Liberdade Divergente.

By BetoAzevedo

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Daniela acaba de completar dezoito anos e vai iniciar seu primeiro semestre na universidade. Isso... More

Apresentação
Prefácio
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21

Capítulo 7

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By BetoAzevedo

As aulas começaram e meu primeiro professor foi um homem que eu já conhecia. Pedro. O boy do meu pai seria meu professor. Eu até gostei de ver um rosto conhecido. E ele me reconheceu.

— Oi Daniela, que conhecidencia grande não?

— Pois é, que bom que pelo menos um dos professores eu conheço.

— Sim... Quando ver seu pai mande um abraço a ele e diz que estou com saudades. — Ele pisca quando termina de falar. Aquela fala me fez entender que meu pai havia ficado com ele e agora que Augusto estava outra vez no Brasil já não iriam se ver mais, ou eu poderia estar totalmente errada, mas precisava acreditar nisso.

Eu não queria ver o Augusto triste. Por mais que eles tenham esse tipo de relacionamento aberto eu não queria que ninguém sofresse, ainda mais agora que estava apaixonada. Parecia que eu estava entendendo todos os amantes do mundo, e torcendo para que cada um deles tivesse o seu final feliz.

Não sei o que estava acontecendo ao certo entre eu e Manú, mas nós estávamos ficando todos os dias, e dormíamos na mesma cama como se fossemos casadas. Estava tudo perfeito. Eu tinha uma melhor amiga, que ainda por cima me proporcionava muito prazer. Estava em uma bolha de felicidade. Tudo finalmente perfeito.

Na faculdade os dias foram passando e as aulas eram cada vez mais difíceis. Odontologia não é brincadeira não. Quase não dava tempo para conversar com ninguém.

Meus dias começaram a ser iguais. Praticamente enfiada dentro de livros. Fazendo anotações e descobrindo como a boca de alguém pode ficar ferrada.

Manú não cursava a mesma coisa que eu. O curso dela era de fonoaudiologia. Sendo assim quase nunca nos encontramos no campus, e os horários começaram a se tornarem muito diferentes. Isso fez com que a gente se distanciasse um pouco, mas como não estávamos exclusivas, e nem namorando formalmente, não foi algo que me fez sofrer. Sempre que podíamos ficávamos juntas e por mim estava ótimo. Estava finalmente fora do tradicionalismo e pela primeira vez na vida sentia paz interior. Claro que eu procurava não pensar nos demais assuntos, pois eu tinha certeza que se começasse a pensar eu voltaria com todas minhas paranoias e não seria legal.

No fim do primeiro ano do curso, quando ela estava para ir para a casa dos pais para curtir as tão merecidas férias, conversamos seriamente e fui pega de surpresa com uma novidade nada agradável.

Antes ela preparou um jantar especial. Não tinha velas e nem flores, mas ela não era desse tipo de pessoa, então eu ainda acreditei que seria uma breve despedida romântica e acabaríamos a noite com orgasmos, mas...

— Dani, eu preciso dizer uma coisa. Espero muito que você não fique chateada e muito menos sofra.

Ela falou assim que me serviu de um belo pedaço de sua lasanha maravilhosa.

— Pode falar. Você sabe que não existe uma coisa que me faça ficar chateada com você. — Mais uma vez mostrei ao universo o quanto eu era imatura.

— Tem uma garota no meu curso, o nome dela é Marcela, que a alguns dias me chamou para sair.

— E o que tem?

— Eu fiquei com ela. Estou apaixonada por ela, e uma coisa levou a outra e a dois dias ela me pediu em namoro. Eu aceitei. Ela é da mesma cidade que eu e estamos indo juntas para casa. Eu sei que deveria ter te contado antes, e sei que você merecia saber de tudo desde o inicio, mas me falou coragem. Me perdoe.

Meu mundo caiu... Eu estava apaixonada por Manú. Nunca neguei isso a mim mesma. Ela havia me mostrado o mundo de uma outra perspectiva e eu sempre seria grata a ela por isso. Gostava de ficar com ela sem um compromisso sério, mas não negarei que sempre esperei que ela me falasse que queria namorar comigo. Mas agora ela esta ali parada na minha frente dizendo que esta apaixonada por outra garota e que é namorada dela...

— Dani, fala alguma coisa.

— Tudo bem. Fica com ela. Eu só quero que você seja feliz. — Eu tentei não parecer rude, mas acho que não consegui não. Depois de um tempo perguntei: — E a gente? Não vamos mais ficar nenhuma vez? Eu não te terei mais?

— Não poderemos mais ficar juntas. Eu não quero trai-la. Você me entende?

— Claro que entendo, e eu não quero ser a outra. Fica tranquila, não serei um problema na vida de vocês. — Eu não podia acreditar naquilo, mas não sabia o que fazer. Parecia que um trem havia acabado de me atropelar e agora meu sistema nervoso estava bloqueado e eu não conseguia entender o que é que estava sentindo. Se dor, paralisação, ou sei lá o que alguém sente quando recebe uma noticias dessas.

Ela veio até mim e me abraçou sussurrando 'muito obrigada' em meu ouvido.

Terminei o jantar, muda. As vezes sorria e quando comi o último pedaço agradeci pela refeição. Só então me levantei da cadeira e me arrastei para meu quarto, forçando uma força que eu não tinha. Me joguei na cama e esperei ela ir embora para desmoronar. Até hoje eu não sei como foi que eu consegui segurar até ela ir.

Quando finalmente estava sozinha em nosso quarto eu chorei. Chorei muito até pegar no sono.

