como se até mesmo eles dois estivessem nervosos por aquele encontro finalmente acontecer. Jimin sentia que ia explodir. De uma maneira boa. Porque ele estava vendo ali duas pessoas que ele gostava tanto, uma que havia chegado em sua vida há pouco tempo, e outra que estava com ele havia anos, e os dois pareciam estar se dando bem até agora.

Apesar de estar bem mais afastado por conta de sua grade de horários mais carregada, Taehyung ainda se encaixava fácil entre eles. Ele podia precisar de uma informação extra para entender o contexto de alguma outra história, mas nunca ficava muito para trás, e sempre tinha algo para acrescentar ao assunto que rolava na mesa. Yoongi em especial parecia muito interessado na carreira do professor, na maneira que ele havia construído tudo que tinha hoje, e nos seus planos para o futuro que ainda eram apenas um esboço, mas Jimin sabia que o amigo tinha determinação o suficiente para transformar em uma obra completa. Nenhum deles passava muito tempo calado, e não havia espaço para silêncios constrangedores. E, principalmente, para alívio enorme de Jimin, nenhum deles parecia estar desgostando da presença de Yoongi ali no meio do jantar que sempre foi deles.

— Jeonggukie tinha uns planos mirabolantes assim para a carreira dele, mas ele teve que dar uma esfriada por causa do exército. — Yoongi comentou em uma curta pausa para limpar os cantos da boca, recebendo a atenção de todos na mesa. — Acabou voltando sem ritmo e não conseguiu retomar muita coisa, precisou arrumar um emprego logo de cara. Eu e Seokjin hyung demos suporte a ele de primeira, mas ele não teve como voltar a estudar.

— Jeongguk é seu chefe, né, Jiminie? — Taehyung desviou a atenção de Yoongi para fazer a pergunta ao amigo, e, ao receber uma confirmação, voltou a olhar para o advogado. — Ele não pensa em voltar a estudar agora que se estabilizou?

— Acho que o Jeonggukie está com algumas coisas encaminhadas na vida dele. — Yoongi deu de ombros e voltou a comer, olhando para seu próprio prato. — Ele não fala muito sobre essas coisas, só diz que "consegue ver um caminho diante dele". Cheio de metáforas. Aquele garoto ainda vai me dar cabelo branco...

— Jeon Jeongguk é provavelmente o único cara mais novo que eu que eu respeito, e não é nem porque ele é meu chefe. — Jimin comentou enquanto terminava de mastigar, e arrancou risadas fracas de alguns sentados à mesa. — Sério! Nunca vi alguém tão focado e dedicado ao trabalho. Ele consegue resolver qualquer problema que chega na mesa dele.

— E, diga-se de passagem, o que aquela empresa mais tem é problema no financeiro. — Yoongi ajudou a completar o raciocínio de Jimin, que concordou com sua colocação com um aceno exagerado de sua cabeça. Taehyung riu fraco daquilo e apoiou o rosto na mão, inclinando-se na mesa em direção a eles dois. — Não digo isso só porque ele é meu amigo, mas o Jeongguk realmente é bom no que faz.

— Então esse Jeon Jeongguk é chefe do Jimin, e foi ele que apresentou vocês dois. — Taehyung disse apontando na direção de Yoongi, com os olhos estreitos, como se estivesse tentando ligar alguns pontos dentro de sua cabeça. Quando recebeu uma resposta positiva, ele murmurou e concordou com a cabeça. — E você disse que tinha mais um? Seokjin?

— Kim Seokjin, ele é advogado que nem o Yoongi hyung, acho difícil eu não ter falado dele para você. — Jimin respondeu por Yoongi, observando com atenção as reações de Taehyung. Ele parecia bem entretido no assunto, sempre concordando, sempre soltando murmúrios como se estivesse entendendo tudo. — Jeongguk me apresentou aos dois.

— Ele está procurando substitutos para nós, Taehyung. — Namjoon comentou com uma sobrancelha arqueada, dissipando o ar mais denso que dominava o ambiente antes, para trazer uma atmosfera mais tranquila para a mesa junto das risadas de todos. — Yoongi hyung é seu substituto, já ficou claro. Esses seus dois amigos estão juntos? Porque se estiverem, eles dois são definitivamente nossos substitutos, Hoseokie.

