-Natasha! -grita Alfie, descendo as escadas com as malas.
Estamos atrasados.
-Quase lá! -respondo, analisando meus filho pra ver que está tudo certo.
Aidan.
Natalia
Alisson.
Três.
Droga, eu tenho quatro.
Quatro!
Arregalo os olhos.
-Onde está a Jessica?!
Como se soubesse que estava sendo procurada, a pequena desceu a escadas no mesmo instante, carregando uma mochila pesada nas costas.
-Jess, tudo certinho aí? -indaga Alfie, recebendo um aceno de cabeça como resposta.
-Ok pessoal! Todo mundo para o carro! -grito, me dirigindo à saida da casa, onde o carro já estava estacionado com as malas.
Cada um tomou o seu lugar, e como Alfie era o dono do veículo, obviamente foi ele quem dirigiu. Temos esse acordo imutável desde o início do nosso casamento: o dono do carro sempre dirige.
-Nós vamos de carro, mãe? -indaga Alisson, depois que o pai deu partida.
-Não. De avião. -responde Natalia.
-Queria ir de carro! Gosto de ver a paisagem!-diz Aidan, olhando pela janela.
-Uma viajem daqui até o Kansas com quatro crianças dentro do carro? -enrrugo o nariz. -Não daria muito certo...
-Avião é melhor. -admite o Kansas.
-Já aviso que não vou sentar com as pirralhas dessa vez! -arguementa Natalia.
-Ah, você vai sim. -olho pelo retrovisor, confirmando minhas palavras.
-Nem pensar! Da última vez, a Alisson me fez pagar a maior vergonha! Ela gritou que era um terrorista! Todo mundo ficou com medo, e até o piloto veio conferir!
Alisson ri.
-Foi divertido...-sussurra ela.
-Não foi legal, Lis. -repreendo. -E se fizer isso de novo, nós duas vamos ter aquela conversinha.
-Foi sem querer mãe, vi tudo num filme...não pensei que eles fossem acreditar! -se defende Alisson.
-Dessa vez você vai com o Aidan, e a Jessica com o a Natalia. -sentencia Alfie.
-Bom...pelo menos a minha não fala. -comemora Natalia, recebendo um olhar enrrugado da Jessica.
-Já a minha, fala mais do que deveria. -murmura Aidan, insatisfeito. -E por que vocês dois não vão com elas?
-Esqueceu quem manda aqui? -debocha Alfie.
-Engraçado. É fácil ter filhos, e mandar os outros cuidar. -diz Aidan.
-Vocês são os irmãos mais velhos. -justifico.
-E por isso somos babás? -devolve Natalia, indignada.
-E por isso são grandes o suficiente pra saber o risco de desobedecer uma ordem nossa! - diz Alfie.
-Isso é abuso de autoridade.
Reviro os olhos.
-Para de reclamar. São só algumas horas...
(...)
Cruzo os braços na frente do corpo, procurando relaxar os meus musculos faciais, na intenção de esconder o quanto estava tensa. Observei a estrada de barro que o carro alugado percorria, lembrando exatamente de alguns detalhes ainda presentes da vegetação à alguns anos. Estavamos indo pra fazenda dos pais do Alfie, desde então cuidada por outro primo do caipira, que ficou responsável por manter o lugar funcionando.
A presença de uma mão na minha perna me fez desviar os olhos da paisagem até o meu marido, que sorriu minimamente, numa espécie de conforto.
-Estamos chegando! Olha lá o rio! -diz Aidan, bem habituado ao local.
Eles costumam acompanhar Alfie nessas reuniões familiares.
-Podemos ir no rio, pai? -indaga Alisson, animada.
-Só mais tarde. Vamos passar a manhã em familia, depois do almoço nós vamos lá. -diz Alfie.
A fazenda finalmente se fez presente no meio do campo. Naquela distância, podia-se ver três carros estacionados próximos à casa.
Alfie retirou a mão da minha perna, e se concentrou em estacionar o carro debaixo da sombra de uma árvore. As crianças desceram imediatame, animadas, e pude ver pelo canto dos olhos algumas pessoas saíndo da casa para recepciona-las.
-Está tudo bem? -Indaga Alfie, nós ainda continuavamos dentro do carro.
-Sim. -sorrio, beijando os seus lábios. -Vamos descer?
Ele concordou com a cabeça, e tomou a iniciativa de sair primeiro. Dei a volta no carro, agarrei sua mão e caminhamos em direção à familia do caipira.
-Tia Maria! -cumprimenta Alisson. -Tem bolo de chocolate?
-Tem sim Lis, pode ir lá dentro! -sorri.-Carlos está lá, pede pra ele.
-Vem Jess, você vai provar do melhor bolo do mundo!-murmura Alisson, puxando Jessica pela mão.
-Loira, Kara. O cara grande, Mark. Baixinha, Lisa. E o careca, Richard. -resume Alfie, antes que chegassemos ao grupo.
Ri da forma que ele conseguiu descrever cada um ali.
-Natasha! -exclama Maria, surpresa.
Alfie contou que vinha, né?
-Maria! -sorri em forma de cumprimento. -A quanto tempo!
-Você virou uma mulher linda! -elogia, sorrindo doce.
-Obrigada.
-Esse é o meu primo, Mark.-apresenta Alfie.
É normal me sentir estupida por precisar ser apresentada à familia dele depois de quase vinte anos de casados? Porque é exatamente assim que me sinto!
Ao contrário de mim, a familia do caipira não parecia se importar muito por estar me conhecendo naquele exato momento.
-Esqueceu de mim! -branda Kara.
-Eu estava apresentando só o primo preferido! -sorri Alfie, claramente provocando a garota.
-Nós já nos conhecemos. -diz Kara, sorrindo pra mim. -Parabéns por passar dezesseis anos casada com esse idiota!
-Bom, tecnicamente você aguenta ele à mais tempo do que eu. -digo, tentando ser simpatica.
-O que é isso? Uma conspiração?- branda Alfie.
-Vamos lá pra dentro! -intervém Maria. -Vocês podem conversar lá na sala! Preparei seu doce preferido, sobrinho!
-Claro, tudo para o Alfie. -murmura Kara, revirando os olhos.
Alfie riu, empurrando a prima levemente pelos ombros e me arrastando porta à dentro. À decoração do local não tinha mudado muita coida desde que estive ali, mas a casa parecia muito bem conservada e limpa. Sentei ao lado do Caipira no sofá, aceitando um pratinho de salgados que Maria me estendeu.
-Então...-inicia Lisa. -Acredito que isso é um pouco estranho pra você... quero dizer: entendo o seu lado, e amei de conhecer!
-Obrigada. -sorrio, com um leve incômodo. -Ainda não conheço vocês direito, mas se são à familia do Alfie, não há dúvidas de que vamos nos dar bem.
-É o que espero. Bom...esclarecendo as coisas: esse é o meu marido, Mark. E a Kara é casada com o Richard. Não temos filhos, mas...
-Uma criança à caminho. -completa Kara, colocando a mão na própria barriga.
-É sério?-indaga Alfie, impactado. -Vou ser tio?!
-Em alguns meses, sim. -responde Richard, abraçando a esposa.
-E por que eu não sabia disso?! Meus parabéns! Prima! -ele riu feliz, e abraçou a garota. -Richard, espero que o temperamento seja seu. Duas Karas irritadas deve ser um horror!
Kara revirou os olhos.
-De quantos meses você está? -indago.
-Dois meses. -responde, sem segurar o sorriso.
Alfie voltou a sentar do meu lado, com um sorriso estampado no rosto e a testa enrrugada para ouvir o que a prima tinha à dizer.
-Como foi a sua gravidez? -indaga Lisa, pra mim.
