Um fã?

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A sensação causada pela água quente percorrendo o meu corpo é de puro alívio. Após três longas horas ensaiando a coreografia da minha nova música, é tudo o que preciso para que meus músculos relaxem. Permito-me continuar debaixo do chuveiro por mais alguns minutos antes de voltar ao quarto e cair na cama usando apenas um roupão e uma toalha enrolada na cabeça. O cansaço me impede de vestir o que quer que seja. Adormeço sem ao menos perceber.

De repente me vejo criança outra vez. Estou no Brasil, ao lado da minha família. Vejo minha mãe ajeitando alguns presentes embaixo de uma árvore. Caramba! Já é Natal? Corro apressada para abraça-la, mas quando estou bem perto, sinto uma força maior me puxar pra longe. Droga! Por que não consigo assumir o controle da situação? Se quero estar ao lado dela, por que não consigo?

O toque alto do celular interrompe meu descanso e então me dou conta de que tudo não passou de um triste sonho. Começo a amaldiçoar a mim mesma por não ter desligado essa porcaria. Sonolenta, atendo a ligação sem ao menos ver quem é.

- Any Gabrielly, onde você está? - reconheço imediatamente a voz irritada de Yonta, minha adorável/insuportável, depende do dia, acessora de imprensa do outro lado da linha.

- Descansando na minha cama. Onde mais eu estaria? - respondo com os olhos fechados.

- Na coletiva de imprensa que devia ter começado meia hora atrás?

Oh oh! Acho que fiz merda! Marcamos essa coletiva há cerca de cinco semanas, quando finalizei meu novo álbum, para anunciar a data de lançamento do mesmo, bem como responder perguntas dos jornalistas acerca das novidades em minha carreira. Como pude me esquecer disso?

- Estou brincando com você Yonta. - forço uma risada descontrolada para disfarçar minha mentira. - É claro que não estou na cama. Me encontro nesse exato momento presa no trânsito. Surgiu um engarrafamento horrível. Segure os repórteres. Te vejo em 30 minutos. Beijos!

Desligo o telefone sem lhe dar chance de resposta. Pulo da cama no mesmo instante e abro o closet, pegando a primeira roupa que vejo pela frente. Visto um cropped branco, uma calça rosa fluorescente e calço sandálias também brancas. Não tenho tempo para penteados elaborados, então acabo optando por deixar meu cabelo solto. Uso apenas um pouco de creme para pentear para domar os cachos e pronto.

Antes de pegar minha bolsa e sair feito louca pela porta, passo um pouco de rímel e batom. Se alguém perguntasse, eu diria simplesmente que era uma nova tendência no mundo pop. Por incrível que pareça as pessoas acreditam nessas baboseiras. No fim das contas estou tão acostumada a dizer isso quando surge um imprevisto que nem faz mais diferença.

Pego meu carro e saio dirigindo descontroladamente pela cidade, respeitando todas as leis de trânsito, claro. Por um milagre dos céus, chego à XIX Entertainment em menos de 20 minutos. Dou risada ao imaginar que Yonta deve estar aguardando ansiosamente para devorar meu fígado e confirmo minha teoria quando, ao entrar na sala de coletivas, a mesma me encara com uma expressão nada boa.

Coloco meu melhor sorriso no rosto e saio cumprimentando as pessoas, que a essa altura nem se lembram mais do meu atraso de quase uma hora. Vantagem de ser uma super estrela! Acomodo-me no lugar destinado a mim, ficando entre meu produtor, RedOne, e meu empresário, Simon Fuller. Yonta também se junta a nós. Inicio a coletiva pedindo desculpas pelo "imprevisto" que tornou meu percurso até a XIX um pouco mais lento que o normal. Em seguida, RedOne e eu respondemos algumas perguntas sobre o novo álbum.

- Any, seu próximo trabalho já tem data de lançamento? Você pode nos contar o nome desse novo projeto? - a primeira jornalista pergunta.

- Sim, eu posso contar. Estou aqui justamente pra isso. - brinco, arrancando algumas risadas. - O projeto se chama "Suffocation" e será lançado em duas semanas, juntamente com o show de estréia da minha nova turnê.

- De onde surgiu a ideia desse nome? Ele reflete sua vida pessoal ou algo assim? - um outro jornalista pergunta.

Prefiro não responder. Odeio falar sobre minha vida particular em público, então passo a palavra ao meu produtor.

- "Suffocation" é sobre nossas prisões cotidianas, sobre coisas que nos limitam de alguma forma. Any e eu, trabalhando juntos, pensamos que seria interessante explorar o tema. Esse álbum será muito diferente de tudo o que já viram Any Gabrielly fazer.

- Podemos esperar por parcerias com outros artistas ou seu novo álbum é totalmente solo?

- Eu estava louca pra que alguém fizesse essa pergunta. - as pessoas dão risada novamente. - É sério! Eu estava muito ansiosa pra falar sobre isso. - sorri. - É com um enorme prazer que anuncio que no meu próximo trabalho haverão três feat's. Estou muito feliz com o resultado, porque são três pessoas que admiro e sou muito fã. - fiz uma pausa dramática. - O primeiro feat foi gravado com o fofíssimo Noah Urrea, o segundo com o maravilhoso Shawn Mendes e o terceiro com a rainha, dona da minha vida, minha diva master, Beyoncé. Gente, sério, eu estou muito, muito, feliz! Gravar com a Bey foi a realização de um sonho pra mim.

As perguntas continuam surgindo conforme vamos respondendo, o que resulta em aproximadamente duas horas de coletiva. Quando finalmente terminamos, tudo o que eu desejo é voltar pra casa para dar continuidade a minha soneca. Prestes a deixar a XIX, noto uma movimentação na porta. Yonta se aproxima dizendo se tratar de um pequeno grupo de fãs que me esperavam pacientemente.

Meus fãs são meus bens mais preciosos, então deixo o cansaço de lado, ainda que por 15 minutos, e vou até eles, atendendo um por um. Recebo cartinhas, ursos de pelúcia e até chocolates. Deus, eles são tão fofos! Sei que algumas pessoas não acreditam, mas amo cada um deles, mesmo não os conhecendo pessoalmente. Agradeço carinhosamente ao grupo e me despeço deles, que vão embora em seguida.

Destravo o alarme do meu carro, coloco meus presentes no banco traseiro e me viro para me despedir também da Yonta. Nesse momento, um homem visivelmente descontrolado se aproxima, me agarrando por trás. Aquilo me causa uma sensação de pânico, de desespero. Começo a gritar, pedindo que ele me solte, mas tudo o que sinto são o que constatei ser sua ereção em minha bunda e seus braços se estreitando cada vez mais em minha cintura enquanto repete incontáveis vezes "Eu te amo, Any! Casa comigo?" e "Nós ainda ficaremos juntos, meu amor. Você é só minha!".

Quando os seguranças se aproximam, afastando o homem de mim, tudo o que consigo fazer é chorar. Estou assustada e enojada demais para fazer qualquer outra coisa. Yonta me leva novamente pra dentro da XIX, mais especificamente para o escritório do Simon, que agora está vazio, e me abraça apertado na tentativa de me tranquilizar.

Your Love Saved Me • BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora