De Volta à Primavera • yoonmin

By zettaiwa

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Depois de cumprir o serviço militar obrigatório de dois anos e voltar para casa para descobrir da pior maneir... More

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By zettaiwa


— China. Doze mil anos atrás.

Depois de deixar Junghwa em casa no sábado, Jimin ficou alguns minutos parado em frente ao prédio da dançarina, mexendo em seu celular antes de pegar o retorno mais próximo e voltar para seu próprio apartamento. Ele tinha respondido à pergunta de Yoongi com uma outra pergunta, questionando se não haviam sido os japoneses a descobrir o arroz. A resposta veio no meio da tarde, enquanto Jimin limpava sua sala, e não passou de uma frase simples. "Apenas horas na biblioteca vão nos dar respostas". Jimin não digitou mais nada, enviou apenas risadas. E assim ficou. No domingo à noite, deitado em sua cama se preparando para mais um dia de trabalho, o ex-soldado releu a conversa diversas vezes com um sorriso no rosto e trocou o nome do contato do advogado apenas para seu primeiro nome.

Agora, na segunda-feira, Jimin tinha a resposta para a pergunta de Yoongi na ponta da língua. Chegar cedo demais no trabalho teve seus benefícios – se Jeongguk ainda não estava lá, ele tinha uma desculpa para fingir que não tinha o que fazer –, já que Jimin aproveitou os minutos silenciosos de sua manhã para pesquisar sobre a origem do arroz. Seu colega chegou alguns minutos depois, desejou-o bom dia com a voz arrastada de sono. Jimin respondeu com um murmúrio, concentrado demais nas letras pequenas do site de pesquisas. Um sorriso crescia em seu rosto toda vez que ele achava mais algum fato completamente inútil sobre arroz, pensando em como Yoongi gostaria de ouvi-los.

Sentado à mesa do almoço com seu chefe à sua direita e Yoongi à sua frente, Jimin não pensou duas vezes antes de soltar a resposta sem dar um contexto prévio. Jeongguk, que parecia entretido com o cardápio, levantou o olhar e o encarou de cenho franzido, querendo entender de onde havia saído aquela empolgação repentina de seu funcionário. O sorriso no rosto, a voz razoavelmente alta. Era diferente do Jimin que ele estava acostumado a ver e tentar convencer de ir almoçar, mas não era ruim. Definitivamente era muito bom, e melhor de se ter por perto sem se preocupar muito com seu silêncio. Seokjin abriu um sorriso confuso, também segurando um cardápio, mas não fez nenhuma pergunta que arrancaria risadas dos outros três presentes. Ele apenas ficou observando a maneira como Jimin olhava para Yoongi com atenção, e como o advogado o olhava de volta como se tivesse ouvido a frase mais estranha da sua vida. Mas bastou alguns segundos para um sorriso enorme crescer em seu rosto, e para suas sobrancelhas saltarem para o meio de sua testa.

— Os chineses inventaram literalmente tudo que nós temos de bom no mundo atual?

Jimin deu uma risada, deu de ombros, mas não pronunciou uma única palavra. Yoongi ria fraco como se tivesse ouvido uma piada – e não uma frase completamente sem sentido –, reclamando em um tom de voz baixo sobre chineses e suas descobertas. Seokjin e Jeongguk trocaram um olhar, um tentando perguntar ao outro o que tinha acabado de acontecer, mas nenhum possuía uma resposta que parecia perto de coerente.

— Que papo de maluco é esse? — Seokjin perguntou, olhando entre Yoongi e Jimin com sobrancelhas arqueadas em curiosidade. — O que os chineses fizeram?

— Nada. — Yoongi se apressou em responder e virou o olhar para Jimin, que também o olhava com um sorriso fechado desenhando seus lábios. Tudo era uma piada, mas apenas eles dois entendiam os motivos para rir. — É assunto nosso.

Enquanto caminhavam de volta para a empresa, sentindo seus olhos mais pesados depois de comer tanto no almoço, Jimin se permitiu ficar mais para trás, ao lado de Yoongi, enquanto Jeongguk e Seokjin estavam mais à frente discutindo sobre algo que não o interessava. O sol do meio-dia durante o verão deveria ser incômodo para sua pele, fazendo-o suar em locais que ele jamais achou que poderia suar, fazendo-o se sentir mais fraco com o excesso de calor, mas ele se sentia bem. Vivo. Seus pelos se arrepiaram quando ele conseguiu sentir de verdade seu corpo se aquecendo com a luz solar que batia na rua inteira sem fazer muitas sombras. Não o incomodava, longe disso. Fazia Jimin sentir-se de uma maneira que ele já não sentia havia algum tempo.

Ele sentia o olhar pesado de Yoongi sobre seu rosto vez ou outra enquanto caminhavam lado a lado, mas o advogado não proferiu uma única palavra, não fez um único som. As ruas movimentadas eram barulho suficiente para a cabeça de Jimin, mas não de um jeito ruim. Era quase como música. Deveria ser incômodo, mas, assim como o sol quente, permitia que ele se sentisse mais vivo. Jimin se sentia tão relaxado que poderia até começar a cantar uma canção, mas mordeu a própria língua se impedindo. Seria demais. E ele ainda sentia que Yoongi o encarava quando não estava prestando atenção em seus próprios passos, então fazer aquilo estava definitivamente fora de questão.

O ar-condicionado gelado da recepção da empresa tirou Jimin de seu estado de relaxamento total, trazendo-o de volta para sua realidade. Agora, ele não via um céu azul e cores diversas nas roupas das pessoas que passavam ao seu lado. Tudo que via era tons neutros de cima à baixo, e ouvia apenas vozes baixas e terrivelmente falsas que falavam ao telefone. Até mesmo Seokjin estava mais quieto, respeitando o ambiente ao seu redor. Com um suspiro, Jimin deixou que seus olhos se acostumassem à iluminação menos agressiva, e parou ao lado de Yoongi esperando o elevador chegar ao térreo.

— Os japoneses só começaram a cultivar o arroz há sete mil anos.

Ouvir a voz de Yoongi foi como levar um choque para Jimin, que virou sua cabeça rápido demais para encará-lo. O advogado escondeu uma risada atrás de seu punho fechado, e logo levou suas duas mãos para os bolsos da calça que usava, tentando manter uma postura descontraída. Ao entender que ele estava dando continuidade ao assunto "privado" deles, Jimin arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços, esperando ouvir mais sobre aquilo.

