Amor Maluco

By alicejfsilva

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Apesar de crescer com a fama, Malu sempre procurou levar uma vida tranquila, morando em Hills City, uma peque... More

Aviso
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Parte 2 - Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
Capítulo 86
Capítulo 87
Capítulo 88
Capítulo 90
Bônus Mike
Capítulo 91
Capítulo 92
Capitulo 93
Capítulo 94
Parte 3 - Capítulo 95
Capítulo 96
Capítulo 97
Capítulo 98
Capítulo 99
Capítulo 100
Capítulo 101
Capítulo 102
Capítulo 103
Capítulo 104
Capítulo 105
Capítulo 106
Capítulo 107
Capítulo 108
Capítulo 109
Capítulo 110
Capítulo 111
Capítulo 112
Capítulo 113
Capítulo 114
Capítulo 115
Capítulo 116
Capítulo 117
Capítulo 118
Capítulo 119
Capítulo 120
Capítulo 121
Capítulo 122
Capítulo 123
Capítulo 124
Capítulo 125
Capítulo 126
Capítulo 127
Capítulo 128
Capítulo 129
Capítulo 130
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 89

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By alicejfsilva

Antes do cap, só gostaria de avisar que teremos muitos vídeos de dança durante a leitura. Assistam, assim vocês tem uma noção de como as coisas foram. Maaas, se isso tirar a concentração da leitura, deixem para ver os vídeos após lerem tudo.

Boa leitura!


As cortinas terminaram de abrir no exato momento que eu pisei no palco já na ponta dos pés, a última coisa que eu vi antes de ficar momentânea cega pelas fortes luzes em meu rosto, foi a expressão encorajadora do Mike. Espero que consigamos fazer as coisas direito, mamãe apostou tudo em nós dois. Confiou na gente e não quero desapontá-la.

Me acostumando um pouco mais com as luzes, pude notar o teatro extremamente lotado. Meus olhos captaram a fileira privada com os avaliadores e minha família. Haydee está sentada ao lado do meu pai com o Peter nos braços, ela deve morrer de orgulho do filho. A expressão de felicidade natural e um sorriso se forma em meu rosto, dançando com alegria como a coreografia pede.

Eu tenho que mostrar que sou uma bailarina que ama aquilo que faz.

Me sinto leve como uma pena, quase como se estivesse voando. Mesmo fazendo os passos mais complexos eu consigo executar com leveza e tranquilidade.

Mike deve entrar no exato momento que eu estou girando consecutivamente em piruetas de quarta e fouettes. Acho que estava tão concentrada nos giros, que apenas lembrei que não estava mais sozinha no palco quando senti as mãos dele em minha cintura e me impulsinando a girar mais.

Tenho que demonstrar surpresa e receio com a presença dele que abala as estruturas da minha personagem. Em um arabesque eu fico de frente para ele, não consigo deixar de aumentar o sorriso quando os olhos dele focam nos meus e ele também sorri. Não estamos feito duas paredes como no ensaio de poucos minutos atrás.

Eu amo o fato dessa coreografia ser uma mistura de dois gêneros distintos como o ballet e o hip hip, na verdade o espetáculo inteiro é composto por categorias opostas de dança que vivem batalhando e no final conseguem fazer uma junção.

O começo do nosso romance foi dado, acho que conseguimos transmitir que nos apaixonamos, consegui ver isso nos olhos da minha mãe que nos observava da coxia.

No exato momento que o Mike me ergue acima de sua cabeça, os grupos entram. Nos separamos imediatamente e ai começa a rivalidade das duas equipes, é nítido que nossos personagens, meu e de Mike, mesmo em meio a batalha não conseguem disfarçar a nova paixão.

Fazemos uma sequência rápida no fundo do palco enquanto todos estão encenando uma disputa e não prestam atenção em nós. Mas Alex, a vilã nos rodeia, não tirando os olhos de nós dois. Tudo isso é contado dançando, é tão complicado dançar de forma clara para todos compreenderem.

Enquanto os grupos ainda batalham, com coreografias extremamente complexas. Alexsandra, Mike e eu corremos para fora do palco para uma troca de figurino.

Sou colocada em uma cadeira enquanto o pessoal contratado para ajudar nas trocas de roupa, desfazem meu coque e tiram minha sapatilha de ponta. Lexy está na mesma situação que eu.

- Caraca, você sentiu isso? - Ela diz, sentada de frente para mim enquanto as mulheres tiram seu figurino grupal.

- Sim! Tô arrepiada.

- Eu sabia que você iria arrasar. Você e o Mike dominaram.

Alex se levanta enquanto enfiam ela em um collant preto brilhante seguido pelo tutu da mesma cor, simplesmente sou apaixonada nesse figurino dela.

Ela mesma substitui suas sapatilhas rosas pelas pretas, aquecendo as pontas depressa. As moças organizadoras estão finalizando com o adereço de cabeça dela.

- Arrasa, vilã! - Digo, não podendo ir até ela e abraçá-la já que estou rodeada por mulheres fazendo minha troca de figurino.
- Obrigada, você também - ela me manda um beijo e se posiciona na coxia, os grupos estão saindo agora.

Sorrio de orgulho, essa garota é maravilhosa dançando, assim como Melanie, que a propósito acaba de sair do palco.

- Agora você dança contemporâneo com duas garotas, certo? - Ela pergunta.

- Sim e com outros dois garotos de street. Você arrasou.

Melanie sorri, logo sumindo da minha vista pelas moças ágeis que estão indo trocar seu figurino.

- Pega o collant dela, o dourado. E também a sapatilha meia-ponta bege.

Me sinto muito folgada sem fazer nada enquanto elas correm para me trocar. Odeio me sentir inútil e aproveitadora.

Vejo Lexy dançando através de uma das TV's espalhadas pelo ambiente.

- Ela está perfeita - escuto uma das bailarinas dizer. - Olha isso, fala sério.

E está mesmo, se eu não conhecesse Alexsandra diria que ela é uma tremenda vaca na realidade. Ela consegue interpretar tão bem, mostrando para todos ali que ela é a vilã da porra toda. Orgulho dessa garota.

Corro para a coxia com Meg, uma das garotas que vai dançar comigo. A outra está na coxia do outro lado.

Alex acaba de finalizar com uma sequência perfeita na qual ela dança rodando por todo o palco sem perder o ritmo uma única vez. Não consigo deixar de aplaudir junto com o público.

Ela passa por mim, dando um tapa na minha bunda. Sem ter tempo de responder eu entro no palco com as duas garotas. Elas são as amigas da minha personagem. O engraçado nisso tudo é que a minha melhor amiga se passa por vilã e as garotas que não gostam de mim, são as amigas da personagem.

Essa é uma coreografia contemporânea, não a considero nenhum pouco difícil, apesar de ser dinâmica. O que mais tivemos dificuldade foi em sincronizar saltos e reversões, e isso essa coreografia tem de sobra.

Mike, juntamente com outro colega aparecem nessa coregrafia fazendo umas acrobacias incríveis.

Apesar de estar nervosa, tenho confiança o suficiente para olhar para o público sem me sentir intimidada, mantenho meus olhos nos avaliadores eles simplesmente não tem expressão, algo que eu possa perceber.

Corro para fora do palco para a próxima troca de figurino, lá vai eu e o Mike de novo. Personagens extremamente apaixonados. Como se eu já não o amasse o suficiente na realidade.

Se não fosse um dueto alegre e apaixonado, eu certamente choraria por agora saber que tenho que fingir esses sentimentos com ele. É uma sensação horrível, de algo estar sendo arrancado do meu peito.

Me afasto do Mike o mais rápido possível após deixar o palco, por que as coisas tiveram que acontecer dessa forma?

Enquanto duas coreografias em grupo rolam no palco, tento me recompor. Preciso ser profissional, separar a ficção da realidade.

Nada como uma coregrafia em grupo, só com garotas para me fazer esquecer essa situação. Apesar de tudo, gosto de estar no palco dançando.

Eu e mais seis garotas, com Alex inclusa, entramos no palco vestidas devidamente iguais. Acho que essa foi uma das primeiras que eu aprendi.

Mal tenho tempo de me trocar para logo então voltar ao palco com Mike, tudo bem, eu posso fazer isso.

Essa é a coreografia que tecnicamemte mostra claramente o nosso romance secreto, é bem sensual e me deixa completamente arrepiada, principalmente por estar com o Mike. Lexy também dança essa, ela entra perto do final; no exato momento que eu estou nos braços do Mike, que é quando a personagem dela nos flagra juntos.