Na semana seguinte eu me mudei de república. Não contei nada a ela, e durante todas as férias eu tentei não falar com ela.

Não conheci a Marcela naqueles dias, e também não estava com vontade de conhecê-la.

Aquelas férias foram um porre. Toda a graça de meu mundo havia desaparecido. E eu estava mesmo muito deprimida. Mas meus dias teriam sido muito pior se eu tivesse passado as férias inteirinha com meus novos amigos de república. Agora em meu novo lar, haviam garotas e garotos morando em uma república mista. A maioria deles são gays ou lésbicas, e esse fato me alegrava e muito, já que na anterior eram as diferentonas eu e Manú.

Eu ter rompido com Manú, mesmo sem ter um relacionamento sério, me fez voltar a pensar em muitas coisas que trouxeram o meu eu preconceituosa e perturbada pela opinião dos outros a tona.

Lembrei que uma vez ouvi uma 'pregação' em que o homem que estava a frente a assembléia falava enfaticamente que pessoas que levam um relacionamento com outras pessoas do mesmo sexo que ela são amaldiçoadas. Isso se recusava a sair da minha cabeça e eu comecei a acreditar que poderia ser verdade, uma vez que eu estava totalmente infeliz e sem minha 'mina' junto comigo.

Sofri toda essa parte em silêncio, afinal eu precisava engolir essa versão de mim. Precisa fazer com que ela desaparecesse. Meu pai vivia com Augusto e onde eu estava? Na casa deles. O fato de eu ter visto ele aos beijos com o Pedro ajudaram para que eu engasgasse no processo de engolir esses pensamentos e demorar um pouco mais para me livrar deles, mas precisava que isso acontecesse logo.

Eu, ele e Augusto fizemos uma viagem. Acredito que devido a minha depressão eles decidiram fazer isso por mim. Minha primeira viagem internacional. A primeira vez que eu andei de avião, e a primeira vez que eu ficaria bastante tempo com meu pai e seu marido.

Minha mãe desde o dia em que foi à minha casa e fez o barraco todo não falou mais comigo. Eu esperava que ela fosse falar comigo em seguida, mas não. Acreditem, ela nunca atendera uma ligação sequer que eu fiz a ela, nem mesmo quando tirava dez em alguma prova na faculdade. Suas atitudes sempre mostraram a mim a seriedade de sua religiosidade monstruosa, mas eu sempre acreditava que ela iria ceder em algum momento e ser mais maleável, mas eu não poderia estar mais errada do que isso.

Meu pai sempre me dizia para ter paciência e deixar que o tempo fizesse o que precisasse para que um dia pudéssemos estar juntas outra vez, se bem que agora eu já nem sei mais se realmente gostaria que isso acontecesse.

Voltando a viagem de férias.

O destino? Orlando, Disney, Flórida, Estados Unidos.
Assim que pisei no parque mais famoso do mundo, achei que eu iria desmaiar. Foram tantos anos assistindo os desenhos às escondidas. Tantos sonhos de princesa que eu vivi sozinha, sem poder contar nada a ninguém. Tantas vezes que escutei que tudo aquilo era do capeta e que quem gostava era filho do demônio, tanto preconceito com coisas que eu nem sei descrever mais por me faltar vontade de lembrar, que eu estava só sorrisos por finalmente estar ali e não me sentir errada por isso.

Sei que todas as vezes que me sentia errada e me condenava por fazer coisa que é errado na cabeça de alguns seres humanos e que agora já não me sinto dessa forma eu devia gratidão a Manú. Era por conta dela que eu estava livre de muita coisa, mas não se engane em pensar que eu estava completamente livre e aceitando tudo isso que estou falando...

Na viagem eu vi muita coisa diferente. Na faculdade eu havia me afundado nos estudos, então só escutava relatos de festas, de acontecimentos diferenciados, mas eu nunca havia reparado em tais coisas, então por isso senti uma avalanche de sentimentos quando as vi ali bem na minha frente parecendo tão normal em um país onde as pessoas parecem tão livres.

Tá, vou explicar um pouquinho mais para que vocês entendam o que quero dizer. Haviam muitos casais gays, muitos deles com seus filhos andando livremente no parque e mostrando ao mundo seu conceito de família sem culpa nenhuma. Eu sei que estava acompanhada por dois homens, mas sabe quando você olha para o rabo dos outros e esquece que o seu está descoberto, então foi exatamente isso que aconteceu...

Ver tantas pessoas com a orientação sexual bem resolvida e se beijando livremente na frente de quem quisesse ver, e não se engane não eram beijaços escandalosos e sim beijos de tremenda demonstração de afeto e felicidade. Crianças chamando dois homens de 'dad' ou duas mulheres de 'mon' era normal.

Jovens amantes vivendo intensamente um momento mágico. Era muita liberdade, sabe. Foi tudo muito lindo e diferente a mim. Em todos os momentos eu lembrava da Manú, se ela estivesse ali comigo tenho certeza que estaríamos encantadas e apaixonadas vivendo uma experiência única. Nunca fiquei tão carente quanto como naqueles dias.

Lá além dos parques, festas privadas, sessões de cinema e restaurantes com comidas maravilhosas eu fui também em uma igreja. O dia da igreja foi um dos mais marcantes a mim. Eu não falo muito bem o inglês, mas não precisava falar para entender o tamanho do amor de um para o outro que eu vi dentro daquele templo.

Quer saber o por que? Então não para de lero que eu tenho para te contar. Vou até a minha garrafa de café e pegar uma boa quantidade dessa bebida maravilhosa e já volto para contar o que foi que eu vi lá de tão diferente. 

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