—Você o achou? — perguntei ao Nicolas, que assentiu.
—Ele ia contar ao pai dele, mas eu o impedi. — Nicolas respondeu calmamente, franzi a testa confusa.
—O que você fez com ele? — questionei com medo da resposta, Nicolas suspirou.
—Ele está no porão, em uma sala desacordado. — arqueei as duas sobrancelhas.
—VocÊ fez o que, Nicolas? — gritei com ele sem acreditar no que tinha feito. — Agora seremos os dois presos. Você é louco? Eu só queria que o encontrasse, não que o matasse. — levei minhas mãos ate meus cabelos.
—Eu achei isso. — ele me entregou um livro. — Você pode resolver isso com a ajuda disso, mas é sua escolha. — Nicolas falou me deixando sozinha no meu quarto.
Fechei meus olhos respirando fundo e então peguei o livro vendo a pagina marcada era um jeito de apagar memória.
—Nicolas! — o chamei esperando que ele aparecesse aqui, o mesmo abriu a porta do quarto e me deu espaço para sair.
Assim fiz seguindo-o até essa sala no porão. Era um lugar escuro onde Justin estava amarrado em uma cadeira. Engoli em seco ao ver a cena.
—Eu o dopei, é sua escolha usar ou não. — Nicolas falou atrás de mim.
—Não sei o que fazer, isso é confuso.
—Você tem uma hora para preparar essa porção do esquecimento, assim quando ele acordar pode conversar com ele, se ele não aceitar você usa, sem termos que esperar para tudo isso acontecer. — Concordei com ele.
—Isso é um bom plano, vou ler isso. — Eu não conseguia sair dali, pois a cena de Justin dizendo que eu sou uma abominação não saia da minha mente.
—Vai, Kylie. Antes que ele acorde. — Nicolas colocou a mão em meu ombro, balancei a cabeça lentamente saindo dali e indo até meu quarto.
Li aquele livro atentamente para saber como tudo aquilo funcionava. Ao virar a página vi um desenho de uma pedra com escritos em outra língua. Eu precisava aprender latim, tudo sempre estava escrito em latim.
—Translatione! — disse olhando para aquela parte do texto, que logo mudou, sorri de lado lendo sobre aquela pedra mágica.
[...]
—Você está brincando, Kylie. — Nicolas falou surpreso, neguei ansiosa por tudo aquilo.
—Eu roubei a pedra do museu. — ele passou a mão na nuca.
—Isso está indo longe demais.
—Eu vou devolver, eu só preciso aprender a como fazer ela virar outra, então eu preciso de mais algum tempo do Justin longe do poder. — falei tentando achar as palavras certas.
—Você sabe que vão sentir falta dele, certo? — concordei e suspirei.
—Por isso, eu preciso que você se passe por ele. — Ele arregalou os olhos e eu ri. — Achei uma porção que pode te deixar com outra aparência por 12 horas. Aqui está. Eu não vou precisar de 12 horas, mas foi a única que encontrei.
—12 horas, Kylie! — ele pegou a porção e a olhou.
—Você tem que pensar com quem quer parecer. — Nicolas concordou dando um longo gole na porção, em poucos segundos ele virou o Justin. — Mantenha-o desacordado, por favor.
—Espero que saiba o que está fazendo, Kylie. — Nicolas falou saindo do quarto, soltei o ar lentamente indo me sentar.
—O que Justin fazia aqui? — Astra perguntou, sorri para ela e dei de ombros. Eu precisava de outro local para fazer isso.
—Nada demais. — falei a observando ir para o closet, peguei tudo que precisava e sai do quarto sem rumo.
[..]
Me sentia pronta para fazer aquilo transformar uma pedra normal em uma pedra mágica. Eu estava na sala do porão Justin me olhava desconfiado, desde então não tinha dito nada. Respirei fundo posicionando a mão em cima da pedra com a outra segurei a pedra já transformada e proferi várias vezes aquelas frases em latim.
Podia sentir a magia passar para a pedra de uma maneira estranha, eu nunca tinha sentido isso. Continuei sem hesitar até aquilo arder em minha mão me fazendo soltar a nova pedra da memória, sorri largo ao ver que tinha conseguido.