-Qual delas? -ri. -Bom...em geral...não tive boas experiências na hora do parto...
-Complicações? -questiona Mark.
-Sim, principalmente na Alisson. Aidan nasceu em casa, mas tive que passar por uma cirugira por conta da hemorragia. Já a Natalia...
-Nasceu no meio de uma troca de tiros. -intervém Alfie.
-Nossa...-Kara suspirou. -Me sinto em pânico.
-Não significa que com o seu vai ser igual, Kara. Tive problemas porque na maioria da vezes fui teimosa demais...-admito. -Mas no final as coisas deram certo.
-E antes disso? Você tinha muitos desejos? -Indaga Kara, curiosa.
-Não sei...acho que não eram bem desejos...-franzo a testa, analisando.
-Claro que era! Na gravidez do Aidan você bebeu muita água! Tipo, em excesso mesmo! -diz Alfie.
-Isso é considerado desejo? Quem tem desejo por água? -ri.
-Na Natalia, você era viciada em adrenalina. -continua.
-E na Alisson? -indaga Mark, bebendo café.
Alfie se calou, vermelho.
-Sexo. -respondo.
Mark engasgou com o líquido, e as garotas riram.
-Natasha...-sussurra Alfie, em forma de repressão.
-Todo mundo faz, primo. -diz Kara. -Como acha que fiquei grávida?
-Ai que horror!-ele tampou os ouvidos. -Não preciso ouvir isso!
-Faz parte da biologia humana. -diz Lisa.
Mark balançou a cabeça, e descidiu interferir na conversa antes que Alfie morresse de vergonha:
-Ei primo, o que acha da gente ir ao estabulo? Você poderia me ensinar mais alguns golpes! Treinei muito os últimos que você me ensinou! -diz Mark.
-Estabulo? -indago.
É onde fica os cavalos, né?
-Fiz uma pequena academia lá. -explica Alfie. -Não temos mais cavalos por aqui.
-Otimo! Adorei a idéia! -comemora Kara. -Assim posso aprender alguns...
-Amor, você está grávida. -intervém Richard.
-E? Qual o problema? -franziu a testa.
-É perigoso...
-Não vou lutar com ninguém! Só quero praticar!
-Posso ensinar uma sequência leve. -intervém Alfie, provavelmente prevendo a briga entre os dois.
-Não quero nada leve! -branda Kara.
Ri.
-E você? Do que está rindo? -indaga ela, irritada.
-Não estou rindo de você. Estou rindo deles.
Ela pareceu não entender, mas não fez questão de discutir.
-Vamos ao estabulo, ou não? -indaga Richard.
Não passamos muito tempo resolvendo a questão entre Kara e seu Marido, ambos descidiram que nenhum dos dois iriam treinar naquele dia. Pra ela, parecia injusto o marido poder fazer atividades físicas e ela não.
Adentrei o estabulo com olhar avaliativo, admirada o local ao constatar que não era nada do que tinha imagiano. Feito de tijolos, o lugar estava muito bem instalado com equipamentos de academia e um tatame.
-O que acha de uma luta? -indaga Kara, animada. -Já vi você na televisão! Quero ver ao vivo!
-Quem? Eu? -indago, um pouco surpresa.
Um sentimento de timidez me invadiu.
-Claro! Queremos ver uma luta digna de filmes! -murmura Mark.
-Não acho uma boa idéia...-digo.
Estranhamente estava me sentindo acanhada de luta na frente daquelas pessoas, ainda mais sabendo que estaria sendo analisada por cada um deles. A familia do meu marido, que conheci a menos de uma hora.
Alfie percebeu o meu receio, então descidiu tomar inicativa:
-Está com medo? -sorri de lado, me provocando.
-Estou de férias. -justifico.
-É só um treino. -contesta. -Vamos! Faz tempo que não lutamos um contra o outro!
-Ok...-concordo, rápido demais.
