De Volta à Primavera • yoonmin

By zettaiwa

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Depois de cumprir o serviço militar obrigatório de dois anos e voltar para casa para descobrir da pior maneir... More

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By zettaiwa


Jimin acordou na manhã do seu aniversário extremamente confuso.

Agora, se estava confuso por causa de outro sonho romântico com Yoongi, ou por causa do barulho ensurdecedor de cornetas e dos gritos de seus amigos cantando "parabéns" para ele, Jimin não saberia dizer ao certo.

Depois de completar vinte e cinco anos, seu aniversário deixou de ser uma data tão especial. Se seus amigos não o desejassem parabéns no dia treze de outubro, Jimin deixaria o dia passar como outro qualquer, esquecendo-se completamente que viver mais um ano era algo para se comemorar. Com o exército, aquilo só piorou. Mas naquele ano, vendo o bolo de chocolate com morangos em cima, e vendo Taehyung cantar com a voz que ele sempre usava quando participava de um musical, Jimin sentiu-se feliz de ter a companhia das três pessoas mais importantes para ele o incomodando em um domingo de manhã.

Seu dia especial não foi assim tão especial. Jimin almoçou com seus amigos, passou no mercado para comprar algumas bebidas para os quatro, e atendeu às ligações de seus pais e respondeu a mensagens de outros familiares o parabenizando pela data. Ele não mentiria e diria que se sentia da mesma forma de sempre, até porque Jimin não se permitiu pensar em coisas ruins ou em memórias que podiam deixá-lo mal em questão de segundos. Jimin diria que estava feliz. Tinha seus melhores amigos por perto, memórias (boas) de épocas diferentes de sua vida, e não precisava de absolutamente mais nada.

Yoongi [16:53]: feliz aniversário para o meu engenheiro favorito

Mas talvez ele precisasse daquilo também. Talvez ele precisasse de borboletas indesejadas batendo as asas em seu estômago naquele dia.

Park Jimin [16:58]: obrigado, advogado favorito

Ao mesmo tempo em que todas aquelas sensações eram novas e assustadoras, tudo era muito familiar para Jimin. As reações exageradas de seu corpo com coisas tão simples, os sorrisos bobos que cresciam em seu rosto com frequência, a curiosidade de seus amigos em saber o que estava o deixando daquele jeito. Até sua mãe havia dito que sua voz soava mais animada enquanto ele falava ao telefone com ela. Por um instante, Jimin até se esqueceu que estava completando trinta e um anos de vida. Com todas aquelas sensações o incomodando, era como se ele tivesse voltado a ser adolescente e estivesse se apaixonando pela primeira vez.

Apaixo– Jimin parou, arregalou os olhos. Bloqueou a tela do celular e o jogou para o lado, sem se importar onde cairia ou se quebraria. Taehyung pareceu notar seu leve pânico e o entregou um copo de soju em um pedido mudo para que se divertisse e deixasse suas preocupações de lado por um instante. Jimin assentiu, sorriu fraco e pegou o copo, fingindo que sua mente não havia se desligado por completo poucos segundos atrás. Aquilo era um novo problema, algo com que ele nunca havia lidado antes, e nem estava aprendendo a lidar aos poucos. A palavra o assustava. A pessoa em quem ele pensava quando a palavra surgia em seus pensamentos o assustava mais ainda.

O maior problema era que não fazia sentido algum. Jimin nunca havia se sentido atraído por outro homem, nunca tinha sentido seu coração bater daquela forma, nunca havia recebido nenhum sinal da vida de que aquilo poderia se tornar realidade. Ele via aquilo acontecendo diante de seus olhos o tempo todo, há tantos anos que ele já havia perdido a conta, mas nunca se imaginou no lugar de nenhum de seus amigos. Nunca pensou que poderia ser ele no lugar de Taehyung, quinze anos antes, contando sobre seu primeiro beijo com um garoto do terceiro ano no banheiro da escola. Nunca imaginou que poderia ser ele no lugar de Hoseok, no primeiro semestre da faculdade, que apareceu em um dia de aula mancando depois de uma noite intensa.

Nunca imaginou que poderia ser ele no lugar de Jeongguk, seu chefe, temendo ser julgado por um de seus funcionários porque um amigo revelou por acidente sua orientação sexual em uma mesa de bar.

Simplesmente não entrava na cabeça de Jimin. Não fazia sentido.

Talvez fosse carência, Jimin pensou, já deitado em sua cama à noite depois de se despedir de seus amigos e agradecer mais uma vez pela comemoração de seu aniversário. Talvez fosse carência porque Yoongi era afetuoso com suas palavras e nos mínimos detalhes, apesar de não manter muito contato físico. Yoongi era uma pessoa que se tornou importante muito rápido, e talvez Jimin estivesse confundindo tudo. Claro que ele ia se sentir feliz com as mensagens, ligações e atenção do advogado. Todas as reações de seu corpo não passavam de felicidade. Felicidade, e apenas isso.

Jimin poderia arranjar uma justificativa para querer beijá-lo outro dia. Por enquanto, ficaria satisfeito com as desculpas que tinha inventado até agora.

Na segunda-feira, Jimin foi surpreendido por alguns desejos de "feliz aniversário" atrasados. Jeongguk garantiu que ele não pagaria por seu almoço naquele dia, e que os outros três presentes no restaurante seriam perfeitamente capazes de pagar pelo engenheiro. O clima na mesa era leve, a voz de Seokjin preenchia qualquer silêncio que se formava por mais de cinco segundos. Jimin, assim como no dia anterior, sentia-se feliz cercado de pessoas que o faziam rir tanto e andavam o fazendo tão bem. Ainda era estranho pensar em como havia feito novas amizades em um momento de sua vida que ele não esperava nada além de dias ruins, mas lá estava ele, secando algumas lágrimas depois de rir tanto.

A única coisa que o incomodou o tempo todo foi a vontade, a urgência de olhar para Yoongi, de estar perto dele. Jimin deu seu máximo para lutar contra aquilo, mas, em dados momentos, ele sentia como se algo muito maior o forçasse a fazer exatamente aquilo que ele, no fundo, queria. E Jimin não conseguia entender, não conseguia achar uma explicação para a felicidade que ele sentia ao ver o advogado respondendo às piadas de Seokjin com outras piores ainda, ou debochando de maneira divertida do que o amigo dizia. Seu medo e confusão não passavam, tudo se tornava cada vez mais assustador. Ele não entendia porque estava sentindo aquelas borboletas em seu estômago. Não queria senti-las.

— Park Jimin.

Enquanto arrumava suas coisas para ir embora, Jimin ouviu uma voz grave familiar chamar seu nome, e quase como uma reação pronta para aquela pessoa, os pelos de seu corpo se arrepiaram no mesmo segundo. Ele engoliu em seco e olhou para cima, as sobrancelhas erguidas em surpresa. Yoongi estava parado na porta de vidro, um leve sorriso em seu rosto, e assim que percebeu que tinha a atenção do ex-soldado, apontou em direção aos elevadores com a cabeça. Um convite tão simples, tão corriqueiro, e Jimin já sentia seu estômago dando mil e uma cambalhotas ao pensar que passaria os próximos minutos ao lado de Yoongi.