—Você está sangrando. — Justin falou pela primeira vez estreitei os olhos procurando onde eu estava sangrando, achei o sangue escorrendo em meu nariz e o limpei rapidamente. —O que você pretende fazer, Kylie? Vai me matar?
—Você está sendo um grande idiota, Justin. Você quer saber mesmo a verdade? Foi isso que te trouxe de volta a vida, seu ingrato. — gritei já de saco cheio disso. — E quer mesmo saber, eu poderia te matar e ninguém nunca ficaria sabendo. — falei me aproximando dele apoiei minhas mãos nos apoios dos braços e fiquei cara a cara com ele.
—Vai em frente, seu mostro. — Dei um tapa em seu rosto e alguns passos para trás levantando a mão e apertando forte seu pescoço, eu estava ofegante e sentia o ódio dominar todo o meu corpo.
—Não duvide de mim! — falei firme apertando cada vez mais seu pescoço.
Minha visão ficou turva e acabei cambaleando, fechei os olhos enchendo meu pulmão de ar. O que estava acontecendo comigo?
Abri meus olhos vendo Justin ofegante com um olhar de surpreso. Apoiei minhas mãos nas pernas vendo algumas gotas caírem no chão.
—O que está acontecendo com você? — Justin perguntou e eu o olhei confusa.
—O que você quer de mim, Justin? — ajeitei minha postura colocando as mãos na cintura. — Não quero saber a resposta, vamos logo acabar com isso e então eu vou deixar a seleção. — Justin abriu a boca, mas nada saiu. Ri sem humor e o olhei triste, seus olhos tinham um misto de emoções que eram compreensivas, mas me magoavam, afinal elas acabavam com a linda história construída.
—Não faça isso. — Ele pediu enquanto eu fitava a pedra na mesa.
—Não tenho escolha. Você não pode saber disso, Justin. — Uma lagrima desceu pelo rosto e eu a limpei rapidamente.
—Você não tem ideia do que isso pode fazer. — Balancei a cabeça lentamente.
—Vou descobrir, só não vou deixar você me colocar em risco. — Peguei a pedra e andei ate ele.
—Kylie, não! Eu não vou... — interrompi ele.
—Contar? Eu não sou idiota assim, Justin. Você me odeia e isso está claro desde ontem. — peguei a pedra, assim como um pouco de pó.
Assoprei em seu rosto fazendo o adormecer, segurei a pedra em frente ao seu rosto e com a mão livre puxei suas memorias e as escolhendo cuidadosamente para coloca-las na pedra.
[...]
O dia tinha amanhecido, eu já tinha devolvido Justin, Nicolas já deveria ser ele por essa hora, a pedra tinha voltado para o seu lugar e eu me sentia totalmente acabada, não tinha consegui dormir nada durante toda a noite. Tinha tentado achar uma história plausível para que eu pudesse sair da competição, mas nada tinha feito além de chorar eu quase tinha o matado, eu perdi o controle ontem e no dia anterior.
—Você tem que se levantar. — Erica falou, apenas neguei me virando na cama e lhe dando as costas.
—Não estou me sentindo bem. — falei puxando a coberta.
—Quer que eu chame o médico? — neguei.
—Apenas me deixe só. — Pedi fechando os olhos.
[..]
Me recusei a deixar qualquer uma delas entrar, o quarto estava escuro e eu já tinha perdido a noção do tempo.
—O que aconteceu? — Nicolas perguntou fechando a porta do quarto. — Estão preocupados com essa sua ausência. — Soltei o ar lentamente.
—Eu não posso continuar, Nicolas. Não depois de ver o jeito que ele reagiu. Eu estou pensando em um jeito de ir, mas nada acontece. Nada parece bom, tudo é suspeito. Eu... Eu... — Nicolas me surpreendeu me abraçando, apertei seu corpo contra o meu deixando as lagrimas caírem.
—Você não o ama? — Nicolas perguntou baixo, apenas concordei.
—Como amar alguém que odeia parte de você? Não vou poder esconder isso para sempre e ficar apagando a memória dele não é o suficiente. Isso tem que acabar.
—Acho que você precisa se acalmar, Kylie. — Nicolas disse se afastando de mim e me encarando.
