De Volta à Primavera • yoonmin

By zettaiwa

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Depois de cumprir o serviço militar obrigatório de dois anos e voltar para casa para descobrir da pior maneir... More

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Palácio

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By zettaiwa


A segunda-feira de Jimin começou gelada, apesar de seu corpo estar todo aquecido, da cabeça aos pés, sem deixar um único fio de cabelo escapar.

O teto branco de seu quarto o encarava e questionava como havia sido seu sonho dessa vez. Mãos dadas? Sorriso frouxo? Vagas memórias de toques em sua pele? Jimin não tinha certeza. Ele se lembrava de ver Yoongi em algum momento, lembrava-se de ver Junghwa em outro, mas não sabia ao certo as imagens que seu cérebro havia formado enquanto ele dormia. Não se lembrava de sons nem sensações. Mas Yoongi estava lá, sempre sorrindo, sempre cercado de luz e alegria. Por dois segundos, o coração de Jimin doeu em seu peito, e ele soube que não estava nem um pouco preparado para lidar com seus sentimentos naquela semana. Não sabia se um dia estaria.

A conversa da última sexta à noite com Junghwa ficou martelando em seus pensamentos durante o fim de semana inteiro, a todo momento. Ele pensava nos elogios que fez a Yoongi com tanta facilidade enquanto Hoseok pedia ajuda para escolher um filme, pensava em sua falta de entusiasmo em estar com Junghwa enquanto Namjoon fazia críticas pontuais sobre como sua profissão era retratada na tela. Estava tudo errado, indo de mal à pior. Jimin sempre foi uma pessoa de ouvir o que seu coração lhe dizia, mas, naquela situação, ele queria que seu lado racional lhe desse uma luz, uma explicação para tudo que estava acontecendo. Ele sentiu atração por Junghwa, mas também acreditava que nutria sentimentos românticos por Yoongi.

De volta à segunda-feira, enquanto seu celular despertava pela terceira vez – dane-se a academia, Jimin pensou –, o engenheiro tentava imaginar como olharia nos olhos de Yoongi durante o almoço depois de sua fatídica sexta-feira. A confissão implícita a Junghwa, a maneira que sua mente nervosa ansiou por uma mísera conversa com o advogado. Se Jimin estivesse em negação ainda maior, desconfiaria que tinha uma certa dependência com Yoongi. Mas não, não era aquilo. As reações físicas que ele mostrava ao simplesmente pensar em Yoongi diziam de forma clara o que estava acontecendo. E, na sexta-feira, ele deu apenas mais um passo no caminho para aceitar tudo que estava acontecendo.

Precisava ir devagar, de preferência quase parando. Jimin já tinha visto seus amigos andando pelo território antes, mas ele próprio nunca havia colocado os pés ali, e tudo que era novo podia ser assustador. Aquilo era assustador, muito mais do que qualquer outra coisa que ele havia vivido durante todos aqueles anos. Assustador como quando entrou na faculdade, assustador como quando percebeu que estava perdidamente apaixonado por Eunju, assustador como quando percebeu que não queria viver uma vida sem Taehyung como seu amigo. E, mesmo que assustadores, nenhum daqueles momentos foi inteiramente negativo. Jimin estava completamente apavorado agora, mas de um jeito familiar. Um jeito que, bem, bem lá no fundo o trazia certa paz.

Eram transições cansativas. Em um momento, sorrisos bobos surgiam em seu rosto de maneira inesperada, mas em um piscar de olhos, uma dúvida angustiante podia surgir em seu peito e trazê-lo para baixo. Vai e volta, sobe e desce. Nunca parado em um lugar, nunca inerte para entender e aceitar tudo que estava acontecendo.

— Trabalho vai ser dobrado essa semana. — Jeongguk murmurou com certa impaciência em seu tom, deixando uma pilha de folhas em cima da mesa de Jimin sem cerimônias. — Caiu para a gente consertar o erro dos outros. Espero que esteja com a mente e o corpo descansados, porque vai ser bem desgastante.

Estar com a mente descansada era uma realidade distante de Jimin havia meses. Ele não conhecia mais o que era ter paz dentro de sua cabeça há tempos, e sentiu uma vontade enorme de rir quando Jeongguk deu meia volta e andou até a própria mesa. A verdade é que trabalho o ajudava a relaxar, de certa forma. Ele preferia se estressar com números e clientes da empresa do que pensar em seus próprios problemas. Aquilo tudo, aquele ambiente cinzento e frio, tudo vinha do lado de fora, era fator exógeno. Mas todas as nuvens que o atormentavam diariamente estavam dentro de sua cabeça, de seu peito, e não sumiam a partir do momento em que ele saía de um lugar e ia para o outro. Pelo contrário, às vezes só piorava dependendo de onde estivesse.

— Alguém está bem distraído hoje. — Jeongguk colocou uma mão sobre a mesa de Jimin, algumas horas depois, e assim que recebeu a atenção que queria, arqueou uma sobrancelha questionadora. — Te chamei várias vezes. Seokjin hyung e Yoongi hyung já estão nos esperando no restaurante.

Jimin passou o caminho inteiro até o restaurante com a sensação de que não conseguia respirar direito. E ele nem podia culpar o clima frio porque não estava tão frio assim, não a ponto de seus pulmões funcionarem de maneira irregular. A ansiedade que sentia em ver Yoongi era uma mistura de boa e ruim, andando lado a lado, de mãos dadas, deixando-o confuso como ele sempre ficava quando se tratava do advogado. Jimin queria vê-lo. Queria ver seu rosto que aparentava estar mais saudável com o passar dos dias, queria ver seu sorriso. Mas não queria ter de encará-lo nunca mais. Jimin sabia que memórias de sua sexta-feira o atormentariam no momento em que ele colocasse os olhos em Yoongi, e ainda não estava pronto para ficar de frente com o homem depois do que havia admitido.

Mas, assim que viu Yoongi sentado à mesa com o rosto apoiado em sua mão, não foi pavor que correu nas veias de Jimin. Não foi medo, também não foi calma. A única coisa que se passava em sua cabeça era que estava preocupado. Muito, muito preocupado.

Yoongi não tinha um sorriso brilhante em seu rosto enquanto Seokjin tagarelava sobre qualquer assunto que surgisse em sua mente. O sorriso que dava para o amigo era fraco, quase imperceptível. À medida que se aproximava mais da dupla, Jimin conseguia reparar em mais detalhes que só aumentavam sua preocupação. As olheiras tão escuras e profundas, a palidez em seu rosto, todas as evidências de que não havia dormido bem. Seus ombros pareciam mais caídos, retraídos. E a combinação daqueles três fatores fez o coração de Jimin despencar em seu peito, porque estava claro como o dia que algo estava atormentando o advogado.

Assim que se sentou de frente para Yoongi, Jimin não tentou disfarçar que estava o encarando abertamente. Se antes estava agoniado com a possibilidade de vê-lo, agora estava inquieto ao vê-lo daquela maneira. Aquele não era o Yoongi que ele conhecia, que havia começado a gostar tanto e em tão pouco tempo. Aquele não era o mesmo advogado que sempre fazia de tudo para arrancar um sorriso de seu rosto, mesmo que pequeno, apenas para garantir que ele ficaria feliz. Yoongi estava triste, visivelmente triste. Estava terrivelmente abalado com algo, e saber daquilo, poder ver aquilo deixava uma dor no peito de Jimin maior do que qualquer incerteza jamais seria capaz de deixar.