— Eu também pesquisei. — Yoongi murmurou. Sua voz saiu mais grossa que o normal quando ele usou aquele tom para falar, e Jimin guardou aquele som em sua mente, percebendo como era relaxante. Alguns minutos ao lado de Yoongi com o advogado falando daquela maneira, e Jimin sabia que seria capaz de pegar no sono num piscar de olhos. — Mas eu queria ver se você ia fazer seu dever de casa.

— Eu fiz. — Jimin empinou o nariz, mostrando-se orgulhoso por ter feito sua pesquisa. Era ridículo, ele sabia, Yoongi provavelmente também sabia, mas se era uma piada entre eles, o que soava ridículo poderia ser realmente engraçado. — O que eu ganho pela minha disciplina, professor?

— Parabéns. — Yoongi disse, o tom de voz o mesmo de antes, quase monótono. Era como se o advogado quisesse que aquela conversa ficasse apenas entre eles, mas Jimin não segurou a risada alta que saiu de sua boca, chamando a atenção de seu chefe e de Seokjin. — Eu te daria uma sobremesa, mas nós já voltamos para o prédio. E eu não posso mostrar favoritismo a um dos meus alunos, não é mesmo?

A conversa entre eles foi cortada pelas portas do elevador se abrindo, e pelo mar de gente que finalmente saía para almoçar. Os quatro e mais algumas pessoas entraram assim que tiveram a oportunidade, mantendo-se em silêncio enquanto eram levados aos seus andares. Pouco a pouco, a caixa metálica ficava mais vazia. Pouco a pouco, despedidas tímidas eram trocadas entre quem saía e quem ficava. E, em poucos segundos, a voz eletrônica anunciou a chegada ao andar do setor financeiro. Jimin e Jeongguk ajeitaram suas roupas, olharam para seus amigos mais uma vez para se despedirem, e seguiram seus caminhos para continuarem a trabalhar. Por culpa de uma vontade inexplicável, Jimin olhou para trás uma última vez para ver as portas se fechando, e se deparou com Yoongi o observando ir embora com atenção, um pequeno sorriso em seu rosto.

— A Junghwa falou muito bem de você, Jimin!

À noite, quando estava entrando no vagão do metrô, Jimin recebeu uma ligação de Namjoon perguntando se ele estaria livre para jantar. Um pouco relutante, mas com seu estômago pedindo por comida, Jimin aceitou o convite e, como sempre, foi recebido com carinho por seus amigos. Hoseok falava pelos cotovelos sobre uma senhora que caiu em uma de suas aulas e fissurou o osso da bacia. O dançarino mostrava seu envolvimento com o que tinha ocorrido com sua expressão, arregalando os olhos, mexendo as mãos tudo para explicar o que tinha acontecido da sua maneira. Namjoon o observava, atento, sempre abrindo um sorriso bobo ao ver o esposo falar. Jimin ficava dividido entre olhar para um ou outro, apreciando o amor claro que havia entre eles.

— Falou? — Jimin perguntou, simples, apenas para fazer conversa. Às vezes, cenas de sua noite de sexta-feira passavam por sua cabeça, e Jimin se perguntava como ele tinha feito tudo aquilo sem entrar em combustão em algum momento. — Que bom.

— Disse que você é muito educado, um verdadeiro cavalheiro. — Hoseok comentou, uma expressão perto de aristocrática em seu rosto. Namjoon riu fraco do esposo e balançou a cabeça, desacreditado com o que ouvia. — Mas não é esse tipo de detalhe que eu quero.

— Foi uma noite boa. Não tem o que falar. — Jimin deu de ombros. Ele torcia para que suas bochechas não ficassem avermelhadas quando imagens da madrugada passaram por sua mente. — Acho que ela se sentiu da mesma forma que eu.

— Isso quer dizer que vai rolar um segundo encontro? — Namjoon perguntou, surpreso, tirando a atenção de Hoseok para focar em Jimin.

— Quer dizer que não vai rolar. Não de propósito. — Jimin colocou comida em sua boca e escondeu o rosto atrás de suas mãos, usando alguns segundos de mastigação para pensar no que dizer. A conversa que teve com Junghwa no carro passou por sua cabeça, e ele deu de ombros novamente. — Foi prazeroso para nós dois, mas acho que acaba aí.

— Eu não queria que vocês se apaixonassem perdidamente

— Eu sei. — Jimin interrompeu Hoseok, fazendo uma careta. Ele sabia. Teve a mesma conversa com Yoongi antes, ele sabia. — Mas não foi elétrico. Foi bom, mas não foi fora desse mundo. Foi... legal. Só isso.

— Tudo bem. — Hoseok concordou. Fez uma careta breve, e abriu um pequeno sorriso. O assunto parecia estar perto de chegar ao fim. Jimin agradeceu mentalmente por isso. — Pelo menos você transou.

Hyung.

Jimin foi embora naquela segunda à noite segurando um dos potes de plástico de Hoseok em mãos, cheio de comida. O metrô já estava mais vazio, e as pessoas pareciam mais cansadas àquela hora. A voz simpática anunciando cada estação estava o dando nos nervos. Jimin queria chegar em casa logo para tomar um banho, e, enfim, dormir. Seu dia não havia sido ruim, longe disso, ele até o classificaria como bom. E talvez aquilo tivesse o cansado tanto – gastou todas as suas energias em coisas positivas, coisas que o fariam bem. Quando estava perto de chegar em casa, com o rosto se aquecendo por conta do calor que fazia, Jimin abriu um pequeno sorriso, pensando em sua pequena vitória da semana.

Para surpresa de Jimin, na terça, Jeongguk não o convidou para almoçar, optando por acompanhá-lo até a copinha com seu próprio pote de comida em mãos. O gerente do setor financeiro comentou, com a voz tímida, que teve alguém para se preocupar com sua alimentação na noite anterior. De certa forma, a informação fez partes de Jimin se aquecerem de maneira inusitada. Ele evitava se aproximar muito de Jeongguk em ambiente de trabalho, sabendo todo tipo de comentário maldoso que poderia sair das bocas de pessoas que se preocupavam demais com a vida alheia. Por consequência, também não se aproximava muito mesmo longe da empresa, preferindo conversar com Yoongi ou ver Jeongguk e Seokjin em uma de suas discussões sem interferir. Então, ouvir aquilo de seu chefe o fazia pensar que, quando era permitido, ele era visto como algo próximo de um amigo.

