Ajeito a mesa para o almoço. Yonta me ajuda com as taças, os pratos e os talheres enquanto Josh toma uma ducha rápida. Quando ele volta, em menos de 15 minutos, a lasanha está sobre a mesa, pronta para ser devorada. Meu estômago se contorce só de olhar. Servidos, nos sentamos para comer.
- Sinceramente, Josh, eu não esperava por isso. - Yonta diz depois de provar a comida. - De repente, esse encantamento que a Any tem por você faz todo o sentido. Ela tem um namorado, um guarda costas, um motorista, um chefe de cozinha e um companheiro, tudo na mesma pessoa.
- Não é só isso. - provo do vinho. - Ele também é massagista, conselheiro, incentivador, humorista e muitas outras coisas. Não vou me surpreender se um dia ele disser que faz mágica, conserta encanamentos e aparelhos eletrônicos.
- Bom, eu sei consertar encanamentos. - Josh sorri com as bochechas coradas.
- Eu estava brincando. - sim, ele me deixa surpresa. - Mas é bom saber disso.
- Meu Deus! - Yonta diz, aparentemente no mesmo estado que eu. - Ok, Any, pode se casar com ele. É sério, esqueça tudo o que eu disse sobre ter cuidado. Apenas se jogue. Você não pode deixar esse homem escapar! - ela diz. Começo a rir.
- Então quer dizer que estavam falando de mim? - Josh ergue uma sobrancelha, nos observando.
- Mais ou menos. - levo um pouco de comida a boca.
- Não vão me contar o que era?
- O de sempre. Conselhos sobre ter cautela antes de se jogar de cabeça e confiar cegamente, mas parece que agora é tarde demais. - Yonta bebe de sua taça e direciona seu olhar ao Josh. - De qualquer forma, eu retiro o que disse. Ameacei te arrebentar caso magoe essa menina, mas agora acho que é ela quem vai apanhar se te deixar fugir.
- Obrigado, eu acho. - o loiro faz um careta divertida. Eu reviro os olhos, rindo.
- E então, Yonta, sobre o que você queria conversar? - pergunto. Ela ajeita a postura antes de prosseguir. Algo que me diz que não vou gostar de saber.
- Bem, é sobre o Antony. - ela diz.
- O que tem ele? - volto toda a minha atenção a ela. Josh solta os talheres e apoia os cotovelos sobre a mesa, unindo as mãos.
- Ele ainda precisa de você, Any. Já descartamos a ideia do namoro fake, claro, tanto que você se assumiu com o Josh, então Simon e Daniel gostariam que você o ajudasse de uma outra forma.
- Mas nem pensar! - minha voz sai um pouco mais alta do que deveria.
- Any, por favor... - ela suspira. - Você ainda nem ouviu a proposta.
- E nem quero. Eu não quebrei o nariz daquele babaca a toa e você sabe muito bem disso. Não vou ajudá-lo nem que você e o Simon me comprem todo o estoque de vinho do mundo. - me afundo na cadeira e cruzo os braços sobre o peito, emburrada.
- É apenas uma colaboraçãozinha. Apenas uma música. Vocês nem precisam se encontrar no estúdio, não têm que se falar, nem nada disso. - ela gesticula em meio a sua argumentação.
- Ele me chamou de vadia interesseira.
- Mas você pode ficar com 70% dos direitos sobre a música. Todos concordaram. Só falta você.
- Eu não quero trabalhar com aquele cara escroto. - reviro os olhos. - Por que não fazem essa proposta pra qualquer outro artista? O Simon tem muitos contatos. Não seria tão difícil assim.
- Porque o Simon quer que seja você. Ele acha que as vozes de vocês ficarão incríveis juntas e até já encontrou a música ideal.
- Que música? - pergunto apenas por curiosidade.
- "Lovely".
- O quê? - não consigo esconder a indignação em minha voz.
"Lovely" é uma música que compus há algum tempo, junto com o Noah. Quis colocá-la em "Suffocation", mas a gravadora barrou, alegando que provavelmente não faria sucesso. Atualmente, estamos em negociação com dois artistas que demonstraram interesse em grava-la: Billie Eilish e Khalid.
- Que foi? Pensei que você quisesse gravar essa música. - Yonta diz, sem entender.
- E eu quero, mas não com o Antony. Se eu tiver que gravar com alguém, será com o Noah. - fecho a cara. - Francamente, o Simon que se prepare. Quando eu encontrá-lo, vou dizer poucas e boas. Quem ele pensa que é? Noah e eu passamos meses implorando para colocar "Lovely" no album e ele negou. Agora, só porque quer que eu cante com aquele imbecil, ele decide liberar?
- Acho que ele pensou que assim você toparia. - ela diz, quase como um pedido de desculpas.
- Eu não vou topar. Pode esquecer. Antony que procure outra parceria. - digo por fim.
- Sendo assim, ok. - ela suspira. - Você é testemunha de que eu tentei, certo Josh?
- Certo. - Josh sorri de lado. Tenho certeza de que ele aprova minha decisão. Terminamos de comer em silêncio.
- Bom, meus queridos, obrigada pelo almoço. Estava excelente! - Yonta fica de pé. - Mas agora, eu preciso ir. Tenho uma reunião com o Daniel.
- Cuidado pra não pegar o vírus da babaquice. Pode ser contagioso. - comento. Josh dá risada. Também ficamos de pé.
- Vou fingir que não ouvi isso. - ela me abraça. - Me chame quando for cozinhar de novo, Josh! - ela também o abraça.
- Ah, mas é claro. Considere-se convidada. - ele sorri.
Depois de a acompanharmos até a porta, ela vai embora. Voltamos para a cozinha. Recolho a louça, enquanto Josh guarda os restos da lasanha e do vinho na geladeira.
- Adoro como você é firme nas suas decisões, sabia? - ele me abraça por trás depois de um tempo. Estou lavando os pratos. - A maioria dos artistas se deixa levar pela pressão dos empresários, mas você não. O Simon deve ficar maluco por não conseguir te controlar.
- Ele fica, mas eu não ligo. - coloco mais detergente na esponja. - Já disse que a partir do momento em que ele não tiver respeito pelas minhas vontades, rompo nosso contrato na hora.
- Você realmente romperia?
- Claro que não. A multa de rescisão é milionária. Eu perderia até as minhas calcinhas. - dou risada. - Mas como todos sabem que sempre faço o que me dá na telha, Simon não é louco de pagar pra ver.
- Esperta. - ele me segura pela cintura e me gira, fazendo com que fiquemos frente a frente. - Você é a mulher mais incrível que já conheci.
- Fazer o quê? Mamãe criou direitinho! - passo um pouco de espuma na ponta de seu nariz. Ele abre a boca, surpreso.
- Você não fez isso! - ele fecha os olhos, numa falsa indignação, mas sei que está rindo por dentro.
- Ah, eu fiz sim. - me aproveito da situação e passo as duas mãos por suas bochechas, espalhando a espuma.
- Any! - ele ergue as mãos para limpar o rosto. É nessa hora que saio correndo. - Onde você pensa que vai? Volte aqui! - e então, ele corre atrás de mim.
Ficamos nesse pega pega, como crianças, até o momento em que Josh me alcança e dá início a uma vingança cruel, com três vezes mais espuma e muitas cócegas. Terminamos aos beijos, rolando no chão, sobre o tapete felpudo da sala.
- Acho que deveríamos organizar suas coisas agora. - digo enquanto ele beija meu pescoço.
- Jura? - ele levanta o rosto e me encara com cara de cachorro abandonado. Balanço a cabeça afirmativamente. - Logo agora?
- Sim, logo agora. Além do mais eu preciso voltar para a louça e depois, tomar um banho. Em seguida vou fazer uma ligação importante.
- Pra quem?
- Pro consultório da minha ginecologista. Preciso marcar uma consulta urgentemente.
- Sério? Algum problema? - pergunta, preocupado.
- Não, é só que... nós esquecemos a camisinha da última vez. Tive que tomar uma pílula do dia seguinte e sei como essa bomba de hormônios pode bagunçar meu organismo. Estava pensando em fazer exames de rotina e pedir um anticoncepcional só pra evitar que coisas assim voltem a acontecer.
- Ah, entendi. - ele se senta. Faço o mesmo. - Any, me desculpe por isso. Eu deveria ter me atentado. Foi muita irresponsabilidade.
- Está tudo bem. Eu também deveria ter prestado atenção, mas na hora... você sabe. - dou de ombros. - Acontece.
- Sim, eu sei.
- Essa pílula tem chances consideráveis de falha, mesmo tomada corretamente. Espero que ela cumpra sua função com a gente. Eu quero ser mãe um dia, mas nesse momento isso está totalmente fora de cogitação.
- Realmente, ainda é cedo.
- Então, vamos dar um jeito nessa bagunça? - fico de pé e estendo pra que ele se levante também. - Com sorte, terminaremos antes do anoitecer, e aí poderemos ir pra cama.
- Maravilha. Sendo assim, acho que posso fazer o serviço 4 vezes mais rápido. - ele caminha até uma das caixas. Eu fico parada, observando. - Vamos logo. Não temos tempo a perder. - eu ri.