Se não conhecesse tão bem aqueles sintomas, seria fácil de concluir que estava surtando ao invés de estar gostando de uma pessoa.

Toda a força que usou durante o almoço para não olhar e se manter afastado de Yoongi foi embora a partir do momento em que pisaram dentro do elevador juntos. O advogado o cutucava com o cotovelo, perguntava como havia sido seu dia e como havia sido seu aniversário. E Jimin ficava feliz em contá-lo tudo com detalhes desnecessários, apenas porque gostava de ver como Yoongi prestava atenção em cada palavra que dizia, e como sempre demonstrava que estava ouvindo. Principalmente, Jimin gostava de sentir vez ou outra o ombro do advogado esbarrando no seu, ou de ouvir a voz dele tão próxima de seu rosto. Era frustrante. Quanto mais tentava se convencer de que não tinha nada acontecendo, mais seu corpo o fazia reagir aos mínimos detalhes e toques, e ele notava que, na verdade, havia muita coisa acontecendo há um tempo.

— Então é com esses amigos que você sai quando não volta para casa comigo? — Yoongi perguntou, sua voz saindo em um sussurro. Jimin abriu um pequeno sorriso e assentiu, sem tirar a atenção do rosto de Yoongi por um segundo. — Queria eu ter comida pronta todos os dias. Fazer jantar às vezes é um saco.

— Nem fala. — Jimin fez uma leve careta, lembrando-se de quando ainda era casado. Nem ele nem Eunju eram excelentes cozinheiros, então, sempre que podiam, acabavam pedindo comida em restaurantes. — Namjoon hyung começou a trabalhar no Grande Coração quando eu ainda estava no exército, mas ele deu graças aos céus quando eu voltei porque sobrava até da sobra que ele trazia para casa.

— Seu amigo trabalha no Grande Coração? O restaurante Grande Coração? — Yoongi perguntou, seus olhos se arregalando de repente. Confuso, Jimin assentiu, e a boca do advogado se abriu em surpresa. — Eu vou lá todo ano no meu aniversário. Eu amo esse restaurante! Isso é sério?

— Claro que é sério. — Jimin afirmou, abrindo um sorriso mais largo do que antes. Ele deveria estar rindo da maneira que os olhos de Yoongi começaram a brilhar com a descoberta, mas a verdade era que estava achando adorável. — Eu aposto que Namjoon e Hoseok hyung adorariam recebê-lo. Já pensou em comer a comida do seu restaurante favorito de graça?

— Você não precisa fazer isso. — Yoongi se apressou em negar, mas Jimin se aproximou um pouco mais dele com um bico nos lábios. — É sério! Eu não vou me enfiar na casa dos seus amigos só para comer de graça. É até meio mal-educado.

— Mas eu falei a verdade quando disse que eles adorariam te receber lá. — Jimin arqueou uma sobrancelha, levantou sua mão livre para colocá-la no ombro de Yoongi sem motivo algum. Maldita seja sua vontade de estar próximo a todo instante. — Sem contar que... acho que seria legal se você os conhecesse. Se eu tivesse planejado meu aniversário, teria feito isso acontecer.

— Hmmm... — Yoongi estreitou os olhos, parecendo considerar a proposta de Jimin. O engenheiro o encarava, piscando os olhos sem parar como se tentasse fazer charme para fazê-lo aceitar, e o advogado acabou rindo poucos segundos depois. — Fala com eles antes. Eu topo, se eles toparem.

Voltando para casa, e também nos dias seguintes, Jimin pensou em sua própria urgência e animação para convidar Yoongi para jantar com seus amigos. Sim, ele já tinha pensado na possibilidade antes, e sim, não tinha vontade de fazer apenas o advogado conhecer seus amigos mais antigos, mas havia um diferencial com ele. Yoongi havia se tornado tão importante em tão pouco tempo, era mais do que justo que as pessoas que eram quase como seus pais postiços o conhecessem. E no fundo, bem lá no fundo, em uma parte que Jimin queria ignorar com todas as suas forças ao mesmo tempo em que queria entendê-la, ele sentia como se quisesse que Taehyung, Namjoon e Hoseok aprovassem Yoongi. Aprovar em quê? Jimin preferia nem pensar nisso.

Quanto mais Jimin tentava se convencer de que nada daquilo estava acontecendo, mais seus pensamentos martelavam com o que parecia ser a verdade incontestável, lembrando-o de todas as vezes que eles ficaram perto, lembrando-o, principalmente, da vez em que sentiu vontade de beijar Yoongi. Ele virava de um lado para o outro na cama, controlava a própria respiração, mas toda vez que achava que estava perto de pegar no sono, imagens inventadas apareciam em sua mente e o despertavam. Jimin imaginava os dois deitados, abraçados, trocando carinhos e palavras sussurradas. Jimin imaginava como seria acordar em uma manhã ensolarada e abraçar Yoongi por trás, trilhando beijos de seus ombros até suas bochechas.

Em noites mais difíceis, quando a confusão o perturbava e não o dava chance para refletir, Jimin segurava os próprios fios de cabelo com força e olhava para o teto de seu quarto, perguntando-se o que tinha de errado com ele. Ele se perguntava se tudo que tinha vivido até então não passava de uma mentira, ou não passava de uma negação de algo que esteve tão claro o tempo todo. Jimin via aquelas coisas acontecendo o tempo todo, via homens se apaixonando por homens, via homens saindo com homens, então como nunca havia passado por sua cabeça que ele também poderia fazer aquilo? Que poderia ser como seus amigos? E como aquilo não tinha acontecido até então? Algo estava errado, algo não fazia sentido. Jimin só queria descobrir logo o que era para se livrar daquela sensação ruim, daquelas imaginações que tanto o atormentavam.

Jimin decidiu guardar um segredo a sete chaves. Não contaria a ninguém, e se por um acaso fosse questionado, mentiria e inventaria qualquer coisa para não ser obrigado a contar a verdade. Sentindo-se arrependido antes mesmo de fazer qualquer coisa, Jimin buscou por um estímulo para seus "olhos" na internet, qualquer detalhe de uma curva feminina que despertaria um desejo escondido dentro dele. Jimin se tocou de maneira íntima, rezou para que ele ainda sentisse alguma coisa, mas jogou o celular para o lado em poucos minutos, frustrado com sua própria idiotice. Ele nunca havia sido assim. Seu medo e confusão estavam o fazendo ir atrás de coisas que nunca tinha procurado antes, querendo se livrar a todo custo daqueles sentimentos.

Jimin sempre se contentou com o real. Com pessoas e sensações de verdade, com as curvas femininas diante de seus olhos.