Ele tem razão, por mais que ter plateia não me agradace muito, já fazia um bom tempo que não treinava e talvez isso me deixasse mais tranquila quanto aobestresse de estar aqui. Derrepente, uma saudade tomou conta de mim.
-Estou de calças jeans. - lembro, retirando o tênis.
-Eu também. -murmura, fazendo o mesmo.
Caminhei até o centro do tatame, sentindo a adrenalina começar à dar sinais no meu corpo e me ajudar a esquecendo momentaneamente a presença de outros ali.
-Quem ganhou da última vez? -indaga, tirando a camisa e colocando as luvas de boxe.
Alfie odiava lutar sem luvas.
Me perdi em encontrar uma resposta descente para a pergunta assim que meus olhos captaram a imagem do homem sem camisa à minha frente, seus musculos atrairam a minha atenção como um imã. Era quase impossível não olhar.
-Isso é golpe baixo...-sussurro, desviando meus olhos dele.
-Estou com calor. -justifica, dando pulinhos.
-Vão lutar ou namorar?! -grita Mark.
Coloquei as mãos na frente do rosto, em posição de defesa.
-Quando quiser...-sussurro, sorrindo de lado.
Prevendo que eu não atacaria primeiro, Alfie ameaçou desferir um gancho de direita no meu rosto, mas interrompeu o ato no meio, erguendo a perna direita para acertar as minhas costelas. Bloquei o ataque com o braço, e devolvi o golpe com um soco certeiro no seu queixo. Começamos uma onda de ataques e defesas com os braços, rindo um do outro. Lutamos à tanto tempo juntos, que conseguiamos prever o próximo passo e golpe que estava por vir, sem muita dificuldade.
Cansada daquele ritmo, saltei no ar e chutei sua barriga com as duas pernas, usando a queda no chão do tatame para tomar impulso e levantar. Alfie, que caiu à alguns metros de mim, conseguiu se levantar na mesma rapidez que eu. Claramente não tão surpreso por ter recebido aquele golpe.
Ele sorriu, chutou minha barriga com rapidez e usou da inclinação do meu corpo para acertar o joelho na minha testa. Em disputas normais, provavelmente o alvo seria o meu nariz, mas como não estavamos numa luta séria, o modo mais fácil de me atingir naquele estilo era na cabeça. Um pouco atordoada, desviei dos seus socos de modo desengonçado para recuperar os sentidos e voltei à atacar.
-Isso não vai terminar nunca. -diz Alfie, desviando de mais um chute no estômago.
-Então desiste. -Digo, segurando seu pulso.
Tomei impulso nas suas pernas flexionadas, subi no seu pescoço com agilidade e pendi meu corpo para atrás, usando do seu próprio peso para nos jogar contra o tatame. Caídos no chão, continuei apertando as pernas no seu percoço, cruzando os braços atrás da cabeça de forma vitoriosa.
-Desiste? -indago.
Alfie jogou o corpo pra cima, tentando se soltar. Sem uma saída, ele descidiu tentar algo novo: beliscou a minha perna, e totalmente surpresa pelo ato, diminui um pouco a pressão. O suficiente pra que finalmente ele conseguisse sair do meu agarre.
-Ei! Isso foi sujo! -brando, indiganda por ter caído num truque de criança.
Ele não constuma fazer essas coisas.
-Você sempre joga sujo. -diz, se jogando sobre mim.
Revirei os olhos e ergui meu joelho até o meio das suas pernas. Ele contraiu o corpo.
-Não ouse...
-Você esqueceu de imobilizar as pernas...-sorrio de lado. -Se me soltar, eu venço, se continuar prendendo, não vai mijar por três dias.
-Isso sim é sujo. -semicerra os olhos.
-Estou te dando opção. Considere isso como um ato de misericórdia.
-Me rendo! -grita, desmontando o corpo ao meu lado. -Isso vai ter volta...
(...)
