- Desculpa por ter agido no impulso lá no galpão, eu sei que você ficou um pouco chateado.
Estou no carro com o Mike após ele ter deixado as garotas e o Carlos em suas casas, estamos na garagem agora.
- Só acho que não foi uma boa ideia termos seguido o John, por mais preocupados que estejamos. No fim, ele não está fazendo nada demais. Mas relaxa, eu tenho tanta culpa quanto você.
- Ele vai ficar puto. Odeia mentiras.
- Eu sei, qualquer coisa eu falo com ele. - Mike beija minha mão. - Você arrasou dançando hoje, valeu a pena aquela adrenalina. Aliás, você acabou com aquela garota, por quê? Inicialmente você não estava ligando, o que ela te falou?
- Disse que eu sou privilegiada por causa dos meus pais, que não tenho talento. Eu detesto isso.
- Você sabe que não é verdade, né? Provou isso para ela.
No fundo talvez seja a verdade, várias pessoas pensam isso mas não dizem. Essa sensação é horrível.
- Eu não ligo.
- Você não precisa se fazer de durona para mim. Todos nós temos fraquezas.
- Você tem razão. Me incomoda.
Afasto o banco dele para trás, sentando em seu colo como uma criança. Me aninho em seus braços, só querendo descansar.
- Eu acho que exagerei nos passos pesados hoje, meu abdómen está doendo pra caramba.
- Você praticamente sofreu uma hemorragia interna, linda. Precisa cuidar disso.
Balanço a cabeça para cima e para baixo apoiada em seu peitoral, ouvindo seus batimentos cardíacos.
- Vou tomar cuidado, eu prometo. - Brinco com seus dedos entrelaçados aos meus, rodando a aliança de prata em seu dedo. - Eu te amo.
Acho que essa frase se tornou a mais frequente em meu vocabulário.
- Eu te amo, minha Maluquinha.
Beijo seu queixo antes de subir um pouco mais, tocando sua língua com a minha. Prendo meus dedos em seu cabelo macio que está com um bom cumprimento para isso.
Mike tem sido cauteloso comigo em momentos como esses, nos quais as coisas podem esquentar. Sei que é difícil para ele, pra mim também; mas mais para ele que não é virgem - perdeu em seus dezesseis anos, pelo o que sei e teve outras namoradas antes de mim. Ou seja, uma vida sexual ativa, diferente de mim. Eu sei disso porque nunca tivemos problemas em falar sobre tal assunto, sou tranquila com as coisas que ele já viveu. Mike diz que adora esse lado meu, que não é inseguro e tem confiança, tanto auto-confiança quanto confiança nele.
Sorrio em seu pescoço, consigo sentir quando ele se arrepia. Fecho meus olhos com a tranquilidade do momento, estar assim nos braços dele em uma situação leve. Mike enterra seus dedos nos meus cabelos, massageando-os. Isso faz o sono que não percebi que estava sentindo se duplicar.
Abro meus olhos sentindo um peso em minha barriga, me envolvendo. O que me acordou foi o alarme de um celular, o celular do Mike.
Eu estou no quarto dele, afinal? Dormi com ele, na verdade. Me sento com cuidado tentando não acordá-lo, de qualquer forma Mike se mexe antes de exibir seus belos olhos verdes sonolentos. Nós dois estamos com as roupas de ontem, a diferença é que ele tirou a blusa.
- Bom dia, linda... - ele fecha os olhos novamente, sua voz está levemente rouca e sexy para caramba.
- Bom dia, Mimi. - Passo a mão em seus cabelos bagunçados.
- Coloquei o alarme mais cedo para você ir pro seu quarto antes dos seus pais acordarem.
- Bem lembrado. - Jogo minha cabeça para trás, morrendo de sono ainda.
É a primeira vez que durmo com ele - já dormi antes, a muito tempo. - desde que nos tornamos um casal. Eu sempre achei isso uma coisa super íntima de casal, fico feliz que tenhamos dado mais um passo. A sensação de acordar com a pessoa que você ama do seu lado é incrível, saber que ele dormiu agarrado a mim a noite inteira é tão bom.