— Junghwa?

Talvez por obra do destino, Jimin encontrou o que ele precisava em um corredor de mercado, olhando para as prateleiras sem saber o que levar. A dançarina, confusa em ouvir seu nome por uma voz pouco conhecida, olhou para os lados em busca de quem havia a chamado. Jimin engolia em seco, lembrando-se de duas noites antes quando tentou se tocar à força pensando em mulheres, fazendo de tudo para se afastar do que estava sentindo, dos sonhos que andava tendo. O saco de arroz em sua mão parecia pesar mil toneladas, e nos poucos segundos que ela demorou a enxergá-lo ali, Jimin torceu para que o chão se abrisse debaixo de seus pés e o levasse para uma dimensão diferente.

— Jimin oppa! — Junghwa sorriu assim que percebeu quem havia a chamado, e o ex-soldado se forçou a abrir um sorriso de volta. Ela se aproximou, deixando seu carrinho de lado, e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Quanto tempo! Como você está?

Junghwa era uma das pessoas mais charmosas que ele já havia conhecido em sua vida. Talvez não fizesse de propósito, mas cada palavra que saía dos lábios finos da dançarina parecia um flerte, um feitiço para atrair com quem quer que estivesse falando. E, por mais que toda a confusão estivesse perturbando Jimin havia dias, ele se viu encantado pela mulher, rindo fraco quando ela comentava sobre a loucura de trabalhar em uma academia de dança. A conversa, mesmo que supérflua e servindo apenas para manter a educação, surgia fácil entre os dois assim como havia sido durante o jantar, alguns meses antes. Jimin estava confuso, e a vida havia o dado uma oportunidade de esclarecer algumas de suas dúvidas, então ele não pensou muito antes de agarrar essa oportunidade.

— Nós podíamos marcar de sair para jantar de novo. — Jimin comentou depois de uma curta pausa, mexendo sua mão que ainda segurava o saco de arroz para descontrair. Junghwa o observava, atenta, mas ele não se deixaria vacilar com o olhar intenso da mulher. — Sem compromisso, só uma distração.

— Tudo bem. — Junghwa concordou depois de alguns segundos de silêncio, passando os dedos pelo cabelo para afastar os fios que caíam em seu rosto. Jimin sorriu, satisfeito com a resposta. — Espero que seja tão divertido quanto da última vez. Nós combinamos detalhes por mensagem, pode ser?

Jimin sentia-se inquieto quando chegou em casa, mas de um jeito ruim. Não era a mesma inquietação que sentia quando estava ao lado de Yoongi ou quando tinha acabado de vê-lo, não. Ele sentia como se estivesse fazendo algo errado. Como se estivesse indo contra a própria vontade, apesar de estar levemente animado com a ideia de sair com Junghwa de novo. Jimin sentia como se estivesse decepcionando alguém – apesar de achar que alguém se tratava dele próprio –, como se tivesse pegado um caminho errado quando era claro qual era o caminho certo. Era estranho. Deixava-o com um peso incômodo no peito, e o fazia olhar para seu teto enquanto pensava em tudo que estava acontecendo nos últimos dias.

Ele só precisava de uma confirmação, era o que estava pensando enquanto dirigia pelas ruas de Seul no sábado, fazendo o caminho em direção ao apartamento de Hoseok e Namjoon como se fosse algo natural. Quando ouvia o barulho da seta de seu carro, quando virava em uma esquina, ou quando ouvia as notas das músicas que tocavam na rádio, Jimin tentava pensar em uma desculpa para o jantar que agora estava marcado com Junghwa. Só precisava de uma confirmação. Uma certeza. Precisava respirar em um ambiente familiar depois de passar tantos dias em um lugar desconhecido. Novamente, não queria se apaixonar perdidamente por Junghwa; Jimin só queria confirmar. Só isso.

— Junghwa me contou que vocês vão sair de novo. — Hoseok comentou quando estavam todos à mesa. Ao seu lado, Jimin sentiu como Taehyung tinha congelado seus movimentos, atento ao assunto. — O que aconteceu com "uma noite legal, e só isso"?

— Eu encontrei a Junghwa no mercado esses dias. — Jimin murmurou, sentindo-se envergonhado agora que pensava na situação. Ele tinha deixado a entender que o primeiro encontro havia sido apenas para sexo casual, e a mentalidade do engenheiro não havia mudado desde então. — E... foi bom da primeira vez. Não tem mal em querer uma segunda.

— É que do jeito que você falou... não parecia que você ia querer uma segunda vez. — Hoseok comentou e deu de ombros, mas Jimin sentiu que havia um questionamento em sua fala, como se ele quisesse saber mais do que estava ouvindo. — E você nunca foi muito de sair com alguém mais de uma vez só para sexo casual. Eu ainda me lembro da época da faculdade, quando você estava solteiro. Ou era só uma vez, ou era para namorar.

— Você quer namorar a Junghwa? — Namjoon perguntou, arqueando uma sobrancelha levemente. Jimin fez uma careta e balançou a cabeça de um lado para o outro, ocupando-se em colocar comida em seu prato. — Foi só uma pergunta. Eu concordo com o Hoseok, você não costuma fazer isso.

— Da última vez que fez, começou a namorar a Eunju. — Taehyung murmurou o nome da ex-esposa de Jimin, quase como se fosse uma palavra proibida. O ex-soldado o encarou com a expressão séria, mas o professor estava com o cenho levemente franzido. — E você está dizendo que não quer namorar essa garota...

Jimin continuou encarando Taehyung. O olhar sério de seu amigo, as sobrancelhas quase se unindo no centro de sua testa – era como se ele estivesse lendo a situação, lendo Jimin. Taehyung sentia que algo não estava sendo bem explicado naquela história toda. E, de fato, não estava, porque Jimin não sabia se teria coragem de contar para seus amigos tudo que estava passando por sua cabeça. Não enquanto ainda não havia conseguido sua confirmação com Junghwa, não quando ainda podia achar respostas por conta própria. Taehyung não desviou sua atenção nem por um segundo, quase como se estivesse desafiando Jimin a falar alguma coisa, dar alguma explicação melhor. Mas o engenheiro não disse nada, apenas limpou a garganta e voltou a olhar para a própria comida.

— Eu claramente não sou mais o Jimin de dez anos atrás. — Jimin murmurou, evitando olhar para todos os seus amigos. Ele os conhecia bem o suficiente para saber que Hoseok e Namjoon trocavam um olhar desconfiado, e Taehyung ainda o encarava tentando desvendá-lo. — Sim, eu chamei a Junghwa para sair de novo, e não, eu não quero um relacionamento com ela. Acontece.

