dangerous || 1ª TEMPORADA

Par jiminfave

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⍟ forty four
⍟ forty five
⍟ forty six
CAPÍTULO EXTRA
⍟ forty seven
⍟ forty eight
⍟ forty nine
⍟ fifty
⍟ fifty one
⍟ fifty two
⍟ fifty three
⍟ fifty four
⍟ fifty five
⍟ fifty six
⍟ fifty seven
⍟ fifty eight
⍟ fifty nine
⍟ sixty
⍟ sixty one
⍟ sixty two
⍟ sixty three
⍟ sixty four
⍟ sixty five [PARTE 1]
⍟ sixty five [PARTE 2]

⍟ forty one

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Par jiminfave

A noite havia chegado em companhia de uma abundante nevasca. Flocos contínuos se derramavam e se acumulavam contra o para-brisa do carro. Uma montanha de neblina se formava para além da estrada.

Jungkook orientava o SUV por uma rodovia deserta e congelada, os pneus deslizavam esmagando a neve no chão. Embora o aquecedor estivesse ligado, sua respiração fugia em forma de fumaça.

Um corpo silencioso estava acomodado no banco ao lado, completamente imóvel. Jimin usava um agasalho corpulento e um gorro aquecia suas orelhas. Ultimamente, ele passou a gostar mais desse tipo de roupa.

Durante um momento prolongado, o detetive ficou pensativo sobre o conselho de Yoongi, sua atenção esteve distante da reunião e dirigida unicamente para a ocasião na biblioteca. No final de todas as reflexões que teve, todas elas apontavam para uma conclusão exclusiva: Yoongi estava certo.

Ele se encontrava numa condição extremamente vinculada ao garoto, e isso se tornava cada vez mais evidente, a ponto de romper o muro que ele havia erigido em oposição às suas emoções. Definitivamente, Jimin parecia estar além desse muro.

Um espirro contido ecoou pelo carro, subitamente Jungkook olhou para o garoto. Ele estava protegendo o nariz quando encontrou o olhar do policial.

– Me desculpe – disse ele, timidamente, o leve rosado ao longo das maçãs do seu rosto se acentuando.

Jungkook não reprimiu um sorriso adorável, sua expressão tinha um ar agradavelmente intenso. Por mais que tentasse mentir para si mesmo, não podia negar que tudo naquele garoto era assustadoramente encantador.

– Está pegando um resfriado? – ele perguntou de repente, alternando o olhar para a estrada.

– O senhor acha que pode ser um resfriado?

– Provavelmente sim, a médica irá avaliar isso também. – articulou enquanto fitava uniformemente o atalho.

Jimin olhou para além da janela lateral. A noite negra, a névoa negra, as sombras espantosas das árvores lá fora e todo o negrume ao redor fazia cada pelo vibrar sob a pele de Jimin. Ele não tinha muita simpatia pela escuridão, uma vez que ela trazia uma corrente de memórias desagradáveis e sensações que ele não desejava sentir.

– O senhor acha que ela é confiável? – o menino perguntou ainda explorando o solo congelado.

– Sim, ela é uma conhecida da minha irmã e tem uma carreira prestigiada. – ele ouviu a respiração de Jimin, pesada no silêncio. – Eu vou estar com você, não tenha medo.

– Eu não tenho dúvida disso. – incluiu Jimin, abaixando o olhar para as suas mãos no colo. – É que às vezes eu pareço um estúpido que sente medo de tudo.

– Isso não é estupidez. – O detetive o confortou, ganhando o seu olhar. – Você passou por coisas que não devem ser guardadas só para você. Imagino que esteja com medo de encarar mais alguém desconhecido, mas lembre-se que estarei sempre ao seu lado.

Qualquer resposta em oposição se dissipou no plano de fundo da cabeça de Jimin. Entretanto, um fluido se rastejou para dentro de sua mente, formando uma descontente compreensão.

– Não – a voz do garoto repartiu o silêncio. –, nem sempre o senhor vai estar comigo. Se um dia tudo isso acabar eu vou continuar com os meus fantasmas e o senhor continuará com o seu trabalho.

– Acredita mesmo nisso?

– Não é somente acreditar. – respondeu ele, desviando as vistas para o lance de luz dos faróis à frente. – Nem sempre você vai estar comigo.

– Existem muitas maneiras de estar perto, não acha? – perguntou, seu semblante possuindo um ar sugestivo. Jimin encarou a lateral do rosto dele, observando sua bochecha levemente esticada num sorriso frouxo.

– Muitas maneiras? – O menino balbuciou incerto.

– Sim. – seu olhar se fixou no alheio e uma ponta de faísca se acendeu nas bochechas de Jimin, as esquentando. – Como um telefonema, por exemplo.

Por um motivo não aparente, uma respiração aliviada se partiu nos lábios de Jimin. Às vezes, acidentalmente, alguns pensamentos cruzavam sua mente nos mais estranhos momentos. Ele não entendia o porquê, mas toda vez que se sentia observado por aquele par de olhos negros, sua pele se arrepiava agradavelmente.

Uma poderosa força o fez esquivar-se das vistas para as próprias mãos e sua cabeça sacudiu para cima e para baixo. Ele não estava errado, existiam formas diferentes de se sentir perto de alguém, mas nenhuma delas se assemelhavam a estar presencialmente próximo.

– O que o senhor faz para se sentir mais perto de alguém quando não está com ela? – ele perguntou, sem ao menos perceber que aquela simples interrogação provocou uma sequência de recordações no detetive.

Ele tossiu para disfarçar a sua própria lembrança e afundou o pé no acelerador. Houve uma resistência da sua parte para não soltar um: "eu penso em você". Diante disso, ele projetou uma resposta mais direta e menos particular.

– Eu costumo pensar nela.

Jimin levantou suas sobrancelhas e espremeu os lábios. Ele fazia o mesmo com Hannah e Taehyung, mas quase nunca deu certo. Sua dor parecia se alargar conforme continuava a reviver todos os momentos com eles.

– Não falta muito tempo agora, estamos quase chegando. – anunciou Jungkook quando verificou o GPS, mudando o assunto a seu favor.

Jimin se contorceu no banco, as batidas do seu coração ficaram erráticas. Ele sabia que estava protegido com Jungkook, mas o medo em seu peito não murchava de modo algum. Ter esse lembrete em mente não o confortou muito bem, visto que o tempo lá fora estava sinistro.

– O senhor acha que vai demorar? – Seu queixo tremeu levemente, então ele preferiu acreditar que era pelo frio.

– Acredito que será rápido. – O detetive observou de esguelha as mãos dele esfregando a calça, nervoso. Então, subitamente ele buscou confortá-lo. – Estou feliz que tenha decidido voltar para o prédio. É melhor para nós dois.

– Seu chefe não vai brigar? – Jungkook sorriu para ele e girou o volante para a esquerda, penetrando o SUV numa esquina com arranha-céus.

– Ele não pode ser contra a sua decisão.

O tráfego estava vazio, densas neves se acumulavam no acostamento e estradas. As luzes de alguns lugares estavam apagadas por conta do temporal que parecia enviar alertas de que estava se aproximando.

Uma nuvem de recordações ondulou entre as beiradas da memória do menino, trazendo à superfície os acontecimentos recentes que envolveram ele, Jungkook e a biblioteca. Não havia parado para pensar o que tudo aquilo significava, talvez não existisse uma acepção concreta, mas, parando para ponderar, ele só desejava que tudo se repetisse novamente.

De repente, uma lembrança mergulhou em sua cabeça. Jimin recapitulou o momento que saiu da biblioteca e seguiu para o quarto, onde percebeu, em meio ao seu trajeto, que havia alguém diferente no prédio. Uma mulher.

Ele não a conhecia, nunca a viu na vida, entretanto, o que havia prendido sua atenção estava ligado à aparência dela. A moça estava ferida, com hematomas no rosto e braços, como se tivesse passado por uma briga de bar. Durante a sua curiosidade indiscreta, ele sentiu que ela também foi vítima da máfia, embora nunca a tivesse visto nos corredores das celas.