- Melhor eu ir então. - Digo sem mover um músculo.
- Eu também tenho que levantar para ir pra Boltson.
Ele deita com o rosto enterrado no travesseiro, sem coragem de levantar também.
- Não quero sair daqui.
- É bom, né? Acordar assim, juntos. - Sorrio com o seu comentário, mesmo sabendo que ele não pode ver.
- Com certeza. - Continuo massageando seus cabelos, ainda de olhos fechados. - Agora eu vou.
- Huuum... Não... - seu tom é manhoso, seus braços me prendem no lugar.
- Você também tem que levantar. - Digo soltando seus braços.
- Isso é um saco, está tão friozinho. Podíamos ficar aqui o dia todo.
- Gostaria, mas não dá. - Me levanto com aborrecimento por sair do quentinho. - Levanta logo, não fica enrolando. Te amo. - Beijo sua testa, afastando o cabelo dele.
Ele segura meu braço, fazendo bico. Com um sorriso no rosto, dou um selinho nos seus lábios. Após isso, Mike sorri e me solta. Sei que ele está fazendo corpo mole para levantar porque ficamos parte da madrugada fora, agora são cinco da manhã.
- Te amo. - Responde de volta, seus olhos estão quase fechados me vendo pular da sua sacada para a minha.
Sem fazer qualquer barulho, eu volto para a cama, dessa vez para a minha mesmo. Posso dormir por mais uma hora antes de ter que ir para escola.
- Será que alguém gravou nós dançando ontem? - Pergunto, aflita por algum vídeo que possa estar rolando por ai.
- Acredito que não, nesses eventos costumam proibir celulares. - Lexy apoia sua perna na parede, ao lado dos armários.
- Vocês realmente foram? - Carlos Eduardo acabou de narrar os acontecimentos para o Liam, e bem, o Liam sendo medroso como é: - Ainda bem que eu não fui.
- Você perdeu, cuzão. - Cadu levanta as sobrancelhas indiferentes.
Eu não diria que ele perdeu algo, na verdade, estou começando a me arrepender de ter ido. Isso vai dar encrenca ainda, torço para não terem gravado nada. Além disso eu ouviria um monte dos meus pais por ter os desobedecido e saído de madrugada.
- Eu adoraria ver aquelas vadias de ontem. - Melanie diz retocando seu batom vinho, usando a tela do meu celular de espelho. - Nós acabamos com elas.
- Eu não estou nem ai pra isso, nem deveríamos estar falando desse assunto aqui na escola.
- As paredes tem ouvidos, por aqui. - Melissa devolve o meu celular olhando de forma enojada para os alunos presentes no corredor.
As portas duplas do corredor se abrem, revelando meus meninos do time bem próximos de nós já que estamos bem na entrada.
Ninguém mais toca no assunto no momento em que eles se aproximam para nos cumprimentar. Melanie começa a se afastar já que é um tanto antipática.
- Maluzinha, Maluzinha, luz da minha vida! - Danner me abraça pelo pescoço, afastando meus cabelos. - Sai Carlos, já falei contigo hoje. E ai, Liam, firmeza? - O barulho do toque de mãos dos dois ecoa por todo o corredor.
Os meninos nos cumprimentam, um por um, como sempre fazem exalando simpatia. Adoro eles.
- Qual o assunto da vez? - Bradd pergunta, quase não o vejo já que ele é baixinho e os garotos mais altos estão na sua frente.
- Nem queiram saber. - Digo, recebendo uma cutucada da Alexsandra. - De tão cansativo e entediante.
Franzo as sobrancelhas para minha amiga, agindo desse jeito ela só vai dar mais na cara.
- Vai para o treino de amanhã, né? No último você não foi.
- Claro que vou. Não fui no último porque tive que ir a um exame. Mas agora já está tudo tranquilo, não falto mais.
O treinador quase teve um treco quando avisei que não estaria no treino. Ele não admite mas sei que não vive sem nenhum de nós na equipe, ele só demonstra de um jeito meio peculiar e babaca.
- O Liam te contou que foi pêgo na sala de limpeza com uma animadora de torcida? - Hale pergunta.
