Em Tempo de Plágio - Uma Tram...

By DionatasLealMartins

1.4K 164 86

"Sempre há um relâmpago no fim do túnel." _Na pacata cidadezinha norte-americana de HunderCave, uma jovem ga... More

Apresentação/Avisos
Sneak Peaks
Prólogo - A Tempestade se Aproxima
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo Final
Epílogo

Capítulo 3

100 11 6
By DionatasLealMartins


"Eu lhe falei. Se antes já tivesse desistido de tudo, você não teria que passar por essa situação. Mas você preferiu continuar com a monótona dor, a escolher o suave descanso..."

O organismo de Anna Locksmitt entrava em um profundo estado de colapso conforme perguntas infinitas reviravam a sua mente em ritmo catastrófico. Seus órgãos vitais enviavam mensagens de desespero uns aos outros espalhando a má notícia de que o pai-de-todos-os-órgãos estava, novamente, em seus dias ruins e extremamente sobrecarregados. Das vezes que isso acontecia, os membros do processo sempre saíam afetados por não exercerem devidamente suas funções normais, e enfrentando-se furiosamente com discussões rabugentas que não os levavam a lugar algum, se não, os deixarem mais desorientados pelo resto do dia.

Em um movimento quase involuntário, Anna arrastou o mouse pela mesinha com os dedos rígidos e um semblante que misturava surpresa com indignação. O ponteiro branco moveu-se vagarosamente pelo monitor até parar em cima da bela capa majestosa, que se fez réu diante de seus olhos congelados. Banhado em um cinza-claro suave, o título do livro fora pincelado em uma fonte delicada e moderna de tamanho médio. Abaixo de si, no centro da capa, uma ilustração feita a mão exibia os traços joviais da cabeça de um homem de olhos fechados como se o mesmo descansasse em seus próprios pensamentos. Sua face era totalmente banhada em vívidas cores brancas com contornos artísticos bem trabalhados, que lembrava um personagem saído de uma história em quadrinhos. Três círculos ovais prateados e reluzentes rodeavam seus cabelos encaracolados dando-lhe uma aura mítica e sobrenatural. O protagonista brilhava como jamais outro. O fundo da capa, coberto de um brilhante verde-esmeralda que parecia pulsar seu tons  para fora da tela, salpicado de simbólicos micro-desenhos abstratos e levemente transparentes flutuando aqui e ali. Desenhos disformes, mas ainda caprichados. Mais caprichados que todo o restante ali.

Na parte de baixo, sobressaltando o pescoço fino de Jordan Keesne, o nome da... O nome da, aparentemente, autora, encontrava-se escrito com uma fonte moderna e quase formal. "Dream Girl 2.0" lia-se o nome da, plagiadora.

Uma ponta de ódio instalou-se rapidamente no pensamentos da garota, dissipando as demais mensagens escaldantes de seu cérebro e resultando para trás apenas o nome daquele user a pairar como uma sombra agourenta e secular. Ao lado da capa, números esboçavam suas grandezas invejáveis e prepotentes que causara na garota um espanto brusco.

Um milhão e e setecentos e sessenta e três mil votos fizeram a respiração da garota dobrar em descompasso, o olhar, tremeluzindo o brilho de lágrimas finas ao fundo.

- É muita gente... Céus, é muita gente! - a garota exclamou, dividida entre bramir e afinalar a voz. - Mas isso foi tão... Rápido demais?!

Infelizmente, não havia mais o que fazer. Estava ali, diante de seus olhos, o livro que um dia já fora seu. Não tinha como negar. Não pertencia mais a si. Do que adiantaria xingar ou amaldiçoar?

- Vagabunda, ordinária, filha da mãe, desgraçada, MALDITA, IMBECIL, PLAGIADORA DOS INFERNOS! - a garota cuspiu as palavras da boca com todo ódio espinhoso que fisgaram seus pulmões e substituíras as ervas daninhas do aconchego preguiçoso de outrora. O brado rasgou o quarto pequeno e retumbou pelas paredes de madeira até retornar para dentro de seus ouvidos em um tom elevado ao nível do deboche soar a única resposta possível daquelas superfícies amadeiradas.

Entre dentes rangindo, a garota cerrou os punhos de maneira impaciente. Dentro de si, uma bomba relógio preparava-se para explodir a qualquer momento com a missão de não permitir que pedaço algum de seu corpo trêmulo continuasse ileso.