– Ontem, quando eu saí da biblioteca, tinha uma mulher machucada na enfermaria. Quem é ela? – Jimin perguntou diretamente para o possível autor desse assunto. Se houvesse uma pessoa que poderia responder esse tipo de dúvida, ela estava ao seu lado.

– É a minha irmã. – Jimin pareceu surpreendentemente pego de surpresa.

– Irmã? – Um murmúrio confirmou. – Ela não se parece com o senhor.

– Não somos irmãos de sangue, apenas de consideração.

O garoto quase se engasgou. Ele brevemente se culpou por dirigi-lo essa pergunta.

– Me desculpe, eu não sabia – justificou, cada centímetro do seu rosto diminuindo aos poucos.

– Está tudo bem, Jimin. Muitas pessoas acham que somos namorados pela forma que a Jennie me trata. – ele falou quase rindo.

– Isso deve ser um pouco estranho.

– Você não imagina como é irritante. – Ele bufou, balançando a cabeça para os lados. – Mas ela é uma boa garota, o cara por quem ela se interessar terá muita sorte.

– A mulher por quem o senhor se interessar também terá sorte. – comentou Jimin, percebendo a boca dele se contorcer num sorriso perceptivo e hipnoticamente sexy. Logo ele tentou se corrigir. – O-O senhor é bondoso e atencioso. As pessoas gostam disto.

– Eu não diria que seja só por isso. – ele complementou a perspectiva do garoto. – Mas talvez você esteja certo, o homem por quem eu me interessar terá sorte.

Jimin sentiu seu corpo frear momentaneamente. Talvez a palavra tenha escapulido sem querer, mas ele parecia ter usado-a com consciência.

– H-Homem? – seu peito deu um solavanco de supetão. Jungkook sorriu.

– Achei que tivesse percebido. – ele argumentou, fazendo o motor do carro morrer numa vaga aberta de vista para um edifício. – Está assustado por isso?

Naquele instante, o menino se deu conta de que estava com a boca meio aberta, logo a fechou e piscou para afastar a surpresa.

– Não, senhor. – Jungkook continuou a estudá-lo. – É que você não demonstra muito.

– Tem muitas coisas que evito demonstrar, Jimin. – seu sorriso foi estreito. Ele imediatamente arrancou o cinto de segurança e pegou seu chapéu no banco do passageiro. – Eu saio primeiro, me espere aqui, está bem?

Ainda parcialmente surpreso, o menino assentiu ligeiramente e sentiu uma corrente gelada abraçar seu corpo no momento que a porta do carro foi aberta. Jungkook pousou o chapéu em sua cabeça e rolou para fora, dando a volta pela parte dianteira. Jimin se atentou na forma como as rajadas de vento agitavam o longo casaco dele pelo ar.

De um modo nada discreto, aquela sucinta informação deixou o garoto parcialmente suavizado. Ainda que estivesse desorientado no que diz respeito aos sentimentos, Jimin se via perdidamente acoplado àquela descoberta. O mais embaraçoso é que ele não entendia porque estava internamente contente.

Quando se aproximou, o detetive puxou a maçaneta e abriu a porta, chamando Jimin com um efêmero aceno. Ele desatou o cinto de segurança e se retirou, protegendo-se instintivamente da friagem. Jungkook empurrou a porta até ela se trancar e voltou-se para o menino, ele tremia o queixo continuamente.

– Tem câmeras do lado externo, talvez não estejam funcionando por conta do temporal, mas vou te pedir que abaixe a cabeça ao passarmos por elas, tudo bem? – informou Jungkook cautelosamente, seus olhos negros escondidos na sombra do chapéu.

Jimin acenou, piscando entre o sopro da neve. Mal estava conseguindo enxergar, os flocos se derramavam em grandes porções, dificultando a sua visão dos arredores. Jungkook pareceu notar isso, logo suas mãos se orientaram em direção ao capuz dele, onde o puxou sobre sua cabeça.

Seu intenso cheiro invadiu as narinas do garoto e sua pele ligeiramente se arrepiou. Jungkook fez uma avaliação rápida sobre ele antes de se afastar.

– Está melhor assim? – ele conferiu, segurando o olhar no dele enquanto recebia um tímido aceno. – Então é melhor entrarmos. Vamos.

Em seguida, Jungkook inspecionou as extremidades das esquinas engolidas pela neblina e fez um gesto com o queixo para que o menino o seguisse. Eles atravessaram paralelamente a rua, Jimin sentiu uma mão aterrissar com cuidado no seu ombro, o escudando intuitivamente.

Como o planejado, o menino inclinou a cabeça para baixo com o intuito de se esquivar das câmeras. O detetive continuou a norteá-lo para dentro do edifício, eventualmente pesquisando ao redor. Eles cruzaram para o interior, logo na entrada situava-se um segurança e mais adiante uma recepcionista operando em seu computador.

Jungkook seguiu até ela, ignorando os poucos olhares furtivos que alguns enfermeiros lançaram sobre eles. Ele deu duas leves batidas no balcão para chamar a atenção da moça, ela imediatamente o encarou.

– Posso ajudá-lo, senhor? – Ela sorriu para ele, seu aparelho cintilando sob a forte luz.

– Preciso ver a Maryse. Ela está? – A mulher deslizou as vistas para o distintivo que ele ergueu e automaticamente regulou a postura.

– Sim, senhor, ela está. Tem uma consulta marcada?

– Em particular. – ele acrescentou educadamente, porém meticuloso.

– Como o senhor se chama? Vou ligar para avisar que já está aqui. – ela ameaçou pegar o telefone, mas o detetive reprovou seu ato agarrando suavemente seu pulso.

– Suponho que seja melhor não avisá-la. – sua voz estava suave, mas havia notas inflexíveis contornando suas palavras, deixando ali uma intimidação oculta.

A mulher tremeu os lábios e forçou um sorriso, logo recolhendo sua mão. Jungkook percebeu a relutância dela e sem demora fez um gesto para Jimin, o convidando para acompanhá-lo.

A recepcionista se atirou para fora de sua cadeira como se para dizer mais alguma coisa, no entanto, Jungkook suspendeu os dedos em sinal de rejeição.

– Não se preocupe, eu sei o caminho.

Ela somente assentiu e retornou para o seu assento. Jimin ficou tão fascinado pela conduta inexorável do detetive que acabou esquecendo de segui-lo pelo corredor, e quando lembrou-se de fazer, Jungkook já estava a alguns longos passos à frente.

Identificando a sua ausência, o detetive o aguardou na metade do caminho, o suficiente para vê-lo encurtando a distância entre eles. Jungkook apoiou a mão contra o seu ombro quando ele o alcançou, logo pressionando o botão do elevador.

A porta correu para o lado e eles adentraram. As costas do garoto encontraram o espelho na parte posterior e ele se encolheu ali enquanto espiava o mais velho indicando o botão de subida. As engrenagens chisparam em movimento e o elevador alavancou.

Jungkook recostou-se no corrimão, de frente para o garoto, e cruzou os braços. Seus olhos se conectaram aos dele, uma silenciosa comunicação se manifestando numa invisível linha visual.

– Eu acho que ela vai ligar para os seguranças. – mencionou Jimin, um tanto preocupado.

– Acho que não. – Jungkook objetou, elaborando uma expressão segura. Porém seu rosto estava flutuante.

– Como garante isso?

– Porque ninguém desacata minha autoridade. – Seu sorriso se tornou superior quando o menino revidou com uma cara debochada.

Antes que Jimin pudesse replicar, o elevador balançou uma última vez antes de parar. A porta metálica rolou para o lado e um extenso corredor revelou-se à frente. Havia algumas portas alinhadas e dois funcionários com uniforme limpando aquele setor.

À distância estava uma figura de jaleco ao lado de um funcionário perto da recepção, conversando entre si enquanto tomavam café. Jungkook olhou para Jimin, vendo-o quase hipnotizado, e tocou suavemente nele para despertá-lo.

