Depois de chegarmos ao hotel, que estava cercado por repórteres em busca de atualizações sobre o caso, Josh e eu seguimos direto pro quarto. Não temos psicológico pra falar com ninguém sobre o que quer que seja, então autorizamos que o comandante Williams se encarregue das notas oficiais.
Os membros da minha equipe já não estão mais em Nova York. Todos estão de volta a Los Angeles, aguardando por notícias. Segundo o gerente do hotel, havia sido uma medida tomada pela XIX para que ninguém tivesse mais surpresas desagradáveis, como o sumiço de mais pessoas, por exemplo. Acho tudo uma grande besteira por ter a consciência de que tudo não passou de um plano covarde do Daniel para se livrar do Josh e me pergunto mentalmente se Simon sabia de algo. A lembrança da última discussão que tivemos no estúdio, semana passada, me leva a acreditar que sim, mas o assessor podia ter planejado tudo sozinho, não podia? Bem, isso a polícia irá confirmar ao longo das investigações...
A primeira coisa que faço ao pisar no quarto é separar roupas limpas e tomar um longo e relaxante banho. Tínhamos acesso ao chuveiro durante o sequestro, mas nunca seria a mesma coisa. Quando termino, liberando o banheiro para que Josh faça o mesmo, jogo-me na cama, coberta apenas pelo roupão. Penso em pegar meu celular para olhar as notícias, mas então me lembro de que ainda não o recuperei. Preciso me lembrar de, mais tarde, entrar em contato com a polícia novamente para saber se alguém o encontrou.
Enquanto aguardo Josh sair do banho, ligo a TV em busca de algo pra me distrair, o que não ajuda em nada. Metade dos canais por onde passo estão exibindo noticiários cuja pauta é justamente o sequestro que acabara de chegar ao fim. Um deles, inclusive, está fazendo uma cobertura ao vivo, diretamente da porta do hotel onde me encontro. Outro está mostrando a casa onde ficamos presos, tudo nos mínimos detalhes. Reviro os olhos, irritada e decido desligar a tela. Esses jornalistas tem zero empatia. Só querem ser os primeiros a noticiar tudo, sempre.
Entediada, começo a encarar o teto. Sei que deveria estar me vestindo, porém, não sinto a menor vontade de fazer isso. Sinto-me paralisada, impotente e começo a refletir sobre a minha vida, sobre como as pessoas me vêem, sobre o poder que elas acreditam ter sobre mim e minhas ações. O sequestro acabou sendo motivado por isso, não foi? Num determinado momento, não tive a postura que alguém julgou ser a mais adequada e, por se achar no direito de manipular minha vida, essa pessoa armou tudo isso, apenas para que seus planos se concretizassem.
Solto um longo suspiro. Até que ponto o poder cega as pessoas? Até que ponto elas podem ir por dinheiro, guiadas por pura ganância? Eu queria isso pra mim? Queria estar cercada por pessoas assim? Comigo foi apenas Daniel Fox, mas pode ser que existam mais seres como ele, não pode?
- No que está pensando? - sou tirada de meus pensamentos quando Josh se deita ao meu lado, na cama, usando só o roupão, assim como eu. Ele me puxa para si e deixa um beijo demorado em minha testa. Sinto-me protegida.
- Em tudo o que aconteceu, em que atitude tomar diante dos fatos... - suspiro. - Depois do que passamos, providências devem ser tomadas, Josh. E não me refiro apenas a prisão dos culpados. Toda essa situação é consequência de uma sequência de questões indevidas.
- Sei que está preocupada e que quer resolver tudo, mas acho melhor não pensar nisso agora. - ele estreita os braços ao meu redor. - Vamos tentar ignorar todos esses problemas, pelo menos por um tempo. Eu quase morri hoje... Estou tão agradecido e aliviado por estar vivo, que pensar em qualquer coisa ruim parece um crime pra mim.
- Você tem razão, me desculpe. Também acho que não devo ficar pensando em coisas ruins agora. - encaro as esferas azuis, extremamente brilhantes. - Estou feliz por tudo ter acabado bem. Eu tive tanto medo de perder você!
- Também tive medo, de várias coisas, pra ser sincero. De nunca mais ficar assim com você... - ele leva a mão ao meu rosto e começa a contorná-lo com o dedo indicador. - De não poder ver seu rosto outra vez. De nunca mais poder provar seu beijo. Acho que nunca valorizei tanto a minha vida quanto valorizo agora. - Josh termina acariciando meu lábio inferior, suavemente, com o polegar.
Sorrio abertamente pra ele, emocionada. Acho que, em toda a minha vida, nunca ouvi algo tão forte, tão significativo. Sem ter palavras pra dizer algo a altura, levo minhas mãos ao rosto dele e beijo seus lábios. Enquanto nossas línguas se envolvem numa dança gostosa e descargas elétricas percorrem meu corpo, sinto tanto amor, tanto carinho, um sentimento tão puro que não se contenta em ficar só no peito e ameaça romper todas as barreiras.
- Casa comigo! - ele diz ofegante, entre os beijos.
- O que disse? - afasto-me adruptamente para fitar seu rosto.