- Calma, Anna... Se acalme, merda, se acalme! Não deixe que... Não deixe rolar! - Sentiu um gosto de sangue escorrer pela sua boca quando os dentes pontiagudos perfuraram seus lábios finos. Abriu as pálpebras doloridas com cautela, e suspirou profundamente tentando se recompor. Fungou o ar de súbito enquanto os olhos fracos já começando a se inundar.

Como não havia percebido que sua obra fora plagiada por tanto tempo? Livros online não faziam sucesso absoluto de um dia para o outro... Faziam?

Era tudo... muito estranho. E assustadoramente real.

- Jesus, que nome brega! Nem pra escolher um user bonito e menos desengonçado essa desgraçada serve! - colocou uma mecha solta atrás da orelha soltando um riso cínico,  a voz quase falhando a cada letra, ainda que quisera transparecer forças que não possuía.

Bufou de modo arrastado, ajeitando-se de qualquer jeito na cadeira de rodinhas. Retornou o olhar perdido para o livro à sua frente. Por um momento, desejara golpear a si mesma por apertar o botão direito do mouse negro e o ponteiro monótono se transformar em uma mãozinha minúscula. O círculo azul se materializou imediatamente no centro da tela, realizando alegres movimentos circulares que a fizeram cerrar os cílios e crispar os lábios de modo duro.

Uma imagem ampliada da capa do livro surgiu sob seus olhos, acompanhada do nome da autora e das informações extras da obra. Anna aproximou o rosto do computador, lendo a sinopse gigante que surgira.

"Todos nós, durante a vida, nos perguntamos se ela ainda continua após a morte. É irônico pensar assim, não é? [...]"

Anna levantou-se de um salto rápido, jogando o corpo violentamente para longe do computador.

A cadeira vermelha de rodinhas deslizou abruptamente para trás, dançando suas rodas descontroladamente sobre assoalho liso como uma bailarina realizando giros desequilibrados em uma de suas maiores apresentações. Batendo com força na beirada da cama, tombou, caindo no chão do próprio palco.

O coração de Anna batia a mil, seu peito subindo e descendo em grande sufoco. Os olhos esbugalhados da garota miravam a tela do computador com demasiado medo, emaranhado em incredulidade como se tivesse houvesse sido ameaçada pela máquina à sua frente.

- Não... - Anna sussurrou na voz trêmula, andando para trás em passos lentos e inseguros. - Não pode ter acontecido! Ela não publicou isso...- A garota negava com a cabeça. Não sabia como, mas seus pés conseguiram se desviar de um par de sapatos absortos em seu andar invertido. - Nao, não tem como! ESSE LIVRO É MEU! MEU! - gritou sob os dentes doloridos de tanto forçá-los a brigarem um com o outro.

Escutar a própria respiração fluindo pesadamente a deixava mais fora de controle e sentir um único e denso filete de suor frio percorrer sua nuca só a trouxera um lapso de dúvida acerca de sua saúde. Olhou em volta do quarto com as mãos na cintura sem um ponto certo para fixar. Todos os seus músculos já começavam protestar diante da situação alarmante que os seus companheiros se encontravam. Diante de tanta tremedeira, sua perna direita se destacou em meio aos seus companheiros naquela greve por proteínas que a garota não ingeria à um bom tempo.

Melodias excitadas escaparam para fora de seu bolso anunciando que a garota menos queria naquele momento.

"Sweet, Sweet, Sweet my life, Hey! Sweet adventures, Crazy my life! Ooouuooh! Sweet, Sweet my life, Hey! Life, very, very, Sweet! Turururu. Sweet..."

- Agora, meu Deus, justamente agora? - Anna resmungou impacientemente, bufando com os músculos faciais reunidos numa carranca. Engoliu de volta os soluços sorrateiros que subiam pela sua garganta e, respirando fundo, juntou forças de onde não tinha para deter os olhos encharcados de lágrimas quentes.

- Falando em Deus, bem que podia ser o senhor pra me ajudar nessa hora, né? - levantou os olhos para cima e mirou despropositadamente o centro das hélices do ventilador de teto. Uma lágrima esperta deslizou pelas suas bochechas vermelhas realizando um pouso livre no assoalho.

Limpou os olhos molhados com a mão trêmula carregando um ódio venenoso como combustível transportado nas veias. Piscando, levou a mão até o bolso da desbotada jeans azul e puxou o celular para si.

"Sweet my Life" de Dorian Lozinski já entrava em sua segunda estrofe quando levou o aparelho em frente ao rosto e o nome do contato se tornou nítido. Não pôde evitar o gemido cansado que se rompeu abruptamente de seus lábios, e meditou por um segundo em seus próprios pensamentos se realmente valia à pena atender o telefonema da melhor amiga naquele momento.