– Será rápido, eu prometo. – garantiu ele, recebendo um receoso aceno em resposta.

Em seguida, ele o conduziu pela extensão retilínea, diretamente a caminho da médica. Jimin acabou espreitando por entre as brechas das portas, não observando ninguém nas salas, o que indicava que não havia pacientes na clínica devido ao horário de funcionamento.

A mulher percebeu dois pares de pegadas se aproximando e imediatamente olhou na direção deles. Um sorriso elegante cresceu nos lábios dela.

– Detetive Jeon. – sua atenção caiu para o garoto e um sorriso maior se alargou em seu rosto. – Olá, me chamo Maryse.

Jimin não a respondeu e evitou encará-la. Por alguma razão, ele achou melhor não revelar sua identidade, afinal de contas, todo aquele processo devia ser extremamente confidencial.

– Maryse, podemos fazer isso agora? – Jungkook perguntou, não sendo específico, porém transmitindo decorosamente o que ela já sabia.

– Claro. – A mulher jogou o seu copo descartável na lixeira e retornou-se a Jungkook. – É por aqui, me acompanhem. – Maryse indicou uma sala reserva que situava-se no final do corredor.

Jimin lançou um olhar temeroso para Jungkook e ele o retribuiu com um sorriso consolável. Ele lutou para ignorar o sentimento de que estava à beira de um precipício. Então, ainda com o coração na garganta, ele acompanhou relutantemente os passos de Jungkook.

Todos eles entraram, houve um longo e estranho silêncio. O interior cheirava a amaciante e amônia, um armário mediano estava na lateral da cama enquanto uma mesinha com rodas amparava os equipamentos necessários. O olhar de Jimin chocou-se numa injeção embalada que repousava acima de um pano e um gelo beliscou sua espinha, mas ele não entendeu a razão disso.

– Acho que cheguei um pouco antes do horário – disse Jungkook, sondando cada ângulo do cômodo.

– Chegou em ótima hora. – ela olhou para ele enquanto enfiava os dedos nas luvas de látex. – A clínica esteve lotada o dia todo, mas eu e uma colega conseguimos dar conta antes de você aparecer.

– Que eficiência, Maryse. – elogiou ele, arrancando um sorriso maior do rosto dela.

Jimin olhou para ambos, depois escorregou as vistas para o chão.

– Mas me diga, como está a sua irmã? – demandou ela, mostrando-se interessada. – Eu nunca mais a vi depois que terminamos a faculdade em Boston.

– Ela está bem. – Ele pareceu limitado em dar mais detalhes.

– Mande um abraço para ela. Aposto que ainda continua sendo aquela garota inteligente.

– Ela tem suas peculiaridades. – ele acrescentou, recostando-se contra a parede.

– Igualmente. – rebateu ela, sua entonação ecoando mais insinuante.

O garoto deu a ela um olhar clandestino, sua atenção estava apenas parcialmente na conversa, logo avaliou-a em silêncio. Maryse possuía um longo cabelo trançado num rabo de cavalo, o vestido cor de vinho desenrolava-se até o joelho e seu salto fino tilintava sobre o chão. Ela era muito bonita e ele odiou admitir isso para si mesmo.

– Podemos começar? – Desta vez sua pergunta foi para Jimin, no qual acabou corando imediatamente, seus castanhos cintilando em perplexidade.

Ele apenas respirou fundo e assentiu, mas antes compartilhou um olhar com Jungkook, um olhar que lhe dizia que tudo estava bem. A mulher apontou para a cama e ele seguiu até a direção indicada, logo se acomodando na beirada, hesitante.

– Está sentindo alguma coisa? – ela perguntou, seu tom ficando mais suave.

– Não. – Ele mentiu limitadamente, afinal, preferiu considerar apenas o aspecto fisiológico.

– Isso pode ser um bom sinal. – Ela trouxe a mesinha para perto e agarrou a lanterna. Em seguida, seu polegar abaixou a pálpebra inferior dele para examinar por dentro e o foco de luz foi conduzido para aquela região. – Está se alimentando corretamente?

Quando o feixe estava começando a queimar seu olho, Maryse desligou a lanterna e ele piscou um par de vezes. Jimin encarou Jungkook à distância, como se para ter certeza se podia contar a verdade. Jungkook gesticulou a cabeça, o apoiando a prosseguir.

– Tem mais de um ano que não como direito. – respondeu ele, vacilando nas palavras. A médica não se apoderou dos motivos por trás daquela afirmação, somente sorriu educadamente.

– Então a partir de hoje você vai começar a se cuidar, está bem? Seu organismo precisa de nutrientes e muita água. – Ela colocou a lanterna de volta e retornou para ele, dessa vez com uma injeção. – Farei uma lista de todos os alimentos necessários e entregarei ao detetive para que ele monitore sua refeição. Acredito que vocês dois estejam morando no mesmo ambiente, mas caso não estejam, posso organizar melhor um cardápio para que você não se esqueça de seguir.

– Eu posso cuidar disso. – Jungkook se ofereceu, recebendo dois pares de olhos. – Não será tão difícil.

– Eu imaginei que diria sim. – ela arrancou a proteção de plástico por cima da agulha da injeção.

Reparando aquela ferramenta, Jimin sentiu uma mistura de apreensão e desordem crescendo paulatinamente no seu peito. Ele não sabia o motivo desse efeito, mas podia pressupor que estava ligado diretamente com a máfia e o que eles fizeram em seu corpo, provavelmente, usando uma injeção.

– E-Eu não gosto de injeções. – ele protestou um tanto inseguro.

– Eu me surpreenderia se dissesse que gosta – retrucou ela, seus lábios vermelhos pelo batom se esticando num sorriso agradável. – Vou retirar apenas uma gota de sangue, não irá doer nada, eu prometo.

O menino não estava tão confiante neste pacto, uma vez que ele tinha consciência que agulhas só proporcionavam dor. A médica limpou o dedo indicador dele com álcool e logo pressionou a ponta da agulha contra sua pele.

Jimin espremeu a boca e deslocou seus olhos para o detetive, o encontrando atento em seu rosto. Havia uma tentação estranha que ansiava por encontrar conforto naqueles olhos negros, de ficar cara a cara com eles como se o seu aconchego estivesse bem ali, afogado naquelas órbitas.

Jungkook não se esquivou de continuar a encará-lo à distância. Uma corda invisível parecia enroscá-los crescentemente, os algemando numa bolha particular, onde só os olhares sustentavam a via de comunicação entre os dois.

Jimin sentiu um desejo hipnótico que o proibia de quebrar aquele contato visual. Sua cabeça zuniu e uma distante fisgada furou sua pele, mas essa dor foi logo ignorada. Ele deixou um muro construir-se dentro dele, atentando-se apenas ao que estava em sua frente.

– Viu? Foi rapidinho. – A voz da médica invadiu sua audição, finalmente provocando o rompimento do contato visual entre eles. – Vou precisar que traga uma amostra de urina também, certo?

Jimin somente assentiu e reprimiu a vontade de olhar novamente para Jungkook. A mulher recolheu o sangue e o armazenou dentro de um tubo de coleta. Ela entregou-lhe um pedaço de algodão, em seguida ele envolveu o furo ensanguentado.

– Vou pedir para que retire o agasalho e a camisa para que eu possa fazer uma avaliação cardiovascular – pediu ela, contornando o estetoscópio no pescoço.

Um pequeno frio pareceu crescer no estômago do menino. Seus olhos se arregalaram instintivamente e sua cabeça balançou para os lados depressa. Maryse ficou confusa, ligeiramente, ela substituiu sua expressão por algo mais gentil.

– Não precisa retirá-la por completo, só basta levantar um pouco.

Ele negou com mais veemência.

Era muito pungente pensar em mostrar o seu corpo. O garoto o repelia de todas as formas, e as cicatrizes das chicotadas contribuíam para esse aborrecimento interno.

– Meu querido, eu preciso que você-

– Por favor, não, eu não preciso fazer isso. – Ele quase implorou, vendo a mulher apertar a boca um pouquinho, e só por um momento ela olhou para o detetive.

Jungkook se aproximou em pegadas longas, tomando muito cuidado ao tocá-lo no ombro. O menino o encarou apreensivo, seus amendoados cintilavam.

– Não quer fazer? – Seu tom estava mais meigo e atencioso. Jimin sacolejou a cabeça em recusa enquanto o fitava. – Certo, então você não fará por agora.

– Jungkook, é necessário que eu cumpra todos os exames para saber se ele está bem.

– A coleta de sangue basta. – ele rejeitou, dessa vez não ofuscando o timbre autoritário. – Você o ouviu, doutora, ele não quer.

Jungkook pescou um lampejo brusco tremer a mandíbula dela, logo sua fisionomia suavizou-se. Maryse ergueu as mãos ao nível dos ombros em rendição e ligeiramente suspirou.

– Está bem, não vou forçá-lo. – Ela recolheu as luvas das mãos e as jogou sobre a mesinha. – A amostra será encaminhada para um teste de anticorpos monoclonais assim que você trouxer uma unidade de urina. O resultado pode sair no máximo em dois dias.

Jimin praguejou mentalmente, depois olhou de forma culpada para Jungkook. Ele não queria causar um tumulto por conta de seu receio. O detetive se esforçou para marcar os exames, para levá-lo até lá, e ele simplesmente comportava-se de maneira relutante.

– Terminamos por hoje? – Jungkook interrogou educadamente, interpretando as feições dela como um sim. – Obrigado por seu tempo, fico te devendo essa.

– Não agradeça a mim, isso é pelos velhos tempos. – ela retrucou, fitando a mão dele esticada em sua direção. Ela a segurou prontamente em cortesia.

– Obrigado mesmo assim, Maryse.

Com um breve meneio para ela, Jungkook abaixou a mão lenta e cuidadosamente para as costas de Jimin, o instigando a levantar-se. A mulher sorriu estreitamente para o garoto em despedida e ele a retribuiu na mesma proporção.

– Vocês podem adiantar na frente, eu preciso guardar a amostra de sangue e organizar o meu horário de amanhã. – Maryse antecipou, abrindo a porta para eles.

A voz dela tinha uma estranha e suave qualidade quando se pronunciou. Jungkook deu espaço para que Jimin atravessasse na frente e o seguiu logo depois.

Ao rolarem para fora, o corredor estava quieto e os funcionários da limpeza já não se encontravam mais naquele setor. Quando Jungkook ameaçou seguir para o elevador, uma mão tocou seu braço somente para chamá-lo atenção. Era Jimin.

– Me desculpe, Jungkook, ela só queria me examinar e eu recusei como um idiota. Você gastou todo seu tempo para fazer isso e eu simplesmente estraguei.

– Você fez o que estava ao seu alcance, Jimin. Eu não ousaria deixar que ela prosseguisse sem a sua autorização. – O menino engoliu, discretamente, com as palavras dele, ainda que continuasse a se sentir culpado.

– Então não está chateado? – As sobrancelhas de Jungkook reuniram-se e ele sorriu para o outro.

– Por que eu estaria?

Estar tão ligado visualmente a ele fazia todos os nós de seu corpo se desenrolarem. Jimin tinha a leve impressão de que a cor preta envolvida nos olhos dele poderia lhe falhar a qualquer fração de segundo, estilhaçando suas defesas.

Antes que prosseguisse agarrado a essa observação, as luzes do corredor piscaram, ameaçando se apagarem. Jimin desviou sua atenção para cima, confuso sobre a sequência de vezes que a iluminação falhou.

– O que está acontecendo? – Seu rosto estava completamente embaraçado. Jungkook olhou para cima sob a borda do chapéu e deu de ombros.

– Talvez uma falha técnica – supôs, voltando-se para a dimensão do corredor. – Acho melhor irmos antes que dê algum problema.

Contudo, a escuridão engoliu tudo ao redor quando todas as luzes se desligaram, não só as da clínica, como as luzes da cidade à fora. Não havia pontos de claridade além das janelas, a cidade estava mergulhada na obscuridade.

Vozes em confusão soaram através das paredes, pessoas em locais vizinhos entraram em tumulto e gritaram aborrecidos para a noite.

– Jungkook? – O menino o chamou apreensivo, sua voz medida pelo pânico. – O que aconteceu? Eu não consigo ver nada.

Ele tateou o ar em apavoramento, seus olhos arregalados no meio do breu. De repente uma mão agarrou a sua e o puxou seguramente para perto.

– Eu estou aqui. – a voz dele estava mais próxima, seu hálito facilmente penetrando as narinas do garoto.

– Eles estão aqui, não estão? – Jimin tentou olhar ao redor, mas o negrume era tudo o que seus olhos alcançavam.

– Não tem ninguém aqui, foi só um blecaute. Parece que a cidade inteira está sem luz. – ele explicou enquanto espalmava o interior dos bolsos em busca de seu celular.

– Nós estamos em uma clínica. Por que o gerador não está funcionando?!

Muito ligeiramente, Jimin se prendeu ao braço dele, o envolvendo com os seus. Ele odiava o escuro e não pensou duas vezes quando seu sexto sentido o alertou para cingir-se ao antebraço do outro como se fosse uma proteção.

Um brilho resplandeceu contra o rosto de Jungkook quando ele acendeu a tela do celular. Estava sem sinal, mas pelo menos podia servir de lanterna para eles enxergarem o caminho até a saída. Ele virou levemente o canto do olho, observando o menino com a bochecha colada em seu ombro, apavorado.

Maryse saiu pela porta lançando um feixe de luz no rosto deles, Jimin rapidamente pestanejou e se afastou um pouco de Jungkook, mas sem soltá-lo. Ela parecia igualmente atrapalhada, distribuindo olhadelas para os confins do corredor.

– O que diabos aconteceu aqui? – Jungkook perguntou para ela, sua voz assumindo uma tonalidade vigorosa.

– Parece que houve um apagão na cidade toda. As estradas estão congestionadas por causa da neve e há troncos de árvores que desabaram pelo temporal. Meu marido mandou uma mensagem dizendo que demoraria para vir me buscar. – ela bufou, quase aflita. – Pelo jeito vamos ter que ficar aqui até a energia voltar.

– E o que houve com o gerador?

– Os técnicos já estão verificando para ver se foi uma falha na bateria ou uma entrada de ar no sistema de combustível. – ela explicou.

– Bom, então boa sorte no seu confinamento porque nós precisamos ir. – argumentou Jungkook, soando um pouco debochado. Ele olhou para Jimin e murmurou em seguida. – Vamos?

O menino estava bastante quieto no braço de Jungkook, parcialmente assustado, parcialmente acomodado. Ele assentiu timidamente e sentiu o corpo maior se movimentar em partida, mas uma voz feminina e refinada ecoou no escuro.

– Como você vai dirigir com toda essa neve nas estradas?

– Eu darei um jeito. Só não posso ficar aqui parado. – ele articulou, disciplinado, logo gesticulou suavemente a cabeça em respeito. – Boa noite, Maryse. E não se esqueça de usar agasalhos quando for embora.

– Pegue as escadas à direita. – ela sugeriu depois de agradecê-lo pela solicitude. – Assim chegará mais rápido no saguão.

Ele sorriu em gratidão e puxou Jimin condignamente para ir junto. Ambos se locomoveram para o final do corredor, enquanto Jungkook focalizava a lanterna do celular à distância, Jimin espreitava em torno das paredes.

Havia uma porta no terminal que ficava um pouco desviada do elevador. Jungkook abriu-a e olhou para baixo, encontrando uma passagem banhada pela escuridão. Uma respiração frouxa escapou dos lábios do menino ao se deparar com aquilo.

– Vamos entrar aí? – ele falou trêmulo, quase gaguejando.

– É a nossa única saída.

Claramente era uma área onde Jimin não desejava pisar os pés. Ao olhar para a vastidão apagada, uma lembrança horripilante cortou seus pensamentos, e mais uma vez a imagem de Derek brotou como um lampejo em sua cabeça.

Ele conseguia se recordar perfeitamente dos tapas, do sangue escorrendo o seu nariz e da crueldade estendida sob as palavras de Derek no dia em que ele o levou para o porão.

Subitamente, uma palma se estendeu em sua frente, convidando seus olhos a fitá-la. Jimin observou por um momento a mão enluvada do braço que ele se envolvia e de repente o encarou.

– Segure minha mão. – pediu o detetive, suas feições gentis o tranquilizando.

Algo agradavelmente arrepiante reverberou pela espinha de Jimin e ele apenas deixou sua mão caminhar até a dele, entrelaçando-a. Jungkook o carregou para a coluna de degraus ladrilhados, disparando sua lanterna em declive.

Quanto mais eles rolavam para baixo, mais escuro ficava o pico da escada. A passagem por onde eles estavam transitando era bem estreita e curvada, o ruído dos seus passos era naturalmente audível. Jimin sentiu um frio na barriga, seus dedos esmagaram os de Jungkook imediatamente.

Reparando no seu comportamento reflexo, o detetive o correspondeu com um aperto de mão, o suficiente para expressar seu contato mútuo. O arranhar das unhas do menino contra suas luvas indicava o medo dispersando-se por todo seu corpo. Jungkook mal conseguia ouvir o seu fôlego, ele parecia prender em aflição.

Eles desceram os últimos degraus antes de cruzarem por um acesso livre e entrarem numa grande sala, mais adiante estava ajustado um conjunto grande de portas duplas de vidro. Finalmente já estavam introduzidos no saguão.

Um soluço se quebrou livre no peito de Jimin no instante em que uma sombra masculina se esbarrou com eles. Era um funcionário. Ele pediu licença para subir a escadaria e o detetive abriu espaço para ele. Muito ligeiramente, uma respiração pesada libertou-se dos lábios do garoto.

– Está tudo bem, Jimin. Vou te levar para casa. – murmurou Jungkook, acariciando o dorso da mão dele.

Jimin o mirou nos olhos, o brilho das lágrimas se sufocando em sua visão.

– Por favor, senhor.

Jungkook desejou tocá-lo no rosto para varrer a primeira gota que deslizou por sua bochecha, entretanto, ao invés disso, ele apenas acenou e desligou sua lanterna.

Havia poucos funcionários perambulando por aquele âmbito, eles usavam lanternas para vislumbrar a passagem e conversavam entre si meio suspeitosos. Posteriormente, o detetive o conduziu para além das portas de vidro, incitando algumas olhadelas furtivas em sua direção. O corpo do menino estremeceu, mas ele não teve convicção de que era pelo frio, sua garganta queimava a cada vez que respirava.

O vento na parte externa acertou seus corpos, eles estavam sob uma cobertura do lado de fora, uma espécie de nevoeiro obscuro caindo à frente de seus olhos. Jimin mal podia suportar olhar a redondeza, uma vez que a potência da corrente de ar agitava-se contra suas vistas. Ele ainda podia sentir os dedos quentes de Jungkook apertados ao redor dos seus, suaves e protetores.

Atentando-se à distância, o detetive observou em centelha os pneus do seu carro afundados na neve. As rodas sumiam no níveo espesso, o tornando impossível de dirigir. Jimin olhou para Jungkook, como se perguntasse o que ele pretendia fazer.

– O que vamos fazer? – O menino não suportou o estranho silêncio e logo se pronunciou.

– Impossível dirigir nesta condição. – Sua resposta não pareceu confortá-lo. Em seguida, Jungkook fixou seu olhar no dele, sua respiração lenta e regular. – Vamos ter que passar a noite em outro lugar.

Jimin estremeceu e suas pálpebras se aumentaram, arregalando-se. Ele não se sentia seguro ficando fora do prédio, ainda que estivesse na presença de Jungkook, estar longe do único lugar que possuía todos os dispositivos de segurança não parecia uma boa opção.

– Senhor, tente ligar o motor, talvez o carro funcione. – Ele não gaguejou, mas seu timbre estava atormentado.

Virando-se de frente para ele, Jungkook manteve sua voz deliberada, cautelosa e calma.

– Independente de qualquer coisa, eu estarei ao seu lado. Não dá para dirigir nesse temporal, precisamos nos manter em um lugar seguro até a neve diminuir.

– Mas-

– Jimin – Um sorriso gentil cresceu no canto da sua boca. –, estará comigo o tempo todo, não vou deixar que ninguém toque em você. Confia em mim?

É claro que ele confiava. Cegamente; mas a sensação de medo pisava inconscientemente em seu otimismo. Não se podia confiar nos outros, nem no escuro. Entretanto, folheando suas opções, aquela era uma das que restavam e não parecia prejudicial, desde que Jungkook estivesse ao seu lado o tempo todo.

– Tudo bem. – ele limpou seus olhos com as costas da mão e sondou ao redor. – Mas onde vamos ficar? Eu não quero ficar nesta clínica. Não gosto desse ambiente.

O menino percebeu o peito dele subir e cair uma vez, rápido. Jungkook segurou o seu chapéu e espremeu os olhos para enxergar melhor os arredores. A rua estava completamente escura e congelada, não havia pontos de luz que pudessem ajudá-lo nessa busca, a não ser a claridade abafada do céu através das nuvens densas por causa da pálida lua.

O único edifício presente naquela rua era o da clínica, em volta só havia algumas pingadas casas alinhadas com varandas e um posto de gasolina. Havia um arvoredo mais adiante e a muitos quilômetros, na beira da estrada, o detetive pescou um nome largo que se encontrava apagado no meio da nevasca. Em letras grandes e graúdas, a palavra formada era motel.

Calculando bem a distância, no qual não parecia tão próxima, Jungkook indicou o lugar para Jimin e eles seguiram o trajeto. A neve e a chuva caíam em cascata, golpeando seus rostos enquanto eles caminhavam em oposição ao sentido da ventania. Jimin apertou mais forte o casaco e se encolheu contra o corpo de Jungkook, este que o pressionou levemente contra seu braço, o abraçando lateralmente.

Atravessando a estrada depois de duradouros minutos, eles penetraram para dentro de um pequeno espaço recatado, fazendo o sino sacudir acima de suas cabeças. O recepcionista, com um candeeiro em cima do balcão, logo se ordenou e limpou a garganta.

– O que vão querer, senhores? – perguntou ele, meramente entusiasmado. – Um quarto para os dois? Devo adiantar que escolheram um ótimo dia. O tempo parece incrível para uma boa dose de calor corporal.

Tagarela, Jungkook pensou. Ele revirou os olhos mentalmente e manteve o garoto bem próximo de seu corpo, deixando-o parcialmente às suas costas.

– Um quarto com duas camas. – Sua voz estava dura, como se estivesse impondo uma ordem.

Um risco apareceu entre as sobrancelhas do sujeito, logo ele riu nervoso. Entretanto, seu sorriso foi-se dissipando ao perceber o rosto com sombras escuras devidamente inexpressivo avante.

– Será só para dormir? – Ele quis saber para confirmar. Jungkook acenou brevemente. – Ok, ok. Vou precisar que o senhor adiante o pagamento hoje.

– Quanto?

– Duzentos dólares.

– Duzentos dólares? – Jungkook pareceu descrente e quase aborrecido.

– Se fosse uma cama de casal seria mais barato. O senhor optou por duas camas e, bom, vocês não vão fazer sexo. – Ele sussurrou a última parte, mostrando seus dentes afiados sob a luz do candeeiro.

O coração de Jimin pulou selvagemente no peito e suas bochechas ferveram em vergonha. Jungkook piscou um par de vezes e recolheu o dinheiro da carteira, em seguida o colocou com força no balcão.

– Me dê a chave. – O homem deslizou cada tostão por cima da bancada e sorriu para o dinheiro.

– Eu teria que fazer um cadastro do senhor, mas estamos sem energia. – O cara justificou, enfiando os dólares dentro da gaveta.