O problema, Jimin havia chegado à conclusão, estava em seu subconsciente. Durante a semana, enquanto trocava algumas mensagens rasas com Junghwa sobre o encontro de sexta-feira à noite, ele se esforçava para manter seus pensamentos presos a aquilo. Ao que viria, ao que era certo, pensamentos presos a algo concreto. Mas não importava seu esforço, não importava os momentos em que ele estava tão exausto ao ponto de puxar as mechas de seu cabelo, sua mente sempre o levava de volta a Yoongi. Ao que o advogado pensaria do que estava fazendo, ao que o advogado diria se soubesse de tudo que estava passando por sua cabeça. Jimin só queria alguns segundos de paz. Jimin queria poder chutar tudo para debaixo do tapete para nunca mais pensar em nada daquilo, mas a presença de Yoongi era constante, e, não importava o quanto se esforçasse, nada adiantava para fazer suas dúvidas se acalmarem.

Se Jimin tentava pensar em como seria ter Junghwa em seus braços novamente, sua mente confusa o dava a imagem de Yoongi rindo de alguma piada que ouviu na mesa de almoço. Se Jimin se esforçava para se tocar à noite pensando em sua primeira vez com Junghwa, sua mente perversa o dava a imagem de quando Yoongi aparecia mais arrumado no escritório, em dias de audiência, usando ternos que caíam bem em seus ombros, deixando-o ainda mais bonito que o normal. Se Jimin se esforçava para fazer algo que não o agradava, lembrando-se dos dias em que flertava com Eunju em festas da faculdade, dos dias em que a levava para sair, sua mente o mostrava como, em dados momentos, ele agia exatamente da mesma maneira com Yoongi, sempre querendo se manter perto, sentindo-se muito mais feliz ao lado dele.

Era sufocante. Mesmo fugindo do advogado, mesmo quando se esforçava tanto para se manter longe, algo trazia Jimin para perto. A risada de Yoongi, o jeito que ele se expressava, suas histórias que ficavam cada vez mais hilárias. Suas opiniões políticas, a maneira como não tolerava intolerância, suas experiências de vida, tudo era encantador. E toda vez que ele abria a boca para pronunciar uma sílaba que fosse, Jimin sentia vontade de chorar porque não aguentava mais aquela sensação. Jimin não queria namorar. Queria ainda menos namorar um homem, então por que sua mente estava fazendo aquilo com ele? Por que seu coração insistia em coisas que só o deixavam mais e mais confuso?

À noite, chorava. Misturava seus sentimentos por Yoongi à dor da traição e do que sua vida havia se tornado. Jimin nunca havia sido daquela maneira. Nunca achou que se tornaria o que era hoje. Um homem divorciado, lembrando-se da pessoa que um dia amou com um toque amargo. Um homem confuso, questionando sua própria sexualidade aos trinta e um anos, quando nunca havia nem cogitado a possibilidade de se apaixonar por alguém do mesmo gênero. Um homem perdido, que nem mesmo exercia mais a profissão que tanto gostava. Às vezes, Jimin só queria um tempo para respirar e encontrar soluções para todos os seus problemas. Às vezes, ele só queria um carinho que o ajudaria a pensar sem sentir tanta dor, sem se sentir tão confuso e vulnerável.

— O diretor do financeiro apareceu lá no andar hoje para reclamar sobre atraso em alguns pagamentos. — Jeongguk comentou enquanto esfregava as pálpebras dos olhos, tentando aliviar o cansaço que sentia de alguma forma. Jimin concordava com o que ele dizia, lembrando-se da fúria do senhor Hwang, fazendo uma careta por culpa da memória. — O homem está surtado. E é capaz de um cara lá ser demitido, porque ele foi o responsável pelos atrasos...

— Então as coisas no financeiro não estão muito melhores do que no judiciário. — Seokjin comentou, estalando os dedos das mãos. Yoongi concordou com uma careta, parecido com a ação de Jimin poucos segundos antes, mas não disse nada. — Sério, está uma loucura. Tem uma ex-funcionária processando a empresa por ter sido demitida por justa causa e o caso caiu na minha cabeça. Dá vontade de arrancar todo o meu cabelo, um por um, com uma pinça.

— A solução para isso é beber até a gente esquecer de tudo que está acontecendo nessa empresa maldita. E hoje é sexta, o dia perfeito para isso. — Yoongi bateu com a palma da mão na mesa, e Jimin acompanhou o movimento. Ao olhar para cima de novo, ele reparou em como o advogado o encarava com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso simpático no rosto. — O que me diz?

— Eu adoraria, mas não posso. — Jimin se apressou em negar. Então, Yoongi fez um bico com os lábios, e por algum motivo que o engenheiro preferia ignorar em sua mente confusa, ele resolveu acrescentar à informação, apesar de não ser necessário. — Eu tenho um encontro hoje à noite.

— Um encontro? — Yoongi perguntou, sua expressão se tornando confusa em um piscar de olhos. Jimin concordou em silêncio, querendo colocar um sorriso em seu rosto, mas ele estava atento demais à reação do advogado para pensar em qualquer outra coisa. Yoongi assentiu, desviou o olhar e puxou o cardápio para se distrair de algo. Jimin queria saber o que era. — Você vai fazer falta hoje — ele completou com a voz soando indiferente —, mas espero que se divirta.

A mente de Jimin ficou distante durante o resto do dia. Ele fazia o que Jeongguk mandava, terminava seus afazeres e às vezes até se aventurava em pedir por mais. Em um momento, quando seu expediente estava perto de acabar e todos ao seu redor já afrouxavam suas gravatas, Jimin decidiu fazer uma visita ao banheiro. Caminhou lentamente de um lado para o outro, fez uma pausa para esvaziar sua bexiga. Olhou-se no espelho por longos segundos, afastando os fios de cabelo que já cobriam seus olhos, e soltou um suspiro que soava cansado demais para seu gosto. Ele estava parcialmente animado com o encontro ainda de manhã, o que havia acontecido desde então para deixá-lo tão tenso?

Sua mente tentou lhe dar uma resposta. Jimin a ignorou, jogando água gelada em seu rosto diversas vezes antes de secá-lo e voltar para sua mesa determinado a arrumar suas coisas e ir embora.

— Você sabe que pode me contar qualquer coisa que esteja passando por sua cabeça, não sabe?

Enquanto escolhia o que vestir, depois de tomar um banho demorado e receber uma mensagem de Junghwa dizendo que tinha acabado de chegar em casa, Jimin resolveu ligar para Taehyung. Sua mente estava inquieta demais, deixando seu corpo inquieto também, e se ele queria ter uma noite no mínimo agradável, teria que se esforçar para se manter distante de qualquer preocupação repentina. Taehyung era a pessoa perfeita para distrai-lo. Hoseok poderia começar a fazer perguntas demais sobre o encontro que aconteceria em menos de duas horas, e Jimin não precisava daquilo naquele momento. O que ele precisava era a voz grave e acolhedora de seu melhor amigo de infância falando sobre tudo e nada, distraindo-o como ninguém era capaz de fazer.

