Rose observa os flocos de neve caírem silenciosamente e em menor quantidade.
O pior tinha passado, a menina em determinado momento, achou que não sobreviveria a tempestade.
Mas o fez. estava debilitada, sentia uma sensação horrível na barriga, que implorava por alimento, e seus olhos mal conseguiam se manter abertos por mais de cinco segundos.
A fome era a única coisa que a estava mantendo acordada, além do frio.
Rose saí do seu esconderijo, olha em volta e começa a andar novamente.
A menina perguntava-se por onde estariam seus pais, e o motivo de a terem deixado no carro por tanto tempo e não terem voltado.
O céu estava negro, mas Rose não sabia distinguir se era pelas grossas nuvens que estavam encobrindo a imensidão azul, ou se era porque estava mais tarde do que ela pensava.
Ela opta por como tinha feito no início, andar em linha reta.
Suas pernas já estavam doendo e sua respiração falha, quando depois de muito tempo caminhando, ouve estalos e pequenos rosnados próximos a si.
Pelas horas que estava dentro daquela floresta, ela tinha visto poucos animais, apenas alguns cervos que para a sorte dela, a ignoravam.
Com o pulso acelerado, Rose passa os olhos pelo local na procura do dono dos sons estranhos.
Mas tudo se restabelece em quietude.
Ela dá de ombros e volta a caminhar.
Mas solta um grito agudo e aterrorizado quando é levada ao chão por um ser peludo e que rosnava para ela como ameaça.
Tylor
Ella saiu para a floresta de novo, tinha ido a sua caça rotineira.
Mas Tylor tinha que acha-la o mais rápido possível, a nevasca tinha cessado, mas não duvidava que retornaria a qualquer instante.
Não muito longe da residência, ele avista a loba. aliviado, caminha até ela.
O animal estende o focinho para cima e paralisa. rosna e se volta para uma direção.
Tylor Acompanha de longe o percurso da loba, ela certamente encontrou algo, e não gostou nenhum pouco.
Se tinha algum intruso por aqui, Ella sabia.
- AAAAAHH! - um grito infantil é espalhado pelo local.
Tylor pragueja e caminha mais rápido para a fonte dos grunhidos.
Ele se depara com sua loba em cima de um pequeno corpo, enquanto rosna por seu território.
- Ella. - O homem chama. A loba prontamente saí de sob o corpo que afundará na neve.
A menina tinha algumas lágrimas rolando por suas bochechas avermelhadas.
Rose funga olhando para o homem bem agasalhado e de vestes negras.
- O que está fazendo por aqui garota? - pergunta se aproximando e estendendo uma mão para ela, era apenas uma criança.
Rose arregala os olhos. não aceitando a ajuda.
Tylor franze o cenho com o silêncio e recusa dela.
E mesmo sob protestos, Ele a pega pelos braços a erguendo e fazendo a ficar de pé no solo branco.
- Não gosto de repetir, Garota. Diga o que está fazendo aqui! - Rose dá um passo para trás, aquele homem estava a pondo medo.
Ele era grande, do tamanho de seu pai. Parecia uma montanha, o que assustou profundamente tudo dentro dela.
A criança engole em seco e fita o animal que se pôs em alerta ao lado do homem.
Queria correr, mas tinha medo que aquele bicho fosse atrás dela.
- E-eu n-não sei, se-enhor.- diz com voz trêmula.
- Como não sabe! - Fita exasperado a garota.
Rose abraça-se, estava começando a ventar muito.
Tylor contempla o rosto angelical e com expressão confusa.
- P-p-preciso d-de ajuda - implora baixinho.
Estava morrendo de frio e fome, e mesmo que seus pais tenham dito mais vezes do que o necessário de que não aceitasse nada de estranhos, essa, era uma situação de emergência.
Tylor observa os cabelos castanhos, brancos pela neve, o nariz e as bochechas vermelhas contrastando com o resto do rosto que estava pálido e como ela tremia o corpo, abraçando-se em uma tentativa frustrada de se aquecer.
O moreno não pensa muito e tira o casaco grosso e negro que vestia, aproximando-se dela e o colocando em seus ombros estreitos.
Apesar de a peça ser muito maior que a jovem, ela o agarra com força, sentindo o cheiro forte, com um leve almíscar e o calor gostoso abraçar-lhe.
Rose suspira fechando os olhos, e os abre em pânico novamente ao sentir ser levantada por braços fortes.
Ele a tinha colocado no colo.
- Você não vai aguentar caminhar com o peso do casaco, garota. - Ele a cala antes mesmo dela o questionar
Rose estava tão exausta que durante o trajeto nem se perguntou sobre pra onde ele a estaria levando.
Espiou por cima do ombro dele para o animal que os seguia e o viu rosnar baixinho para ela.
A jovem esconde o rosto contra o pano da camisa dele.
"Ella" - lembra-se Rose do nome o qual homem a tinha chamado.
" não gostou nenhum pouquinho de mim."
Em poucos minutos de caminhada a jovem pôde perceber que o homem tinha razão; não conseguiria caminhar por todo esse tempo com o casaco que mesmo sendo quente e confortável, pesava um bocado.
Aos poucos uma grande casa se faz presente por entre as árvores, a moradia era de dois andares e com muitos elementos rústicos.
Tylor ao chegar em frente a porta dos fundos, coloca a garota no chão de madeira do deck. Abre a porta e empurra com uma das mãos a menina para dentro da casa, dando vez a loba, para por último ser ele a entrar.