Jungkook endureceu a mandíbula subitamente. Ele poderia mostrar o seu distintivo e fazê-lo calar a boca, ou preservar sua identidade federal e agir como um cliente. No momento, ele resistiu com a segunda opção.

– Preciso de um quarto para ficar só esta noite. Quando o seu sistema voltar, poderá fazer o meu cadastro. – O homem o avaliou de cima a baixo, posteriormente enfiou a mão por baixo da madeira e deu a volta pelo balcão.

– Quarto 47 – disse, entregando a chave na palma do detetive. – A partir das nove horas o seu horário começa a contar como um segundo dia. Então esteja preparado para acordar cedo ou terá que me pagar mais duzentos dólares.

Jungkook evitou acusar aquela atitude como extorsão, no entanto, fez questão de memorizar o rosto do sujeito para que abrisse uma investigação contra aquele estabelecimento, afinal, o dono usurpava o dinheiro alheio com regras absurdas.

No fim, ele apenas sorriu e acenou.

– Poderia me arrumar um desse? – Ele apontou para o lampião, vendo o homem desviar seu olhar para o objeto.

Muito rapidamente, o sujeito agarrou o que estava na bancada e ofereceu para Jungkook.

– Leve este, eu tenho outros guardados no depósito. – relutantemente, Jungkook o pegou. – Não se preocupe, é por conta da casa.

Após um agradecimento forçado, o detetive orientou-se para o lance de escadas no canto superior. Jimin estava ao seu lado, o garoto se enfiou no canto esquerdo, contíguo com a parede, ao mesmo tempo em que lançava alguns olhares para o homem paralisado no meio do cômodo, os fitando.

– Não se esqueça que se mudar de ideia tem preservativo no armário do banheiro! – berrou o sujeito, sendo ignorado.

– Esse cara parece louco – comentou Jimin, sussurrante, conforme entrava no corredor dos quartos. Ele não queria dizer, mas suas maçãs ligeiramente ficaram ruborizadas.

– Ele está louco se pensa que irei pagar duzentos dólares para dormir nessa espelunca. – Jungkook alegou, emparelhando-se com a porta do quarto 47. – Pode segurar para mim?

Jimin tomou o lampião de luz em suas mãos e o fitou confuso.

– O que o senhor quer dizer? Você já o pagou.

– Eu dei só metade. – Um sorriso aguçado desenhou as sombras do seu rosto enquanto girava a chave na fechadura, ouvindo-a estalar quando destravou. – Ele está tão faminto por dinheiro que nem irá perceber.

Seguidamente, o detetive adentrou o quarto, mas, antes, colheu o objeto das mãos do garoto, este que demorou alguns segundos para acompanhá-lo, visto que havia ficado impressionado com a inteligência astuta do outro.

Pousando o candeeiro acima da cabeceira, Jungkook dirigiu-se para a porta e a fechou, aferrolhando-a. No interior, o quarto cheirava a lençóis lavados, quase que intocados, uma janela instalava-se na lateral das duas camas e uma abertura sem porta indicava o banheiro.

– Eu espero que nenhum de nós dois precise usar esse banheiro na madrugada. – Jungkook se pronunciou ao conceber o olhar enojado de Jimin naquela direção.

– Pelo menos temos boas camas. – Ele sentou-se na beirada da cama, quicando para experimentar o colchão. – Parece confortável.

Jungkook riu num som gostoso, reverberando como melodia para os ouvidos do menino. Então, posteriormente, ele removeu o chapéu do cabelo, o sacudindo para desamassá-lo, e deslizou o longo casaco pelos braços. Jimin evitou continuar o assistindo, então acabou trazendo suas vistas para o chão.

A metade imprudente do seu cérebro gargalhou para ele. Jimin não era tolo e sabia que estava atraído pelo detetive, uma atração que extrapolava a moralidade e que o carregava inteiramente para o precipício.

Ele podia ouvi-lo respirar na sua frente, uma vez ou outra seus olhos se arriscaram a contemplá-lo de esguelha, mas não se demoravam muito.

– Qual lado da cama você prefere? – Jungkook perguntou de repente, recebendo um par de olhos nervosos.

– P-Pode ser esse daqui. – Ele se referiu especificamente a qual estava sentado em cima. Jungkook sorriu e pegou seu celular dentro do sobretudo pendurado. – Ainda está sem sinal?

– Sim. – ele pareceu desapontado enquanto fitava a tela acesa. – Eu preciso falar com o Yoongi. Isso é uma droga.

– Você acha que faltou energia no prédio também?

– Acho que não, mas, de qualquer forma, aqui está sem sinal. – Colocando o aparelho de volta no bolso, Jungkook se aproximou da janela e espreitou além da vidraça. A cidade lá fora estava engolida pela escuridão. – Tudo o que podemos fazer agora é esperar.

– O senhor pode descansar se quiser. – sugeriu ele, sentindo as defesas do seu corpo ficarem moles no momento que recebeu um olhar curvado por cima do ombro.

– Eu estou bem assim, obrigado. – Seu sorriso foi genuíno. Se o ambiente não estivesse parcialmente apagado, Jungkook poderia enxergar de modo claro e evidente um rosto rosado em sua frente. – Mas se quiser dormir, eu prometo não fazer barulho.

Jimin engoliu discretamente contra a espessura de sua garganta, tentando não demonstrar que algo estava o afetando por dentro. Seu corpo parecia chiar em resposta aos seus pensamentos, logo ele arrancou o estufado casaco e seu gorro da cabeça. Mesmo com o frio congelante, seus nervos pareciam a ponto de borbulhar.

– Está tudo bem, Jimin?

– Sim, sim, e-eu só estou agoniado com essa coisa molhada em cima de mim. – Aquela não era bem a verdade, mas acabou convencendo a si mesmo por um momento.

Jungkook examinou e assimilou tudo aquilo. A janela às suas costas estava escura e uma fumaça se movia atrás dela como se estivesse subindo pela chaminé.

– No carro há agasalhos limpos e secos, posso pegá-los para você. – O menino saltou da cama abruptamente.

– Por favor, não me deixe sozinho. – Uma picada quente e familiar picou sua espinha. Jungkook o mirou em silêncio, nutrindo os pensamentos que se arquitetaram diante de sua tácita análise.

– Eu não te deixaria. – ele replicou com cautela, porém um fraco vinco ainda delineava sua testa. – Mas estou aberto para ouvir suas opções.

Jimin por pouco não engasgou. A luz que irradiava do lampião salientou uma veia que pulsou em seu pescoço.

– Um cobertor? – sugeriu o menino, sua voz hesitante. Jungkook estalou os dedos como se fosse uma alternativa que ele deixou passar.

– Ótima ideia.

O assistindo se movimentar na direção de um armário que corria ao longo da parede, Jimin aproveitou para deslizar para o canto do quarto, onde reclinou as costas contra a pintura descascada. Ele passou a mão no nariz e tentou normalizar seu fôlego.

Não era exatamente uma crise, ele sentia-se sufocado com algo até então transparente. Ele não conseguia alcançar esse sufoco, porque não sabia como localizá-lo. De modo direto, ele acreditava que essa sensação possuía um nome e as letras formavam o nome do federal.

– Isto deve servir. – Jungkook falou ao levar o cobertor para a cama, mas se surpreendeu por não ver o menino naquela parte. Ao encontrar seus olhos mais adiante, um lampejo entristecido avultou-se sobre suas feições. – Jimin, o que está havendo? Está com medo de passar a noite sozinho comigo?

– Não, não, não! – ele se apressou, em seguida cambaleou para mais perto, permanecendo numa distância segura. – É que-

Suas palavras morreram na garganta. Ele estava olhando para além de Jungkook sem saber como esclarecer propriamente a causa. Segundos depois, o detetive se moveu para o seu casaco, o agarrando entre as mãos.

– Vou te levar para o prédio. – disse ele, imediatamente arrumando o agasalho sobre os ombros. – Foi uma estupidez achar que você poderia se sentir confortável nesse lugar, ainda por cima sozinho com outro homem. Me desculpe.