— Eu também não faço meu almoço. — Jimin apontou para o micro-ondas, onde sua comida estava esquentando, e perdeu o olhar curioso de seu chefe, que já almoçava. — Tenho um amigo que trabalha em um restaurante. Ele traz sobras para casa... Sabe como é.

— Melhor do que desperdiçar comida. — Jeongguk deu de ombros e colocou um pouco de comida na boca, fazendo uma careta ao sentir a língua queimando com o calor. Jimin deu uma risada nasalada com a cena. — Eu não costumo pensar muito no meu almoço. Só faço meu jantar para a noite, como, e vou dormir. É mais fácil comer em um restaurante do que preparar algo para comer na noite anterior.

— Mas dessa vez teve alguém para preparar para você. — Jimin arqueou uma sobrancelha, colocou um sorriso travesso no rosto. Na mesma hora, as bochechas de Jeongguk começaram a ganhar uma coloração avermelhada, e o micro-ondas apitou, indicando que a comida já estava quente. — Foi uma namorada?

— Não sei se namorada seria o termo certo. — Jeongguk comentou, arqueando suas sobrancelhas e soltando uma risada curta. Para Jimin, soava como se tivesse sido debochada, mas ele não perdeu muito mais tempo pensando naquilo. Seu estômago roncava impaciente, e ele queria comer. — Não diria que é um namoro.

— Essa pessoa se importa com você. — Jimin disse, fazendo uma careta ao segurar as bordas aquecidas de seu pote. O cheiro estava bom, e seu estômago roncava mais alto. Jeongguk o observava, parecendo surpreso com o que tinha ouvido, mas o ex-soldado não percebeu. — Quem quer que seja.

Jimin preferia ouvir Jeongguk falando ao invés de falar. Por mais que seu chefe falasse das cobranças que andava recebendo da diretoria, Jimin ainda achava sua voz melodiosa, e a maneira como ele deixava um pouco de sotaque de Busan escapar quando ficava nervoso o trazia certa calma. O almoço esfriava aos poucos, mas a conversa entre eles se mantinha acesa. A presença de Jeongguk era serena. Devia estressar Jimin, ainda mais por ser seu chefe, mas o gerente tinha uma aura jovial que não lhe permitia ser uma companhia desagradável. Jeongguk lembrava Jimin de seu irmão mais novo. E pensar que recebia ordens de alguém que ele considerava dessa maneira o fez abrir um sorriso, perto de rir.

As semanas de Jimin iam intercalando entre boas e ruins. Às vezes, ele acordava com vontade de continuar exatamente onde estava. Com vontade de dormir até ser noite novamente, com vontade de ficar preso entre quatro paredes sem ver uma única pessoa. Ele sabia que precisava lutar contra aquilo, precisava se levantar e viver seu dia, nem que fosse se arrastando, mas às vezes era difícil. No entanto, as palavras de Taehyung o dizendo que o ajudaria se ele precisasse ecoavam em sua cabeça, e Jimin achava ali sua força para ir em frente. Por mais que fosse um dia difícil, seria um dia vivido. Ele respirava fundo, contava até dez, e fazia as coisas em seu tempo. Um passo de cada vez. Sempre buscando o melhor para ele, sempre pensando em seu recomeço.

Semanas como a que estava vivendo, no entanto, eram as que ele considerava como "boas". Sua cabeça doía menos, levantar-se de manhã era menos difícil. Vez ou outra, quando se sentia bem, Jimin murmurava a letra de uma canção enquanto se preparava para sair de casa. Ele se lembrava de Eunju elogiando sua voz quando o ouvia cantar, em uma época que ele levantava seu tom e não se incomodava se seus vizinhos o ouvissem. Eunju ria, caminhava até ele e lhe dava um beijo. Jimin correspondia com todo o amor que carregava em seu corpo, e deixava um sorriso nascer em seu rosto. Agora, ele não tinha mais isso. Mas, pelo menos, ainda podia cantar sozinho em sua cozinha, em seu quarto, em seu banheiro. Eunju tinha o deixado, mas não havia levado tudo.

— Você anda falando mais ultimamente. — Yoongi comentou na quinta-feira, enquanto Jeongguk reclamava sobre algo que tinha acontecido no andar do financeiro durante a manhã. Jimin não estava interessado em ouvi-lo porque tinha visto acontecer, então se ocupou em brincar com um guardanapo. Isto é, até Yoongi soltar uma frase que era direcionada a ele, sem lhe dar um contexto prévio. — Não falando mais, mas suas frases são mais longas.

— E não eram antes? — Jimin arqueou uma sobrancelha, encolhendo seus braços e os cruzando. Yoongi o observava com o rosto apoiado em sua mão, o cotovelo apoiado na mesa, e de cenho levemente franzido.

— Não muito? — Yoongi fez uma careta, tentando buscar em sua memória as primeiras vezes em que se falaram. Jimin se lembrou do incidente do banheiro e se encolheu ainda mais em seu lugar. — Enfim, eu só quis comentar porque eu fiquei feliz com isso.

— Minhas palavras são motivos de felicidade, hyung? — Jimin sorriu, confuso, e soltou uma risada discreta quando viu Yoongi rolar os olhos com um sorriso no rosto. — Não sabia que eu tinha um impacto tão positivo sobre você.

— É só porque eu sinto que você está mais confortável com a gente. — Yoongi saiu de sua posição e rodou seu indicador, querendo indicar que estava falando das pessoas sentadas à mesa. Jimin olhou para o lado, vendo a expressão irritada de seu chefe, e assentiu, concordando com o que havia sido dito. — Isso é bom. Eu disse que gosto da sua companhia, então sentir que você também gosta da nossa é um alívio.

— Claro que gosto de companhia de vocês. — Jimin assentiu com vigor, achando a ideia contrária a aquela um completo absurdo. Yoongi abriu um pequeno sorriso e tornou a observá-lo com atenção. — Eu não teria voltado tantas vezes se eu não gostasse.

— Vai que você finge muito bem. — Yoongi deu de ombros, olhando em uma direção qualquer, deixando seus pensamentos irem longe. Alguns segundos depois, no entanto, ele tornou a olhar para Jimin, mas agora um sorriso divertido desenhava seus lábios. — Na verdade, acho que você não finge tão bem assim. Eu consigo ver quando você está mais para baixo.

— Então eu vou ter que me esforçar para esconder melhor quando estiver triste. — Jimin arqueou uma sobrancelha, e recebeu de volta uma expressão chateada de Yoongi, com direito a um bico nos lábios e tudo. O ex-soldado riu fraco, e desviou sua atenção para as próprias mãos. — Eu só não quero incomodar ninguém com meus problemas.

