Um CEO de Natal

By raiosouza

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Dean Rodwell odeia o natal. O CEO da Rodwell Inc nunca gostou de comemorar o caos natalino e faz de tudo para... More

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personagens
dedicatória
Introdução
Prólogo
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16

Capítulo 1

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By raiosouza

Ayla Auburn

Eu sabia que o natal desse ano seria complicado, mas não ao ponto de ter alguém morrendo dentro da minha casa

— Ele morreu, ele morreu, ele morreu!!!

— Elizabeth Auburn, deixa de show! Ele não morreu.

Eu acho, pensei enquanto avaliava o homem grande escorado na minha porta. Ele pareceu apagar por um segundo, mas logo retornou.

Quer dizer, retornar é uma palavra forte. Eu não gosto de palavras fortes. Ele estava mais pra um homem congelado, tremendo e fitando o nada. E aqueles olhos castanhos, frios, ficavam cada vez mais pesados.

Eu preciso ajuda-lo logo.

Agachei e circulei sua cintura, puxando-o para cima.

— Vai ter que me ajudar, vamos, levante.

Lizzy segurou uma perna dele e levantou.

— Você não, garota. Estava falando com ele! — Ela me obedeceu e soltou o pé do homem, que caiu pesado contra meu assoalho. — Vamos lá moço, me ajude à te ajudar.

Ele gemeu.

Incompreensível, mas pelo menos era algum sinal de vida.

Com dificuldade eu o joguei no meu sofá. Lizzy ainda observava de longe, e o desconhecido ainda batia os dentes de frio.

— Meu bem, vá buscar um edredom no meu quarto, por favor. E traga toalhas também.

Ela saiu correndo, molhando a casa com as botas de neve, mas eu não podia reclamar no momento.

Livrei o homem do seu sobretudo fino, dos sapatos e meias, e também do paletó. Precisava livrar ele daquela roupa encharcada e gelada o mais rápido possível antes que sofresse por hipotermia.

— O que... o que está fazendo? — Ele reclamou, fraco e trêmulo. Mal tinha forças para me impedir de abrir sua camisa de botões.

— Te impedindo de morrer.

E mesmo feito um cubo de gelo, um sorriso lateral despontou nos seus lábios roxos. Foi assustador.

— Achei que não tivesse huma.. humanidade.

— Pois é. — Tirei uma das mangas da sua camisa e puxei a outra. — Mas seria complicado explicar porque eu deixei um cara morrer no meu sofá.

Joguei a camisa molhada no chão. O homem cruzou os braços sobre o peito, tentando se aquecer. Se eu tivesse uma lareira ou um aquecedor mais potente... mas até dentro de casa a gente precisava se agasalhar. Com esse inverno principalmente. Colocaria meu pescoço na forca só por usar o aquecedor, e nem sei como vou pagar a conta de luz desse mês, mas é isso ou usar a ideia de Lizzy de colocar fogo na casa. Nessa altura do campeonato, só isso iria nos aquecer.

Desafivelei seu cinto com rapidez, abrindo os botões da calça social quando sua mão grande me parou. Para alguém morrendo de frio, até que ele apertava bem forte.

— Não vai me pagar um jantar antes?

Que otário. E ele ainda sorria, mesmo de olhos fechados e tremendo feito um filhote de gato sem pelos.

— Vou te pagar te livrando da pneumonia, que tal?!

Ele afrouxou o aperto e me soltou, resmungando.

— Deve servir.

Achei que fazer isso iria me abalar. Quer dizer, não tinha porque eu me abalar. Tenho vinte e oito anos e já vi muitos caras pelados na minha frente. Já tirei a calça de um bocado deles, e raramente era uma parte excitante da história. Mas me senti constrangida quando encarei sua boxer preta.

Pelo amor de Deus, Alya, o homem está indefeso e você não consegue olhar para outro lugar?!

Qual culpa eu tinha se o quase defunto no meu sofá tinha o corpo de um deus? Nenhum dos homens que eu arranquei as calças possuíam coxas grossas daquele jeito. Muito menos um abdômen definido e uma linha em V pecaminosa demais para ser desse planeta.

Ele tremeu de novo, gemendo. Nesse momento Lizzy apareceu na sala aos tropeços carregando um monte de pano que ela só arrancou da minha cama. Eu o cobri rapidamente até o queixo com duas cobertas grossas.

— Ele veio de onde? — Lizzy perguntou.

— Não sei, querida.

Nós duas observávamos o estranho ressoar alto debaixo das cobertas.

— E ele vai ficar bem?

— Claro que sim. Só precisa se esquentar um pouco.

