- Mel, você por aqui? - Pergunto fazendo a minha melhor expressão de surpresa.
Mike e eu esperamos a conversa intensa dos dois acabar, ficamos cerca de uma hora lá em baixo.
Melanie sorri, ela não está mais com cara de choro. Meu irmão sim, ela não. Meus olhos param em cima das mãos dadas dos dois, não consigo controlar o sorriso.
- É, estava com vontade de ter uma conversa intensa. - Ela olha para o John, que sorri um pouco.
- Perdemos alguma coisa, amor? - Mike pergunta, me abraçando por trás.
- Parece que sim.
Johnny apenas ergue os ombros, consigo ver que apesar de ter chorado ele está feliz. Será que eles finalmente se acertaram?
- Se eu não conhecesse vocês diria que houve uma reconciliação, maaaas - reviro os olhos - como eu sei que vocês são enrolados, isso não rolou, né?
- Estamos desatando os nós. - Johnny responde.
- Não é da sua conta, Malu. - Gargalho com a resposta mal-criada da Melanie.
- Sou sua cunhada, mais respeito.
- Para de tentar me constranger, você sabe que isso não vai acontecer, né?
- É, eu sei, Melissa, você é uma sem vergonha.
- Ah, olha só quem fala!
Mike dá risada atrás de mim, concordando com ela.
Eu espero que os dois finalmente estejam se encaminhando para a felicidade, não é possível que tem mais alguma coisa para os atrapalhar.
- Estou na torcida. Dessa vez não importa o que sua mãe diga ou faça, o Johnny não vai te deixar escapar.
A expressão do meu irmão muda para uma surpresa.
- Espera ai, você sabia?! Como assim?
- Digamos que a Malu é uma enxerida. - Melanie sorri para mim, eu mostro meu dedo do meio para ela.
- Encontrei ela no banheiro chorando e começamos a conversar, ela precisava de alguém para isso no momento e apenas eu estava lá. Lembra naquela época que você me pediu para investigá-la? Então...
- Pediu para o quê? - Melanie estende sua mão. - Como assim?
Ela parece quase brava, talvez chateada.
- Garota, relaxa ai. - Empurro ela para se sentar de volta. - Ele estava preocupado achando que você estava passando por tempos conturbados, intuição.
- E estava certo.
- Então você contou tudo que conversamos àquele dia? Você fez apenas por causa que ele te pediu?
- Não! - Arregalo os olhos e nego freneticamente. - Não contei absolutamente nada, sabia que isso era um direito seu. E não, àquele dia eu realmente só fui falar com você porque achei que precisava.
Melanie parece mais tranquila, voltando a relaxar os ombros. Eu jamais trairia a confiança de uma amiga, nem que seja para contar ao meu irmão.
- Não se sinta traída, não é porque você tem esse jeitinho de vadia de filme que eu trairia sua confiança.
- É bom mesmo, sua moleca cretina...
Esse deve ser o jeito Melanie de demonstrar que se importa com a nossa estranha e recente amizade, pelo menos agora não vamos sair nos provocando por sermos cunhadas.
- Mas falando sério agora, vocês estão juntos? - Mike se senta, eu me sento no braço da poltrona que ele está.
- Não estamos juntos. - Melanie responde. - Não é tão simples, ainda temos muito o que esclarecer de ambas as partes.
- Se acontecer de voltarmos tem que ser direito, sem erros que podem estragar tudo no futuro.
Provavelmente a mãe da Melanie não vai deixar de soltar seu veneno, porém acredito que com o Johnny sabendo quem ela realmente é, vai saber lidar. John é um bobo esperto. Se acontecer deles passarem por outro término tão intenso não sei o que vai ser do psicológico desses dois.
- Quanta enrolação, se peguem logo.
- Cala a boca, Malu. Duvido que se não fosse pelo Mike vocês estariam juntos. - Melanie cruza as pernas.
- Eu tomei a iniciativa do primeiro beijo!
- Na verdade, verdade meeesmo: não. - Mike contradiz. - Lembra?
- Aquele não conta.
- Para mim contou, não fiz para te ajudar. A ideia de te ver beijando outro qualquer estava me deixando maluco.
- Viu, só? - A expressão presunçosa da Mel me faz revirar os olhos. - O pedido de namoro foi de quem?
Ela estava confiante demais com a pergunta até o Mike responder:
- Malu.
- Desculpa, pode repetir? - Coloco minha mão na orelha para provocar minha amiga. - Me respeita, Melissa. Século vinte e um, querida. Sem essa de homens tomarem iniciativa.