O que eu gostei muito desse espetáculo é que minha mãe ousou fazer essa mesclagem de gênero. Vi o quanto ela pensou antes de decidir isso, afinal, o maior medo dela é que não fosse ficar muito bom. Isabella Bullworty tirou o foco apenas do ballet no qual a B.D.A. é mais conhecida e deu a importância que todas as outras modalidades da dança também merecem. Acho que é a primeira vez que eu vejo tantos estilos diferentes de dança em um repertório.

Já devidamente pronta para a próxima coreografia, me deparo com o Mike na outra coxia, abrindo e fechando o punho. Ele tá nervoso pra cacete, o conheço tanto que sou capaz de perceber isso apenas olhando em seus olhos.

- Você fica muito gata com esse figurino - Lexy passou o braço pelos meus ombros.

- Todo mundo sabe que seus figurinos mais góticos são os melhores - rebato, passando meu braço pelas suas costas.

Nós duas ficamos assim, apenas uma apoiando a outra enquanto assistimos o grupo de break que está no palco agora, eles são incríveis. Mike arrasou na criação dessa coreografia, mesmo que ele não dance ela.

- Ele parece meio nervoso - Alex diz, vejo ela olhando na direção do Mike.

- Meio? - Dou risada. - Eu apenas queria ir lá e abraçá-lo, dizer que ele é incrível.

- E por que não vai?

- Um: porque nós já vamos entrar no palco. E dois: porque ele meio que me odeia agora.

Apesar de dizer isso em tom de brincadeira, meu coração se aperta com o peso dessa realidade. Ainda me custa acreditar que essa é nossa atual situação. Mike me detestar. Nossa, isso acaba comigo.

- Ei, que cara é essa, Maluquete? - Ela me empurra - Para de pensar nisso, falou? Vai, você tem que entrar agora.

Respiro fundo, balançando a cabeça enquanto me posiciono. Troco um olhar com o Mike, apenas sustentamos o olhar. Conexão, é a única coisa que ainda o faz olhar na minha cara.

Agora não é o melhor momento para ficar deprimida.

Sinto uma forte fisgada na região da costela quando faço um passo que Mike me lança para o alto. Quase perco a postura, por um triz eu não o faço me segurar de forma errada, nós dois poderíamos cair bonito.

Seu olhar interrogatório sobre mim dura cerca de um segundo, eu apenas forço um sorriso.

Não é uma dor forte, é suportável, mas extremamente incômoda. Apenas dói bastante quando eu faço algo que exige muito esforço nessa região.

Nós saimos do palco ao mesmo tempo. Finalmente relaxo a postura, colocando minha mão na região que dói.

- O que aconteceu? Você tá bem? - Mike se abaixa na minha frente após eu me sentar.

Vejo minha mãe se aproximando, alarmada. Deve ter escutado o que ele falou.

- O que aconteceu? - Ela também se inclina na minha direção, colocando a mão em meu ombro.

- Nada, relaxem - resmungo.

- Malu, eu te conheço - Mike insiste.

- Não foi nada, apenas um pequeno incômodo na costela - coloco minha mão sobre o lugar.

Aposto que se eu não estivesse de collant, os dois levantariam minha roupa para checar.

- Não foi bem ai que você quase fraturou uma costela por causa da Sthefanny? - Mike parece realmente preocupado, mesmo me considerando alguém de pouca confiança.

- A quanto tempo? Apenas doeu porque devo ter feito algo de mau jeito.

- A última vez que eu senti uma dorzinha dessas, eu cai no meio da apresentação e quase acabei com minha carreira de bailarina.

- Por favor, mãe. Estão se preocupando por bobagem - me levanto, indo para a coxia. - Vamos, daqui a pouco nós entramos novamente.

Mike suspira, sabendo que não vai adiantar discutir comigo ou talvez porque não quer mais ter que continuar falando comigo.

- Filha... - mamãe insiste, um olhar preocupado.

- Tenho que ir agora.

Entro no palco sem esperar sua resposta, Mike me acompanha.

Apesar do constante incômodo, estou conseguindo dançar com perfeição. Acabo de sair do palco com a Mel, John e Mike, nossa coreografia ficou incrível. Melanie parece prestes a dar cambalhotas.

Eu queria comemorar com ela, mas prefiro evitar forçar ainda mais minha costela.

No calor do momento, quando ela vem me abraçar, apertando seus braços ao redor da minha cintura bem na região dolorida; não consigo deixar de arfar.