Era extremamente notável como Seokjin tentava de tudo para deixar o clima na mesa leve, como tentava a todo custo alegrar Yoongi, ou ao menos fazer um sorriso sincero surgir em seu rosto. Mas parecia que nada funcionava. Jimin estava sentado em seu lugar, apreensivo, sempre desviando o olhar para o advogado vez ou outra apenas para ver como ele estava. Ainda acabado. Ainda parecendo muito distante da realidade. E Jimin sentiu na pele pela primeira vez, e talvez mil vezes pior, como Yoongi se sentia ao vê-lo tão para baixo vez ou outra. Era uma sensação de impotência terrível, querer ver alguém bem e não saber o que fazer para reverter a sensação. Jimin queria saber o que fazer. Queria uma luz. De repente, ele tinha se esquecido dos próprios problemas, tudo porque a pessoa que menos saía de seus pensamentos aparentava estar mal.

Em um momento raro de silêncio na mesa, quando Seokjin tinha pedido licença para ir ao banheiro e Jeongguk parecia mais entretido com seu celular do que com a companhia de seus amigos, Jimin aproveitou a oportunidade para observar Yoongi com toda atenção que queria. A aparência triste se mesclava a um cansaço evidente em seu rosto normalmente cheio de vida. Sim, Yoongi tinha um semblante sério que o acompanhava a todo momento, mas aquilo era diferente. O olhar distante indicava que sua mente estava em outro lugar, e não que ele estava simplesmente com a expressão neutra. Jimin prendeu a respiração, desviou o olhar para cima da mesa. Lembrando-se do que havia dito para Junghwa sexta-feira, lembrando-se de todos os seus sonhos, o engenheiro encarou a mão de Yoongi que descansava sobre a toalha vermelha e pensou por longos segundos.

Delicadamente, e quase como se fosse tomar um choque caso se aproximasse demais, Jimin levou seus dedos aos de Yoongi e os tocou de leve, mas com firmeza o suficiente para chamar sua atenção. Assim que viu olhos intimidantes o encarando, mostrando ainda mais o cansaço que sentiam, Jimin tentou abrir um pequeno sorriso. Deixou que sua mão cobrisse a de Yoongi por completo, deslizando-a levemente para cima, segurando o pulso do advogado sem força alguma. Soltando o ar lentamente de seus pulmões, Jimin acariciou a pele macia e pálida com seu polegar, para cima, para baixo, desenhando pequenos círculos que iam e voltavam, bem devagar. E durante aqueles segundos que pareceram durar uma eternidade, nenhum dos dois desviou o olhar um do outro.

A única palavra que Jimin conseguia pensar para descrever tudo aquilo era intenso. Intensa a maneira que Yoongi o olhava, intenso o calor em suas mãos apenas por estar tocando o advogado, intensa a sensação que se fortificava em seu peito. Era como se estivesse em transe – seu polegar continuava a fazer carinho, seu rosto continuava firme, mas ele se sentia hipnotizado. O que o trouxe de volta não foi a risada de Jeongguk, ou uma piada de Seokjin. Felizmente, o que o fez voltar para a realidade foi um sorriso de Yoongi, um muito mais sincero, um que mostrava alguns de seus dentes. Jimin não resistiu, pegou-se sorrindo também. A calma que invadiu seu peito ao saber que ele tinha feito aquilo, ele tinha causado o mínimo de felicidade em Yoongi – aquilo era muito, muito maior do que qualquer medo ou incerteza que sentia em relação aos seus sentimentos.

— Obrigado. — Yoongi murmurou, acenou com a cabeça, e recolheu a própria mão logo em seguida de maneira discreta. Antes que pudesse fazer uma careta com a falta de contato, Jimin percebeu que o advogado encarava Jeongguk, que tinha desviado a atenção de seu celular para ver o que acontecia na mesa. — Vamos pagar a conta depois que o Seokjin hyung voltar?

Jeongguk podia perder o foco com facilidade, mas ele não era completamente desatento. Assim que colocaram os pés do lado de fora do restaurante, o gerente apertou o passo para caminhar ao lado de Seokjin e deixar Yoongi e Jimin para trás, que caminhavam bem mais devagar, querendo levar o tempo deles para começar uma conversa, ou apenas para sussurrar agradecimentos como geralmente faziam. Jimin estava com as mãos enterradas nos bolsos de sua calça, mas, se pudesse, estaria brincando com os dedos de Yoongi, fazendo de tudo para passá-lo segurança de alguma forma. Um leve esbarrão com um ombro, um sorriso amigável. Ele fazia o que podia para deixar o advogado distraído na curta caminhada de volta ao escritório, apesar de achar que não era tão bom quanto Yoongi quando Jimin estava se sentindo mal.

Em algum momento, quando Seokjin e Jeongguk estavam muito mais à frente, Jimin parou de andar em frente à sorveteria, e Yoongi imediatamente sentiu seu movimento repentino. Com um sorriso no rosto, o engenheiro entrou no local sabendo que seria seguido, e fez os mesmos pedidos que eles sempre faziam quando visitavam. O silêncio entre eles não era exatamente bem-vindo, mas Jimin não diria que era insuportável. Ele sentia o olhar do advogado sob seu perfil vez ou outra, e sabia que Yoongi responderia qualquer pergunta que ele fizesse, bastava que tivesse cautela para iniciar o assunto.

— Dormiu bem essa noite? — Jimin perguntou, ignorando completamente o ambiente ao seu redor, ignorando a fila para pegar seus pedidos que diminuía aos poucos.

— Você já viu que não. — Yoongi respondeu, um leve deboche em sua voz. Ele encarava o menu acima do balcão com todos os sabores de sorvete, mas não lia nenhum dos nomes. — Eu demorei demais para dormir ontem. Minha cabeça estava cheia, e ainda está.

— É para isso que falar serve, para esvaziar a mente. — Jimin comentou, uma sobrancelha se arqueando instintivamente. Yoongi desviou a atenção para encará-lo, algo parecido com um sorriso divertido se formando em seus lábios. — Vamos lá, eu já paguei pelo seu sorvete. Acha que dá tempo de colocar para fora o que você está sentindo antes de chegar no escritório?

— Ontem fez oito anos. — Yoongi soltou em um murmúrio. Seu olhar, se antes era intenso, agora parecia ainda mais exausto. Um suspiro surgiu em seu peito, subindo, e depois de umedecer os lábios com a ponta da língua, desceu. Jimin ficou em silêncio, sabendo exatamente do que se tratava. — Que eu descobri, aliás.

Enquanto deixava as palavras nadarem em seus pensamentos, Jimin mal notou quando seus pedidos foram atendidos, e mal sentiu seus pés caminhando em direção à rua de novo. Yoongi comia em silêncio, murmurando satisfeito vez ou outra, mas Jimin sentia como se estivesse flutuando. A única coisa que o puxava para baixo era a mesma sensação de impotência e agonia de antes, mas dessa vez com um propósito. Jimin sentia-se mal ao ver Yoongi daquele jeito, principalmente agora que sabia o motivo. Ele não podia fazer nada para mudar o passado, mas queria poder, apenas para fazer o advogado parar de pensar naquilo mesmo depois de oito anos. Foi algo que marcou sua vida, e não de maneira positiva. Foi algo que deixou uma cicatriz enorme e feia, e não havia maneira de removê-la.

— Eu... meio que te entendo. — Jimin murmurou, cutucando seu sorvete sem intenção real de comê-lo agora que estava tão pensativo. Yoongi o encarou, uma certa curiosidade em seu olhar. — Eu lamento que você tenha passado por isso, e que isso te afete ainda hoje em dia.