Mas uma frase trouxe de volta toda a inquietação que estava sentindo desde a hora do almoço. Jimin lembrou-se da dúvida que o assolava há alguns dias, das incertezas e da confusão. De repente, a conversa amigável com Taehyung fez sua garganta fechar, e fez seu coração começar a bater rápido. Jimin não costumava esconder coisas de Taehyung. Nunca precisou. Mas, com aquela dúvida em específico, estava apavorado demais para sequer mencioná-la para a pessoa em quem mais confiava.

— Claro que sei. — Jimin murmurou, torcendo para que o amigo o ouvisse do outro lado. Seu telefone estava apoiado dentro do armário enquanto ele encarava suas camisas penduradas em cabides, decidindo qual vestir. Taehyung continuava em silêncio, apesar de Jimin conseguir ouvir sua respiração pesada no viva-voz. — Você também pode contar qualquer coisa para mim.

— Não devolve a frase assim. — Taehyung disse de imediato, seu tom quase severo. Por dois segundos, Jimin sentiu como se o amigo pudesse ler sua mente e estivesse o intimando a contar sobre seus questionamentos recentes. — Eu falei do coração. Você realmente não costuma procurar a mesma pessoa mais de uma vez para sexo casual a menos que haja um interesse.

— Eu já falei que não quero namorar a–

— Não necessariamente um interesse romântico, Jimin. — Taehyung interrompeu a frase, e, novamente, o ex-soldado se sentiu nu. Como se o amigo pudesse ver tudo que o atormentava, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo. — Só um interesse... por trás da sua vontade. Certo, ela pode ser linda, legal, ou qualquer coisa que você diga. Mas você está saindo com ela de novo só por isso?

— Eu mudei depois que voltei do exército, e acho que nós dois sabemos disso. — Jimin tentou explicar de maneira que não mentisse, mas também não estava contando a verdade completa. Sentia-se mal fazendo aquilo logo com Taehyung, mas também não se sentia confortável falando sobre tudo que passava por sua cabeça há dias, semanas. Pelo menos não ainda. — Eu mereço sair com alguém legal mais de uma vez sem um interesse por trás da minha vontade, ou sei lá o que você acha que está acontecendo. Nada precisa ser igual a dez anos atrás.

— Então você volta do exército determinado a ter uma amizade colorida, de dormir com a mesma pessoa mais de uma vez sem compromisso?

— E você, termina o doutorado e de repente pega todas as turmas possíveis para lecionar quando sempre insistiu em ter um tempo para você mesmo, que trabalho não era tudo?

Jimin sentiu sua respiração saindo mais rápido ao fim de sua frase. Ele notou como o tom de Taehyung ficou mais agressivo, como seu próprio tom havia ficado agressivo. A linha caiu em um silêncio pesado assim que ambos terminaram de falar. De cenho franzido, Jimin encarava o próprio celular, via os segundos passando na tela enquanto o nome de Taehyung o encarava de volta. Um suspiro pesado ecoou do telefone, e o engenheiro soube que a discussão estava encerrada.

— Eu só me preocupo com você. — Taehyung disse em um tom de voz baixo. Ao fundo, foi possível ouvir passos pesados pelo chão. Jimin prendeu o ar em seus pulmões e esperou o amigo terminar de falar. — Só achei seu comportamento fora do comum e quis perguntar se estava tudo bem.

— Certo. — Jimin assentiu em seu lugar, apesar de Taehyung não conseguir vê-lo. A dúvida do amigo o irritou, a desconfiança fez seu sangue ferver. À esquerda, em seu guarda-roupa, o engenheiro enxergou a camisa bege que aprendeu a gostar tanto por diversos motivos. — Você trabalhando muito mais que o normal também me preocupa. Então, se quiser me contar alguma coisa, eu estarei disposto a ouvir. Assim como eu sei que posso contar com você.

Depois da briga discreta, e depois de fazerem as pazes ainda mais discretamente, Jimin decidiu que talvez ficar falando ao telefone com Taehyung não fosse ajudar em absolutamente nada. Seria ele sozinho, seus nervos à flor da pele, e a camisa bege que ele segurava com força pelo colarinho. Jimin se lembrava bem da última vez que havia vestido aquela peça, e sabia ainda melhor que ele próprio havia colocado um significado especial em um objeto tão mundano, então, se naquele momento estava se sentindo mal por querer usá-la, a culpa era inteiramente sua. Ele se sentou na cama, passou as pontas dos dedos pelo tecido, lembrou-se das noites e dias em que conversou com Yoongi sobre tantas coisas, e quase desistiu de usar a camisa.

Mas a lembrança da voz quase severa de Taehyung dizendo algo sobre interesse, insinuando segundas intenções no que Jimin estava fazendo, fizeram-no segurar o colarinho com ainda mais força, levando seus dedos apressados até os botões para desfazê-los. Por que ele precisava ter um interesse a mais para querer sair com Junghwa? Será que era assim tão fácil de ler seus sentimentos, mesmo ele fazendo de tudo para escondê-los? Será que era tão difícil assim acreditar que ele poderia ter interesse puramente sexual em uma mulher? Jimin estava frustrado. Parecia que quanto mais tentava se livrar de tudo que estava o atormentando há dias, mais o mundo o provava de que ele não conseguiria escapar de nada.

A camisa ainda era a mesma. Talvez não tivesse mais o cheiro de novo vindo diretamente da loja, e talvez já tivesse um pequeno sinal de uso nos buracos dos botões mais largos. Mas ainda era a mesma coisa, o mesmo modelo e corte que Yoongi elogiou em mais de uma ocasião, a mesma roupa que Jimin aprendeu a gostar tanto unicamente porque alguém especial também gostava. Mas, parado em frente ao seu espelho, ajeitando as mangas e o colarinho diversas vezes, Jimin se sentia diferente. Não era a mesma coisa, não era a mesma sensação. Sua mente lhe deu a ideia de traição, como se aquilo fizesse algum sentido em outro lugar que não fosse seus pensamentos conturbados, e Jimin fez uma careta.

Mas não tirou a camisa. Isso ele não fez.

Decidido a continuar usando a camisa, Jimin procurou também por um par de calças confortável, vestindo-a com pressa apesar de não estar nem perto de se atrasar para se encontrar com Junghwa. Sua pele coçava de maneira irritante, como se estivesse querendo que ele tirasse cada peça de roupa que estava usando, mas Jimin ignorava a sensação para dar razão à sua teimosia. Era uma batalha que ele travava sozinho. Era uma briga de um lado só, e ele parecia um louco no meio de seu quarto andando de um lado para o outro, encarando fixamente as calças desabotoadas e as mangas da camisa bege.