- Eu nem te abracei tão forte assim, maluca - ela me empurra de leve, mas logo percebe que não estou brincando. - Perai, o que tá rolando, Malu?

Johnny e Mike se aproximam também.

- Eu falei pra você que não era bobeira.

Por eu estar com um top agora, Melanie se abaixa para ver melhor.

- É aqui que ela quase fraturou - Mike coloca sua mão sobre a região dolorida, me encolho um pouco. - Não dá para notar diferença, é interno.

- Que merda, Malu. Por que você não falou que estava sentindo isso antes? - Johnny passa a mão pelos cabelos.

- Porque começou agora - me afasto deles. - Que frescura, não é nada.

- Eu me recuso a fazer as coreografias acro com você assim.

Aperto meus olhos na direção do Mike.

- Ainda bem que você tem um substituto.

Me afastei deles, quanto drama. Corro para os figurinistas fazerem minha troca de roupa, me colocando dentro de um vestidinho branco em segundos.

- Você tá brava ou é impressão minha? - Reconheço a voz de Lexy, não posso olhar agora já que estão retocando minha maquiagem.

- Muita correria, só isso.

- Eu adoraria insistir, mas eu tenho que trocar de roupa agora. Depois você não me escapa.

Escuto seus passos corridos. Não preciso de mais ninguém enchendo meu saco por causa de bobagem.

Ainda tenho tempo, terão duas coreografias antes de eu e o Mike termos que ir apresentar nosso duo acro, uma das coreografias mais complexas e perigosas.

Massageio com as pontas dos dedos minha costela, nenhuma dorzinha vai me impedir de entregar o melhor espetáculo que minha mãe merece.

Confesso que estou com certo receio de dar os mortais, fazer pontes e todas as outras acrobacias difíceis que essa coreografia exige.

- Apesar de tudo, eu nunca conseguiria te deixar na mão desse jeito.

Viro para trás depressa, me deparando com o Mike. Ele está uma graça com esse boné vermelho do seu figurino.

- Tá doendo muito?

- Não, de verdade, é só um incômodo constante. Apenas dói mesmo quando eu faço algum passo que exige muito dessa região.

Mike suspira, sei que deve estar morrendo de vontade de me dar uma bronca por ser tão irresponsável e não me cuidar. Mas ele não tem mais esse direito, infelizmente foi sua escolha.

- Se alguma coisa acontecer com...

- Nada vai acontecer comigo.

- Eu espero que não aconteça.

Reviro meus olhos, dando minha mão para ele. Devemos entrar assim no palco, não me importo de aproveitar esses momentos que não tenho mais.

O grupo que está no palco sai e nós dois entramos já executando os passos.

Simplesmente esqueço de qualquer dor que estou sentindo, permitindo aproveitar a dança e a confiança que deposito no Mike para me manter em seus braços com passos arriscados.

Eu gosto tanto dessa coreografia, me sentiria um lixo se a estragasse caindo ou fazendo com que o Mike errasse também.

Só preciso absorver a confiança que ele transmite e os olhares de apoio da minha família na plateia. Mike e eu vamos finalizar esse espetáculo com sucesso e provar para todos aqueles que desacreditaram de nós dois, achando que estamos aqui apenas por favoritismo.

No último passo, eu caio nos braços do Mike após ter sido lançada para o alto por ele. Sorri quando passei minhas pernas em volta de seu tronco, Mike sorri também. Nós conseguimos entregar com perfeição uma das coreografias mais difíceis.

- Eu disse que conseguiríamos! - Pulo empolgada, após termos saído do palco.

Escuto alguém pedindo silêncio, mas não dou muita atenção com meu estado feliz. Sequer lembro da dorzinha chata em minha costela, eu disse que era bobagem.

- Vocês foram incríveis! - Lexy me abraça quando encontramos com ela correndo no corredor dos camarins, - Agora eu preciso correr, tenho que entrar agora. Tchau, casal.

Ela volta a correr, meio atrapalhada. Um clima pesado parece cair no ambiente com a última coisa que minha amiga falou.

- Fala sério - bufo, abrindo a porta do camarim. - Não vamos ser como aquelas pessoas que ficam com climão, é ridículo.

- Depende da situação.

- E a nossa é qual? - Cruzo meus braços, entrando em sua frente. - Se bem me lembro, nós sempre fomos melhores amigos. E agora? Isso acabou também?