— Acho que só me afeta porque eu fui ingênuo demais, e descobri de uma maneira traumática demais. — Yoongi fez uma careta, talvez se lembrando de um momento que preferia esquecer. Jimin também tinha uma imagem que vinha à cabeça quando pensava em maneiras traumáticas de descobrir certas coisas. — Hoje eu sei que não sou mais tão ingênuo, mas mesmo assim, acaba me atrapalhando quando eu sinto que posso dar certo com alguém.

— Vem uma insegurança, né? — Jimin perguntou, a voz suave demais para as ruas barulhentas. Mesmo assim, Yoongi o ouviu e concordou, uma risada fraca saindo de sua boca. — Um medo de acontecer de novo.

— Um medo de eu atrapalhar alguma coisa de novo. — Yoongi soltou um longo suspiro e mordeu o lábio inferior, impedindo-se de continuar falando. Jimin dividia sua atenção entre a calçada e o homem, sem querer perder um mínimo detalhe que fosse da expressão dele. — É mais fácil pular fora antes que dê errado.

— Ou então evitar isso para sempre. — Jimin murmurou mais para si mesmo do que para Yoongi, lembrando-se de Junghwa imediatamente. Ele não queria nada sério com a dançarina, e nunca ia querer. Era melhor evitar toda a dor de novo. A menos que... — A menos que surja alguém bom o suficiente para passar por cima disso tudo.

Jimin encarou o pote que carregava em mãos, vendo seu sorvete parcialmente derretido pelo calor de suas palmas. Ele não tinha mais coragem de encarar Yoongi. Não depois de perceber a reflexão em voz alta que havia feito, não depois de, mais uma vez, admitir em voz alta algo que nunca tinha esperado sentir e que agora era tão forte e presente em sua vida. E o pior de tudo era que havia feito aquilo justamente ao lado da pessoa que ele considerava boa o suficiente, que ele tentava tanto ignorar e tirar de seus pensamentos.

— É. — Yoongi respondeu, um sopro de voz. Se estivesse o encarando, Jimin veria um brilho diferente no olhar do advogado, uma leve felicidade mesclada a algo a mais. — A menos que surja alguém que me faça esquecer de tudo isso.

Jimin não sentiu paz durante o resto do dia. Seu coração se acelerava quando se lembrava da conversa que teve com Yoongi depois do almoço, e sua mente ficava muito distante da tela de seu computador, do que fazia no trabalho. Vez ou outra Jeongguk o chamava e o trazia de volta para a realidade, mas bastava que o nome de Yoongi aparecesse em seu celular para que ele se desconcentrasse de novo. Era uma mistura de pavor com calma, como sempre era quando se tratava de Yoongi. Mas agora o medo morava no fato de estar aceitando aos poucos o que sentia, e não no fato de sentir. Ainda o dava medo. Mas a pessoa que lhe causava medo, era também a que estava o deixando ainda mais feliz.

Desde que tinha voltado do exército, Jimin não tinha muita certeza das coisas que fazia. Ele só tinha um foco: melhorar. Sempre, todos os dias, e no tempo dele. Nem que melhorar significasse algo bobo como jogar fora a pequena foto de Eunju que ele costumava guardar em sua carteira, ou algo mais sério, como quando conseguiu seu carro de volta e decidiu que aquilo seria algo de seu passado que não o deixaria mal no presente. Enquanto pensava naquilo, ele não sabia se sua ideia era exatamente algo focado em sua melhora, mas ele tinha certeza de que era algo que o faria feliz, e se o faria feliz, por que não levá-la adiante?

— Eu sei exatamente como você pode se sentir melhor. — Jimin sussurrou quando já estava no metrô, Yoongi apoiando o rosto no próprio braço enquanto se segurava em um dos apoios de metal. Com aquela frase, o advogado abriu os olhos, que estavam fechados até então, e arqueou uma sobrancelha. — Grande Coração de graça. Não hoje, porque meus amigos queriam privacidade hoje, mas essa semana. O que você me diz?

— Eu não quero atrapalhar. — Yoongi respondeu com a voz igualmente baixa, um pequeno sorriso surgindo em seu rosto. Na mesma hora, Jimin sentiu seu cenho se franzindo em tristeza, porque Yoongi não parecia exatamente feliz mesmo que estivesse sorrindo. — Sério, você não precisa fazer isso. Eu lido com isso sozinho há oito anos, eu só fico com a lembrança chata do Cheolsoo por uns dias e depois passa. Não quero incomodar seus amigos.

— Você não incomoda, você não atrapalha. Em nada. — Jimin disse com a voz mais firme, e um pouco mais alta que o normal. Yoongi desviou o olhar e encarou as propagandas coladas nas paredes do vagão, evitando aquela conversa como podia. — Eu já te falei que eles adorariam recebê-lo. Se você não quiser conhecer os dois, tudo bem, eu não vou te forçar a nada. Mas, por favor, não me nega esse pedido só porque você acha que vai atrapalhar alguém.

Jimin sentia que tinha uma plateia o observando quando terminou de falar. Yoongi, que antes encarava as paredes, agora encarava os próprios pés enquanto pensava em algo para dizer, ou só absorvia o que tinha acabado de ouvir. Uma voz simpática anunciava que eles estavam chegando a uma próxima estação, ainda distante de onde eles saltavam, dando-os tempo o suficiente para estender aquela conversa. E mesmo com aqueles minutos a mais, Yoongi não demorou para levantar seu olhar, os olhos muito mais sérios do que antes, parecendo que estavam lendo a alma de Jimin letra por letra, sem pular uma vírgula. Ele não sorria quando abriu a boca para falar, nem deixava uma expressão possível de ser lida estampar seu rosto quando deu continuidade à conversa.

— Você ficaria feliz? — Yoongi perguntou em um sussurro, piscando devagar enquanto olhava Jimin da mesma posição de antes, com o rosto apoiado em seus braços que seguravam o poste acima de sua cabeça. — Se eu conhecesse seus amigos?

— Muito. — Jimin respondeu com honestidade, mas ainda se segurando para não começar um discurso inteiro sobre como aquilo era o que ele mais queria. Por uma fração de segundo, enquanto observava o rosto de Yoongi com atenção, ele olhou para os lábios do advogado e sentiu a mesma vontade avassaladora de beijá-lo que já havia sentido antes. Respirou fundo, assentiu com a cabeça, e continuou. — Vocês são tão importantes para mim, eu não sei medir o quão feliz eu ficaria de saber que todos se conhecem.

— Então tudo bem. — Yoongi concordou, abriu um de seus poucos sorrisos sinceros do dia. Jimin se viu na obrigação de imitá-lo, sorrindo até mais largo do que o advogado. — Marque o jantar e me avise quando vai ser. Preciso me preparar para o grande evento da semana.

Todas as preocupações sobre Junghwa saíram da cabeça de Jimin assim como água escorre pelo ralo. Fluído, naturalmente, e o deixando muito mais leve agora que não tinha nada pesando em sua mente. Saber que ele tinha feito Yoongi sorrir, saber que Yoongi ia conhecer seus melhores amigos – aquilo seria capaz de deixá-lo alegre por um mês inteiro. Como uma criança animada, Jimin mal podia esperar pelo momento em que se sentaria com Namjoon e Hoseok e contaria sobre Yoongi, aquele mesmo advogado gentil e quieto, e sobre como ele gostava muito do Grande Coração. O discurso já estava pronto na ponta de sua língua, e Jimin conhecia a hospitalidade de seus amigos – eles nunca negariam uma visita, ainda mais de alguém que Jimin considerava tão importante.