— Acho que se eles dois ficassem juntos o mundo ia entrar em colapso. Jeongguk e Seokjin hyung não dão certo como um casal, não precisa nem testar para saber. — Yoongi comentou rindo, olhando para Jimin em busca de uma confirmação. Era verdade, o engenheiro precisava concordar. Aqueles dois agiam demais como irmãos para ter algo romântico ali. — Sem contar que Seokjin hyung... nunca vi mais solteiro. E o Jeongguk diz que está vendo casualmente alguém há meses, mas disse que não é sério o suficiente para nós conhecermos o cara.

— Eu acho meio esquisito esse papo de não ser sério. — Jimin comentou como se estivessem apenas eles dois na mesa, como se não houvesse mais uma plateia os observando fofocar sobre a vida do amigo. — Lembra daquela vez que eu soltei sem querer que o cara tinha feito comida para ele levar para almoçar? Eu não consigo ver um lance totalmente casual onde um faz comida para o outro.

— Ah, você tem razão, não faz se for casual. — Hoseok se intrometeu no assunto, dando força ao argumento de Jimin. O engenheiro arqueou as sobrancelhas e olhou para Yoongi, tentando provar seu ponto, mas o advogado simplesmente deu de ombros. — Namjoon sempre levava um doce para mim quando ele ainda frequentava as minhas aulas de dança tentando me conquistar. Não era ele que fazia, mas tinha a tentativa de conquistar pelo estômago.

— Vocês nem pensam na possibilidade de o cara ter dado sobra para ele, ou, sei lá, que já tinha comida em casa? — Taehyung se inseriu no assunto também, cruzando os braços em cima da mesa, largando sua janta por uns instantes para dar sua total atenção à conversa. — Precisa ser sério só porque esse Jeongguk levou comida dessa pessoa?

— Tae, você não viu o que eu vi. — Jimin balançou a cabeça de um lado para o outro, cutucou sua comida antes de colocá-la na boca e usar a pausa para dar um drama à continuação de sua fala. — Jeongguk nunca leva comida de casa, ele só me apresentou ao Yoongi hyung e ao Seokjin hyung porque sempre almoçamos no restaurante lá perto da empresa. E um belo dia ele apareceu com uma marmita que alguém tinha feito para ele? Não era resto de comida jogado num pote. Foi feito com carinho, eu vi.

— E ele vive falando dessa pessoa por alto. Também vive dizendo que está ocupado, mas agora acho que Jeongguk só está vendo esse cara com mais frequência. — Yoongi adicionou ao argumento de Jimin, prendendo a atenção de todos na mesa, especialmente de Hoseok e Namjoon que pareciam bem investidos na fofoca. Taehyung ainda estava de braços cruzados, passando a língua pela bochecha, mas também atento ao que era dito. — Pode até ter sido casual um dia, mas acho que já não é mais. Já deixou de ser há um bom tempo.

A conversa não morreu na mesa depois que o assunto da vida de Jeongguk foi deixado de lado, mas Taehyung certamente ficou menos ativo no assunto e mais pensativo. Jimin notou como o amigo ficou mais aéreo, mas resolveu não falar nada porque queria evitar algum possível constrangimento. Hoseok pareceu notar aquele detalhe também, trocando olhares longos demais com Jimin quando Namjoon e Yoongi estavam entretidos em um assunto deles dois, mas sem dar sinal de que falaria algo pelo mesmo motivo que o engenheiro. Mesmo com aquele leve empecilho, a noite correu perfeita. Namjoon tinha até mesmo levado sobremesa daquela vez, dizendo que a ocasião era mais do que especial, e todos comeram mesmo que já estivessem satisfeitos do jantar.

Quando Yoongi pediu licença para ir ao banheiro, com todos já de pé se despedindo para ir embora, Jimin viu o advogado sumir pelo corredor e deu um leve puxão no braço de Taehyung, um sorriso crescendo em seu rosto de imediato.

— E aí? O que achou do Yoongi hyung?

— Ele é gente boa. Você disse que ele era mais calado com gente nova, mas ele me pareceu bem simpático. — Taehyung disse enquanto olhava para o corredor, talvez lembrando-se de detalhes do jantar para formar sua opinião. Depois, ele virou o olhar para Jimin, uma leve expressão confusa em seu rosto. — Ele é tão importante que você precisava me perguntar assim de cara se eu gostei dele?