Ainda deixando a teimosia e imaturidade guiarem suas ações, Jimin puxou seu celular de cima da sua cômoda e abriu o aplicativo de fotos. Não se importou com ângulo, nem luz, nem com a cara que estava fazendo, nem com o fato de seu cabelo ainda estar um pouco bagunçado. Ele só queria tirar uma foto que mostrava o que estava usando, e assim que conseguiu o que queria, não pensou duas vezes antes de abrir suas mensagens com Yoongi e enviar a imagem com velocidade em seus dedos. Um palavrão sussurrado saiu de sua boca assim que a mensagem foi enviada. E lida muito, muito rápido. Jimin segurou o aparelho com força em sua mão que começava a suar, e observou atentamente enquanto Yoongi digitava algo que com certeza o faria se arrepender do que havia feito.

Yoongi [19:01]: você fica muito bem com essa camisa

E, em seguida, veio uma foto de Min Yoongi fazendo um bico com os lábios, apoiando o rosto em uma mão. A iluminação era terrível, e Jimin se lembrou imediatamente que ele estava em um bar com Jeongguk e Seokjin. Mas a única coisa que importava era que Jimin se acalmou no mesmo instante, e um sorriso bobo nasceu em seu rosto.

Park Jimin [19:02]: divirta-se

Yoongi [19:02]: você também

A calma de Jimin não durou muito, é claro. Ele tentou pensar na foto que Yoongi o enviou enquanto dirigia em direção ao apartamento de Junghwa, mas não funcionou; tentou se agarrar ao fato de que estava usando sua camisa favorita, mas também não funcionou. De repente, todas as suas decisões tomadas até então pareciam absurdas. Ele queria voltar atrás naquele encontro, queria pensar sozinho em casa ao invés de tentar tirar uma prova de algo com alguém que nem deveria estar envolvido em suas confusões. Junghwa não merecia aquilo. Junghwa merecia uma pessoa que realmente estava interessada em sair com ela, e não alguém como Jimin, que só a chamou para sair em um impulso, para tentar provar algo para si mesmo.

Mas agora ele estava ali, saindo de seu carro com um sorriso falso no rosto para abrir a porta para Junghwa, aceitando o beijo doce e rápido dela apenas por educação. Ele não sentia eletricidade correndo por seu corpo em nenhum toque. Não sentia seus lábios se puxando em um sorriso natural, nem sentia faíscas toda vez que seus dedos se esbarravam. Junghwa merecia mais do que aquilo. Jimin merecia mais do que aquilo. Mas, naquele momento, ele não queria eletricidade. Só queria atração. Só queria uma confirmação física de que ele não tinha mudado por completo e virado outra pessoa extremamente diferente depois que voltou do exército.

— Você está bonito. — Junghwa comentou, uma sobrancelha arqueada enquanto a mulher olhava Jimin de cima à baixo quando já estavam dentro do carro. — Achei que fosse um encontro mais casual.

— Posso dizer o mesmo para você. — Jimin respondeu com um murmúrio, desviando a atenção do retrovisor para a mulher por dois segundos. Ela não usava um vestido elegante, mas continuava bonita da mesma forma. — Eu devia ter me arrumado mais para ficar à sua altura.

A sorte de Jimin era que Junghwa era extremamente agradável de se ter por perto. Ela era divertida, atraente, sabia fazer qualquer conversa fluir, e nunca deixava o ar entre eles ficar constrangedor. Se não estivesse vivendo sua situação naquele momento, se estivesse com a cabeça completamente diferente, Jimin até poderia considerar dar uma chance a mais ao que eles poderiam ser. E Junghwa, naquela noite, pareceu pensar a mesma coisa. Às vezes, quando o silêncio entre eles se estendia e ambos se perdiam em olhares, Jimin sentia que ela pensava o mesmo. Que eles poderiam ter dado certo em outra situação, em outro momento.

Mas aquele não era o caso. Jimin a chamou para sair porque seu coração começava a bater de novo por outra pessoa, e essa pessoa estava longe de ser uma mulher, de ser Junghwa. Jimin a chamou para sair porque precisava tirar uma dúvida.

— Jimin oppa. — Junghwa chamou com a voz fraca, levando seu indicador até o peito do engenheiro e desviando a atenção de seu movimento para o rosto dele, engolindo em seco antes de continuar. — O rio Han é lindo, mas acho que está começando a ficar frio. Por que não vamos para casa?

A cidade estava mais calma, mas não adormecida enquanto Jimin dirigia pelas ruas em direção ao apartamento de Junghwa. Se estivesse animado para o que sabia que viria a seguir, faria de tudo em seu alcance para iniciar a noite deles bem ali, dentro do carro, enquanto haviam outras pessoas circulando ao redor e eles poderiam ser vistos. Mas Jimin estava tenso. Seus músculos estavam tensos, seu rosto estava tenso, sua postura estava tensa. Nem mesmo a música que tocava na rádio servia para acalmá-lo, nem mesmo o tom mais sedutor que Junghwa usava para falar, nem mesmo a maneira discreta que ela levantou a saia que estava vestindo. A cabeça de Jimin não estava ali, no momento, no concreto.

Jimin pensou na foto que recebeu mais cedo. Na camisa que estava usando. Jimin sentiu seu coração bater de forma irregular pensando na última vez em que saiu para beber com Yoongi, na maneira que ele se manteve perto durante a noite toda, no fato de Seokjin ter revelado que todos os três gostavam de homens.

No fato de Min Yoongi gostar de homens.

— Chegamos.

Jimin puxou o freio de mão com força, tentando disfarçar o fato de que estava completamente distraído e mal tinha notado que já tinham chegado. Junghwa sorria para ele, mas não parecia muito sincero, muito menos animado – ela parecia estar preocupada. Como se ela tivesse notado que a mente de Jimin estava distante, e não ali dentro pensando no que aconteceria dentro de alguns minutos. Tentando recuperar a noite – e sua dignidade –, Jimin engoliu em seco e procurou por uma vaga, evitando a todo custo o peso do olhar de Junghwa que ele sentia em seu rosto. Ainda dava tempo de tirar sua dúvida. Ainda dava tempo de tirar Yoongi de sua cabeça em um momento crucial, ainda dava tempo, e Jimin não desperdiçaria aquela oportunidade apenas porque estava distraído.

Enquanto tirava a chave da ignição, tentando tanto se manter focado no que estava vivendo, Jimin precisou se segurar para não pular de susto quando sentiu uma mão delicada repousando em sua perna. Parte dele estava feliz que aquilo estava acontecendo, agradecendo à Junghwa por tomar as rédeas da noite, mas outra, a que infelizmente fazia mais barulho, mostrava-o que não era aquilo que ele queria. Jimin não queria aquilo de verdade, só queria provar algo, tirar uma dúvida, queria entender o que estava acontecendo, queria uma confirmação de que sua vida inteira não foi uma completa mentira, que seu casamento não foi uma mentira. Mas estava determinado a ir até onde fosse necessário para acabar com seus problemas, ou achar algumas soluções para ele.