No dia seguinte, Jimin caminhava pelas ruas em direção ao palácio Jung-Kim com os braços cruzados, fazendo de tudo para se manter aquecido mesmo contra o vento frio que corria entre os carros e árvores do bairro. O outono rapidamente se transformava em inverno, as noites ficavam cada vez mais geladas, e Jimin xingava com cada vez mais vigor ao pensar em que os longos meses de frio estavam chegando mais rápido do que ele esperava. Não demoraria para completar um ano desde que havia saído do exército, lembrando-o de tudo que aconteceu no bendito dia em que colocou os pés dentro de casa de novo. Mas também não demoraria para ser primavera de novo, a estação quando sua vida recomeçou, e quando ele conheceu pessoas que, mesmo sem saber, ajudavam-no diariamente a voltar a ser o que era antes de cumprir seu serviço militar.

— Entre, Milorde Park. A casa é toda sua.

O suspiro aliviado que saiu da boca de Jimin assim que ele entrou no apartamento de seus amigos fez Namjoon concordar com a cabeça, dizendo que a cidade estava ficando cada dia mais fria. Enquanto tirava o único casaco fino que ele havia levado de casa, Jimin olhou ao seu redor na expectativa de ver Taehyung, já que o próprio Hoseok tinha dito que ele provavelmente jantaria com os outros naquela noite. O professor ainda não estava ali, e também não tinha mandado uma mensagem para Jimin perguntando se ele já estava a caminho, então o engenheiro só pôde chegar à conclusão de que ele e o casal tinham levado um bolo. Pela milésima vez desde que as aulas na faculdade começaram.

— Nem adianta olhar debaixo da mesa, ele realmente não vem. — Hoseok comentou com a voz saindo em um sopro, caminhando da cozinha até a sala com os potes de comida quente em mãos. Era como se o dançarino tivesse lido a mente de Jimin, e, a julgar pela sua expressão, ele parecia bem decepcionado. — Disse que ocorreu um imprevisto. Daqui a pouco, quando o Taehyung aparecer para jantar com a gente de novo em dia de semana eu vou é achar estranho.

Namjoon, que arrumava a mesa, levantou o olhar para Jimin, que o encarava de volta com as sobrancelhas arqueadas assim como o amigo fazia. Ambos tinham percebido a irritação na fala de Hoseok, mas acharam melhor não complementar com nada para não alimentar aquele sentimento do dançarino. Aquilo iria passar. Se Taehyung estava tão ocupado, bastava que conversassem com o professor quando o período acabasse, pedindo para que ele diminuísse sua carga horária e se lembrasse que ainda tinha uma vida fora do trabalho. Comunicação era a chave universal para qualquer tipo de relação. Não seria diferente no grupo de amigos, bastava que eles esperassem o momento certo para falar.

Apesar do início de noite um pouco tenso, a conversa surgia fácil entre os três. Jimin sentia que suas palavras saíam com mais facilidade, e percebia como sorrisos nasciam com muito mais frequência em seu rosto. Se não estivesse tão imerso no momento, vivendo-o sem pensar em mais nada, teria sido capaz de chorar de emoção ao perceber que não havia se forçado a agir daquela maneira. Veio naturalmente, como ele costumava ser antes de ir para o exército. Algo bem no fundo o dizia que aquilo era só o começo, ainda havia muito mais a ser tocado para que Jimin pudesse melhorar de verdade, mas ainda era alguma coisa. Um passo para frente era melhor do que ficar parado em um único lugar. Um pequeno sinal de que estava se recuperando era melhor do que nada.

— Vocês lembram daquele meu amigo, Min Yoongi? — Jimin iniciou o assunto após um curto silêncio se instalar na mesa, vendo ali sua oportunidade de fazer o pedido que estava o deixando animado desde a noite anterior. — Que eu fiz recentemente no trabalho?

— O advogado, amigo do seu chefe? — Hoseok perguntou de cenho franzido, tentando se lembrar de alguma conversa que havia acontecido há um tempo. Jimin assentiu, o rosto se iluminando por completo apenas ao ver que o amigo se lembrava daquele detalhe. — O que tem ele? Vocês não se falam mais?

— Não, pelo contrário. — Jimin soltou uma risada um pouco alta demais, lembrando-se de tudo que andava sentindo há algumas semanas. Hoseok arqueou uma sobrancelha sem entender a piada, mas esperou para que ele continuasse a falar. — Eu comentei com ele que o Namjoon hyung trabalha no Grande Coração, e você acredita que é o restaurante favorito dele?

— Jura? — Namjoon arregalou os olhos, abriu um sorriso com a notícia. — Por que você não o convida para vir jantar aqui? Você sabe como sobra comida, sem contar que seria legal conhecer um dos seus novos amigos.

— Eu ia perguntar para vocês se eu podia chamá-lo. — Jimin deixou seu sorriso se alargar um pouco mais, sentindo como seu coração começava a bater mais forte apenas com a possibilidade daquele jantar acontecer. — Amanhã, pode ser?

— Pode ser quantas vezes ele quiser, nós adoramos receber visitas. — Hoseok olhou para o esposo por breves segundos, e, quando percebeu que estava sendo observado, Namjoon concordou com a cabeça com o que havia sido dito. — Sério, se quiser trazê-lo todo dia, fica à vontade. A menos que ele seja chato, aí eu vou ter que te pedir para dar uma maneirada nas visitas.

— Ele é a melhor pessoa que eu conheci nos últimos anos, sério. — Jimin disse com honestidade, mas omitiu todas as outras coisas que havia dito para Junghwa na última sexta-feira, todos aqueles elogios que mostravam que ele sentia algo a mais. — Vocês vão adorá-lo. Só peguem leve porque ele é um pouco tímido de primeira, mas eu garanto que ele pode ser bem falante quando está confortável.

Jimin se despediu de seus amigos naquela noite sem nem se preocupar com o frio que ia enfrentar assim que colocasse os pés do lado de fora do prédio. O calor em seu peito seria capaz de aquecer cada centímetro de seu corpo, sem deixar um mísero fio de cabelo escapar, e, se estivesse completamente sozinho na rua, ele teria sido capaz de ir cantando no caminho todo até sua casa. Jimin podia estar até exagerando em sua felicidade, mas depois de passar tanto tempo exagerando em sua tristeza, ele não queria pensar em se controlar daquela forma. Seus melhores amigos tinham concordado em receber Yoongi, a pessoa de maior impacto em sua vida no momento, e ele queria se permitir ser feliz mesmo que fosse apenas até o momento em que se deitaria em sua cama para dormir.

Park Jimin [21:09]: amanhã você tem jantar marcado no Grande Coração versão caseira, melhor se arrumar para impressionar os convidados.

Yoongi [21:10]: então me diz o que você gosta para eu te impressionar amanhã.

A respiração de Jimin parou por um segundo enquanto ele empurrava o portão para entrar no prédio onde morava. Suas bochechas esquentaram de maneira preocupante com a mensagem de Yoongi, e as batidas de seu coração com certeza estavam irregulares depois de ler aquilo. Tinha tanto tempo que ele não sentia nenhum daqueles sintomas que ele quase havia se esquecido de como era bom o calor perigoso que estava passeando por todo seu corpo por inúmeros motivos diferentes.

Park Jimin [21:13]: você vai todo de preto, eu vou de bege.

Jimin mordia o lábio inferior quando enviou a mensagem, já dentro de casa, livrando-se de suas roupas aos poucos ao mesmo tempo em que ligava o aquecedor de seu quarto para dormir melhor. A mensagem foi lida bem rápido, e não demorou muito para aparecer que Yoongi já estava digitando uma resposta.

Yoongi [21:13]: perfeito.

Yoongi [21:14]: obrigado pelo convite, aliás. Não é todo dia que se tem a oportunidade de comer no Grande Coração versão caseira com companhia tão boa.

Na manhã seguinte, Jimin sentia seus passos muito mais leves e seu corpo muito mais descansado enquanto caminhava em direção à academia vendo o dia clarear. Seokjin já estava lá quando ele chegou, cumprimentando-o sem muito entusiasmo e de olhos ainda inchados. Com o passar dos minutos, ambos iam acordando e começando suas conversas hilárias logo cedo, sem se importar em talvez estar incomodando as poucas pessoas que se atreviam a se exercitar no mesmo horário que eles. Os assuntos iam e vinham, as risadas às vezes ecoavam junto com a música eletrônica pelo ambiente espaçoso, e Jimin se sentia bem. De verdade. Ele podia não estar mais da mesma maneira quando fosse se deitar à noite, mas o que importava era que, por enquanto, ele estava bem.

O dia pareceu andar devagar, quase parando, e não importava o quanto Jimin se apressasse para cumprir suas tarefas, a impressão que ele tinha era de que o relógio continuava parado em seu lugar. Até mesmo Jeongguk estava se espreguiçando mais em sua cadeira, e, ao lado de Jimin, seu colega fazia muito mais pausas do que o normal enquanto bocejava de maneira dramática. Seu horário de ir embora não chegava nunca, e a contagem regressiva que ele fazia com Yoongi através de mensagens só deixava tudo ainda mais lento. Era tortura. Ele só queria ir para a casa de seus amigos de uma vez por todas e ter o jantar que sonhava em fazer acontecer havia tanto tempo.

— Você ia ficar surpreso se soubesse quantos ex-funcionários processam a empresa pelo menor dos motivos. — Yoongi falou ao telefone, o eco de sua voz no banheiro do outro lado da linha dando a impressão de que ele estava falando muito mais alto do que de fato estava. Jimin sorriu e girou em seu lugar, virando-se em direção aos espelhos para ajeitar seu cabelo enquanto ouvia o advogado falar. — Eu e Seokjin hyung ficamos competindo para ver quem lê os casos mais absurdos.

— Aposto que é muito mais interessante do que ficar o dia inteiro implorando para os clientes da empresa pagarem o que devem. — Jimin rolou os olhos se lembrando do e-mail patético que recebeu de volta naquele mesmo dia, uma desculpa esfarrapada que ele precisou encaminhar para Jeongguk resolver. — Você está reclamando de barriga cheia, hyung.

— Por falar em barriga cheia, nosso expediente acaba daqui a quinze minutos. — Yoongi comentou, fazendo Jimin checar seu relógio de pulso para confirmar o que ele havia dito, um sorriso se formando em seu rosto de novo. — Animado?

— Claro, mas eu acho que vou voltar para a mesa e ver se o Jeongguk joga mais alguma coisa na minha cabeça de última hora antes de eu sair. — Jimin soltou um suspiro e se olhou no espelho mais uma vez, ajeitando o colarinho de sua camisa bege enquanto começava um caminho lento até a porta do banheiro do andar. — Me avisa se alguma coisa te prender aí?

— Se eu não avisar nada, já sabe que é para esperar eu aparecer na porta do financeiro. — Yoongi devolveu em um tom sereno, quase como se estivesse sorrindo também. Jimin sentiu seu coração bater mais rápido em seu peito, e quase voltou atrás para lavar seu rosto numa tentativa de fazer aquela sensação parar. — Até daqui a pouco, senhor Park Jimin.

— Até, senhor Min Yoongi.

Quando faltava alguns poucos segundos para finalmente poder ir embora, Jimin viu Jeongguk se aproximando de sua mesa com um envelope em mãos, mas, quando estava próximo o suficiente, o gerente deu a volta e dirigiu sua palavra ao homem que sentava ao lado de Jimin, pedindo apenas quinze minutos a mais de seu tempo para fazer um favor. Quando estava voltando para sua mesa, Jeongguk olhou discretamente para Jimin e deu uma rápida piscadela, mostrando que sabia como ele estava ansioso para ir embora de uma vez por todas. Ele teria que agradecer a Yoongi depois por ter fofocado sobre o jantar deles, porque não estava nem um pouco a fim de fazer hora extra naquela quarta-feira.

O vagão do metrô estava silencioso quando Yoongi e Jimin entraram, lado a lado, mas logo o ambiente foi tomado por seus sussurros e risadas baixas, uma continuação para o assunto que conversavam sobre ao telefone quando estavam perto de serem liberados. Algumas pessoas desviavam seus olhares para os dois por breves segundos, querendo saber do que se tratava o leve barulho no vagão, mas ninguém dizia nada, nem pedia por silêncio. Em algum momento, Yoongi se desculpou e disse que precisava conversar com seu irmão rapidamente por mensagens, e Jimin aproveitou a oportunidade para pegar seu próprio celular e fazer uma ligação para seu melhor amigo.

— Boa noite, eu falo com o professor de artes cênicas mais requisitado de Seul? — Jimin perguntou, um divertimento novo enlaçado às suas palavras, e que, felizmente, fez a pessoa do outro lado da linha rir fraco. — Kim Taehyung?

— Alguém está animado hoje. — Taehyung respondeu com a voz baixa. Ao fundo, não era possível ouvir muita coisa, o que significava que ele não estava dando aula no momento. — A que devo a honra de sua ligação?

— Queria saber se você vai jantar na casa do Hoseokie hyung hoje. — Jimin perguntou, dessa vez em um tom de voz mais baixo, como se não quisesse que Yoongi prestasse atenção no que ele dizia. O advogado parecia bem concentrado em seu celular, e não demonstrou que estava interessado no assunto de Jimin. — Ontem você desistiu de última hora, então eu achei melhor perguntar.

— Ah... Não vai dar, Jiminie. — Taehyung perguntou, sua voz soando decepcionada até demais, quase como se ele estivesse forçando para sair naquele tom. O engenheiro franziu o cenho, esperando ele continuar a falar. — Estou ajudando os alunos com os ensaios finais de uma peça, está tudo muito corrido por aqui. Devo sair bem tarde.

— Nesse caso, tudo bem. — Jimin murmurou sem querer deixar uma decepção real transparecer em sua voz, mas acreditava que tinha falhado, porque agora Yoongi tinha levantado seu olhar para encará-lo. — Boa sorte com a peça. Me convida para assistir se não for um daqueles eventos fechados, ok?

— Pode deixar. — Taehyung respondeu com uma voz suave, quase inaudível, e limpou sua garganta logo em seguida. — Eu tenho que ir. O intervalo está terminando, e eu quero acabar logo com isso para ir para casa o mais cedo possível. Bom jantar, Jimin.

A notícia de que Taehyung não iria ao jantar abalou um pouco o humor positivo de Jimin. Mesmo se ele dissesse que seria um evento relativamente importante, não adiantaria de nada, porque Taehyung tinha um compromisso com seus alunos e um simples jantar não poderia tirá-lo de seu trabalho assim. Mas é claro que Jimin queria vê-lo, é claro que ele queria que seu melhor amigo conhecesse Min Yoongi. Se as opiniões de Namjoon e Hoseok eram importantes, a de Taehyung era mais ainda. Foi ele que disse que se sentia de maneira positiva em relação à Eunju – e ele não esteve errado durante os dez anos que o casal ficou junto, ele só não teve como prever o final –, e agora, Jimin precisava saber o que ele pensava de Yoongi. Por dois segundos, enquanto deixava sua decepção falar mais alto do que qualquer outra coisa, ele se esqueceu de tentar se convencer de que estava vendo todo aquele encontro de um ponto de vista "amistoso", é claro.