- Casa comigo, Any! - Josh repete e começa a rir, provavelmente nervoso. Os olhos continuam brilhando como duas estrelas. Fico o encarando como uma débil mental. - Pode parecer precipitado ou coisa de momento, mas garanto que não é. Eu te amo tanto! Tudo o que passamos nos últimos dias só serviu pra reforçar o quanto você é importante pra mim. Não consigo imaginar outra pessoa como minha esposa no futuro, não consigo imaginar meus filhos tendo uma mãe que não seja você... - ele me olha atentamente, esperando que eu diga algo, mas estou totalmente sem palavras. Meu cérebro não consegue formar uma única frase coerente, fazendo-me permanecer estática, maravilhada com a cena. Diante do meu silêncio, ele prossegue. - Tudo bem, eu sei que talvez não seja o melhor momento. Eu nem te comprei um anel, nem nada do tipo, mas eu juro que farei isso assim que voltarmos pra Los Angeles, desde que você diga...
- Sim! - finalmente consigo dizer. Me sento na cama e ele também. - É claro que sim! É óbvio que eu me caso com você! Meu Deus, Josh! - me jogo sobre ele, rindo, num abraço desajeitado.
Termino sentada em seu colo, de frente pra ele. Ficamos nos encarando, então Josh coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Não conseguimos conter os sorrisos, que a essa altura parecem prestes a romper as fronteiras dos lábios, de tão largos.
- Que bom que aceitou, porque eu não saberia o que fazer caso dissesse não. - ele diz depois de um tempo, com as mãos subindo e descendo lentamente pela minha cintura.
- Eu nunca diria não pra você. - digo, com as mãos apoiadas em seu peito. Meus olhos se arregalam conforme a compreensão me atinge. - Ah, meu Deus! Estamos noivos!
- É, nós estamos. - Josh dá risada.
- Eu não acredito. - tenho um pequeno sobressalto. - A tia Laura e a Belinha vão surtar. A Sabina também... E a Diarra, a Joalin, a Shivani! Caramba, eu estou surtando! - digo meio afobada e dessa vez, Josh solta uma gargalhada. - A gente vai casar! Tipo, de verdade... Josh, a gente vai casar de verdade!
- Isso aí, a gente vai casar. Agora respira fundo. - ele diz em tom divertido.
- Desculpe, eu só não estava esperando por um pedido agora. - fico meio sem jeito. - Por isso o surto.
- Não tem problema. Pra falar a verdade, se eu soubesse que essa seria a sua reação, teria feito antes. - como se fosse possível, ele me puxa pra mais perto. Enlaço seu pescoço em resposta.
- Vai por mim, acho que não teria a mesma emoção. - brinco.
- E então, Any Gabrielly Rolim Soares, - o loiro me observa atentamente. - como se sente sabendo que, em breve, será a Sra Beauchamp?
- Ah, eu me sinto adorável! - respondo. Ele solta outra gargalhada, fazendo-me rir junto, e então voltamos a nos beijar, exatamente como antes.
***
Seguiram-se seis longos meses e muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Graças aos depoimentos prestados por Josh, David, Yonta e eu, Daniel foi condenado a bons anos de prisão ao lado de Mike, já que Evan não sobreviveu ao tiro que levou.
David, por sua vez, conseguiu uma pena mais leve e ficou grato por isso. Ele tinha consciência de que devia pagar pelos seus erros. Como forma de agradecimento por tudo o que ele havia feito por mim e pelo Josh, decidi pagar seus advogados. Também fiz questão de arcar com os custos do tratamento de sua mãe, de seu irmão e encontrei alguém para oferecer um lar temporário a sua irmãzinha, Amber, enquanto ele estiver na prisão. Sabina, que sempre amou crianças, ficou muito feliz em receber a garota. Elas vinham se dando muito bem, aliás.
Ao contrário do que Josh e eu imaginávamos, Simon conseguiu provar sua inocência em relação ao sequestro. Daniel havia mesmo feito tudo sozinho e, inclusive, pretendia usar a situação para arrancar dinheiro do empresário.
Mesmo assim, decidi romper meu contrato com a XIX. Simon podia não ter conhecimento sobre os crimes planejados por Daniel, mas segundo Yonta, havia o apoiado na ideia de tirar Josh do meu caminho, portanto, ainda que tentasse, ele jamais teria minha confiança outra vez. Consequentemente, não poderíamos mais trabalhar juntos e nem a multa rescisória gigantesca do contrato me faria mudar de ideia.
Para seguir em frente com a minha carreira, decidi abrir meu próprio escritório, juntamente com Noah Urrea, a S&U Entertainment. Desta forma, teríamos controle sobre tudo, sem precisar nos sujeitar a decisões externas que respingariam diretamente em nós. Yonta e toda a minha equipe fizeram questão de me acompanhar, para assim, darmos sequência a todos os nossos projetos.
Mesmo depois de anunciarmos oficialmente nosso noivado, Josh fez questão de continuar como guarda-costas, mas achou melhor que tivesse um parceiro de trabalho, só por garantia. Então decidimos contratar Keenan, um de seus antigos colegas da academia de segurança e defesa pessoal, para nos acompanhar em todos os lugares, com exceção das viagens pessoais.
Em meio a tantas mudanças e acontecimentos, só encontro motivos para agradecer. Afinal de contas, cada detalhe em nossas vidas, por menor que seja, nos leva exatamente até onde deveríamos estar... No meu caso, levou-me a uma vida feliz, com uma família incrível, ótimos amigos e o homem dos meus sonhos. Sinto-me abençoada por isso e, ao mesmo tempo, ansiosa por tudo o que ainda vamos viver.