— Você não incomoda. — Yoongi se apressou em responder, aproximando sua mão de onde Jimin estava com as suas próprias repousadas. O ex-soldado olhou para cima, vendo o advogado com a expressão séria no rosto. — Se você estiver se sentindo mal e só quiser desabafar, pode desabafar. Não incomoda. De verdade. Eu sei como é bom só poder colocar tudo para fora de vez em quando.

— Eu te garanto que você ia cansar de me ouvir falando sobre meu antigo emprego. Minha antiga vida. — Jimin balançou a cabeça de um lado para o outro e fechou as mãos em um punho, afastando seus dedos que estavam próximos de tocar os de Yoongi. — É só que... – Jimin fez uma pausa, suspirou. — Às vezes pensar em tudo que eu ainda poderia ter me deixa cansado.

— E você quer ficar cansado? — Yoongi perguntou, arqueando uma sobrancelha. Jimin negou sem nem precisar pensar muito, e viu o advogado abrir um pequeno sorriso. — Então o que você pode fazer agora é olhar para frente. Não acha?

— E isso me cansaria menos? — Jimin sorriu, vendo uma similaridade no discurso de Yoongi e o de seus amigos, que o ajudavam a tocar sua vida.

— Se o que te cansa é pensar no passado, sua solução é pensar no futuro. — Yoongi deu de ombros e se encostou à sua cadeira, assumindo uma postura mais desleixada. — Não que seja fácil, não que seja a solução de todos os seus problemas. Mas pode ser um caminho.

Jimin deixou aquelas palavras entrarem em sua cabeça, arrumarem espaço em sua confusão de pensamentos. Yoongi ficou ao seu lado o tempo todo no caminho de volta para a empresa, e ainda o comprou um sorvete de baunilha, alegando que talvez não fosse tão ruim se ele mostrasse favoritismo por um de seus alunos. Seokjin e Jeongguk permaneciam completamente alheios à conversa deles, mas não era ruim. Jimin só queria comer seu sorvete, falar de coisas banais enquanto pensava em tudo que Yoongi havia o dito quando ainda estavam no restaurante. Olhar para frente, pensar no futuro. Se desapegar do passado. Não seria fácil, não seria a solução de todos os seus problemas. Mas podia ser um caminho, exatamente como Yoongi disse.

Yoongi [06:59]: você vai querer usar aquela camisa hoje

Yoongi [06:59]: Jeongguk disse que queria beber mais tarde

Yoongi [07:00]: sua parte fica por minha conta

A sexta-feira começou ensolarada, sem uma única nuvem no céu. Jimin viu as mensagens na tela bloqueada de seu celular e abriu um sorriso, correndo em direção ao seu quarto depois de empurrar uma comida qualquer para dentro apenas para dizer que tinha se alimentado de manhã. O sono ainda deixava seus olhos inchados, mas não o consumia mais, não quando ele tinha começado seu dia com aquelas palavras o encarando e o fazendo sorrir.

Enquanto procurava pela camisa bege em seu armário, Jimin deixava que sua voz ecoasse pelas paredes de seu quarto, cantando uma música de letra romântica que tinha ouvido um artista de rua cantar a caminho de casa na noite anterior. Ele também se lembrou da sexta-feira passada, quando evitou aquela peça de roupa, escolhendo uma camisa preta para usar no encontro com Junghwa. Alguma força maior do que sua existência devia ter lhe dado um alerta, mostrando que a camisa seria útil em outro momento, outra situação. Era quase como mais uma piada que só ele e Yoongi entendiam, algo de exclusividade deles. E, por mais bobo que fosse, fazia Jimin sorrir enquanto se vestia.

Jeongguk parecia estressado quando chegou. A voz, geralmente gentil, estava um pouco mais severa quando pedia um favor ou fazia uma exigência. Jimin tirava alguns segundos de seu dia para observá-lo, querendo procurar algum traço do Jeongguk que ele conhecia, mas tudo que encontrou foi um semblante sério, lábios descontentes e sobrancelhas unidas de tão concentrado que ele estava. As palavras na mensagem de Yoongi apareceram em sua mente como uma luz. A semana de seu chefe andava difícil, Jimin conseguia ver, e talvez ele quisesse se acalmar ao lado das pessoas que ele considerava como seus amigos.

E Jimin era uma dessas pessoas. Jimin era um dos amigos.

O semblante sério de Jeongguk não o abandonou por completo durante o almoço, mas ele se permitia rir na presença dos dois advogados, e soltava uma reclamação ou duas sobre o estresse que estava sentindo. Jimin concordava silenciosamente com tudo que ele dizia – ele próprio havia percebido como a quantidade de coisas para fazer dobrou na última semana, e também sentia parte da pressão que seu chefe sentia. Seokjin tentava aliviar tudo com suas piadas, algumas palavras de incentivo ou duas para o amigo, e Yoongi garantia que ele conseguiria passar por tudo. Jimin os observava, atento. Era quase como se os mais velhos estivessem cuidando do jovem gerente, como se fossem todos irmãos.

— Mais tarde a gente vai beber. — Jeongguk bateu com uma mão na mesa, atraindo a atenção dos outros três que estavam terminando de pagar a conta do almoço. — Está decidido, sem contestar. Eu vou afogar meu estresse em todas as garrafas de soju possíveis.

— Garoto, você quer ficar mais relaxado, e não deixar nós estressados porque temos que levar esse peso bruto que você é para o hospital porque você resolveu entrar em coma alcoólico. — Seokjin amassou a nota fiscal em sua mão e jogou em Jeongguk, fazendo Jimin rir fraco com a expressão irritada de seu chefe. — Vai com calma. Você não tem mais idade para isso.

— Deixa ele, hyung. — Yoongi bateu no ombro do mais velho de leve, fazendo-o virar sua atenção para o amigo sentado ao seu lado. — Se ele entrar em coma alcoólico, a gente finge que nem sabe quem é e vai para casa.

O andar do setor financeiro estava vazio e o céu estava escuro quando Jeongguk largou uma pilha de papéis em cima de sua mesa e se espreguiçou de maneira barulhenta. Jimin nem tinha mais certeza se estava lendo as palavras na ordem certa na tela de seu computador, mas tinha ficado para trás com seu chefe não só para ajudá-lo com tudo que tinham para fazer, mas também porque não tinha se esquecido do convite para beber depois do trabalho. O gerente começou a abrir gavetas, guardar papéis, resmungar sobre "deixar aquilo para segunda", e em poucos minutos estava de pé colocando algumas coisas no bolso da calça, pronto para ir embora.