— Eu te disse que ele é. — Jimin falou um pouco mais baixo, aproximando-se de Taehyung para dar um soco de leve em seu ombro. A pergunta havia o deixado um tanto nervoso, como se o amigo conseguisse enxergar que tinha algo de estranho acontecendo, mas ele tentou disfarçar a coloração vermelha que suas bochechas ganhavam aos poucos. — Mas que bom que você gostou dele. Significa muito para mim.

Jimin sentia borboletas voando em seu estômago a caminho de casa, vendo Yoongi e Taehyung conversando em tons de vozes cansados dentro do metrô vazio. Ele falava também, claro, mas preferia ficar observando seu melhor amigo e o homem que gostava interagindo, querendo se acostumar com aquele tipo de situação. Se Taehyung já tinha o aprovado, então Jimin acreditava que não tinha mais nada o impedindo de se permitir sentir o que sentia por Yoongi. Mesmo que Taehyung não soubesse sobre seus sentimentos, a primeira impressão era a que contava, e se ele achava que Yoongi poderia ser um bom amigo, então, quem sabe algum dia ele não poderia ser algo a mais?

Saindo da estação, Yoongi e Jimin caminharam em silêncio, mantendo seus corpos perto um do outro enquanto se encolhiam com o frio que fazia na cidade. Suas respirações saíam em fumaças densas que evidenciavam o clima gélido, mas, pelo menos, não chovia mais.

Sem sentir o tempo passar, Jimin parou de caminhar quando sentiu uma mão segurando seu braço, olhando para cima e percebendo que já estava diante de seu prédio. Ele fez um bico com os lábios, porque se lembrava de ter sido acompanhado da última vez que eles voltaram juntos, então, pelas regras deles, era para ele ter acompanhado Yoongi daquela vez. O advogado soltou uma risada fraca que ecoou em meio à rua deserta e escura, e deixou que sua mão subisse pelo braço de Jimin, descansando-a no ombro do engenheiro.

— Eu adorei conhecer o Taehyung-ssi. — Yoongi disse, o início de sua despedida. Jimin sentiu um sorriso se abrir em seu rosto e concordou, mas não quis interrompê-lo. — Eu adorei conhecer todos os seus amigos, na verdade. Você está cercado de pessoas muito boas, Jimin.

— Isso inclui você. — Jimin arqueou uma sobrancelha, aproveitou-se da oportunidade para dar mais um passo em direção a Yoongi. Ele sentia que já estava mais perto que o necessário, mas não sentia vontade de se afastar agora. — Por falar nisso, eu não esqueci de segunda-feira.

— Segunda é só nossa. — Yoongi tirou a mão do ombro de Jimin e apontou um dedo no nariz do homem, uma expressão divertida e levemente acusatória em seu rosto. O engenheiro riu baixo e segurou o dedo do advogado, sem soltá-lo, mas Yoongi também não fez força para que ele o deixasse ir. — Lá em casa. Eu vou fazer o jantar para você, pode ser?

— Perfeito. — Jimin sorriu, deu um leve apertão no dedo de Yoongi, e sentiu como o advogado se mexeu levemente para envolver sua mão na do engenheiro. Eles ficam alguns segundos em silêncio se encarando, como se quisessem dizer alguma coisa, mas Jimin resolveu quebrar aquele ar pesado com uma risada. — Segunda está nas suas mãos, senhor Min Yoongi.

— Prometo não decepcionar, senhor Park Jimin. — Yoongi disse com a voz saindo rouca, como se não fizesse muito esforço para falar. Jimin estava tão atento ao rosto dele que, por um milésimo de segundo, notou como o advogado desviou o olhar para baixo. — Até amanhã.

Relutantemente, Jimin deixou que Yoongi soltasse sua mão aos poucos, vendo o advogado se afastar dando passos lentos para trás. Foi só depois de alguns segundos se encarando com sorrisos pequenos em seus rostos que Yoongi deu as costas e continuou seu caminho em direção a onde morava, as mãos enfiadas dentro do bolso e o corpo encolhido de frio.

Jimin ficou ali, parado no meio da rua mesmo depois de Yoongi ter virado a esquina, ainda sentindo sua mão formigar com o contato de mais cedo. E, apesar de ter noção de que estava bem frio, ele não conseguia mais sentir o sopro gelado que batia em seu rosto. Isso porque, de maneira assustadora, seu corpo inteiro ardia em chamas, tudo por conta da vontade imensa que ele sentiu de beijar Min Yoongi naquela noite.

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