– Jungkook, para! – Jimin o bloqueou, segurando os braços dele com suas pequenas palmas. A minúscula cicatriz apagada acima de sua bochecha, o modo como alguns fios de cabelo desprendiam sobre sua testa fez o corpo do menino derreter. – Por favor, eu quero ficar com você.

– Você não está confortável aqui.

– Não é por sua causa. – seus cílios pestanejaram uma sequência de vezes e então Jungkook percebeu que ele estava mentindo. Um estranho silêncio perdurou. – Quero dizer, é por sua causa, mas não no sentido ruim.

– Onde está a parte boa nisso?

Ele manteve seu olhar fixo no garoto, mesmo que aparentasse estar sereno por fora, uma contrição invadia seu peito por dentro. O interior de Jimin se contorceu, ele não queria demonstrar que estava com medo de Jungkook, porque efetivamente ele não estava.

– Eu estou confuso. – seus dedos escorregaram pela extensão dos braços dele até que estivessem caídos ao lado do seu corpo. Jungkook engoliu decorosamente, seus olhos eram uma parede vítrea.

– Confuso? – Jimin confirmou relutantemente. – Sobre o que está confuso?

– Ahn, por favor, não me pergunte isso. – sua voz falhou e ele se virou, fitando qualquer outro ponto que não fosse aqueles olhos hipnóticos.

Jimin tinha consciência de que seus sentimentos andavam juntos, enviando uma punhalada de dor para sua cabeça toda vez que parava para refletir sobre eles. Por mais que estivessem sozinhos, uma severa ordem ainda castigava sua mente.

– Jimin. – Aquela voz o chamou às suas costas. Ele simplesmente apertou os olhos para escapar de afrontá-lo.

Na ausência de uma resposta verbal e corporal, Jungkook afagou seu ombro, enviando fagulhas por cada nervo do físico alheio. Por mais que evitasse, seu corpo respondia desesperadamente ao toque dele.

– Não há ninguém nesse cômodo além de nós dois. Não há perigo em me contar.

Ao som da voz dele, Jimin se virou. A visão dele dilacerou o coração de Jungkook. Lágrimas silenciosas desciam ao longo de seu rosto, reunindo-se na ponta do queixo. O detetive já estava acostumado a ver o menino chorando por pesadelos, mas nenhuma dessas vezes o motivo foi ele.

– Eu sou um estúpido, Jungkook. – seu tom soou mais trêmulo. – Sou um idiota que confunde as coisas. Seria melhor se todo mundo me tratasse mal, assim eu não iria misturar as coisas.

– Você não merece ser tratado mal por razões nenhuma. – O menino sacolejou a cabeça para cima e para baixo.

– Sim, eu mereço. – a expressão no rosto de Jungkook era de pura preocupação. – Se você tivesse sido cruel comigo, eu não estaria-

Novamente, as palavras mergulharam mais fundo na sua mente, sendo impedidas por um muro racional. Havia uma expectativa mascarada sob as feições de Jungkook, mas ao mesmo tempo um brilho pungente se acendeu.

– Diga-me, Jimin.

– E-Eu não posso. – ele se repreendeu mentalmente.

De repente, Jungkook deu um passo muito cuidadoso para perto, fazendo os batimentos do menino ficarem instáveis. Ele permaneceu numa longitude segura.

– Então diga-me porque não pode. – seu pedido veio como um sussurro. Jimin sentiu um tremor vir através dele, eriçando agradavelmente os pelos de seu pescoço.

– É errado. – o modo como Jungkook o encarou nos olhos, protetivo e estudioso, acabou lhe passando uma energia positiva. – É melhor você não saber.

Imprevistamente, os compridos dedos do detetive se rastejavam carinhosamente pela bochecha dele, varrendo uma lágrima inconsciente que escorregava por ali. Ele o viu fechar as pálpebras, respondendo positivamente ao seu toque.

– Se o que está guardando é o motivo de suas lágrimas, então eu insisto em saber. – ele murmurou, provocando um calor no rosto dele.

Uma parte sensível de Jimin queria dissecar suas emoções, descobrir verdadeiramente o que estava sentindo, mas a resposta parecia vir embalada num pacote toda vez que aqueles olhos profundos e insondáveis o convidavam para perto.

Apesar de tudo, ele só desejava mergulhar fundo e se deixar levar, mesmo que mais tarde a culpa e o arrependimento o assombrassem.

– Eu – ele travou, sentindo-se sucumbir à medida que era estudado por aquele par de olhos perceptivos. –, eu acho que estou apaixonado por você.

Arrastados segundos se passaram em silêncio. A expressão no rosto de Jungkook oscilava entre dúvida e fascínio. Ele estava vagamente descrente diante daquela informação, uma vez que não pensou que o garoto também compartilhasse da mesma confusão.

Horas antes, depois da bronca de Yoongi, Jungkook demorou-se em seus pensamentos, discorrendo sobre a posição que devia tomar em virtude de um sentimento completamente incógnito e frequente. O que ele não sabia é que o menino omitia um conflito igualmente ao seu.

– Está vendo onde está o erro? – Jimin continuou meio apreensivo. – V-Você é um homem formado e eu sou só um garoto, nunca que vai acontecer nada entre nós, porque eu sou um idiota que enxerga como se a vida fosse um conto de fadas. Aquela Rose estava certa, isso aqui nunca vai rolar porque não é mútuo.

– Jimin, me escute. – Ele o segurou em cada lado do rosto, ainda que estivesse afetado pela declaração. – A Rose não me conhece, ela não passa de uma vadia que só tentou te prejudicar.

– Mas ela não mentiu.

– Ela mentiu quando disse que isso não é recíproco. – confessou ele, deixando tudo em completo silêncio.

As palavras do policial instigaram fortemente uma reação incrédula e intricada por parte do menino. Ele mal conseguia acreditar no que acabou de ouvir e até cogitou ter escutado errado.

– O-O q-que quer dizer com isso?

Jungkook também se encontrava desorientado no meio daquele diálogo, porém ele acreditava que a única maneira de se descobrirem seria arriscando.

– Se isso é um erro, eu também estou enterrado nele.

Jimin teve a leve sensação de que tudo aquilo era irreal, inclusive as palavras de Jungkook. Era um absurdo saber que sua fantasia era retribuída pelo dono delas. Jungkook só podia estar brincando, não é? Ele não possuía este perfil, mas qualquer alegação contra o que saiu de sua boca poderia, naquele momento, ser extremamente mais convincente.

– Não é momento para brincadeiras.

– E quem disse que estou brincando? – os olhos na sua frente piscaram em surpresa. – Eu cansei de me sufocar com isso, Jimin. É engraçado porque eu nunca diria o que sinto por você de tal forma sem saber que é recíproco primeiro. Eu sempre tive medo de te assustar e, por algum motivo, acabar te afastando de mim.

– Isso jamais aconteceria. – suas mãos moveram-se depressa contra as de Jungkook, acariciando-as.

– Como eu poderia saber, anjo?

Anjo. Aquela simples palavra verbalizada pela voz dele fez seus músculos derreterem. Ele teve a intensa impressão de que sua cabeça estava dando um giro lento e que tudo não passava de um sonho louco.

– Mas agora você sabe. – Seu sussurro foi suave e exaltado sincronicamente. – Eu tive medo de te contar isso, nem eu mesmo sabia o que pensar.

– Eu não quero que pense nada. – Jungkook raspou a ponta dos dedos contra o macio da pele dele, o deixando momentaneamente afetado. – Não hoje. Não agora.

O olhar do menino derrapou para os lábios entreabertos dele e um desejo obsessivo o consumiu. Ele nunca tinha sentido tanta vontade de beijar alguém, e, de certa forma, isso parecia bom, porque esta aspiração partia dele, do seu interesse próprio. O que, certamente, até uns dias atrás, ele não acreditava que aconteceria de novo. Gostar de alguém? Essa esperança tinha se perdido há muito tempo.