Lançou ao ar um suspiro arrastado e rolou os olhos pelo cômodo como se estivesse na ponta da Torre Eiffel admirando a paisagem parisiense sem saber o que devia observar primeiro. Mas não era uma turista curiosa de saco cheio, e, ainda que Dorian Lozinski fosse um dos seus cantores (estranhamente) favoritos, seu tom de voz já se escalava notas desafinadas demais para seus tímpanos criteriosos.

* - Fala, Reagan, qual o motivo de me obrigar a ouvir Lozinski às cinco da tarde? * - falou Anna tentando ao máximo disfarçar a voz enfraquecida, mas não se importando muito em mascarar sua característica ponta de desdém para tudo e todos.

* - Anna, sua louca, nem te conto! * - a voz eufórica do outro lado da linha bradou tão aguda que fizera Anna afastar o celular à alguns centímetros do rosto em uma careta de maior azedume. Tantos anos vivendo juntas e a garota ainda se esquecia que até Alvin e os Esquilos possuíam uma voz mais grave do que a amiga tagarela.

"Você não vai, vai? Você não estava triste?"

* - Okay, tudo bem! * - e Anna encerrou a chamada, restando apenas o bipe monótono a soar do auto-falante. Estampou um sorriso aberto, orgulhosa de si mesma. Era questão de segundos para que-

"Sweet, Sweet, Sweet my life..."

* - Anna Locksmitt falando...? * - disse a garota, contendo um riso debochado preso suas cordas vocais.

* - Por que desligou? * - voz repreendera de imediato.

* - Ué, você não disse que não iria me contar? Eu simplesmente desliguei! Por que eu iria conversar com alguém que não quer falar? * - Anna disparou risadas altas e calorosas. Reagan forçou uma risada descontente do outro lado da linha.

* - Hahaha, muito engraçada você! Já nasceu sonsa assim ou fez faculdade de brincadeiras ruins e eu nem estou sabendo?* - respondeu ela, transbordando sarcasmo no tom de um agudo rachado. Anna se recompôs rapidamente, seu semblante parecendo tonalizar para um amarelo-claro. Um momento... apenas um momento de alegria para esquecer todo aquele pesadelo.

* - Bom, como eu havia dito de início * - falou Reagan. - * eu te liguei pois tinha que te contar algo sinistro que aconteceu comigo agora à pouco. Confesso que estou aterrorizada, quer dizer, todo mundo aqui está! *

* - Desculpa, mas preciso começar dizendo que isso não é nenhuma novidade! * - Anna respondeu às pressas, pronta a recuperar o seu humor ácido em forma de traje de gala.

* - Hã? * - a garota indagou de imediato e a expressão "estou perdida" se personificou perfeitamente no rosto de Reagan Gateville dentro da imaginação fértil da Locksmitt. - * como assim? Não entendi...*

* - Ai, Reagan, esquece! * - toda a mísera vontade de rir que havia dentro de Anna diluiu-se como fumaça em ventania. - * Depois a lerda aqui sou eu...* - murmurou baixo. - * Que seja! Hum, espera, "aqui"? Onde você está? * - continuou a garota ao perceber que a amiga se preparava para ecoar mais um "como assim?" irritante.

* - Aqui, na praça Feelingfall, Centro. Bom, é o seguinte: - pigarreou. - * Eu tava aqui comprando algumas coisinhas no supermercado Donald Middle que minha mãe pediu e DO nada! Eu repito: DÔ-O nada, uma horda gigante de andorinhas começou a invadir a praça! *

Anna levantou uma da sobrancelhas como se fosse uma mania a qual ela não conseguia largar graças à maldita genética. Relaxou as pálpebras preguiçosamente.

* - Nossa... Que evento interessante esse seu...*

* - Nossa? Interessante? - Anna separou o próprio celular do ouvido como se temesse uma mordida letal do aparelho. - * Afferson, pelo menos tente disfarçar sua força de vontade, garota! - Anna captou os bufos frustrados do outro lado da linha e não pôde deixar de revirar os olhos. - * É sério o que eu estou dizendo! Pássaros loucos, Locksmitt, pássaros loucos!*

* - Okay, eu acredito em você e estou interessada sim! * - "Não está não!" - Você sabe que esse é o meu jeito pra tudo. - "Com certeza". - Continue. - "Por favor, não tente!"

* - Pois então * - novo pigarro nojento. Olhos girando. - *Você conhece aquele filme do Alfred Hitchcock, "Os pássaros" não conhece?*

"Mas o que diabos isso tem a ver, senhor?"