- Agora não é o momento pra essa conversa, Malu. Você sabe disso.

- E quando vai ser?

- Qualquer dia, menos hoje. Você quer mesmo estragar o clima agradável de apresentação, e fazer a merda que fizemos no ensaio geral?

Suspiro, ele está certo. Foi idiotice minha puxar esse assunto agora, só que me assusta perder ele por completo, fico apavorada com a ideia e simplesmente não consigo pensar direito.

- Tem razão, me desculpa. Mas... - prendo minha língua entre os dentes. - Deixa pra lá, temos que trocar de figurino.

Entro no camarim depressa, fechando a porta antes que ele possa dizer algo.

Só agora me lembro que minha arara de figurinos foi levada pelos profissionais que nos ajudam com a troca de roupa. Estava tão feliz e distraída que nem me toquei. Preciso me apressar, ainda mais que agora preciso colocar um figurino mais complicado de ballet.

Paro no meio do caminho ao ver Lexy dançando através da televisão, espetacular. Não poderíamos ter melhor vilã. Ela consegue fazer quatro perfeitas estrelinhas sem as mãos, porra.

Corro para o espaço de troca, perdi muito tempo assistindo minha amiga, onde encontro os funcionários trocando outros dançarinos e duas delas estavam me procurando.

- Depressa, você atrasou - uma das mulheres diz.

- Agora é o nosso dueto, princesa - Alex dá pulinhos de empolgação.

Eu também estou feliz, nós ensaiamos tanto essa coreografia e finalmente chegou o momento de apresentá-la. Criada por apenas nós duas, é a primeira vez que fazemos isso juntas.

- Boa sorte, cretinas - Melanie faz um gesto enquanto nos posicionamos na coxia. - Estarei aqui torcendo pela queda de vocês.

Mostro o dedo do meio para ela, sorrindo. Sei que Melanie realmente está torcendo por nós, e pensar que um dia sequer conseguíamos olhar uma para outra sem trocar ofensas.

Alex solta minha mão quando corre para a outra coxia, nós entramos em pontas opostas. É meio que o confronto de nossas duas personagens, estamos perto do fim. A próxima coreografia é quando ela consegue separar o casal protagonista e rola aquela coreografia incrível entre mim e o Mike, a minha favorita. É extremamente deprimente.

Confesso que esperei bastante para dançar com a Alex, depois de tantas coreografias, finalmente chegou a nossa.

Não podíamos ter feito melhor, deixamos tudo no palco. Todos os dias de ensaio, as dores, as risadas e nosso desejo de apresentarmos juntas. Por mais que nossas personagens sejam inimigas, é importante também termos uma conexão boa. E Alex é simplesmente a minha melhor amiga, então não haveria como ter erro.

A primeira coisa que fazemos ao sairmos de cena é nos abraçarmos, orgulhosas do resultado. Valeu a pena.

Não temos muito tempo para comemorar, devemos trocar de roupa agora. Eu tenho uma coreografia grupal de street dance e depois a Alex tem um dueto, em seguida vem o término do casal. Tô nervosa pra essa parte.

A coreografia de street dance sai incrível, Mike que criou tudo e só posso dizer que sou a pessoa mais boba e orgulhosa do mundo. Ele tem talento para isso, para coreografar e ensinar.

Já com meu vestidinho cor creme, torço minhas mãos; nervosa para entrar no palco com o Mike sozinha novamente. Mais uma coreografia acro, a diferença é que essa é triste pelo término conturbado.

Meu par já estava do outro lado, pronto para entrar.

Nós dois entramos ao mesmo tempo, junto com a melodia. Fecho meus olhos por dois segundos, sentindo a entrega. Me deixo levar tanto que acabo trazendo os sentimentos do nosso real término a tona, fazendo meu coração doer enquanto estou nos braços dele, encenando a separação.

Perdi sua amizade, perdi tudo o que tinhamos de especial e mais importante: perdi o Mike e sua confiança.

Não sei exatamente quando a primeira lágrima escorreu pelo meu rosto durante a coreografia, Mike parece prestes a chorar também. Eu sequer me importo por estar chorando, acho que realmente me entreguei de corpo e alma para a apresentação.

Encerro a coreografia no chão, no segundo seguinte somos aplaudidos e ovacionados. Deixo o palco ainda com algumas lágrimas escorrendo.

