Capítulo 3

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Ayla Auburn

Pensando melhor, há realmente males que vem para o bem. Ou quase isso.

Contei as notas de cem mais uma vez enquanto preparava o jantar. Não tinha como reclamar da grana, apenas do dono dela. Consigo pagar três contas atrasadas facilmente, incluindo a conta de luz. E ainda sobraria alguns dólares para comprar comida, isso se a tempestade de neve cedesse o suficiente para que a gente conseguisse sair de casa.

Era um dinheiro bem-vindo, precisava admitir, mesmo que para isso minha casa tivesse que virar hotel para Dean Rodwell.

Rodwell... onde eu já ouvi falar desse nome? Com certeza era alguém endinheirado, para ter tantas notas de cem apenas na carteira. Eu podia perguntar, mas isso iria gerar mais um pequeno laço entre nós e eu não queria mais nenhum nó com aquele homem. Só precisava que ele fosse embora amanhã bem cedo, e que a vida desse um jeito de voltar ao normal.

Ele era um estranho no meu sofá. Podia ser uma ameaça para a minha filha e eu não estava disposta a sofrer o perigo. No mundo de hoje, todo cuidado é pouco.

Dei mais uma olhada em Lizzy, que assistia uma serie engraçada no sofá, do lado do homem estranho. Até a conta da netflix ele já tinha acomodado na minha TV. Para quem não queria laços, eu estava deixando passar coisas demais.

Também peguei suas roupas molhadas e joguei na minha secadora. Não dava para ele andar por aí pelado debaixo de um edredom. Principalmente quando eu sabia o que ele escondia, e minha nossa, era um perigo.

Não era como se eu não tivesse visto homens bonitos antes. Trabalho em um parque temático onde caras interpretam príncipes encantados, eles precisam ser além de bonitos. Mas também eram um pé no saco. E foi assim que paguei ranço de gente linda. Sinceramente? Estava cansava de ter que encarar tanquinhos bem definidos e rostos assimétricos. Quase sempre eles acompanhavam uma personalidade nada interessante.

E era esse era o perigo em questão. Dean Rodwell parecia um deles. Seria facilmente confundido com os babacas do meu trabalho, com a diferença de que ele não fingia ser rico, Dean realmente tinha muita grana. Era só avaliar o tecido nobre das suas roupas. Já trabalhei como costureira e eu sei que esse suéter é mais caro que minha feira do mês.

Nessa casa ele estava sujeito ao meu total desprezo.

Isso, sim! Desprezá-lo com toda a maldade que há em mim parecia ótimo. A melhor ideia que eu já tive.

Sorri ao provar o macarrão com queijo. Tinha gosto de sagacidade.

Se eu tratasse Dean Rodwell com desprezo e indiferença — talvez até um pouquinho de maldade —, ele iria embora rapidinho.

E sim, eu não tenho nenhuma vergonha em fazer isso. Nem sei como se soletra escrúpulo, e minha mente não pesa um grama sequer em colocar minha ideia em ação. Não tenho nada a perder mesmo.

Coloquei a panela no balcão da cozinha e separei o meu prato e o de Lizzy.

— O Jantar está pronto — avisei.

As duas cabeças concentradas na TV se viraram rapidamente, e logo vieram até o balcão. Lizzy pegou seu prato e voltou para o sofá, satisfeita. Eu sentei no banco de madeira e comecei a comer.

— O que é isso? — Dean franziu o nariz ao olhar o conteúdo da panela. Ele mexeu o macarrão com uma colher e sua cara de nojo se intensificou.

— É macarrão com queijo.

— Parece lavagem para os porcos.

Que cara fresco.

— Não me diga que nunca comeu macarrão com queijo!

Um CEO de NatalWhere stories live. Discover now