Entretanto, Jungkook quebrou essa barreira, ele tinha invadido o seu território e triturado esse bloqueio mental. Nunca imaginou estar apaixonado depois do que passou e ainda por cima por um agente do FBI.

– E-Eu quero te beijar. – revelou Jimin, perdidamente imerso a essa vontade. – Por favor, me beija.

Jungkook não reagiu. Ele não podia desmentir que também ansiava pela mesma vontade naquele momento. Ele parou para se perguntar se não estaria cometendo um erro caso ousasse se aventurar na súplica alheia e o beijasse. Definitivamente, a resposta era sim.

Contudo, uma parte física e imediata estava farta de permitir que a razão o perseguisse em círculos. Não conseguia resistir, Jimin havia dilacerado sua resistência pedaço por pedaço. Quaisquer que fossem as camadas de controle que Jungkook havia projetado em relação ao garoto, todas elas haviam sido ligeiramente arrancadas.

Então Jungkook se moveu lentamente para mais perto, de modo que causou uma euforia descontrolada no peito do outro. As mãos do garoto vacilaram para o lado e os dedos do detetive traçaram o caminho ao longo das linhas de seu rosto, o admirando.

O indicador dele acariciou seu queixo, o levando carinhosamente para cima para enfrentá-lo diretamente. A respiração de Jimin falhou e ele deixou que Jungkook definisse o ritmo. Ele estava muito quente e enfeitiçado para raciocinar sobre os seus movimentos.

– Você tem certeza? – Jungkook murmurou, seu hálito roçando a face dele. O menino não verbalizou, mas agitou devagar a cabeça, confirmando.

Jimin sentia-se preso nos olhos de Jungkook prestes a sucumbir. Eles estavam tão perto, toda energia e calor flutuando sobre eles. Ambos não conseguiam escapar, havia uma invisível corda envolvendo seus corpos simultaneamente.

Jungkook estava atraído por ele por forças que não podia controlar, tampouco fugir. Já estava completamente entranhado no pecado, não tinha mais o que perder, apenas se entregar de corpo e alma.

Calmamente, o detetive dançou seu dedo pelo contorno dos lábios dele, os fitando com precisão. Ele umedeceu sua boca antes de se aproximar com cuidado, seu nariz tocando levemente o dele. Jimin fechou as pálpebras e aspirou forte, seu coração estava preso nas mãos de Jungkook.

De modo delicado, os lábios do maior esfregaram os dele como um toque que beirava a margem do pecado, suas respirações se misturando como uma só. Muito pacientemente, Jungkook tomou a boca dele, o surpreendendo de maneira agradável.

O corpo inteiro de Jimin cantarolou sob seu beijo, uma emoção completamente estranha e fascinante o preencheu. Ele sentiu seus músculos suavizando, afogando-se em sensações. Jungkook abriu a boca para sentir o gosto dele e foi correspondido.

Jimin se ofereceu a ele, ao beijo, ignorando as fagulhas que subiam por suas costas. O sabor ardente de menta com o cheiro gelado de orvalho lhe oferecia uma sugestão intrigante e o deixava ainda mais atraído.

Todos os pensamentos sumiram de sua cabeça e ele se atentou somente à ternura da boca alheia. Jungkook possuía lábios macios e apimentados, finos e puros. Não havia hostilidade no seu modo de beijar, ele parecia desfrutar detidamente do sabor que cercava os lábios do menino.

Jungkook o puxou para perto, escorregando uma mão pelas costas dele, o segurando atenciosamente contra seu tronco. Jimin parecia nervoso, muito mais do que pensava estar inicialmente. Jungkook mantinha seus dígitos docemente concentrados no meio do dorso dele, limitando a distância de sua mão.

O garoto se ouriçou e seu estômago retorceu-se no tempo em que reconheceu o toque meigo contra suas cicatrizes. Ele se viu amolecer no momento que notou seu inferior ser suavemente puxado. Nunca tinha sido beijado dessa forma, o aspecto sedoso que o enlaçou era fervoroso e cheio de afetuosidade.

Em reflexo, o garoto acabou levando os braços ao pescoço dele, entreabrindo sua boca na mesma proporção que a outra para um contato maior. As mãos de Jungkook eram fortes, mas estavam macias em suas costas, seu corpo era quente e controlado.

Devagar, aproveitador e carinhoso. São as palavras corretas para interpretar o beijo deles. Não havia urgência ou agressividade, não havia língua, ambos pareciam aproveitar cada etapa, cada sabor, cada tocadela, ora dobrando suas cabeças para o lado à procura de uma união mais favorável. Suas bocas se encaixavam adequadamente, como se tivessem sido esculpidas para servirem à outra.

Um suspiro raspou para fora das narinas de Jimin durante o beijo, suas bocas se moviam em harmonia, estabelecendo a cadência dos movimentos. Uma pulsação correu pelos nervos do detetive, e, naquele momento, ele havia arremessado para cima toda lógica e moral que o torturava, interessando-se apenas pela boca suculenta que prendia a sua timidamente.

Minguando o ritmo, eles foram cortando aos poucos o contato e, com um último selar, se afastaram devagar, deixando um fio de saliva ligar suas bocas. Muito lentamente, Jimin abriu os olhos e encontrou os dele a centímetros de distância, quase hipnotizados.

– Nós nos beijamos? – ele perguntou quase descrente, um sopro recente do beijo escapando de sua boca.

– Sim, nos beijamos. – Jungkook confirmou com um sorriso no rosto, logo ele uniu suas testas.

– Eu acho que isso é um sonho, Jungkook.

Uma curta risada saltou para fora da garganta do policial, ele também estava se sentindo da mesma forma.

– Então não vamos acordar tão cedo.

No momento, Jimin sentiu-se irreal, como se estivesse devaneando, não conseguia crer que aquele beijo foi natural e genuíno. Não existiam classificações boas o suficiente para rotular as suas emoções naquele instante.

Para manter ligada a relação entre eles, Jungkook o puxou gentilmente em direção ao seu corpo e o abraçou forte. Jimin enfiou as mãos por baixo dos braços dele e enlaçou sua cintura, enquanto sentia as fortes mãos o envolver pelos ombros.

Ele apoiou sua cabeça no peito de Jungkook e fechou os olhos. Era mais do que bom ouvir o martelar acelerado do seu coração. Jimin sorriu espontaneamente. O detetive, por outro lado, afagou seus cabelos e os beijou, uma vez ou outra enroscando uma mecha em volta do dedo.

– Eu não quero que hoje acabe. – Jimin falou, brincando com o botão do sobretudo dele. Ao perceber o silêncio depois de sua fala, ele levantou os olhos e o encarou por baixo. Jungkook estava sorrindo largamente.

– Eu também não quero que acabe. – A ponta dos seus dedos mimou carinhosamente os fios frouxos na sua testa, os movendo de modo sutil para trás. – Você é tão lindo, Jimin. – disse Jungkook, suas vistas explorando cada particularidade dele.

Seus longos dedos fizeram um trajeto da orelha para o perfil de sua mandíbula. Jimin se entregou a carícia dele, sentindo cada célula do seu corpo se dissolver quando experimentou prazerosamente o toque macio da boca dele contra a sua, desta vez, num selar demoradamente meigo.

O barulho molhado rompeu quando eles se separaram um pouco. Eles sorriram ao mesmo tempo.

– A sua beleza é tão surreal, anjo. – Jungkook assumiu mais uma vez. O garoto já estava começando a gostar desse apelido, soava tão bem na voz dele.

– São seus olhos. – retrucou.

– Eles não mentem.

Jimin sorriu amplamente. Embora não se enxergasse da mesma maneira que Jungkook, ele gostou de ouvi-lo dizer. Ele amava todo esse carinho, um carinho que nunca pensou ter em toda sua vida, que por sinal, era incomparável.

– Sabe o que não é uma mentira? – o menino perguntou a ele, recebendo uma olhadela por cima. Jungkook mantinha-se insuportavelmente atencioso. – Nós finalmente podemos ficar sozinhos.

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