A mão de Junghwa deixou de ser delicada por breves segundos e se tornou firme, subindo para locais mais sensíveis, fazendo um suspiro ficar preso na garganta de Jimin. Lembrando-se de sua meta, o engenheiro levou sua mão à cintura da dançarina, enquanto a outra ia em direção à nuca dela para puxá-la para mais perto em um beijo que começou afoito. A música não tocava mais na rádio, e alguns poucos carros passavam pela rua, mas nada era mais barulhento do que os fracos suspiros que Junghwa soltava vez ou outra. Jimin se via envolvido naquilo. Ele até mesmo a ajudou a tirar o cinto de segurança para que ela se sentasse em seu colo, a saia erguida deixando-a mais exposta.

— A rua ainda está movimentada. — Junghwa soltou em um suspiro quase inaudível, gemendo fraco logo em seguida ao sentir as mãos de Jimin passeando por áreas mais delicadas. — Tem certeza?

Jimin não quis arriscar abrir a boca para dar uma resposta, optando por assentir em silêncio, porque tinha medo de contar a verdade. Ele não tinha certeza de absolutamente nada do que estava fazendo naquele instante. Suas mãos, sua língua e sua boca se moviam no automático, mas ele não se sentia ali. Jimin sentia que estava em um local diferente, fazendo aquelas exatas coisas com alguém diferente. Alguém com curvas menos acentuadas, alguém com mãos muito maiores, alguém com a voz bem menos fina. Ele não estava odiando – gostava do que era familiar, e sentia que seu corpo estava reagindo aos sons e toques de Junghwa –, mas não era o suficiente. Não era elétrico, não era o suficiente, não fazia Jimin sentir como se cada fibra sua estivesse em chamas.

Era Junghwa que estava beijando, mas era em Yoongi que estava pensando. Pensava em lábios bem desenhados, em olhos intimidantes que poderiam ser tão gentis. Jimin não estava pensando na linda mulher sentada em seu colo, não. E isso o frustrava. Fazia seus movimentos serem automáticos, fazia-o responder aos estímulos apenas por responder, e não porque queria dar algo ou porque estava tão empolgado quanto Junghwa parecia estar.

Delicadamente, e tão, tão devagar, como se ela não quisesse acreditar no que estava acontecendo, Jimin sentiu Junghwa empurrá-lo de leve, afastando-o de seu corpo mesmo que o espaço apertado não permitisse muita distância entre eles. Jimin manteve seus olhos fechados porque ele sabia que estava errado. Era ele que não estava dando o máximo de si, apesar de ter sido dele o convite para saírem. Era Jimin que estava sendo uma decepção, era Jimin que estava pensando em outra pessoa. E, mesmo assim, ele sentiu um toque suave de dedos quentes em seu rosto, segurando sua bochecha com tanto cuidado que um nó se formou em sua garganta, sentindo-se culpado por estar fazendo aquilo.

— Sua mente não está aqui. — Junghwa sussurrou, a voz saindo ainda mais delicada do que normalmente era. Jimin esperou alguns segundos para abrir os olhos, mas quando o fez, notou apenas preocupação na feição da dançarina. — Aconteceu alguma coisa? Você está bem?

— Eu estou bem. — Jimin mentiu, sua voz saindo quebrada, quase impossibilitando Junghwa de entendê-lo. — Eu estou bem, desculpa. Nós podemos continuar–

— Jimin. — Junghwa pronunciou seu nome com mais firmeza, soltou um suspiro enquanto o encarava. Ela parecia cansada, talvez decepcionada, e o ex-soldado não podia culpá-la por se sentir daquela forma. Ele acreditava que ficaria do mesmo jeito. — Sua mente não está aqui. Não esteve na maior parte da noite.

Um silêncio pesado se formou no carro. De repente, Jimin quis que tudo estivesse ligado apenas para uma música qualquer preencher o ar constrangedor, mas tudo que se ouvia ali dentro era o som das respirações pesadas de ambos. Ele olhava para cima, querendo transmitir o máximo de sinceridade que poderia enquanto ainda estava mentindo para se proteger, mas o olhar caído com um toque de decepção de Junghwa o fazia querer se esconder para sempre. A dançarina abriu um pequeno sorriso e ajeitou sua posição, afastando-se de Jimin e colocando uma perna para o lado, voltando a se sentar no banco do carona para não prolongar o momento que só se tornava pior com o passar dos segundos.

— Acho que nenhum de nós queria algo sério disso. — Junghwa comentou, a voz um pouco mais alta do que antes. Jimin concordou em silêncio, esperando ela continuar a falar, sabendo exatamente o que ouviria. — Mas se eu estou saindo com alguém, eu quero a pessoa por completo comigo. Corpo e alma, e não só o corpo.

— E eu não te dei isso, eu sei. — Jimin respondeu com um sussurro, encarando o próprio cinto da calça que estava a meio caminho de ser desafivelado. Ele nem havia sentido aquilo acontecendo. — Eu concordo com você. Eu só... não sei o que me deu hoje. Me desculpa.

— Não precisa pedir desculpa. — Junghwa abriu um sorriso, dessa vez mais sincero do que o outro. Jimin se pegou a imitando, sentindo como se houvesse um acordo de paz entre os dois agora. — Só cuida disso. Independente de quem esteja nos seus pensamentos, cuida disso.

— E como você sabe que tem alguém nos meus pensamentos? — Jimin perguntou em um tom divertido, arqueando uma sobrancelha. Junghwa riu fraco, deu de ombros.

— Foi sorte. E eu e você escolhemos o jeito errado de esquecer outras pessoas, eu acho. — Junghwa murmurou e fez uma pequena careta, talvez se sentindo envergonhada por admitir sua própria culpa na situação. — E também acho que fiz um trabalho melhor em disfarçar do que você.

— Então nós não somos assim tão diferentes. — Jimin soltou uma risada sem humor, sentindo um calafrio percorrer seu corpo apenas ao se lembrar da pessoa que não parava de andar por seus pensamentos. — O que houve? Se apaixonou pela pessoa errada?

— Coloquei expectativa na pessoa errada. — Junghwa soltou um longo suspiro, olhando pela janela do carro por alguns segundos antes de se virar para Jimin com um sorriso pequeno no rosto. — Eu vi um futuro bom demais para algo que nem tinha futuro, nunca teve. E você?

— Eu... — Jimin fez uma pausa, umedeceu os lábios. Pensou em Yoongi sem ter medo, querendo se lembrar de cada detalhe do rosto do advogado, sorrindo com cada imagem que seu cérebro lhe deu. — Eu nunca estive tão encantado por uma pessoa antes, e isso me assusta. Parece que minha vida inteira foi uma mentira.

— E como ela é? — Junghwa perguntou, fazendo Jimin soltar uma risada sarcástica logo em seguida sem nem perceber.