* - Hã... Sim? *

* - Pois então, os que invadiram nossa cidade são pássaros suicidas! - continuou Reagan. - * tipo, uma nuvem de andorinhas tomaram conta da praça inteira, só que era como se eles nunca soubessem voar! * - Confusa, Anna piscou demasiadas vezes ao ouvir "...nunca soubessem voar". - *Vários pedestres foram atingidos pelos pássaros loucos, mas não eram como se eles quisessem os matar, sabe? Só estavam... descontrolados, tipo, zonzos mesmo! Batiam em qualquer coisa que viam pela frente, foi horrível demais. Por sorte, eu estava dentro do supermercado quando isso aconteceu. Vidros dos carros que circulavam a Rua Townshwit com a Farlake, estabelecimentos e árvores... todos ficaram vermelhos de sangue. Foi horrível!

* - Caramba, achei que isso só acontecesse em filmes! * - Anna respondera, mergulhanda por um breve momento em seus próprios pensamentos Hitchcockianos.

* - Sim! * - o tom saíra mais esganiçado do que Anna desejava. Os tímpanos da Locksmitt tremeram em sinal de alerta, e a garota decidiu que seria a última vez que afastaria o celular do ouvido. - * Achei tudo muito sinistro. Os pássaros batiam em tudo como se estivessem desnorteados e sem direção. Seria muito macabro dizer que o gramado, os telhados e as ruas estão cheias de cadáveres dos pobres animais? *

* - Já foi suficientemente macabro o fato de que você estava ansiosa para me contar isso! * - Anna riu baixinho, aproximando o telefone do rosto com todo o cuidado que seus ouvidos clamavam. - * Preciso conferir isso noticiário mais tarde. É tudo muito estranho, realmente. Na verdade...* - um suspiro cansado sentiu-se liberto de seus pulmões. - * Esse dia inteiro está estranhíssimo. Nem sei direito o que achar sobre isso tudo. Você nem sabe da metade. * - sua voz ganhou um peso fúnebre.

* - Só achei que devia te contar pois, sério - ouviu-se uma risada marota do outro lado da linha que fez Anna voltar a si. - *eu estou em choque ainda. Não esqueço da Srta. Donald sendo atingida na cabeça por uma andorinha e correndo rua a fora assim como a metade da cidade que estava no parque. Cena icônica e macabra! Como diria você: CaÔnônica.*

* - Ai, meu Deus! Reagan!? * - As duas riram em sincronia. O pigarro ao final das gargalhadas da Gateville, daquela vez, trouxeram valor genuíno ao restante do diálogo.

* - Não sei se dou risada ou se fico assustada. * - um "aiai" ecoou de Reagan. - *O que será que pode ser isso? Com certeza tem uma explicação. Tudo tem.*

* - Pior que eu não sei... se eu não me engano, nos filmes onde isso acontecia era algo relacionado à alguma maluquice estranha. Não sei, acho que a mãe natureza está se rebelando. Palavras do Komberlinn.* - Anna soltou um riso curto na entonação, mas largo em cinismo. - * Não sei ao certo, só acho que pode ser algo bem esquisito ocorrendo e nada mais. Às vezes, nem tudo precisa de uma explicação, Reagan. Simples assim. Simples assim...*

* - Nã... con... ouv... * - um chiado ruidoso interrompeu a chamada de Reagan sem aviso prévio. Fragmentando as palavras da garota em pedaços de voz pontiagudas e indescritíveis, foi o estranho chiado quem tornava-se o novo inimigo de seus ouvidos. - An... tá cort... linha...

* - Tá bem, eu vou desligar então, Okay? * - gritou Anna levando o celular em frente ao rosto. E a chamada se encerrou-se sozinha com o último Bipe.

Anna suspirou lentamente, as bochechas brancas se esticando em um sorriso de canto. Fora um momento bom. É, fora. Não podia negar. Apesar das diferenças tão significativas, Reagan ainda era uma das únicas pessoas na qual, mesmo com a voz parecendo melodias de violino desafinado e pigarros insistentemente nojentos para uma menina de classe-alta, faziam seu dia um pouco mais feliz. Até lhe doía que o seu destino tivesse lhe reservado um caminho tão intrínseco ao da garota.

- Bora voltar ao pesadelo... - Virou o corpo vagarosamente para o computador e o fitou por um curto intervalo de tempo.

Devolveu o celular em um dos bolsos da calça jeans e deslizou o aparelho com a mão até parar no fundo do bolso, mas dois objetos finos e estranhamente gelados fizeram uma lembrança escura surgir das cinzas de sua memória como nuvens densas a cobrir um estonteante dia ensolarado de verão, não permitindo que nenhuma fonte de luz atravessasse aquele veludo impenetrável.

O coração da jovem garota estremeceu.

Quando as duas afiadas lâminas de barbear surgiram mansamente de seu bolso, o órgão vital palpitou repleto de temor. Anna encarou seus inimigos com certa apreensão enquanto os objetos cortantes brilhavam sob a luz natural do quarto, tentadores.

"Anna..."

- Desculpa mas hoje não. Não mesmo. Para o lixo! - a raiva e o medo fervendo em suas veias, andou a passos largos e pesados até a pequena lixeira azul ao lado da mesa de seu computador. Com a esperança de que permanecessem naquele amontoado para sempre, jogou as navalhas na lixeira com decisão. As lâminas caíram de qualquer jeito em cima das bolinhas de papel amassadas que cobriam a metade da lixeira. Diante das sombras de suas bordas de plástico, perderam seus brilhos melancólicos, não reluzindo mais da mesma maneira de outrora.

A garota jogou o ar para fora de seus pulmões afadigados e com as pernas tontas, rumou para a cadeira caída ao chão. Recolheu-a de súbito, arrastando-a até a mesinha do computador com um toque de mansidão que não parecia lhe ser normal em um momento daqueles.

Uma mecha ondulada de seu cabelo pendia livremente sob seu rosto, servindo como um novo estopim de raiv...

- Ai, cabelo idiota! - ajeitou os fios atrás da orelha suada, a voz ríspida explodindo de imediato. - Um dia lhe corto sem piedade alguma, inferno!

Apoiu a testa nas duas mãos enquanto sua mente carregava-se de um profundo desapontamento. Tudo ao redor parecia conspirar contra si, arrastando-a para um beco sem saída. Mas não permitiu que seus olhos se banhassem novamente. Ainda era dura como uma pedra teimosa e resmungona. Ainda tinha o sangue da família Locksmitt.

E iria honrá-lo até onde fosse preciso.

"Vamos garota! Você ainda pode mudar tudo! Não sei como, mas ainda pode!"

Levantou a cabeça para o teto, pedindo aos céus para que controlasse sua ira não esmurrasse a tela de seu companheiro. Lambendo a ponta dos lábios, os mordeu logo em seguida convicta de que parar não era uma solução. Mesmo não havendo uma próxima de si, escreveu, em seus pensamentos mais infantis e utópicos, que talvez pudesse construir uma a partir de um único toque.

Agarrou o mouse negro, agora, com muito mais carinho que antes, direcionando os olhos marejados para
a capa do livro que acreditava ainda pertencer verdadeiramente a si. Preparou-se para aquela viagem, suspirando um pouco mais aliviada, ainda que seu coração enérgico lhe dizia totalmente contrário.

Era a sua vez de comentar o próprio livro.

***

Olá, caro leitor, gostou do capítulo? Se sim, deixe sua estrela aqui, isso ajuda e muito a história! :D E não se esqueça de comentar o que você achou do capítulo, caso tenha algo para dizer, sua opinião é extremamente importante!

***

A dedicatória deste capítulo vai para o sensacional ghvoliveira que foi o primeiro leitor assíduo que tive nessa plataforma! Nem sei ao certo como te agradecer também, cara! Você acompanhou a trama de Anna Locksmitt desde o início em que ela foi parar no Wattpad, sempre me mandando vários feedbacks sobre cada capitulo que lia e o que achava da história desde então. Seus conselhos e opiniões sinceras, pode ter certeza: Levarei pra vida. Muito obrigado por ter acompanhado essa minha trajetória, pela sua amizade Wattpadiana e por ter lido isso até o fim. Esse livro também é seu!


Continue Reading

You'll Also Like

460 68 10
ESSE LIVRO É UM DARK ROMANCE O ano era 2004 a Máfia siciliana ganhava poder na Itália, a Ndrangheta e a Cosa Nostra disputavam poder na Calábria. Qua...
121K 16.5K 53
Antes mesmo do novo vírus se espalhar pela Coreia, Ryu já sabia que estava infectada. Usada como cobaia em um Laboratório Militar, fugiu semanas ante...
1.5M 135K 52
Kênia Martino: uma mulher treinada para matar e desestruturar impérios. Nascida no mundo do crime e criada por criminosos, desde criança precisou apr...
2.7K 503 14
Onde Wednesday com medo de ser deportada dos EUA inventa que está noiva de sua secretária.