Enquanto caminhava pelas ruas do bairro, ainda pensativo e silencioso, Jimin se perguntava se ele tinha feito algo de errado para magoar Taehyung e afastá-lo daquela maneira. Ele sabia que o amigo gostava de seu emprego, mostrou seu apoio quando ficou sabendo a quantidade de turmas que ele estava lecionando naquele ano, mas não deixava de achar que tinha alguma coisa acontecendo. Taehyung não era de se imergir no trabalho assim, muito menos de usar de seu tempo livre para focar em seu emprego. Jimin também se lembrava de como tudo ficava mais corrido e mais estressante com o passar do semestre, mas não conseguia achar normal o tempo que ele já estava sem ver seu amigo, não quando Taehyung sempre fazia de tudo para vê-lo e para jantar com eles pelo menos uma vez por semana. Aquela preocupação estava começando a consumir um bom espaço em sua mente já atormentada. Só queria resolver aquilo de uma vez por todas antes que virasse algo sério demais.

— E aí, acha que vou impressionar todos os presentes para o jantar de gala no Grande Coração caseiro?

Yoongi, talvez notando a maneira como Jimin tinha perdido um pouco de seu brilho depois da ligação que fez no metrô, tentou puxar um assunto sobre a noite para que ele voltasse a sorrir para tudo e todos. Enquanto estavam parados esperando um sinal fechar, Jimin ouviu a voz grave vindo da sua direita, e não pensou duas vezes antes de olhar para o lado para ver a expressão do advogado enquanto ele falava. O sorriso divertido no rosto, a sobrancelha arqueada, uma mão cuidadosamente colocada dentro do bolso de sua calça; a pose debochada e incrivelmente atraente estava perfeita. Jimin se viu obrigado a rir, olhando para Yoongi de cima à baixo sem medo de ser julgado, até porque, tecnicamente, ele tinha sido convidado a fazer o que normalmente faria de maneira discreta.

— Olha, os outros presentes eu não sei... — Jimin arqueou uma sobrancelha e fez um bico com os lábios enquanto avaliava a roupa de Yoongi. Seus olhos travaram na região do pescoço do advogado, onde um colar prateado de corrente fina dava o toque perfeito à roupa toda preta. Jimin esticou a mão e tocou o pequeno pingente na ponta do colar, subindo seu dedo lentamente pelo colarinho da camisa até que a boca de Yoongi estivesse em seu campo de visão. Ele rezava para que estivesse encarando os lábios perfeitamente desenhados de maneira discreta, mas também não ligava muito se não estivesse. — Mas você certamente me impressionou, senhor Min Yoongi.

As pessoas ao redor deles começaram a caminhar com pressa assim que o sinal fechou para os carros. Jimin sentia seu coração batendo rápido em seu peito por conta do que tinha acabado de fazer, mas não se deu tempo para ver a reação de Yoongi, preferindo continuar seu caminho em silêncio, seguindo a multidão até que as ruas ficassem mais estreitas e ele se aproximasse de seu destino. Conversas bobas surgiam entre eles enquanto andavam lado a lado, ignorando o que tinha acabado de acontecer e sentindo seus braços se tocarem vez ou outra, quase como se tivessem a necessidade de ficar perto. Jimin não sabia como se sentir em relação a aquilo depois do que tinha feito e dito. Jimin não tinha ideia do que Yoongi acharia dele depois de tudo.

A animação entrelaçou os dedos com o nervosismo quando Jimin parou em frente à porta de seus amigos, tocando a campainha e pensando em mil maneiras como aquela noite poderia dar errado. Yoongi, parado ao seu lado, parecia estar mais ocupado em observar a decoração ao seu redor, e não aparentava estar tão nervoso quanto Jimin. Alguns segundos constrangedores se passaram enquanto eles esperavam ser atendidos, mas, assim que a porta se abriu e revelou um Hoseok com um largo sorriso no rosto, Jimin soube que não havia a menor chance de o jantar dar errado.

— Jimin contou que você gosta bastante do Grande Coração. — Hoseok comentou depois de todas as apresentações formais serem feitas. Ao contrário de como geralmente acontecia durante a semana, ele estava colocando toda a comida em travessas que ele raramente usava, e Namjoon estava na mesa tentando se lembrar de qual lado o guardanapo deveria ficar. — Eu teria te convidado para vir jantar muito antes se ele já tivesse contado isso para nós.

— Ele não sabe há muito tempo. — Yoongi balançou a cabeça de um lado para o outro, sacudiu uma mão em um pedido discreto para que Hoseok não se importasse com aquilo. — E eu também não queria atrapalhar. Jimin sempre fala que esses jantares com vocês são quase um jantar de família.

— E como em toda família, nós sempre recebemos todos de braços abertos. — Hoseok piscou com um olho, abrindo um sorriso simpático enquanto carregava a comida para a sala. Yoongi olhou rapidamente para Jimin, perguntando sem palavras o que deveria fazer, e sentiu as mãos delicadas do engenheiro na parte de trás de suas costas o empurrando para ele seguir Hoseok. — A comida do restaurante é realmente deliciosa, e Namjoonie sempre traz bastante para casa. Você não atrapalha em nada, Yoongi-ssi.

O assunto na mesa surgia fácil mesmo sem as frases prontas de Seokjin para que eles nunca ficassem em silêncio. Ali, naquele ambiente, quem tinha aquele papel era Hoseok, que sempre aproveitava qualquer oportunidade para falar sobre o estúdio onde trabalhava e sua carreira como dançarino. Yoongi parecia entretido com cada palavra que saía de sua boca, e até comentou que tentou aprender a dançar na época em que ainda pensava em música como uma carreira, o que desencadeou uma conversa longa e animada entre ele e Namjoon. Ambos tiveram o sonho de trabalhar com produção quando eram adolescentes, mas acabaram desistindo e seguindo outras carreiras que os agradavam. Jimin assistia a tudo com o rosto apoiado em sua mão, encantado com a maneira que Yoongi falava de sua adolescência e sua rebeldia na época, feliz em descobrir um novo lado do advogado. As risadas não paravam entre os quatro, e Jimin acreditava que não vivia um momento feliz como aquele tinha muito tempo.

— Jiminie sempre foi o cérebro da nossa amizade. — Hoseok apontou em direção ao amigo, comentando sobre a época em que se conheceram na faculdade, pouco mais de dez anos antes. — Era ele que me ajudava a estudar para as provas, mesmo quando eu já tinha dito um milhão de vezes que estava pensando em desistir. O garoto era um gênio.

— Eu nem imagino o que leva uma pessoa a escolher engenharia química como carreira, sinceramente. — Yoongi fez uma careta e balançou a cabeça de um lado para o outro, mas abriu um sorriso quando sentiu o soco leve de Jimin em seu braço, uma reclamação silenciosa. — Só de me lembrar daquelas moléculas que eu via no ensino médio me bate um arrepio horrível.

— Eu vou ter que concordar com ele, e olha que no meu curso teve muita matemática. — Namjoon completou com um aceno de cabeça, e Jimin, fingindo frustração, voltou a comer em silêncio enquanto seus amigos julgavam sua escolha de carreira. — Mas eu também vou ter que defender o Jiminie. Você fez direito. Eu nem imagino o quanto de leitura você teve que fazer durante a faculdade.