—Eu... Não. — Suspirei me deitando novamente. — Não tem como. Eu vou pedir para sair, assim que eu descobrir um motivo compreensivo.
—Essa não é a solução. Você sabe. Precisa se acalmar, você... Foi magoada, mas esse não é a solução para tudo isso. Você vai deixar esse amor ir por medo? — gargalhei balançando a cabeça.
—Eu não estou com medo, Nicolas. Eu... só não quero me decepcionar de novo. Não quero ver aquele olhar decepcionado novamente. Isso... acabou comigo.
—Você tem que colocar sua cabeça no lugar. Isso não me parece certo.
—Só que isso não é decisão sua. Eu sei que estou fazendo.
—Eu achei esse livro, talvez seja o que você precisa. — Ele tirou o livro velho da jaqueta e colocou ao meu lado na cama.
—Eu sei que você se importa comigo e com o Justin, Nicolas. Sei que quer nos ver da certo, eu também quero. Só que você não viu o que eu vi. A cara de decepção dele ao ver que eu comecei aquele incêndio com magia. Eu entendo, o pai dele o criou para odiar isso, mas eu não o vejo aceitando isso, talvez entenda, mas não aceite.
—Apenas leia o livro, ok? — Nicolas apertou minha mão e saiu do quarto, suspirei pegando o livro, acendi o abajur folheando o livro.
O livro falava de jeitos de controlar a magia, além de lhe ajudar a criar um mundo seu. Virei a pagina vendo tudo que poderia ser feito em seu próprio mundo, olhei em volta vendo que talvez essa fosse a solução para que eu treinasse magia. Eu poderia pega tudo que eu precisasse e levar para lá. Sorri animada com a ideia. Talvez fosse hora de sair da cama e usar meus últimos momentos no palácio para criar isso e então fazer o que faço de melhor, roubar.
Comecei tomando banho e trocando de roupa. Então procurei a lista de material que iria precisar para criar isso, era uma longa lista e eu levaria um bom tempo para poder encontrar tudo.
[...]
Já era de madrugada, eu tinha aberto as janelas para que o vento entrasse, eu me sentia cansada depois de tanta magia para me transportar, mas agora eu tinha tudo que era necessário para fazer esse mundo. Virei a página e bufei irritada, precisava de uma pedra preciosa.
Assim me transportei para uma mina que tinha achado a algum tempo olhando nos mapas da cidade, lá deveria ter uma pedra. Acendi uma chama em minha mão para poder enxergar naquela escuridão e caminhei pelo caminho. Foi uma longa caminhada até encontrar algo brilhante era branco, a peguei confirmando que era uma pedra. Voltei para o quarto no palácio e me preparei para começar. Todos os ingredientes ali ao lado da enorme bacia.
Respirei fundo pronta para começar tudo aquilo, o livro estava ao meu lado para que eu pudesse me guiar. Comecei a misturar os ingredientes... Recitando as frases em latim que eu não fazia ideia do significado... Eu podia sentir a magia nesse processo... Ao ler a pagina vi a palavra sangue, eles só podiam estar de brincadeira. Com um objeto afiado cortei um pouco da palma da minha mão e a virei deixando o sangue pingar em toda aquela mistura enquanto repetia a magia com a outra mão. Minha visão ficou turva...
[...]
Tinha mãos quentes em meu braço parecia pressionar o local. Tentei abrir os olhos ou mexer algo em meu corpo, mas não conseguia. Minha respiração estava pesada, podia sentir cada parte do meu corpo doer, principalmente minhas costas.
—Você vai ficar bem. Você tem que ficar bem. — A voz de Justin estava embargada, mais rouco que o normal, o que me fez deduzir que ele chorava.
Consegui mexer minha mão livre e aos poucos a levantei procurando o loiro, toquei seu ombro e abri meus olhos vendo um sorriso aliviado em seu rosto.
—A ajuda já está vindo. — Ele falou levando uma mão até meu rosto e acariciando minha bochecha. Virei meu rosto vendo meu braço esticado cheio de sangue com vários cortes ao longo do meu antebraço, desci mais um pouco o olhar para a poça de sangue que rodeava meu braço. Olhei novamente para o Justin confusa. — Você vai ficar bem.