capítulo 8

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Ayla Auburn

Na manhã seguinte a vergonha me tomou. Demorei a sair do quarto, movida unicamente pela fome. E também, se demorasse muito para aparecer, ia fazer tudo ser mais embaraçoso ainda.

Melhor enfrentar as coisas e fingir que não há nada de errado.

Na cozinha, Dean e Lizzy já faziam o café da manhã. Os dois conversavam alguma besteira, Lizzy com muito entusiasmo e Dean com um sorriso simples em resposta.

- Então não faz sentido você ter tanto dinheiro se não consegue ir pra casa - Lizzy disse enquanto comia uma panqueca pequena com as mãos.

- É, pelo visto alguém quer muito me manter aqui - Dean respondeu.

- Com certeza não sou eu - Eu comentei, chegando devagar, por causa da perna dolorida, e sentei ao lado da minha filha.

- Pode ficar tranquila - Dean respondeu. - Eu sei muito bem que você não me quer por perto.

Evitei olha-ló. Mas sabia. Aaah como eu sentia. O sorriso vitorioso de presunção pairando sobre mim.

Por sorte eu dominava a sutil arte de fingir que nada havia acontecido. Ele não conseguiria me afetar com nenhuma piadinha. Afinal de contas, eu quem ganhei isso tudo. Gozei ontem e não ligo a mínima pros comentários dele de hoje.

Vida que segue.

Ele serviu duas panquecas grandes para Lizze e colocou um prato na minha frente.

O interrompi antes que me servisse.

- Não, obrigada, não estou com fome.

- Mãe as panquecas estão ótimas. Até que é gostoso comer saudável - Minha filha disse de boca cheia, segurando um prato com outras três panquecas fofinhas e cobertas de mel.

- Eu estive explicando a ela - Dean comenta - que nosso corpo é um templo. Ele nos sustenta, nos possibilita trabalhar, andar, viver. Deveríamos retribuir com amor. Comer todas essas besteiras é ser ingrato com a vida, e dar um passo em direção à morte.

- Esta doutrina não funcionará nesta casa, Dean, desista. Eu só como depois das 12.

Dean franziu as sobrancelhas e olhou no relógio.

- São dez da manhã, Ayla. Você deveria estar faminta.

- Não costumo comer ao acordar.

- Pois irá criar o hábito. - Ele serviu uma panqueca para mim. - Bom apetite.

Urgh. Que mandão.

- Eu disse... - comecei, em um rosnando zangado.

A raiva me consumia de forma súbita e malcriada. Meu humor já não era dos melhores pela manhã. Com esse cara me forçando a comer, bom, a bomba foi acionada.

- Oh. Oh. - Lizzy sussurrou é pegou seu prato, levantando da cadeira. - Acho que vou ver o que está passando na TV.

Sobrou apenas eu, Dean e meu ódio naquela bancada fria.

- Depois de tanto esforço ontem a noite, é de se esperar que esteja com fome. - Dean apoiou as suas mãos grandes na mesa e curvou seu corpo para frente. Assim conseguia um contato visual melhor comigo.

Fechei os olhos com a lembrança. Foi automático a vergonha.

- Cala a boca, Dean.

- Não tem pena de magoar meus sentimentos, Ursinha? Fiz essa panqueca especialmente pra você. - Ele falou com uma voz melodiosa. Grave e rouca, porém substituiria qualquer orquestra, qualquer sinfonia, com uma dúzia de palavras pecaminosas.

Um CEO de NatalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora