Liberdade Divergente.

By BetoAzevedo

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Daniela acaba de completar dezoito anos e vai iniciar seu primeiro semestre na universidade. Isso... More

Apresentação
Prefácio
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21

Capítulo 15

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By BetoAzevedo

Eu estava em um momento novo em minha vida. Muito melhor do que eu poderia imaginar. Ver minha mãe com um olhar diferente de tudo o que eu já tinha visto desde que me lembro me transbordava de felicidade. O melhor era ter a certeza de que ela estava tentando ficar bem. Se alguém me contasse eu provavelmente demoraria a acreditar, por tudo o que vocês já sabem. Algo que se acredita e se pratica por tanto tempo é muito difícil se desvincular assim de repente, se bem que no caso dela não foi de repente, muito provavelmente ela deve ter passado por um processo longo, demorado e o pior de tudo, sozinha. Transformações são dolorosas e ainda mais as que são tão complexas como essa que ela estava enfrentando.

Estava esperando ansiosa para que meu pai chegasse junto com seu marido. Eles jantariam pela primeira vez na casa da minha mãe. Acho que finalmente poderia sentir que minha família estaria completa, e minha avó estaria presente em nossos corações, diga-se de passagem ela tem muito haver com essa mudança toda.

Mesmo com tudo isso de bom acontecendo, eu me lembrei da mensagem que recebi outro dia e que ainda não tinha lidado com ela. Meu namorado estava me traindo, e desde então eu não falei mais com ele, nem quando minha avó faleceu. Eu me surpreendi em saber o quão forte sou, mas agora a barra estava pesando. Acho que porque eu percebi que muitos dos meus problemas estavam se solucionando, então eu precisava que esse também desaparecesse da minha vida. Falem a mim, o que vocês fariam? Ignoraria o fato que um dia namorou, tentaria saber o que foi que aconteceu, ou terminaria sem saber o que estava acontecendo, mas só para não continuar nessa dúvida do capeta.

Eu respirei fundo e espantei esses pensamentos de mim. Deixaria para decidir quando o visse pessoalmente. E isso, se tudo ocorresse como o planejado, aconteceria em apenas três dias. Meu coração teria que aguentar só por mais setenta e duas horas.

Meu avô ainda era uma incógnita, não sabia se ele saberia lidar com a novidade. Não sei se minha mãe havia falado com ele sobre o relacionamento homoafetivo que agora meu pai fazia parte, mas era bem provável que sim...

Tentei sondar o coração do velho durando o café naquela tarde.

— Vô o que o senhor acha sobre os gays?

Ele parou de mastigar o pão e me encarou com um olhar profundo. Já esperava um sermão das montanhas, mas me surpreendi. Uma realidade que estava se tornando comum a mim, me surpreender.

— Eu acho triste. Muitos deles não podem viver em paz, só porque eles não se aceitam como são... Eu sinto muito por eles.

— Ah, ta de brincadeira que é isso que o senhor pensa?!

— Claro, você achou que eu era um super preconceituoso e sem coração não é?

— Não isso exatamente... Mas eu jurava que iria dizer que eles vão ao inferno ou coisa do tipo.

— Eu não... Eu não tenho esse direito de julgá-los, e nunca terei. Não fui eu quem morreu na cruz, foi Jesus Cristo, e seu amor é por todos e para todos...

As palavras do meu avô me tocaram profundamente. Eu percebi que tudo estava se transformando genuinamente. Que era tudo sincero da parte deles e que por fim tudo estaria resolvido em minha família. E depois disso que ele falou eu passei a esperar com maior ansiedade meus pais. Queria muito abraçá-los e ser feliz. Eu havia finalmente acreditado que encontrei a liberdade que tanto procurei.

No dia seguinte a essa conversa com o meu avô, meus pais chegaram. Primeiro eu os encontrei em um restaurante para almoçarmos. Eu acho que eles queriam conversar comigo e ter a certeza de que estava tudo bem com a minha mãe, já que nunca esperaram por um convite como aqueles.

— Você tem certeza que é seguro irmos lá? Eu não quero fazer cena e nem ser humilhado por ninguém, alias isso é tudo o que eu não preciso nesse momento.

— Pode ficar tranquilo pai, minha mãe esta sendo sincera dessa vez, e eu nunca a vi desse jeito. Tivemos uma conversa muito franca depois do velório da minha avó. E ela mostrou o quanto estava desconfortável com tudo aquilo. — Eu contei a eles mais ou menos os últimos acontecimentos e estou segura de que foi o suficiente para convencê-los a irem jantar com a gente.

Meu pai quis mostrar a cidade para o Augusto e eu os acompanhei no passeio. Foi uma tarde muito agradável, até que meu celular começou a tocar. Olhei o nome na tela e recusei a chamada imediatamente era o Fernando.

Ele me ligou mais umas dez vezes, em uma delas meu padrasto percebeu que eu estava evitando a ligação e então me convenceu a atende-lo.

— Que você quer? — Falei seca ao atender.

— Finalmente Dani, o que está acontecendo que você não me responde e não fala mais comigo?

A pergunta me irritou muito. Ele deveria saber que merda estava acontecendo, mas desligado como são esses homens imaginei que o babaca não imaginaria nunca que eu fiquei sabendo de sua aventurazinha por outras bocas.