Perto da hora do almoço, os casais ocuparam a cozinha no intuito de preparar juntos alguma coisa pra comer. Existem aqueles que sabem cozinha, e os que simplesmente estão lá para dar apoio moral e roubar petiscos. Essa sou eu.
Roubei uma azeitona do pote em conserva, e ri da expressão do caipira. Ele odeia que coloquem a mão nas coisas enquanto está cozinhando.
-É bom encontrar alguém que também não sabe cozinhar nessa familia. -comemora Kara, parada ao meu lado. -Aqui parece que todo mundo nasceu cozinhando!
-Natasha não sabe cozinhar.-reforça Alfie, me estendendo uma faca. -Mas é excelente com facas.
Revirei os olhos, pegando o objeto para cortar os legumes da salada.
-Bom...nem isso sei fazer. -diz Kara. -Prefiro não me arriscar à cortar um dedo.
-Você fica responsável por lavar a louça. -diz Lisa, arrumando a mesa.
-Estou grávida. -murmura, tentando se livrar do serviço.
-Uma grávida com duas mãos, querida. -fala Maria.
Terminei de fazer a minha parte, e depositei a lâmina sobre a mesa.
-Pronto! -diz Alfie. -Já fiz o molho! agora a Lisa e o Mark montam a Lasanha, e a Kara e o Richard assam! Se me permitem, vou roubar minha mulher por alguns minutos!
-Nada de agarração na frente das crianças! -avisa Mark, rindo.
Alfie revirou os olhos na direção do primo e nem se importou com o resto dos comentários quando me arrastou até a varanda da casa.
-Aconteceu alguma coisa? -questiono, estranhando aquela ação sem sentido.
-Só queria passar um tempo com você...-murmura, abraçando minha cintura. -Desde que chegamos não tivemos um tempo sozinhos...
-Faz umas três horas que estamos aqui. -franzo a testa.
-A saudade depende do horário?
-Fala logo o que você quer. -falo, sem acreditar naquele papo.
-Gostou deles? -indaga, sem rodeios.
-Sim. Impossível não gostar. Eles são iguaizinhos à você.
-Alguém te tratou mal? -pergunta, como se quisesse ter certeza de que estava tudo bem.
-Não. Está tudo bem, ok? Só me sinto muito burra por não ter feito isso antes...eles são ótimos.
-Tudo ao seu tempo...talvez se tivesse acontecido antes, não seria tão bom quanto está sendo. -murmura compreensivo.
Concordo com a cabeça, voltando à falar:
-Imagino que não me arrastou aqui só pra isso, né?
Suspirou.
-Queria saber se...bom...acho uma boa idéia a gente voltar depois de amanhã...
-Tão cedo? O combinado não era ficar até o fim das férias?
-Sim. Mas acho que uma semana é muito, né? Não quero forçar as coisas pra você...
Reviro os olhos.
-As vezes você é tão bom, que parece de mentira. Devo admitir que tenho sorte...-suspiro.
-Pra mim, você é a jóia rara dessa relação. -sorri.
-Continue pensando assim, e não teremos problemas. -gracejo.
-Então vamos voltar mais cedo? -indaga, como se quisesse ter certeza da resposta.
-Sim.
Ele movimentou a cabeça, para finalizar o assunto, e continuou:
-E quanto a nova rotina? Está gostando? Dessa calmaria?
-É diferente...-enrrugo o nariz. -Confesso que as vezes entro em desespero por não ter mais nada pra fazer. A adrenalina faz falta. Mas também amo não precisar mais sentir ela. Resumindo, acho que muito bem. Posso ter uma vida tranquila, e ao mesmo tempo agitada quando descido treinar.
-Você deixou de ser uma agente, mas ainda pode lutar. Podemos marcar algumas lutar por semana. O que acha?
-Ótimo. Você sabe que amo lutar.
-É, vi isso algumas horas atrás.
-Não consegue mesmo aceitar uma derrota? -provoco.
-Você roubou.
-Você também.