— Nessa casa? — Zombou. — Coitado. Boa sorte, moço.

Ela riu, mas eu não. Era uma piada que me deixava triste, embora o frio aqui dentro fosse um dos menores problemas que eu tinha pra resolver. Um moletom, calças quentinhas e uma manta resolviam o que o aquecedor fajuto não podia, mas a fatura do mês passado não foi paga, e estávamos vivendo de incertezas novamente. A energia elétrica era o primeiro e o último pedido que eu fazia nas minhas orações, e eu já estava sem histórias para contar à Lizzy e camuflar nossa situação.

Pelo menos ela estava viva. E eu também. Já era um grande avanço na vida dos Auburns. Nós nunca vivemos muito pra contar nossa história. A real e verdadeira história, quero dizer, porque nossa pequena e desunida família sempre foi um fracasso. Mentiras, drogas e má sorte. Era um ótimo prólogo de uma linhagem péssima em sobreviver.

Minha avó era uma viciada, minha mãe era prostitua, e meu pai... eu rio sempre que penso. Que pai?

Nada de bom saía dessa família. Nada exceto Lizzy, minha pequena princesa. Por ela, eu fugi daquele circo de horrores na Louisiana e vim para o coração da América, Nova York. Minha vida pode parecer um desastre agora, mas antes estava muito pior.

Nós duas moramos sozinhas no subúrbio de Nova York, em uma rua estranha e estreita. Também é bastante escura, então evitamos sair à noite. A casa só tem uma sala com uma cozinha americana, um quarto e um banheiro, mas é o suficiente para fazermos nosso lar.

Eu não costumo reclamar do que tenho. Aliás, agradeço todos os dias por cada mísera colher aqui dentro. Conquistei tudo dando a cara à tapa. E eu sei que posso ser meio bruta, estressada e teimosa às vezes, mas foi assim que a vida me moldou. Ela deu o primeiro soco, e desde então eu aprendi a me defender.

Pelo menos Lizzy não teria a infância que eu tive, jamais teria que chamar a ambulância para a bisavó tendo uma overdose, ou se preocupar em se trancar no quarto sempre que a mãe decidia trazer seus clientes para dentro de casa.

Não. Jamais. Minha Lizzy não teria essa vida deplorável. Mesmo que não fosse um castelo de princesas, nossa casa era um lar confortável e seguro para nós duas. Com uns problemas aqui e ali, mas a gente sempre sobreviveu juntas, e nada jamais mudaria isso.

— Elizabeth, vá trocar de roupa e veja se está gotejando no meu quarto, por favor.

Ela assentiu e foi fazer o que eu pedi. Mesmo com doze anos — quando a maioria é uma bomba de insolência e desobediência — ela sempre foi muito solicita e compreensiva. Nunca fez birra por aquilo que eu não podia lhe dar, e tinha prazer em me ajudar. Acho que eu a eduquei bem.

Minha mãe diria que era uma grande piada se soubesse disso. Eu quase não consegui me formar no ensino médio, quem dirá ter QI suficiente para criar bem uma criança.

Toma essa, Francine Auburn.

O homem começou a se mexer e tentou se levantar, mas desistiu quando voltou a tremer a mandíbula.

Quem é você? Me preparei para perguntar. Por que está aqui? Por que tem que estar aqui? Eu não quero você no meu sofá.

Mas como eu poderia expulsá-lo se ele não ia nem me entender?! Minha programação para hoje à noite era acender algumas luzes de natal que eu comprei com tanto esforço para Lizzy, fazer um chocolate quente pra nós duas e depois ir dormir. Iria recuperar meu sono perdido e a saudade da minha filha, já que os trabalhos consumiam o meu dia por completo. Não estava no roteiro ter que abrigar um desconhecido e impedir que ele morresse de hipotermia logo na noite mais fria nos últimos anos.

Suspirei, baixando a guarda agora que ele parecia mais relaxado. Suas feições mudaram devagar, de rígidas como uma pedra, até suavizar. E ele era bonito. Sim, um estranho bonito de lábios roxos e olhos fundos.

Mas apesar da aparência meio mórbida, ainda dava para ter um vislumbre da sua altivez. O cabelo era preto e com cachos domados pelo corte curto, em um degradê milimetricamente bem feito. Tinha o maxilar bem marcado que parecia sempre rígido e a boca larga, carnuda. Os seus cílios eram enormes e as sobrancelhas grossas. Era o tipo de homem que tinha pelos no peito e as unhas bem cuidadas. O que me deu cinco por cento de alivio, pois as chances de ser alguém descente eram maiores.