Ao dar os primeiros passos pela cozinha ampla ela sente um calor confortável.
- Qual o seu nome? - Ele aponta para uma cadeira ao lado da porta.
Em voz exitante, ela senta-se responde:
- Rose Cannon, Senhor - Tyler encosta na borda da pia e apoia-se com os braços, analisando a menina.
- Quantos anos tem, Senhorita Cannon?
- 13 - responde rápido.
- Seus pais. - Rose abaixa os olhos para seus dedos em seu colo.
- Eu não sei, Senhor.- diz em fim.
Por fim, Tylor decide chamar de uma vez Ruan e Hélio. Precisavam resolver a questão de ter uma criança vagando sozinha por suas terras.
- o aquecedor está ligado. - ele anda até ela e retira o casaco dos ombros da jovem.
- Preciso avisar aos meus companheiros de que temos visita. Não saía, me entendeu bem? - Ela balança a cabeça lentamente engolindo em seco com a forma a qual ele ordenara
Tylor se volta para a Ella, que estava deitada no canto do cômodo.
Precisava falar com seus amigos, mas também precisava que a garota não tentasse ir embora. Se saísse poderia definhar na floresta e nunca mais ser encontrada.
- Se ela sair, a morda. - Rose estatela os olhos na direção do homem para depois fitar com horror a loba se mover preguiçosamente até a porta, onde deita-se em frente.
O moreno some por entre portas duplas que ao abertas, pode fazê-la vislumbrar uma sala e uma escada, mas novamente ele as fecha com uma batida alta.
Com receio, ela olha para o animal, que ao perceber grunhe pra ela. Rose se encolhe e desvia os olhos medrosos para o tecido da saia que usava.
Tylor
- VOCÊ O QUÊ? - Ruan bate com o punho sob a mesa do escritório.
- Ela é uma criança! estava sozinha, aparentemente perdida e com frio. O que esperava que eu fizesse? E fale baixo cacete, ela pode escutar.
- Qualquer coisa, porra! Menos trazê-la pra cá. Perdeu o juízo? - Ruan estava transtornado.
Hélio estava neutro, observando, sentado na cadeira de frente para a mesa de madeira mista, os dois discutirem.
- Ele está certo, Ruan. Eu teria feito o mesmo.- o homem tatuado atrás da mesa defende.
Ruan nega com a cabeça, raivoso pela discordância de seus amigos.
- e o que vamos fazer com essa fedelha? - o homem negro desdenha.
Hélio e Tylor se entreolham.
- buscar as autoridades que se encarregaram de levá-la de volta para seus pais.
- ela não disse como foi parar na floresta? - Tylor nega.
Juntos, eles descem as escadas para ir de encontro a jovem perdida.
Em primeiro momento, Hélio e Ruan não veem a menina. Até notarem uma movimentação ao canto do ambiente.
Uma pequenina garota morena e de olhos grandes sentada, balançava as pernas enquanto acariciava os pêlos macios de uma Ella serena e quieta, que tinha a cabeça deitada no colo da jovem.
Rose nota a presença de dois outros homens além do que ela já conhecia.
- Está é Rose. - Tylor indica a menina.
- Ella está mesmo deixando uma desconhecida tocar nela? - Ruan fala em descrença e em voz baixa na direção de Hélio, ao lado.
Os três estavam surpresos, Ella poderia ser agressiva com pessoas externas.
Rose vê os três parados e diz um "Oi" sussurrado.
- Agora pode nós dizer como veio parar por estas bandas, garota? - Tylor questiona com seriedade.
Os outros dois limitam-se a observar a jovem com curiosidade não demonstrada.
Rose pacientemente explica os acontecimentos das últimas horas sem deixar nada escapar.
- Que tipo de pais abandonam uma criança sozinha em um carro durante uma nevasca? - Ruan acusa e um silêncio domina o ar.
- Vamos ligar para as autoridades locais, eles trataram de encontrar os pais dela. - Hélio pega o seu celular do bolso e disca os números.
Enquanto o mais velho dos três tentava contactar a polícia, Tylor e Ruan aproximam-se da garota.
Agora sabendo tudo que ela tinha passado durante esse tempo todo, eles puderam ver de forma mais compreensiva a situação, a menina era a vítima e estava assustada.
Era de fato, a única vítima de pais irresponsáveis.
- De onde você é, criança? - Ruan questiona.
- Winkler, Senhor. - Responde confusa.
- Está um pouco longe de casa, não acha? Pra onde você e seus pais estavam indo? - Ruan continua.
- Para a casa de meus tios em Winnipeg.
Winnipeg é a capital da província. Longe o suficiente de onde eles estavam atualmente.
Os dois se afastam e deixam a menina brincar com Ella.
- Ela não faz idéia de que está bem longe de sua casa e da capital.- Diz Ty. Ruan limita-se a observar em silêncio, até este mesmo ser quebrado pela voz grossa e enraivecida do seu amigo.
- Merda do caralho! - Ouvem Hélio bradar batendo com força o telefone na mesa, onde apoia com as mãos e fita a garota com pesar para depois fitar ambos.
- A nevasca cortou o sinal de telefone. - diz entre dentes.
Uma risadinha se espalha pelo cômodo e todos eles se voltam para Rose, que alheia a tudo, brincava com as orelhas da loba.
Os três homens também sentem a temperatura do ambiente mudar, se tornando mais quente, o que significava que novamente fortes nevascas estavam por vir.