Ele riu, descendo a mão discretamente até o meu traseiro. Me assunto com uma palmada na região, pulei levemente, surpresa.
-Kansas?! O que...? Ta doido?!
-Você sempre disse que minha timidez é um problema, estou tratando ela. -explica.
-Assim? Em público? Qualquer um pode ver!
Ele riu.
-Agora você é a timida?
-Só estou assustada. Quem é você e o que fez com o meu caipida?
-Seu caipira está...um pouco mais solto...eu diria...-ele deu mais uma palmada.
-Ok. Mais uma palmadinha, e corto a sua mão. -semicerro os olhos.
-Somos casados.
-A bunda continua sendo minha. Só toca nela quem eu deixar.
-Então não posso?
Sorrio de lado.
-Não agora.
-Nunca vou entender você.
-Nem tente.
Pisquei pra ele, retomando o assunto:
-Estou pensando e...sabe que a nossa rotina era tão corrida, que esse novo ritmo me faz ter a sensação de que estou esquecendo de alguma coisa? Como se precisasse fazer algo...entede?
-O que acha de um trabalho?
-Sério isso? -ri. -Acabei de me aposentar, e você já me diz pra voltar?
-Não esse tipo de trabalho. Quero dizer algo mais tranquilo...que ocupe a sua cabeça. Não precisa ser realmente um trabalho, só alguma coisa que te ajude à ficar menos entediada.
-Não tenho faculdade pra conseguir emprego.
-Você não precisa disso. Já foi produtora uma vez, lembra?
-Com um diploma falsificado. -digo.
-Mas pelo menos você tem muita experiência na área.
-Não sei...acho que vou continuar nessa vida...mais pra frente, se ainda estiver morrendo de tédio. Procuro algum robbie.
-É...talvez você se acostume.
-Eu deveria ter ouvido a minha mãe, quando ela disse que precisava fazer uma faculdade.
-Bom...hoje você tem uma agência, é rica, quatro filho, e um marido gostoso. Quer vida melhor?
Reviro so olhos.
-"Marido gostoso"? -ri, ficando séria em seguida. -Perai, quatro filhos?
-A Jessica.
-Ela não é nossa filha.
-Mas poderia ser. Estamos procurando uma familia pra ela...e agora que temos mais tempo disponível...
-Não acho uma boa idéia.
-Por que não?
-Já temos três!
-Ela é uma boa garota.
-Eu sei...-bufo. -Mas isso não estava nos meus planos!
-Nenhum dos nossos filhos foi planejado. Bom...exceto a Alisson. -sorriu. -As duas se adoram. Poderiam ser amigas e irmãs.
Errugo o nariz, demonstrando que não estava gostando.
-Ok...-ele suspirou. -Podemos pelo menos pensar?
-Sim.
-E vamos continuar procurando familia pra ela?
-Não.
-Por que simplesmente não aceita que gosta dela?
-Eu gosto dela. -afirmo. -Mas adotar é uma resposabilidade muito grande. Ter filho é um assunto sério.
-Eu sei disso. -murmura, um pouco ofendido.
-É, sempre levou jeito com crianças. E por mais que não diga isso diretamente, quer ter mais filhos.-falo, derramando as minhas analises.
-Isso é um problema?
-Vamos pensar, lembra? Não quero tomar nenhuma iniciativa precipitada. -digo, sem responder a sua pergunta
-Ok...desculpe.
-Podemos mudar de assunto?
-Claro! -sorri. -Que tal o motivo da sua visita ao presidente?
-Não vou contar algo tão óbvio. Você já deve imaginar como foi.
-Justamente por imaginar, é que estou nervoso. Você ameaçou ele, não é? É bem a sua cara fazer isso...
-Nós conversamos e chegamos à um acordo. Cada um no seu canto, e ninguém se machuca.
-Bom...confio em você. Por isso acho melhor não saber mais detalhes...
-Esse é o seu modo de confiar em mim?
-Só não quero encher a minha cabeça de teorias.