Lado a lado, Jimin e Jeongguk caminharam pelas ruas movimentadas, indo em direção a algum lugar que o ex-soldado não conhecia. O gerente tinha recebido uma mensagem de Seokjin mais cedo, dizendo que ele e Yoongi já estavam em um bar não muito longe da empresa, apenas para garantir que eles não seriam impedidos de beber por acharem locais lotados demais. Algumas reclamações eram trocadas entre os dois, principalmente de Jeongguk, que só faltava xingar o diretor financeiro com palavras mais sujas do que as que que ele usava. Jimin achava graça de vê-lo irritado daquela maneira porque, no fundo, Jeongguk ainda tinha a aparência de um adolescente. Era quase como se estivesse fazendo birra aos seus olhos.

O bar que Yoongi e Seokjin tinham escolhido para marcar a noite deles era um pouco escondido dos demais que havia por aquela área, e era um pouco mais vazio. A iluminação amarelada combinava com as mesas de madeira e assentos acolchoados, e a caneca de cerveja na mão de Seokjin dava a promessa de horas que se estenderiam em corpos quentes e bochechas avermelhadas. Apesar de Jimin já ter os visto assim que entraram no local, Yoongi acenou para os dois, um sorriso em seu rosto, e logo o advogado sentado diante dele gritou pelo nome de Jeongguk para, como sempre, fazê-lo passar vergonha.

— Você não perde uma oportunidade de me constranger. — Jeongguk resmungou, sentando-se no banco ao lado de Seokjin, enquanto Jimin se sentava de frente para ele, ao lado de Yoongi. — Precisava mesmo gritar meu nome desse jeito?

— Claro que sim. — Seokjin comentou com a voz serena. Antes que Jeongguk pudesse reclamar mais, ele estendeu sua caneca na direção do amigo e o calou por alguns segundos, virando-se para Jimin para continuar. — Jimin, vai querer uma caneca também? Ou vai pedir que nem o Yoongi?

— Depende, o que ele pediu? — Jimin virou-se para o lado, vendo Yoongi completamente encostado na parede, um de seus braços esticados por trás do banco e consequentemente por trás de Jimin.

— Soju. — Yoongi arqueou uma sobrancelha, um sorriso divertido se abrindo em seu rosto na mesma hora. Jimin fez um questionamento com o olhar, querendo entender por que ele estava agindo daquele jeito por causa de algo tão simples quanto uma bebida, e soube que teria uma resposta quando Yoongi puxou ar para continuar a falar. — Álcool feito de arroz.

Na mesma hora, Jimin arregalou os olhos e começou a rir, escondendo seu rosto atrás das palmas de suas mãos. Jeongguk deixou a caneca de Seokjin de lado com uma careta no rosto, recuperando-se das longas goladas que deu, e também sem entender qual era o assunto na mesa. Yoongi ria junto com o ex-soldado, mas o outro advogado estava totalmente confuso, tendo certeza de que tinha perdido alguma piada entre eles.

— Eu vou realmente ficar sem entender esse papo estranho de vocês dois?

— Vai. — Yoongi respondeu Seokjin com convicção, arrancando mais uma risada fraca de Jimin, que estava com os cotovelos apoiados na mesa o observando. — Você e Jeongguk fiquem com suas canecas de cerveja, eu e Jimin vamos ficar com o soju.

Jimin conseguia ouvir vozes de cantores populares saindo das caixas de som espalhadas pelo ambiente, mas não conseguia distinguir a música que eles cantavam. O barulho de pessoas conversando e rindo era muito mais alto, mas, inesperadamente, não o deixava desconfortável, nem o fazia querer sair correndo dali. Os rostos de Seokjin e Jeongguk ficavam mais vermelhos à medida que suas enormes canecas de cerveja iam ficando mais vazias, e suas risadas iam ficando mais escandalosas. Eles falavam sobre trabalho, sobre a vida, reclamavam de seus chefes e discutiam pelas coisas mais inúteis. Jimin gostava de observá-los, de ouvi-los. Eles formavam uma dupla engraçada que o permitia se esquecer de seus problemas por longos minutos.

Quanto a Yoongi – ele estava quieto. Vez ou outra fazia um comentário quando Seokjin o inseria em uma discussão para confirmar algo que ele havia dito, soltava uma frase aqui ou ali para mostrar que estava prestando atenção, mas, na maior parte do tempo, ele só enchia seu copo com mais soju, bebendo em silêncio. Jimin não podia julgá-lo pois fazia o mesmo. Jeongguk e Seokjin eram perfeitamente capazes de manter a conversa fluindo na mesa, usando as poucas palavras da outra dupla como gasolina para incendiar ainda mais suas discussões. Yoongi ria, Jimin também. O ex-soldado se inclinava um pouco mais para o lado, um pouco mais na direção de onde seu corpo sentia o calor de outro corpo, tudo sem perceber. Ele estava confortável. Era verão, sua pele estava aquecida, e tudo parecia certo.

— E aí?

Ao ouvir a voz de Yoongi soar baixa ao seu lado, Jimin virou a cabeça na direção de onde o som tinha vindo, apoiando o queixo em sua mão esquerda enquanto a outra segurava seu copo com soju. O advogado ainda mantinha a mesma pose; encostado na parede, um braço por trás do banco, cercando Jimin. O ex-soldado estava um pouco mais perto agora, no entanto, por conta de sua aproximação inconsciente. Ele não ligou. Não o incomodava, e o permitia ouvir melhor o que Yoongi falava. Jimin observou o rosto do mais velho por alguns segundos e riu fraco, levando sua bebida à boca antes de responder.

— O quê? — Jimin disse, colocando seu copo em cima da mesa. Yoongi deu de ombros, e, naquele instante, o ex-soldado percebeu como seus olhos estavam mais caídos e suas bochechas estavam mais rosadas. — Já está bêbado, hyung?

— Um pouco. — Yoongi confessou, sua voz saindo em um murmúrio. Ele umedeceu os lábios com a língua, devagar, e, com as pontas dos dedos, tocou o colarinho da camisa de Jimin, deixando sua mão descansar ali. — Você realmente fica bem nessa camisa. Combina com sua pele e com seu cabelo.

— Esse é um elogio que nunca pensei que fosse ouvir. — Jimin riu mais uma vez, buscando seu copo em cima da mesa, e perdeu o sorriso pequeno que se formou no rosto de Yoongi por breves segundos. — Meu cabelo? Minha pele?