Me afastei do sofá e tirei meus casacos, pendurando no cabide da porta. Me livrei das botas, gorro e luvas. Por sorte consegui algumas doações de roupas mais quentes. Coloquei o moletom que já estava me aguardando ali e voltei para perto do sofá.

— O que eu faço agora?

Tem um homem maior que o meu sofá na minha sala, e nenhuma solução me atinge. Eu sou boa em soluções. Sempre resolvo tudo. Eu cuido de mim, cuido da minha filha, mas e desse homem? Eu cuido também?

Não.

Não, essa ideia é inconcebível. Não posso ter outra responsabilidade debaixo do meu teto de vidro rachado. Eu prometi a ele cinco minutos e é tudo isso que terá.

Cutuquei seu ombro coberto. Ele nem se moveu. Cutuquei mais forte, sem nenhuma delicadeza.

— Ei, acorde.

— Não estou dormindo.

Sua voz grave me fez dar um passo apressado para trás.

— Você tem que ir embora, não pode ficar aqui. Me dê o número da sua família que eu vou ligar.

Acho que ele riu. O som saiu deformado e ele se enfiou ainda mais debaixo dos panos.

— Não tenho família.

— Eu ligo para os seus amigos, então.

— Como eu queria rir ... — divagou, ainda de olhos fechados.

— Quer saber? Tudo bem, eu me viro. Seu celular deve estar em algum lugar por aqui.

Abri sua bolsa, revirando as poucas roupas ali, mas não achei o aparelho. Fui até o monte de roupas molhadas no chão, e finalmente encontrei seu IPhone dentro do bolso da sua calça. Mas não estava ligando, não estava funcionando.

— Ah não, não, não.

Será que queimou depois de absorver a água?

Talvez eu chame a polícia, afinal.

— Pronto, mãe — Lizzy voltou e imediatamente foi para perto do homem no sofá. — Ele está vivo.

— Eu te falei.

— Mas não parece muito. Posso chamá-lo de Homem de Gelo?

— Não querida, isso é falta de educação.

O homem concordou com a cabeça.

— Meu nome é Dean — sussurrou.

Combinava com ele, o nome. Era bonito e elegante, mas eu ainda não sei porque reparei nessa bobagem.

— É um prazer, Dean. Eu sou a Elizabeth. Mas todo mundo me chama de Lizzy.

— Filha — eu chamei sua atenção. — Deixe-o descansar. Não fique importunando.

— Ele vai ficar aqui em casa, mãe?

— Não, ele vai embora daqui a pouco.

— O inferno que eu vou — Dean resmungou.

— Existe sempre a polícia — retruquei, desistindo de tentar fazer seu celular funcionar.

Ele se remexeu no sofá e se sentou devagar, ainda agarrado ao edredom como sua segunda pele.

— Eu exijo que me deixe ficar — impôs. E mesmo fraco, aquele homem conseguia exalar uma força de poder comparado à realeza.

Bom, saudável ele deveria ser um pé no saco.

— Ah, você exige? –- Perguntei, divertida, me aproximando novamente.

Parei na sua frente, com os braços cruzados.

Quando ele me encarou, aquela força toda me atingiu com um impacto. Agora ela era sólida e quase palpável, tinha uma cor vermelha, como o cobre ao redor da sua íris castanha.

— Sim, você não pode ser tirana o suficiente para não me abrigar essa noite.

— Ela pode sim — Lizzy disse.

Eu a olhei séria, mas ela deu de ombros, como se não pudesse fazer nada além de contar a mais pura verdade.

— Eu não te conheço. Não vou abrigar um estranho que pode ser facilmente um assassino. Eu posso ser uma assassina, e você também não saberia.

— Ela pode sim — Lizzy repetiu.

O homem no meu sofá bufou. Ele bufou, pra mim! Então se levantou e impôs toda sua altura desnecessária. Na minha sala pequena, de frente para mim, ele parecia um gigante.

Ele segurou o edredom ao seu redor para se cobrir.

— Eu sou Dean Rodwell, e não sou nenhum assassino. Meu carro quebrou na estrada e minha casa está longe demais para ir andando. E se você não percebeu ainda, estamos no meio de uma tempestade de neve. Eu não vou à lugar algum até ter condições, e é ridículo que eu precise te explicar isso. Agora, por favor, senhora, onde fica o banheiro?

Lizzy apontou para a porta à direita.

Eu o observei sumir, calada. Me odiei por não responder à altura e imediatamente, mas ainda estava parada, olhando para Dean Rodwell e pensando em como seu nome soava familiar.

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