Capítulo 2

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Dean Rodwell

O banheiro pequeno e abafado era o melhor lugar da casa. Sem barulho, quentinho e onde eu podia finalmente mijar.

Foi uma surpresa eu conseguir me manter em pé, quando meu corpo inteiro ainda sacudia por dentro com frio. Mas pelo menos não estava lá fora, e não ia morrer com hipotermia. Era um alivio.

Entretanto, nem todas as ameaças foram eliminadas, a mulher raivosa na sala parecia bem determinada em jogar meu corpo na neve. Mas se ela iria contra o princípio da empatia, então eu iria contra o princípio da educação, e permaneceria na sua casa até arrumar um jeito de sair dessa espelunca caída o mais rápido possível.

Por Deus, nem água quente tinha. Como elas tomavam banho? Só as primeiras gotas do chuveiro me fizeram pular para atrás de tão geladas.

Arrumei o edredom ao meu redor e saí do banheiro. As duas ainda estavam na sala.

— Onde está o meu celular? — Perguntei.

Fodam-se os táxis e o meu vice-presidente, eu gastaria uns bons dólares se fosse preciso, mas sairia aqui.

A mulher me entregou meu Iphone com uma visível indiferença no rosto.

Um rosto bonito, devo dizer. Um que eu estava admirado até agora, porque carregava tantas emoções explicitas ali, na curva dos lábios cheios e do nariz arrebitados, mas principalmente nos olhos verdes e selvagens, me desafiando com um simples olhar.

Fascinante, pensei. Mas ainda assim, assustador.

— Ele não funciona — ela disse.

— Como assim não funciona?

— É o que acontece quando você deixa seu celular molhar. Ele para de funcionar — Explicou com sarcasmo.

Tentei ligar meu Iphone, mas tive o mesmo sucesso que ela. Nenhum. A tela continuava preta, não importava o meu desespero.

Suspirei, alto. Não sou um cara que perde a cabeça com facilidade, mas já estava chegando perto do meu limite.

— Então me dê o seu — ordenei. Não dei nenhum espaço para ela recusar o meu pedido.

— Não mesmo.

— Então prefere que eu fique na sua casa pelo resto da noite?

Ela hesitou. Eu levantei uma sobrancelha. Ainda estava enrolado naquele edredom que parecia não servir para nada. Meus pés estavam congelando também, descalços na casa fria.

Voltei para o sofá, me abraçando com mais força e me encolhendo em uma bola patética.

A mulher tirou o celular do bolso e estendeu na minha direção.

— Você tem cinco minutos pra dar o fora daqui, entendeu?

— Até parece que eu quero ficar nesse lugar, senhora.

Agarrei o aparelho e disquei o número da emergência, já que era o único que eu sabia decorado. Mas eles não atenderam. Tentei outras duas vezes, sem sucesso.

Foi aí que o desespero realmente bateu.

Eu sou um homem organizado, sabe? Toda minha vida é cronometrada em uma agenda. Quando acordo, quando como, que horas trabalho, para onde vou, quem vou ver hoje... Eu vivo o sentido literal da palavra rotina, sem surpresas durante o mês inteiro. Eu tenho o controle de tudo. E agora...

Agora estou preso na casa de uma estranha que tem grande capacidade de ser uma assassina. Sem carro, sem roupa, sem comunicação.

Eu disse que o natal era meu pesadelo? Bom, mudei de ideia.

Um CEO de NatalWhere stories live. Discover now