— Não me faça perguntas difíceis, só aceite. — Yoongi fez uma careta. Enquanto Jimin ria de sua expressão, o advogado pegou seu copo em cima da mesa e deu um longo gole em sua bebida, limpando a garganta antes de continuar a falar. — Eu não esperava que você fosse usar mesmo quando eu te mandei aquela mensagem de manhã.

— E por que eu não usaria? — Jimin arqueou uma sobrancelha, inclinou a cabeça para o lado e encarou Yoongi por longos segundos. O advogado não respondeu, mas manteve um sorriso no rosto. — Eu gosto de conversar com você.

— Mas você disse que pensa em coisas que não deveria quando bebe demais. — Yoongi desviou o olhar, focando em encher mais seu copo de soju. Jimin acompanhou o movimento, esperando uma continuação para o que ele havia dito, e, pela primeira vez, sentiu o dedo que se movia delicadamente por seu ombro. — E eu não quero que você fique triste.

— Eu não acho que eu ficaria triste hoje. — Jimin deu de ombros devagar, sem querer afastar a mão de Yoongi com seu movimento. O advogado arqueou uma sobrancelha, a pergunta silenciosa pedindo uma explicação. — Acordei de bom humor. Se eu falasse de coisas ruins, seria um desabafo.

— E desabafos não podem te deixar triste?

— Podem. — Jimin sorriu, lembrando-se de todas as vezes em que falava sobre como se sentia para seus amigos. A angústia, e sensação de perda. Tudo muito intenso, deixando-o exausto. — Mas minha companhia essa noite está boa.

Yoongi falava mais quando estava bêbado, envolvia-se mais no assunto de seus amigos. Seu rosto ficava todo vermelho, sua postura mais desleixada, mesmo que ele tivesse se desencostado da parede. Jimin ainda sentia o braço do homem o rodeando, deixando-o perto, mas ainda com uma saída se ele quisesse escapar do meio-abraço. Os dedos longos do advogado tinham deixado seu ombro, preferindo tocar seu pescoço de maneira tão delicada que quase fazia Jimin sentir cócegas. Seokjin e Jeongguk falavam sem parar, e nem pareciam notar aquele pequeno detalhe. Ou, se notaram, não se importaram. Jimin notava, importava-se. Ele sentia como se a pele de seu pescoço estivesse dez vezes mais sensível, acompanhando cada mínimo movimento das pontas dos dedos de Yoongi na região.

— Ei, Jimin, eu quero sua opinião em uma coisa.

Ao ouvir seu nome ser chamado, Jimin sentiu que sua atenção voltou a ficar presa na conversa, ao invés de ficar pensando em como Yoongi reagia ao que era dito na mesa. Ele murmurou, e, no mesmo instante, Jeongguk escondeu o rosto dentro de sua caneca de cerveja, enquanto Seokjin portava um sorriso malicioso.

— Digamos que você está saindo com uma pessoa há meses e não vê mais ninguém além dessa pessoa. — Seokjin ajeitou a postura no banco, inclinando seu corpo para frente, mais na direção de Jimin. O ex-soldado fez o mesmo, querendo lhe dar atenção, além de estar se divertindo com a conversa. — E, ok, no início era tudo muito casual. Vocês transavam, iam embora, e só se falavam de novo quando quisessem transar de novo.

— Essa história de novo... — Yoongi murmurou e pegou seu copo em cima da mesa, mas foi completamente ignorado por Seokjin.

— Mas agora vocês passam a noite na casa um do outro, saem para trabalhar juntos, dividem roupas, e até conversam um pouco mais ao invés de só meter e ir embora. — Seokjin continuou, empinando o nariz enquanto falava com a voz carregada de malícia, querendo que Jimin entendesse suas intenções. — Você acha que continua sendo algo casual assim?

— Você realmente precisava perguntar para ele sobre isso, hyung? — Jeongguk levantou o rosto, mas tratou de escondê-lo atrás de suas mãos.

— Essa é a mesma pessoa que te fez comida essa semana, Jeongguk? — Jimin perguntou, um sorriso malicioso parecido com o de Seokjin tomando conta de sua feição. Na mesma hora, o advogado abriu a boca em um formato oval, surpreso com a nova informação. — Eu não diria que é algo sério, mas com certeza já deixou de ser casual.

— Ele te fez comida? — Seokjin perguntou, sua voz saindo um pouco mais alta que antes. Mas algo em sua frase fez Jimin arregalar os olhos.

Ele?

Um silêncio pesado se instalou na mesa no mesmo instante. Os olhos de Jimin permaneciam arregalados, absorvendo a única palavra de Seokjin que o deixou daquele jeito. "Ele". Jeongguk o encarava da mesma maneira, mas havia algo diferente ali. Não era só surpresa. Era medo, pânico. Yoongi não dizia nada, mas era quase como se Jimin conseguisse sentir sua tensão mesmo que não estivessem grudados um no outro. Seokjin engoliu em seco. O bar continuava barulhento, mas eles quatro estavam travados, silenciosos. Jeongguk abriu a boca para falar algo, mas a fechou de novo. Então, com um estalo, Jimin se deu conta do peso do pequeno deslize do advogado, e tratou de voltar à realidade de imediato.

— Não tem problema. — Jimin se apressou em dizer, sacudindo sua cabeça de um lado para o outro. Na mesma hora, os ombros de Jeongguk relaxaram e ele encarou o fundo de sua caneca, soltando sua respiração aos poucos. Estava aliviado. Jimin fez uma careta. — Eu não vou contar a ninguém. Juro, não precisa se preocupar.

— Que isso sirva de lição para você não abrir a boca desse jeito, hyung. — Yoongi resmungou, atraindo a atenção de todos na mesa, especialmente de Seokjin. — O Jimin não tem problema com isso, mas e se tivesse? Ele trabalha para o Jeongguk. Só imagina a merda.

— Gente, está tudo bem, sério. — Jimin se pronunciou, tentando falar mais alto para ter certeza de que todos na mesa o ouviriam. Uma de suas mãos cobriu a de Yoongi, um pedido mudo para que ele se acalmasse. — Meus três melhores amigos são gays, eu sei que é preciso ter cuidado com essas coisas.

— Que coincidência, porque você acaba de ganhar mais três amigos gays. — Seokjin apoiou o cotovelo na mesa, seu rosto em sua mão, e abriu um sorriso simpático. Jimin voltou a arregalar os olhos, e, logo em seguida, olhou para seu lado também, onde Yoongi estava sentado, encolhido como se estivesse tentando se esconder depois do que foi dito. — Surpresa.