— Olha eu queria falar com você pessoalmente, mas já que hoje você não parou de ligar e eu já te atendi vou falar. Recebi uma foto sua beijando outra mulher. Um número desconhecido me mandou. Em quase seis meses de namoro deu para eu conhecer muito de seus amigos, e essa piriguete que você estava quase engolindo eu nunca a vi antes, então não vem com desculpinhas esfarrapadas...

— Quem foi que mandou essa foto pra você? — Ele falou alterado.

— Que merda, não grite comigo. Eu não quero mais saber de nada com você, então some... — Eu ia desligar a chamada, mas ele começou a implorar do outro lado da linha.

— Dani, por favor, não desliga, me deixa explicar. Eu te peço, por favor.

Meu coração ficou curioso, e mesmo minha razão me mandando desligar essa merda de chamada não consegui. Continuei com o telefone no ouvido e ouvi o que ele tinha pra dizer;

— Eu não te trai com ninguém amor. Você pode me mandar a foto para eu poder ver quem é? Eu te juro que tem uma explicação. Não seja dura com a gente. Eu gosto muito de você. Quando você voltar podemos nos ver e conversar? Por favor?!

— Então vamos fazer o seguinte, depois de amanhã nos encontramos e pessoalmente decidimos o que vamos fazer com a gente, na verdade eu já sei o que quero, mas vou te dar o beneficio da dúvida por hora... Até lá não me ligue mais...

Desliguei o telefone então. Eu não sei quem me dominava nesses momentos. Sempre achei que seria uma fraca e cederia com facilidade em quesitos amorosos, mas ainda bem que eu estava errada.

Meus pais haviam ouvido eu conversar com ele e me encaravam com admiração.

— Mais forte do que eu! — Disse meu pai.

— Eu sou igualzinho você. — Augusto me disse dando uma piscadinha. Com essa sua atitude eu lembrei o que meu pai havia falado sobre relacionamento aberto, e em como o deles funcionava, essa ultima fala do Augusto pareceu-me o contrario daquilo tudo, mas se eu questionasse como fiquei com vontade poderia causar uma situação estranha entre eles e isso era tudo o que eu não queria naquele momento.

Seguimos com o passeio, mas eu não estava mais em paz. Queria saber se a "desculpa" que o Fernando me apresentaria era real e seu eu poderia realmente o perdoar, afinal eu sentia falta dele e queria muito sentir outra vez aqueles lábios. E se eu pesasse todos os momentos aquele da foto fora o único em que me fez pensar que ele não era um bom homem... Eu não sabia bem o que fazer, então percebi que estava enfrentando uma crise de ansiedade, e teria que lidar com ela a minhas maneira...

Naquela noite ocorreu o jantar. Meu pai me deixou em casa primeiro para que eu pudesse me arrumar e ajudar a minha mãe com alguma coisa que precisasse enquanto eles foram para o hotel em que haviam se hospedado, já que voltaríamos para nossa cidade só no dia seguinte.

— Mãe, vou tomar um banho rápido e já venho te ajudar a por a mesa. Daqui uma hora meus pais chegarão. Tudo bem?

— Tudo sim, fica tranquila, está tudo sobre controle. Fique a vontade para se vestir como quiser e vai ser um prazer receber sua ajuda para por a mesa.

Eu apenas sorri. Não fazia idéia o quanto eu quis um momento assim com ela. Sempre estávamos em guerra e era uma lástima. Agora eu não queria ir embora. Queria ficar ali com ela e aproveitar tudo o que uma relação entre mãe e filho pode te proporcionar.

Não demorei muito no banho, outra vez enquanto a água batia em minha pele eu lembrei de Fernando. Ter ouvido a voz dele finalmente me despertara os sentimentos. Era uma delicia. Melhor ainda era ter percebido o tom de preocupado dele. Talvez aquela foto era uma brincadeira de muito mal gosto. Talvez tudo teria jeito e esse mal entendido só serviria para nos amadurecer, mas até eu o ver pessoalmente tudo o que eu teria que fazer era esperar e torcer para que o talvez se tornasse um sim.

Terminei o banho com todas as esperanças do mundo em meu coração. Depois de seca, coloquei um vestido muito bonito que havia ganhado de minha mãe no dia que fui com ela fazer sua própria transformação. E fui ajudar ela a colocar a mesa.

— Ficou linda com o vestido.

— Concordo plenamente com sua mãe. Gostaria que sua avó o tivesse visto.

— Ah que lindos, eu também gostaria muito que ela estivesse aqui com a gente, mas estou certa de que ela está em um lugar milhões de vezes melhor.

Dei um beijinho na testa do meu avô e fui em busca de pratos e talheres para a mesa.

Na hora exata em que haviam marcado, meus pais encostaram o carro eu pude ouvir o jeito nervoso em que ele acelerava.

Minha mãe não ficou tão diferente e quase derrubou o copo que estava segurando.

— Acho que é seu pai. Quer ir abrir?

Ela quase engasgou com a própria saliva. Quanto tempo fazia que eles não se viam? A ultima vez foi a um ano e meio quando ele veio me buscar para darmos inicio a essa jornada que lhes conto...

Era visível o quanto ela ainda gostava dele, e como eu me detestava por ter percebido só agora. 

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