- Ok, eu aceito. Menina de atitude. Você tem uma promessa a cumprir, né? - Balanço a cabeça para concordar, Mike resmunga ao meu lado.
- Nem me fale.
Nós três damos risada.
- Mantenha suas mãos longe, Mike. - Johnny ameaça de brincadeira. - Se bem quê, conhecendo minha irmã eu deveria dizer isso pra ela, Mike é o tímido e controlado da relação.
- Vai nessa. - Olho para o meu namorado de forma desafiadora.
- Sou mesmo.
- Que palhaçada, estão todos contra mim? O Mike não é tão controlado quanto vocês pensam.
- Vocês já transaram? - Melanie arqueia as sobrancelhas.
- Não.
- Graças a quem? - Ela insiste.
Me afundo no meu lugar, talvez eles estejam certo.
- Não é possível que o Mike seja tão controlado, imagina o fogo que essa garota não tem. - Melanie sorri de forma maliciosa.
- Realmente, sou o controle em pessoa. Cada dia que passa fica mais difícil.
Olho para ele com os olhos cerrados, ele me lança um sorrisinho debochado.
- Vamos ver até quando. - Minha ameaça implícita não passa despercebida por ele.
- Oi Malu, que saudade de você!
- É dinda, você nunca mais foi lá em casa.
Abraço a tia Yasmin, recebendo um beijo na testa. Yasmin é uma mulher linda, não é possível que todo o grupinho de amigos da mamãe eram compostos apenas por pessoas assim.
- A tia Thamires vai passar lá hoje, com o Scott.
- Ela esteve aqui essa semana, a barriguinha dos gêmeos tá tão linda. - Ela sorri, encantada.
Meu tio Felipe desce as escadas com um notebook nas mãos, ao me ver ele abre um enorme sorriso.
- Como vai minha sobrinha? - Ele deixa o notebook no sofá e vem me abraçar, dá última vez que o vi eu não estava da mesma altura que ele, estava?
- Vocês deveriam nos visitar mais vezes.
- Eu sei, eu sei. O trabalho tem ocupado bastante do nosso tempo, com os seus pais deve estar do mesmo jeito. Aqueles dois não param em casa.
- Mais ou menos, tio. Precisamos marcar um dia para todo o pessoal.
- Acho ótimo. - Ele se senta no sofá. - Você veio falar com a Alexsandra? Porque ela saiu com o Carlos e o Liam.
Eu sei disso, eles me chamaram também mas eu disse que não podia.
- Na verdade, não. Vim falar com você, Dinda. - Ela ergue as sobrancelhas surpresa, Felipe olha para mim. - É sobre aquilo... - olho para ela sugestivamente.
Em um segundo ela parece entender do que se trata.
- Aquilo o quê?
- Lipe, não seja curioso. - Ela sorri para o marido, segurando minha mão. - Vamos para o meu quarto.
Aceno para o meu tio e subo as escadas com ela, essa conversa vai ser constrangedora.
- Então? Não, espera! - Ela fecha a porta e se vira para mim. - Você não conseguiu cumprir? Você e o Mike, né? - Ela abre um sorriso malicioso. - Entendo, quer dizer, aquele rapaz é um pecado. As coisas não deviam estar fáceis, a idade. Poxa, Ma... eu achei que você...
Arregalo meus olhos e gargalho, eu adoro a tia Yasmin.
- Meu Deus, tia! Não, não, nada disso. - Ela vira a cabeça para o lado. - A promessa continua intacta.
- Caramba, vem cá - ela estende seus braços para mim. - me abraça, você é uma guerreira. E ele também.
- Ele principalmente, Mike não é mais virgem a muito tempo.
- Tadinho. Mas me responda: ele te respeita, né? Caso contrário eu vou lá cortar o bingulim dele.
- Com certeza me respeita, ele é incrível. Ele é super controlado, se não fosse por seu autocontrole...
Yasmin não parece nenhum pouco surpresa, sua expressão é neutra. Aposto que deve ser hábito da sua profissão.
- Fico feliz em ouvir isso, significa que ele realmente te ama. Um relacionamento não é apenas sexo e você está aprendendo isso agora.
- Com certeza.
- Relações são muito mais do que isso. Claro que o sexo é bom... - ela revira os olhos. - excelente... perfeito, na verdade e...
- Eu já entendi, tia.
- Desculpa. Enfim, é uma coisa boa, mas lembre-se: não é o mais importante, entenda que vocês vão construir coisas muito mais importantes agora. Vocês estão namorando a pouco tempo, tem muita coisa para descobrir e desenvolver. Se os dois realmente foram feitos um para o outro vão conseguir cumprir a sua promessa, na verdade, dos dois agora. A partir do momento que ele te aceitou como namorada, passou a ter que cumprir e proteger essa promessa também, a sua palavra.
- Eu sei que ele é o cara certo, eu sinto isso como nunca antes e... bom, eu o amo mais do que tudo. Eu vou cumprir a promessa, cada ano que eu renovava a minha palavra não foram em vão.
Até meus quinze anos eu jurava de pé juntos que iria cumprir o trato, sempre prometia de novo. Pobre Malu...
- Eu sei que vai ser difícil.
Já está sendo, mas foi como ela falou: o sexo não é tudo, existe toda uma base antes dele e Mike e eu ainda estamos construindo a nossa.
- Eu quero te perguntar uma coisa.
- Diga. - Yasmin cruza as pernas em cima da sua cama enorme.
- Por que você criou essa promessa para mim e não para a Lexy, sua filha?
- Você deve ter ficado sabendo que eu não acreditava muito no amor antes do seu tio aparecer. - assinto. - Eu fui traída na adolescência, era uma relação boba mas na época me machucou muito. E depois teve toda aquela confusão com seus pais, de suposta traição. Eu vi o quanto sua mãe sofreu, não foi pouco e me despedaçou ver minha melhor amiga, minha irmã, daquele jeito e não poder fazer nada. Isabella sempre foi muito sensível.
- Sem sombra de dúvida. Mas o que eu tenho a ver com isso?
- Então, eu pensei, que assim como sua mãe, você seria sensível e não queria ver aquela garotinha que eu vi nascer sofrendo por macho escroto no futuro. Achei que você herdaria a sensibilidade da sua mãe - ela sorri, - não podia estar mais enganada, você é durona. Eu planejava criar a Lexy para saber se proteger desse tipo de cara e acho que deu certo, ela é bem... Ligeira.
Dou risada, minha amiga é sensacional em não ficar abalada por amor.
- Realmente, ela quem parte os corações.
- Por isso a promessa foi para você. E eu olho pra você agora e sinto tanto orgulho de ver que está se tornando um mulherão forte e independente. Eu não posso dizer que a promessa foi em vão.
Com certeza não foi, se a promessa não existisse eu teria transado com o Tommy. Que horror, a ideia até me embrulha o estômago. Eu não me arrependo.
- Obrigada, Dinda. Obrigada por me proteger mesmo não estando perto.
Me aconchego em seu abraço, ela é como minha segunda mãe. Yasmin acredita que eu vou cumprir isso, e eu irei.
- Vocês vão conseguir. Um reforço: pensa no quanto vai valer a pena depois do casamento, na primeira noite de vocês.
- Vamos conseguir. Ele é tão resistente, provocá-lo é até divertido, hoje estávamos falando sobre o autocontrole dele. Acredita que todo mundo acha que se não fosse pela resistência dele, já teria rolado a muito tempo?
- Acredito, você adora provocar. E mais uma coisa: lembra que a promessa é apenas não perder a virgindade. - Yasmin se levanta. - Para um bom entendedor meia palavra basta.
E ai meus amores, como estão? Me perdoem pela nota gigante, mas, por favor, leiam:
Só gostaria de ressaltar o quanto essa conversa com a Yasmin e a Malu é importante para vocês entenderem que o sexo não é essencial em uma história, - em especial nessa - sei que vocês gostam e enfim. O conteúdo literário é algo muito mais grandioso, não é apenas sexo, nem todos os livros são obrigados a ter.
Aconteceu uma coisa muito chata recentemente, no qual uma leitora me mandou mensagem praticamente exigindo uma cena de sexo da Malu e do Mike, fiquei chateada com isso, por isso tive a ideia dessa conversa entre ambas. Eu até acho divertido os comentários de vocês em relação a intimidade do casal, mas não me exijam nada, escrever tem que ser algo bom para quem está escrevendo. Se vocês tiverem alguma ideia ou sugestão, podem mandar a vontade - fico extremamente empolgada e até me ajudam a ter ideias, - mas não tentem decidir o que eu estou fazendo. Eu adoro todos vocês e amo ler as mais diversas opiniões que vocês tem.
Beijos
Alice.