- Cara... sem palavras - Melanie foi a primeira a falar comigo. - Vocês se expressaram tão bem, não acredito que até conseguiu chorar.

Seco meu rosto, forçando um sorriso. Claro, chorei apenas porque estava atuando, porque me entreguei.

- Estou orgulhosa - mamãe colocou a mão em meu ombro. - Você realmente estava encenando, Malu?

- Acho que sim... - começo me afastar. - Tenho que me trocar agora.

Não quero falar sobre isso agora e talvez nem nunca, preciso tirar isso da cabeça.

- Vocês tem alguma coisa pra me distrair? Alguma notícia? - Pergunto ao John, Mel e Alex enquanto coloco a sapatilha de ponta.

- Não, eu acho.

- Por favor, qualquer coisa.

- Eu não funciono sobre pressão, droga - Lexy esfrega as mãos... - Deixa eu pensar.

- Qualquer coisa? - Johnny pergunta. - Não sei também.

- Ah, eu sei! - Lexy bateu as mãos uma vez. - Seu time está perdendo de três a zero para o Teneford.

- Como é?! - Me levanto bruscamente, meu coração dá um salto. - Você tá de brincadeira, né?

- Nossa, Alexsandra, pior coisa que você podia falar - Melanie dá um peteleco na testa dela.

- Está em quanto tempo de jogo?

- Metade do primeiro - John responde. - Mas agora não é o momento pra pensar nisso, Malu. Antes de qualquer coisa precisamos concluir o espetáculo.

Não acredito nisso, meus meninos devem estar em pânico. Tommy deve estar com a bola toda, se achando o incrível e comemorando por achar que fugi do desafio. Nunca.

Corro para fazer meu solo, tentando focar no espetáculo novamente. Não foi muito difícil, só precisei lembrar do momento triste que acabei de ter dançando com o Mike, não vou chorar mais uma vez no palco.

Assim como fiz com as outras coreografias, tento me entregar ao máximo. Com essa talvez eu tenha que me esforçar mais já que estou dançando completamente sozinha.

A coreografia fluí na ponta dos meus pés, acabando mais rápido do que eu imaginava. Acho que consegui passar a mensagem.

Enquanto os figurinistas faziam minha troca de roupa, eu coloquei meu celular na rádio.

Puta merda, eles estão tomando uma surra. Não conseguem ter posse de bola e parece ser um jogo agresivo.

Entro no palco mais três vezes após isso, lutando para não pensar nisso enquanto danço. Ainda mais que esse é o climax do espetáculo. A vida imita a arte, só não sei se terei meu final feliz com o Mike.

Tenho mais um solo após a briga de minha personagem com seu grupo de dança, adoro essa parte da apresentação. Que as coreografias são tão carregadas.


Minha personagem parece estar em um conflito consigo mesma, adoro o peso que isso carrega em mim.

Sei que, por enquanto, consegui fazer minha parte no espetáculo. A questão é que estou muito abalada com tudo, algumas coisas pareceram tanto com a realidade. Esse dia com certeza será inesquecível para mim, estará para sempre marcado.

Confesso ter pensado que Mike e eu não conseguiríamos entregar um bom trabalho, teríamos jogado meses de ensaios cansativos e puxados no lixo.

Contudo, eu estou feliz. As piores partes já se foram.

Agora estamos no final, a última coreografia da nossa reconciliação. Inicialmente é um dueto e logo depois se torna grupal, é alegre e descontraída.

Mike estava me esperando na coxia para entrarmos juntos, quase estendi minha mão para segurar a sua mas me toquei no meio do caminho, droga de hábito.

- Já podemos dizer que conseguimos? - Mike pergunta, olhando para a frente.

- Ainda não, vamos encerrar isso bem plenos - tento sorrir, mas o clima estranho entre nós não ajuda.

Sempre fui acostumada em ser a melhor amiga dele e tratá-lo com intimidade, mas agora conversar com ele parece ser uma situação delicada. Como quando você acaba de conhecer uma pessoa e não tem certeza de como agir na frente dela.

- Mas a pior parte já passou - ele diz.

- É, com certeza.

Não temos mais tempo para conversa, nossa deixa para entrar é agora. Ele entra primeiro, executa suas sequências de hip hop e sai depressa; logo em seguida eu entro, faço minha sequência de ballet e saio. Em seguida nós dois entramos juntos e é ai que realmente começa o show.