— Bom. — Jimin engoliu em seco, encostou-se ao banco. Por breves segundos, ele sentiu o braço de Yoongi ao redor de seu ombro, mas logo percebeu como ele havia se afastado alguns poucos centímetros. Uma careta se formou em seu rosto. — Não é como se eu não estivesse acostumado a ser o único hétero do grupo de amigos.

— Você é hétero? — Jeongguk perguntou, a surpresa explícita em sua voz. Não só sua voz, mas também seu rosto. E ele não era o único. Seokjin também parecia estar bem chocado. Jimin não teve coragem de olhar para Yoongi. — E está namorando alguma garota?

— Eu sou divorciado. — Jimin murmurou sua resposta, e, naquele instante, pegou seu copo esquecido em cima da mesa para tomar um longo gole do soju. Sua garganta ardeu, e os outros três caíram em silêncio. — Me separei há pouco tempo. Depois que voltei do exército, na verdade.

— Que situação. — Seokjin comentou, uma careta em seu rosto. Jeongguk deu uma cotovelada em suas costelas, como se ele tivesse dito algo errado, e o advogado reclamou de dor. — É uma situação complicada, ué! Deve ser chato passar por isso.

— Ah, o processo legal é um saco, mas... — Jimin fez uma pausa, umedeceu os lábios. Uma de suas mãos foi para seu cabelo, penteando-o com os dedos, afastando-o de sua testa. Ele coçou a pele por alguns segundos, preparando-se para falar. — Mas acho que no final foi bom para mim. Para ela. Nenhum de nós estava mais apaixonado quando eu voltei do exército, de qualquer forma.

Ao terminar sua frase, Jimin sentiu o braço ao redor de seu ombro se aproximar de novo, o contato ficando mais firme. Sem hesitar, ele olhou para o lado, e deparou-se com Yoongi o encarando com atenção, os olhos pequenos tão intimidantes quanto estavam da primeira vez que se viram. Um polegar leve o fez um carinho por alguns segundos, trilhando um caminho até seu pescoço, até parar por lá. Jimin abriu um pequeno sorriso, Yoongi retribuiu. E, num piscar de olhos, o assunto sobre seu divórcio e sobre a orientação sexual dos presentes na mesa foi esquecido. Jeongguk e Seokjin voltaram a discutir por qualquer motivo que fosse, Yoongi encheu mais seu copo e o de Jimin com sua mão livre.

Os pensamentos de Jimin começaram a se distanciar da mesa. Ele via os sorrisos largos nos rostos de Seokjin e Jeongguk, sentia os dedos de Yoongi fazendo carinho em seu pescoço, mas ele não ouvia nada. Não ouvia o barulho do bar, não ouvia o barulho da conversa. Sua mente estava no dia em que voltou do exército, um pouco mais cedo do que o esperado, e ele abriu a porta de casa para uma surpresa inimaginável. Eunju o encarou de olhos arregalados, atônita, sem conseguir formular uma frase. Jimin não conseguia registrar o que estava vendo. Não conseguia entender porque não fazia sentido. Ele tinha passado tantos meses fora, tantos meses sem vê-la, como–

— Você disse que desabafar não te deixava triste. — Yoongi murmurou, seu rosto muito mais perto do que estava antes. Jimin olhou para o lado, deparando-se com o olhar caído e levemente severo do advogado, as bochechas avermelhadas. O álcool deixava sua fala mais arrastada que o normal, e Jimin não soube responder. — E está aí com cara de paisagem há sei lá quanto tempo.

— Eu não estou triste. — Jimin respondeu, sentindo-se levemente irritado, e virou o rosto para frente. Yoongi não se afastou. — Só pensando.

— Pensando em coisas que não devia. — Yoongi respondeu na mesma hora, sem gaguejar uma letra que fosse.

— Pensando em como eu só acabei me divorciando porque eu vi na minha frente a prova de que minha esposa me traiu enquanto eu estava no exército, hyung. — Jimin virou para o lado, as narinas infladas, o cenho franzido. Yoongi relaxou sua postura na hora, percebendo o que tinha feito. Seus lábios ficaram comprimidos em uma linha fina, esperando uma continuação. — Eu podia não amá-la mais da mesma forma que antes, mas eu gostava de estar casado, do carinho e da confiança da relação. E voltar para casa na esperança de ter tudo que eu tinha de volta, talvez reconstruir meu relacionamento, só para ver tudo desmoronando na minha frente em questão de segundos... — Jimin respirou fundo, prendeu o ar nos pulmões. — Isso foi uma merda.

— Desculpa. — Yoongi murmurou, aproximou-se mais de Jimin e abaixou sua cabeça, derrotado. Seus dedos se apertaram no ombro do ex-soldado, e sua postura relaxou no banco. — Desculpa, eu não devia ter falado nada.

— Não é culpa sua. — Jimin abriu um pequeno sorriso, levou a mão que não estava apoiada na mesa até o rosto de Yoongi, levantando-o. Suas bochechas continuavam vermelhas, seus olhos continuavam caídos. Mas agora estavam culpados. — Eu coloquei a raiva para fora. Agora estou me sentindo melhor.

— Bem. — Yoongi imitou o sorriso de Jimin, focando toda sua atenção nos olhos do ex-soldado. Ambos riram fraco, e Yoongi continuou. — Se precisar colocar mais, eu faço meu ouvido de penico para você essa noite.

Jimin reconheceu a proposta de Yoongi, mas não a levou adiante. Ele não queria pensar muito, não queria sentir raiva, nem queria fazer desabafos. Jimin só queria respirar fundo, sentir o calor agradável que tomava conta de suas bochechas, fosse pelo clima quente do verão, fosse pelo álcool, ou fosse por rir um pouco mais do que estava acostumado. Ele só queria pensar em como se sentia confortável com os dedos delicados de Yoongi fazendo carinho ora em seu ombro, ora em seu pescoço, alternando entre os dois de maneira quase imperceptível. Jimin queria pensar no quão bem ele estava com a presença de um corpo quente ao seu lado, e com a presença de seu chefe e do amigo dele. Não havia um pingo de desconforto em sua alma naquele instante.

Ele só queria que aquela sensação durasse por muito mais tempo do que apenas uma noite.