— Durante a faculdade e até hoje. — Yoongi soltou um suspiro e olhou para Jimin, uma de suas sobrancelhas arqueadas enquanto um sorriso divertido crescia em seu rosto. — Mas eu prefiro mil vezes ler até trocar as palavras do que ver uma estrutura molecular na minha frente.

— Que drama, senhor Min Yoongi. — Jimin rolou os olhos com o que tinha acabado de ouvir, mas soltou uma risada com gosto quando sentiu uma cotovelada fraca do advogado em suas costelas. — Vocês não sabem o que estão perdendo. Química é legal, ok? Podem falar o que quiserem, mas é legal.

Jimin soube que a noite estava chegando ao fim quando sentiu seus olhos pesarem de sono depois de tomar uma taça de vinho. Ao seu lado, Yoongi estava mais confortável do que antes e tinha apoiado um de seus braços por trás da cadeira onde Jimin estava sentado, prestando atenção em uma história que Namjoon contava. A gota de álcool em seu sangue dava a Jimin a desculpa de pensar em como ele se sentia atraído pelo advogado, desde a maneira como estava sentado, até a maneira como seu rosto estava concentrado em Namjoon, concordando vez ou outra e ajeitando sua postura em busca do seu conforto. Quase que por instinto, Jimin esticou sua mão esquerda em direção à nuca de Yoongi, brincando com o cabelo na região enquanto seu braço direito, apoiada na mesa, segurava seu próprio rosto para ele ter uma visão melhor do mais velho.

O assunto entre eles acabou em uma nota cansada. Hoseok, que se manteve em silêncio durante longos minutos, foi o primeiro a se levantar depois que Jimin disse que talvez já fosse hora de ir para casa. As despedidas foram feitas sem o mesmo entusiasmo dos cumprimentos, mas ainda havia uma certa empolgação ali, a certeza de que a noite havia sido boa o suficiente para ser repetida. Enquanto Namjoon e Yoongi trocavam mais algumas palavras perto da porta, Hoseok cutucou Jimin nas costelas, e pediu, com um tom um tanto quanto severo, para que ele trouxesse Yoongi mais vezes. E aquilo era tudo que ele precisava ouvir de seu amigo. A aprovação que ele tanto queria estava naquelas palavras, mas Jimin não deixou sua felicidade transparecer – apenas concordou e prometeu que faria o que estivesse ao seu alcance para repetir a noite.

Então, no dia seguinte, o convite para repetir o jantar veio. E Yoongi aceitou de imediato, sem que Jimin precisasse fazer muito esforço para convencê-lo. As risadas na mesa surgiram com ainda mais facilidade, Yoongi estava ainda mais falante, e as histórias de vida de cada um serviam de risadas que seriam capazes de incomodar os vizinhos. Jimin precisou secar algumas lágrimas que saíram de seus olhos em algum momento, principalmente quando as histórias envolviam alguma memória do passado que ele se lembrava de viver. Ele se sentia leve, feliz. E aquele sentimento durou pela semana seguinte também, quando Yoongi foi convidado para o jantar durante três dias seguidos, quase atingindo um ponto onde ele nem precisava mais ser convidado, porque se Jimin ia, o advogado certamente iria junto dele.

A única coisa que incomodou Jimin foi que Taehyung não conseguiu aparecer em nenhum daqueles dias. Ele não mencionava sobre como todos aqueles jantares eram importantes porque não queria fazer o amigo se sentir culpado por não poder ir por conta do trabalho, mas sua frustração crescia aos poucos, e ele não queria atingir um ponto onde acabaria a descontando da maneira errada. Então, na sexta-feira daquela semana, quando o casal disse que teria um encontro e Yoongi resmungou sobre a festa de aniversário de um parente que ele precisava ir, Jimin insistiu para sair com Taehyung. Ele não perguntou se o professor estava ocupado, ou se tinha disponibilidade. Jimin só disse que tinha a garrafa de vinho favorita de Taehyung em seu apartamento, e fazia questão da presença de seu melhor amigo naquela noite.

— Ouvi dizer que a KBS vai lançar um drama novo hoje.

Antes de abrir a porta de seu apartamento quando ouviu a campainha tocar, Jimin hesitou por alguns segundos, temendo que o clima entre ele e Taehyung estaria pesado levando em consideração a insistência do engenheiro para vê-lo. Mas ele foi surpreendido por um sorriso familiar e sobrancelhas arqueadas, mostrando a animação do amigo por estar ali. Jimin sorriu também e o puxou para um abraço rápido, pedindo para Taehyung falar mais sobre o tal drama e o motivo para ele ser bom o suficiente para ser a atração principal da noite deles.

— Um dos personagens principais do drama é interpretado por um cara insuportável que fez faculdade comigo. — Taehyung disse em um tom neutro enquanto tirava seu casaco e caminhava em direção ao sofá, jogando-se na superfície como se estivesse em casa. Jimin ia em direção à cozinha para pegar o vinho deles, mas continuava prestando atenção na história. — Arrogante para caralho. Inventou um monte de fofoca sobre mim depois que eu dei um fora nele numa festa do curso.

Aquele babaca? — Jimin gritou da cozinha, pegando duas taças com uma mão e segurando a garrafa com outra. Taehyung concordava com a cabeça quando ele voltou para a sala, passando entre canais até chegar ao que ele queria. — Você dizia que ele nem era tão bom assim. Como ele conseguiu chegar aí?

— Da mesma maneira que ele conseguia avaliação máxima nas peças de fim de período. — Taehyung deu de ombros e largou o controle remoto de lado quando parou no canal que queria. Ele olhou para Jimin, que tinha colocado tudo em cima da mesa de centro e logo em seguida se jogou ao lado dele, soltando um suspiro cansado. — Dando para quem pode garantir o sucesso dele. Tem queijo aí?

— Na geladeira. Vai lá pegar, eu me esqueci. — Jimin se espreguiçou a sentiu o sofá se afundando quando Taehyung se levantou, murmurando uma música qualquer enquanto ia para a cozinha. — Então a minha missão é falar mal desse cara quando ele aparecer? Eu nem me lembro de como é a cara dele.

— Se ele ainda atuar tão mal quanto naquela época, você nem vai precisar se esforçar para falar mal dele, sério. — Taehyung respondeu quando já estava de volta na sala, comendo alguns pedaços de queijo que ele já havia cortado. Com a tábua em cima da mesa, ele voltou a se sentar no sofá de pernas cruzadas e se concentrou na televisão. — E você nem vai precisar se esforçar para procurá-lo porque ele vai fazer um papel de um cara exatamente igual a ele: arrogante e riquinho. Nada muito difícil.

Vinte minutos depois, quando o episódio já havia começado e parte do enredo já tinha sido apresentado, eles dois logo perceberam que a história não possuía nada de especial que a diferenciasse de qualquer outra coisa que já tinham visto dezenas de vezes na televisão. A pior parte é que, no meio de um monte de coisas que eles já haviam visto um milhão de vezes, os autores do drama ainda resolveram colocar um romance tão clichê que nem mesmo a pessoa mais romântica do mundo aguentaria ver. O antigo colega de Taehyung ainda não tinha aparecido, Jimin já tinha perdido a conta de quantas vezes bocejou, e ainda não havia passado nem o primeiro comercial.

— Acho que seria melhor se a gente tivesse visto aquele filme da centopeia humana. — Taehyung resmungou quando o primeiro intervalo finalmente começou, e, na mesma hora, Jimin se espreguiçou de tal maneira que ouviu uma porção de ossos seus se estalando. — Eu não aguento esses romances cafonas. Não é possível que o público ainda engula essas coisas.