— Ele é incrível. — Jimin admitiu em um sussurro, e sentiu como o ar do carro ficou mais pesado em um instante. Falar aquilo em voz alta era assustador. Tornava tudo muito mais real, e ele não estava pronto. Ainda tinha muitas dúvidas para tirar, não estava pronto. — Atencioso, carinhoso, atraente, às vezes é bem sério. E acho que é isso que me assusta. Ele é isso tudo, e é isso que me assusta.

Jimin olhava para frente, vendo carros indo embora, vendo algumas poucas pessoas abraçadas ao próprio corpo lutando contra o clima mais frio da noite. Seu cotovelo estava apoiado na porta, e ele sentia a pele entre suas sobrancelhas ardendo depois de passar tanto tempo coçando a área com tanta força. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, embaçando sua visão, e seu coração batia desgovernado em seu peito. Ele estava assustado, sentia-se perdido. E seu pavor era tão grande que, por longos instantes, Jimin até mesmo se esqueceu que tinha plateia para seu desespero.

— Eu não tenho como te ajudar com isso. E prometo não conversar sobre isso com ninguém. — Junghwa murmurou e puxou o rosto de Jimin com delicadeza, querendo que o ex-soldado a encarasse em seu momento de fragilidade. Ele concordou, silencioso, e continuou prestando atenção enquanto a dançarina puxava o ar para continuar a falar. — Mas eu conheço o Hoseok-ssi, e conheço o esposo dele. Sei que ambos são grandes amigos seus, pelo que eu ouço dele, e ele fala muito bem de você, oppa. Você tem alguém para conversar se quiser. Não se esqueça disso.

Um sorriso vacilante se abriu no rosto de Jimin, e ele assentiu, absorvendo as palavras de Junghwa. A dançarina sorriu também, fraco, e se inclinou para frente para depositar um beijo casto na bochecha de Jimin, agradecendo pela noite e pedindo para que ele ficasse bem. O ex-soldado engoliu o choro que queria tanto sair, devolveu a gentileza de Junghwa, e logo em seguida assistiu à mulher saindo de seu carro abraçando o próprio corpo como as outras pessoas na rua faziam. Ela atravessou, olhou para trás uma última vez dando um último sorriso encantador, e entrou em seu prédio, dando um final à noite de ambos.

Alguns minutos tinham se passado desde que Jimin viu Junghwa pela última vez, talvez dez, talvez trinta, talvez cinquenta, ele não tinha muita certeza. Mas ele teve tempo o suficiente para repassar toda a sua noite em sua cabeça, e chegou à conclusão de que não se lembrava de muito. E, nos momentos que não se lembrava da companhia de Junghwa, Jimin notou que estava ocupado demais pensando em como seria sair em um encontro com Yoongi; como seria levá-lo para jantar, como seria levá-lo para caminhar na beira do rio Han, para então se sentar em um banco e jogar conversa fora por tempo indeterminado. O pavor andava de mãos dadas com a felicidade em seu peito, deixando suas mãos trêmulas e o deixando dividido, sem saber como reagir ao que sua própria mente o forçava a ver.

Então, ele fez a única coisa que tinha certeza de que o acalmaria.

— Ora, ora, se não é o senhor Park Jimin me ligando às onze horas de uma sexta-feira à noite.

A voz arrastada de sono e bebida de Yoongi aqueceu Jimin de uma maneira que o aquecedor de seu carro jamais seria capaz de fazer. Ali, parado, estacionado no mesmo lugar há sabe-se lá quanto tempo, o engenheiro abriu um largo sorriso ao ouvir seu nome ser pronunciado daquela forma, e ao ser cumprimentado de uma maneira tão inesperada, e ao mesmo tempo tão Yoongi.

— Te acordei? — Jimin perguntou, a voz tão mansa que ele mal se reconheceu.

— Não, de jeito nenhum. — Yoongi falou com a voz mais firme dessa vez, mas ainda com algumas sílabas se misturando às outras. Jimin riu fraco, olhando para a rua tentando imaginar o rosto do advogado naquele instante. — Acabei de chegar em casa. Na casa do Jeongguk, aliás. Ele bebeu demais de novo e foi minha vez de arrastar esse peso bruto para cá e garantir que ele não ia dormir sentado no corredor do andar do prédio.

— Algum dia você vai ter que me contar mais histórias de bêbado do Jeongguk. — Jimin abriu um sorriso leve, mais leve do que se sentiu durante a noite inteira, e decidiu simplesmente se entregar a aquele sentimento por enquanto. — Ele parece ter uma coleção interessante.

— Eu não deveria te contar porque ele é seu chefe. — Yoongi pareceu pensar por alguns segundos, mas uma risada que soava como um ronco mostrou que ele chegou à outra conclusão. — Mas ele também é meu amigo há anos, e eu nunca perco uma oportunidade de constranger o Jeongguk. Te conto na próxima vez que a gente sair.

— Eu vou cobrar. — Jimin suspirou, decidido a ouvir mais da voz de Yoongi, mesmo sabendo que teria que sair da vaga em breve. — Como você está?

— Meio bêbado, com sono. Queria que você tivesse ido hoje. — Yoongi admitiu em um murmúrio, talvez envergonhado por dizer aquilo, mas embriagado o suficiente para também não ligar. — Não era para você estar ocupado nesse exato instante, aliás? Aconteceu alguma coisa?

— Nada demais. — Jimin mentiu, querendo pensar em outra coisa que não fosse a conversa com Junghwa naquele momento. — Só não deu muito certo, mas está tudo bem. Pode conversar comigo? Eu tenho que ir para casa.

Enquanto dirigia para casa, com a ligação no viva-voz e as palavras arrastadas de Yoongi preenchendo o vazio do carro, Jimin sentia-se bem. Mais alegre, mais quente, como sempre se sentia quando se tratava de Yoongi. Em outro momento ele ficaria irritado por ser desse jeito, em outro momento ele deixaria o pavor tomar conta de seu corpo como sempre tomava toda vez que ele pensava no que andava o atormentando há alguns dias. Por enquanto, ele se permitiria ficar bem conversando com Yoongi, e não deixaria nada abalar a felicidade que vinha acompanhada junto do advogado.

Mas quando Jimin chegou em casa, Yoongi soltou um bocejo e pediu desculpas, dizendo que precisava ir dormir. Jimin disse que estava tudo bem – não estava –, que precisava ir também – mentira, ele não estava cansado –, e deixou que o advogado desligasse a ligação depois de uma despedida um pouco longa demais. Sozinho em seu apartamento, lembrando-se da conversa com Junghwa, lembrando-se dos sonhos que teve nas últimas semanas, lembrando-se de cada segundo de sua vida que girava ao redor de pensar em como tudo seria se Jimin estivesse com Yoongi, o ex-soldado sentiu um aperto incômodo no peito.

E, sentando em seu sofá, olhando pela sua janela, permitiu que algumas das frustrações dos últimos dias escapassem em forma de lágrimas grossas e salgadas que só o deixaram em paz quando ele conseguiu pegar no sono.

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