A plateia parece satisfeita, eu consigo sorrir de forma sincera durante toda a coreografia mesmo dançando com o Mike. O final é lindo e pode ser até emocionante, principalmente quando os grupos entram. Danço pra valer, estamos todos perfeitamente sincronizados e isso é incrível, considerando que todos os dançarinos estão no palco. São mais de quarenta pessoas em perfeita harmonia e sincronia.

A sensação de missão cumprida começa pinicar em meu peito antes mesmo de fazermos a pose final e sermos aplaudidos de pé. Mantenho meus olhos no Mike, por incrível que pareça ele também está me olhando e sorrindo; como eu. Nós conseguimos.

- Agora sim podemos dizer - murmuro, ele olhando fixamente para os meus lábios.

- Missão cumprida, Maluca.

Sorrio ainda mais, logo nos afastamos para deixarmos o palco.

- Corre, Malu, corre - Alex saiu do palco bem atrás de nós - Agradece e corre pro jogo, a situação tá triste.

- Ai meu, Deus... Eu não tenho com quem ir. - Não acho que o Mike ainda vai querer me ajudar.

Um pico de adrenalina toma conta de mim, quase me esqueci do jogo.

Mike e eu somos chamados no palco para o agradecimento, quando reverenciamos para o público eles gritam e aplaudem. Isso que eu chamo de boa energia.

Mal saímos do palco e ele me puxa pela mão correndo em direção aos camarins.

- Mas...?

- Rápido, pega sua mochila do jogo.

Devo ter uma enorme interrogação na cara, mas não questiono e corro para pegar a mochila. Mamãe e Alex ficaram de guardar minhas coisas para eu voar para o jogo.

Mike segura meu pulso enquanto corremos para fora do teatro pela porta dos fundos.

- Merda... Se abaixe - não tive tempo de ver já que ele me empurrou para baixo. - Seus fãs, se nos verem já era. Você só chega no jogo amanhã.

Corremos abaixados, escondidos atrás do muro para o estacionamento. Quando nos levantamos para entrarmos em seu carro, somos reconhecidos. Eu adoraria dar uma atenção para todos eles, mas agora não é o momento.

- Rápido, rápido.

Mike e eu entramos no carro ao mesmo tempo, ele dá partida depressa antes dos fãs nos alcançarem.

Nem reparei que ainda estou com o figurino completo do espetáculo, inclusive a sapatilha de ponta.

Jogo minha mochila lá atrás e arranco as sapatilhas depressa.

Vejo um pequeno sorriso no rosto de Mike com a minha pressa e falta de jeito em tirar o figurino complexo.

- Olha pra frente - mando, quando o pego olhando em minha direção.

- Sinal vermelho.

Ele continua olhando em minha direção, mas em momento algum seus olhos se voltam para o meu corpo. É como se meus olhos o atraissem mais. Não consigo deixar de sorrir ao empurrar seu ombro.

- Tudo bem - Descruzo o braço que estava sobre meus seios, de sutiã, claro. - Nada que você já não tenha visto antes.

Dessa vez ele enfim volta a olhar para frente, após ter engolido em seco. Mike é tão fofo.

Visto minha camisa depressa e o calção também. Mike está dirigindo tão rápido que eu tenho ainda mais dificuldade para me vestir escorregando pelo banco.

- Achei que você não fosse me trazer mais - digo, colocando meus meiões.

- Eu prometi.

- Sim, quando estávamos juntos. Você não tinha obrigação de fazer nada agora.

- Eu cumpro as minhas promessas.

Ok, podia ter ficado calada.

- Só... Obrigada - paro de amarrar minhas chuteiras para olhar em seus olhos. -, de verdade, obrigada por não me deixar na mão.

- Já terminou? Estamos chegando, devo pegar umas multas.

Mike está brincando, mas pode ser que realmente aconteça o lance das multas.

- Quase - coloco o bracelete de capitã e as caneleiras. - Agora sim.

- Jogadora meio bailarina? - Ele indica meu coque perfeito da apresentação.

- Dane-se, não tenho tempo de desmanchá-lo. Obrigada, vejo você na arquibancada.

Bato a porta do seu carro e corro o mais rápido que consigo em direção ao campo, o estacionamento está lotado, o jogo deve estar daquele jeito. Que Tommy Forbes se prepare.

Só espero não ter chegado tarde demais.

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