-Ta. Podemos mudar de assunto, então? Dessa vez pra algo mais interessante?!
Seus olhos brilharam, como quem lembrava de alguna coisa maravilhosa.
-Quer conhecer a minha vaca? Você nunca viu ela, né? A Nat!
-Deu o meu nome pra sua vaca? -enrrugo a testa.
-Já te contei isso.
-Pensei que era brincadeira! Por que deu o meu nome pra sua vaca? Algum motivo específico? -indago, irritada.
Ele revirou os olhos.
-Para com isso! O nome foi dado antes de te conhecer!
-"Natasha"! Meio incomum pra uma vaca, né? -semicerro os olhos, sem acreditar.
-Vem! Você vai conhecer ela! -ele me guiou pelo pasto. -Vocês tem que parar com esse preconceito com as vacas!
-Ótimo. Agora ele é o defensor das vacas. -sussurro sarcástica. -Ainda não entendi a origem do nome.-falo, caminhando ao seu lado.
-Agus... -murmura. - Eu já conhecia você antes de realmente te conhecer...ele me ligava, dizendo o quanto a namorada era maluca e irritada...
Soquei seu braço.
-Então, o dia que a Nat nasceu, todo mundo percebeu que ela não conseguia ficar junto com os outros bezerros sem bater neles. Daí veio o apelido.
-Me sinto mais ofendida. -cruzo os braços.
-Olha ela alí! -murmura, apontando uma vaca perto da cerca, afastada das demais.
-Ela é antisocial? -indago.
-Ela se irrita fácil. -diz. -Já está velhinha tadinha...quase não briga mais...mas continua preferindo se manter afastada.
-E eu pensando que já vi de tudo nessa vida: Uma vaca antisocial com o meu nome é novidade. -suspiro, analisando ela. -A partir de hoje, ela vai chamar Katye!
-A vaca é minha, você não pode mudar o nome.
-Posso sim.
-Não pode.
-Estamos mesmo discutindo por isso? -ri, me sentido imbecil.
Ele voltou a agarrar a minha cintura.
-Eu te amo, sabia? -sussurra.
Como conseguirmos ser tão aleatórios assim?
-Quem? Eu ou a vaca?
-A Natasha...-sorri.
-Não banque o engraçadinho comigo, Kansas. -semicerro os olhos.
-Estou feliz que você está aqui...-murmura, sincero. -Te amo!
Roubei um selinho.
-Eu sei.
-O certo seria: " Te amo muito meu marido maravilhoso! Lindo da minha vida! Meu coração! Não vivo sem você!". -debocha, tentando imitar a minha voz.
-"Te amo muito meu marido maravilhoso! Lindo da minha vida! Meu coração! Não vivo sem você!" -digo, fazendo uma voz fina e irritante, claramente devolvendo o deboche.
-Tem que ser sincero.
-Três filhos não é sincero pra você? -ri.
-Você sabe que sempre sonhei em ter seis!
-Seis? -ri. -Se passar do terceiro, nunca mais faço xixi!
-Estamos indo bem. O importante é não perder o foco! -fala tentando me convencer. -Só precisamos tentar mais.
-Isso é algum convite? -sorrio maliciosa.
-Não. Não temos privacidade e nem lugar. -fala, sabendo exatamente ao que me referia.
-Te apresento o pasto! -aponto o verde ao nosso redor. -Lindo, verde e espaçoso!
-À céu aberto? Nunca! Alguém pode ver!
Reviro os olhos.
-Onde está o cara tentando perder a timidez?
-Perder a timidez não inclui ficar nú ao ar livre! Não como você pode ficar tranquila com algo assim!
-Era brincadeira, Kansas. Acha mesmo que faria isso?!
******
Oi genteee! Eu sei que a coisa anda bem calminha! Mas aproveitem esse cap porque no próximo à coisa vai começar! Momentos tensos estão por vir!
Bjsss!
ThaQuake.