Jeongguk parecia dormir por alguns segundos toda vez que piscava quando eles decidiram que já tinham bebido o suficiente. De alguma forma, Yoongi conseguiu puxar a carteira de Jimin de suas mãos, impedindo-o de pagar por sua parte e mantendo a promessa que havia feito. O ex-soldado resmungava sobre tudo e nada ao mesmo tempo, murmurando frases incoerentes enquanto assistia a Yoongi pagando a conta com olhos pesados e equilíbrio alterado. O falatório no bar ainda era alto, e agora era difícil de ouvir uma música popular tocando. À sua esquerda, Seokjin estava com a expressão irritada, reclamando de algo que Jeongguk nem parecia absorver direito. Jimin sorriu com a cena.

— Eu não estava mais sentindo minhas pernas. — Yoongi grunhiu quando os quatro saíram do bar, espreguiçando-se e ouvindo alguns ossos estalando com o movimento. Jimin piscava devagar, aproveitando a brisa fresca que corria ali, e prestava atenção em tudo que Yoongi fazia ou dizia. — Jimin, para onde você vai?

— Sangam. — Jimin murmurou sua resposta, fechando os olhos por alguns segundos e respirando fundo, pensando em como continuar. — Será que tem ônibus para lá a essa hora? Eu nem sei que horas são.

Ninguém mora perto de mim, que droga. — Jeongguk resmungou, levando as mãos ao rosto e esfregando as pálpebras dos olhos com força. O cansaço da semana e o álcool se misturavam em seu sangue, fazendo-o perder o equilíbrio algumas vezes. — Agora são três em Sangam, e eu fico sozinho indo para Banpo.

— Para de reclamar, Jeongguk. — Seokjin disse um pouco mais alto, colocando um braço ao redor do ombro do homem. Com uma careta no rosto, ele se virou na direção de Yoongi e sussurrou suas próximas palavras. — Eu vou com ele hoje. Só para garantir que ele não vai dormir na porta de casa só porque não se lembra da senha do apartamento dele.

— Então eu vou para Sangam com o Jimin. — Yoongi respondeu no mesmo tom, colocando o braço em volta do ombro do ex-soldado também, imitando Seokjin. Jimin riu fraco e concordou, sentindo tudo ao seu redor girar quando fechou os olhos por breves segundos. — Cuida dele. E, se ele vomitar no seu pé, eu já falei o que você deve fazer.

— Eu não vou chutar a cara do Jeongguk. — Seokjin disse, mas não baixo o suficiente para Jeongguk não ouvir sua frase. O gerente começou a reclamar sobre o que tinha ouvido, mas seu tom era tão arrastado que suas palavras saíam quase ininteligíveis. — Até outro dia. Da próxima vez que ele beber assim, você vai cuidar dele.

Depois da despedida breve – e de ouvir Jeongguk reclamando por mais alguns segundos até que estivesse longe demais para ser ouvido –, Yoongi e Jimin iniciaram uma caminhada silenciosa até o ponto de ônibus mais próximo, abrindo a boca apenas para discutir qual linha deveriam pegar para saltarem perto o suficiente de onde ambos moravam. O prédio onde Yoongi morava ficava a duas quadras de onde Jimin morava. Ele dizia que o apartamento não era grande, mas era o suficiente para uma única pessoa morar de maneira confortável. Jimin imaginava se era parecido com o seu, com o colchão duro e o travesseiro desconfortável, com a vista para mais uma porção de prédios que construíam a paisagem da cidade.

— Eu costumava morar em Seocho antes de ir para o exército. — Jimin comentou. Eles já estavam dentro do ônibus, sentados e balançando de um lado para o outro de acordo com as curvas que o motorista fazia, mas tinham se mantido em silêncio até então. — Tinha comprado um apartamento lá.

— Seocho? — Yoongi perguntou, virando-se em seu assento para encarar Jimin melhor. O ex-soldado fez o mesmo, encostando a cabeça no acolchoado desconfortável. — Por que você saiu de lá?

— Comprei o apartamento no nome da Eunju. — Jimin murmurou, vendo como a expressão de Yoongi suavizou na mesma hora. Não havia pena em seu olhar. Havia culpa por ter feito uma simples pergunta. — Meu advogado disse que eu podia pedir de volta, mas eu não quis. Ia dar muito trabalho.

— Era um direito seu. — Yoongi devolveu no mesmo tom, um leve bico se formando em seus lábios. Jimin riu fraco, os ombros mexendo. — Era sua casa. E deve ter sido caro.

— Eu te disse que vi uma prova de que ela tinha me traído enquanto eu estava no exército, hyung. — Jimin sussurrou, lembrando-se da cena por breves segundos. Respirou fundo, contou até cinco, focou no rosto de Yoongi. Olhar para o advogado fez a angústia repentina desaparecer de seu peito. — Eu não queria deixá-la sem um lugar para morar.

— Eu lamento. — Yoongi murmurou, esticando sua mão até encontrar a de Jimin, que estava repousada sobre sua própria coxa de maneira desleixada. O ex-soldado abriu um pequeno sorriso, concordando com o que tinha sido dito. — Ninguém merece passar por isso. Foi injusto com você, Jimin.

— Deve ter sido culpa minha. — Jimin comentou, fechou os olhos, perdeu a expressão de surpresa no rosto de Yoongi. Depois de alguns segundos de silêncio, o ex-soldado respirou fundo, sentindo sua cabeça girar. — Por não prestar atenção no melhor amigo da época da escola que apareceu do nada antes de eu ir para o exército.

Yoongi acabou deixando Jimin na porta de casa, alegando que sabia bem o caminho até seu prédio dali. A despedida foi silenciosa, com um aceno tímido e um sorriso pequeno de ambos. Jimin sentia seu interior se revirar por completo enquanto assistia à silhueta de Yoongi caminhar rua acima, com as mãos dentro do bolso da calça. Ele mal piscava, querendo ter certeza de que o advogado estaria bem até virar a esquina, pelo menos. Em algum lugar dentro de sua mente cansada, ele repassava a conversa que teve dentro do ônibus, lembrando-se do toque dos dedos de Yoongi nos seus. Lembrou-se do conforto, do carinho.

Jimin deixou o sorriso em seu rosto se alargar, sentindo uma dor confortável em suas bochechas depois de passar tantas horas com aquela expressão.

Abriu o portão do prédio, ouviu seus passos pesados ecoarem pelo ambiente silencioso, e segurou com um pouco mais de força a única alça de sua mochila que estava sobre seu ombro.

E nem percebeu como seu coração batia forte em seu peito.

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