— Sempre tem alguém para engolir. — Jimin disse em meio a um bocejo, e o grunhido de Taehyung mostrava que ele tinha entendido sua frase. O silêncio entre eles durou alguns segundos extensos demais, mas, pelo menos, deu a Jimin a oportunidade de pensar em algo, iniciar um assunto de maneira vaga que poderia ajudá-lo com suas dúvidas. Ele engoliu em seco, contou até três, e voltou a falar. — Eu vejo essas coisas e fico me perguntando se é exagero da mídia ou se é assim mesmo que as coisas acontecem, sabe? Se apaixonar. Eu nem me lembro mais de como é.

— Para mim faz o que, três anos? Acho que já me esqueci também. — Taehyung fez uma careta, provavelmente se lembrando do último namorado que teve. Jimin se lembrava de como eles eram apaixonados um pelo outro, mas, quando tentaram namorar, perceberam que não davam certo juntos. — Mas quando acontece, dá para saber. Porque é uma coisa que toma muito espaço na nossa cabeça.

— Quando você se apaixonou pela primeira vez, você sabia o que estava sentindo? — Jimin perguntou com a voz baixa. Por alguns segundos, Taehyung ficou parado encarando a televisão, e a única coisa que mostrou que ele tinha ouvido a pergunta foi a maneira como ele franziu o cenho. — A gente está tão acostumado a ver um cara se apaixonando por uma garota e vice-versa, na mídia, em livros, em tudo que é lugar...

— Eu acho que sabia. — Taehyung respondeu com a voz fraca. Ele olhou para Jimin rapidamente, assentiu com a cabeça, e voltou a olhar para a televisão. — Eu lembro que naquela época, uma menina tinha se declarado para mim e eu passava os intervalos da escola com ela, achando que eu estava me apaixonando. Achando que demorava mesmo, que era só dar tempo ao tempo.

— Mas não é bem assim, né? — Jimin acrescentou no mesmo tom. Ele tirou os olhos de Taehyung e encarou a televisão, vendo que o drama já tinha voltado a apresentar, mas nenhum deles prestava atenção na história. Jimin especificamente pensava em um sorriso que aquecia em seu peito, pensava em lábios bem desenhados, pensava em um braço ao seu redor, pensava em uma única pessoa. — Parece que é meio do nada. Um dia você está bem, no outro, parece que um caminhão passou por cima de você. Tem aquele estalo, aquela coisa, uma energia inexplicável que toma conta de tudo.

— É assim mesmo. — Taehyung riu baixo e concordou com a cabeça. Logo em seguida, ele mordeu o interior de sua bochecha e encarou o chão, o olhar perdido e distante dali, assim como Jimin estava. — Foi assim mesmo, aliás. E é assim todas as vezes. Acho que foi por isso que eu sabia da primeira vez. Era intenso demais, e não importava o quanto eu negasse, o sentimento estava lá. Firme e forte.

Jimin prendeu a respiração. Lembrou-se de todas as vezes que seu corpo parecia ser feito de pura energia quando ele tocava Yoongi por acidente, e pensou em como ele se sentia aquecido da cabeça aos pés só de ouvir a voz do advogado. Era como Taehyung tinha dito: quando acontecia, dava para saber. Porque toma conta de tudo, ocupa um espaço enorme na vida da pessoa. Não tem para onde correr, não adianta negar, porque a partir do momento que se considera a opção de estar gostando tanto de alguém – é porque não dá para voltar atrás. Jimin soltou sua respiração aos poucos, percebendo o peso de tudo que se passava por sua cabeça naquele momento. Apaixonar-se era intenso, assustador, mas Jimin reconhecia que ele já não tinha mais a opção de tentar fingir que nada daquilo estava acontecendo.

— Essas coisas acontecem com quem a gente menos espera, não é? — Jimin riu fraco e olhou para o lado, encarando o perfil do amigo. De repente, ele percebeu como Taehyung parecia estar exausto, e como o cabelo dele havia crescido desde a última vez em que se viram. Parecia que o assunto havia acentuado ainda mais aqueles traços em seu rosto normalmente alegre. — Incrível, para não dizer trágico.

— Quando a gente menos espera, e mesmo quando a gente não quer. — Taehyung negou com a cabeça, encarando um ponto fixo no chão de Jimin. O engenheiro começava a se preocupar com o amigo, mas ele parecia estar refletindo sobre alguma coisa, então preferiu deixá-lo em paz. — Quando a gente não pode. Não adianta nem fazer uma lista de mil e um motivos para se esquecer, porque o sentimento vai continuar lá.

— Falando assim parece até que se apaixonar é um mal terrível. — Jimin tentou descontrair o ambiente, vendo um pequeno sorriso se formar no rosto de Taehyung no mesmo segundo. Ele riu fraco e olhou na direção de Jimin, e, apesar de aparentar estar mais animado, ainda havia algo em seu rosto escondido por trás do sorriso que ele mostrava. — Tem que ter alguma coisa boa.

— Quando você está com a pessoa. — Taehyung respondeu, simples, e deu de ombros. Jimin prendeu a respiração de novo, pensando em como ele se aliviava quando estava com Yoongi, apesar de toda a dúvida que passava por sua mente quando ele estava longe. — Com ela, tudo na vida parece ser melhor. Essa é a parte boa, eu acho.

Eles passaram algum tempo se encarando, como se quisessem fazer perguntas, como se quisessem dizer alguma coisa. Mas Jimin estava no meio do processo de aceitar tudo que estava sentindo, e Taehyung parecia estar indo muito mais a fundo no assunto dentro de sua cabeça. Não era o momento. Á noite, quando estivessem deitados, eles se lembrariam apenas de seus lados da conversa, esquecendo-se por completo das expressões do outro porque estavam ocupados demais tentando lidar com o que eles próprios sentiam.

Taehyung se espreguiçou e soltou em meio a um bocejo que já era hora de ir para casa, depois de eles terminarem de ver um filme quando o drama acabou. Jimin concordou, começou a recolher as taças e o que sobrou do queijo e do vinho, e se despediu de seu amigo de forma rasa, fazendo um pedido calmo para que ele aparecesse mais vezes para noites como aquela. O apartamento caiu em completo silêncio quando a porta da frente bateu, mas Jimin não sentiu uma agonia terrível em seu peito ao pensar em tudo que tinha ouvido naquela noite.

Era fácil perceber quando estava se apaixonando. E, segundo Taehyung, mesmo que fosse por um homem, dava para saber quando acontecia.

Então, abandonando um pouco o medo que andava sentindo nas últimas semanas, Jimin murmurou a mesma coisa diversas vezes enquanto se arrumava para dormir, até que a frase parasse de soar surreal para seus ouvidos e começasse a soar como algo perfeitamente normal.

— Eu gosto do Yoongi.

Seu reflexo no espelho mostrava um rosto sério, um pouco mais saudável e com olheiras menos evidentes em comparação a como ele estava no início da primavera, pouco depois do inverno acabar. Aquele era Park Jimin, engenheiro, olhando-se e absorvendo cada detalhe de seu rosto enquanto ele admitia em voz alta algo que andava sentindo havia semanas, meses. Sem sentir medo, sem querer retirar suas palavras, sem querer voltar atrás. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios, suas sobrancelhas se arquearam, e, mais uma vez, ele repetiu a frase em um tom de voz um pouco mais alto, finalmente aceitando o que sentia.

— Eu gosto de Min Yoongi.

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