- Fiquei sabendo.
Olho cautelosamente para Alexsandra, evitei mencionar esse ocorrido na presença dela. Ao invés do que eu esperava, ela parece estar pouco se importando, com sua atenção voltada para as suas unhas sem esmalte. No fundo eu sempre achei que ela não tinha sentimentos reais pelo Liam, era só uma atração passageira. Saberia se fosse algo intenso, conheço essa garota desde sempre, é a minha melhor amiga.
- Mike que me desculpe, - Dimmy começa, atraindo minha atenção com o nome do meu namorado. - mas a Malu loira ficou ainda mais sexy, olha.
Reviro os olhos apesar de estar sorrindo. É bom ouvir isso, o pessoal da internet vive comentando em minhas fotos que preferiam meus cabelos pretos naturais, que os meus olhos azuis se destacavam mais. É um saco! Está certo que eu gostava pra caramba do meu cabelo cumprido e preto feito petróleo - a cor foi herdada do meu avô paterno, Lionel - mas passou, ficou no passado e eu curti a mudança. Logo ele vai crescer e estar escuro de novo.
- Deixa ele ouvir isso, o Mimi da Má é super ciumento. - Lexy diz, Carlos milagrosamente está calado com o assunto. - Estranho seria se ele não fosse, olha como essa mina é gata, tinha que ser minha mana.
- Cala a boca, Alex. - Puxo sua mochila para baixo. - Vou arrumar um boy pra você, quer?
- A pergunta é: quem vai aguentar a Lexy? - Carlos diz, provocando a amiga.
- O insuportável aqui é você, Carlos Eduardo. Tenho pena da garota que namorar com você um dia!
Arregalo os olhos, trocando olhares com os outros meninos que estão presenciando a cena. Carlos e Lexy sempre adoraram se provocar mesmo sendo super amigos, às vezes a discussão fica séria, mas o clima pesado logo passa.
- Eu quem digo isso, por isso ninguém namora com você, ninguém te leva a sério. - A expressão no rosto de Alexsandra ao ouvir essas palavras me faz intervir.
- Ei, Carlos, que merda é essa? Já deu. - Coloco a mão no ombro dela, a puxando para perto de mim.
- Você é um idiota, Carlos Eduardo.
Lexy passa por ele batendo em seu ombro, espremo meus lábios, me desencosto da parede direcionando-me ao Eduardo.
- Pegou pesado, Eduardo.
Encontro Alexsandra na nossa sala de aula, ainda faltam alguns minutos para o intervalo acabar. Me sento na cadeira da frente, o meu lugar mesmo, em frente o seu.
- Ele tem razão, né? - Lexy diz com o rosto escondido entre os braços apoiados na mesa, devo me esforçar para entender o que ela está dizendo.
- Claro que não, até parece que você não conhece o Carlos. Vocês dois quando tiram para encher o saco um do outro.
- Mas dessa vez é verdade, quer dizer, quando que um garoto me levou a sério? Eu sempre fui só a que "fica" a que está ali, a fácil, a prática que distrai.
Alexsandra sempre foi muito segura de si em vários sentidos, mas esse assunto é o ponto fraco dela. Carlos sabe disso e jogou baixo.
- Todo mundo já teve um lance sério, menos eu. Ninguém nunca quis me assumir. - Sua voz está abafada. - Até a Melanie tem alguém especial, só não estão juntos porque são idiotas.
A parte da Mel ela tem um pouco de razão, ninguém esperava que ela fosse aparecer namorando imagine minha reação quando descobri que era com o meu irmão. Os dois realmente eram um casalzão quando estavam juntos, ainda são, na verdade.
- Você não encontrou o seu lance especial, não é assim. Namorar não é algo que você faz apenas para não estar sozinha, é uma coisa seria. E digo isso por experiência, lembra do desastre que foi com o Tommy?
Escuto uma breve risadinha, fico feliz por ter conseguido fazê-la sorrir um pouco.
- Eu acho que eu não tenho um lance especial.
- Eu duvido disso. Mas mesmo que não tiver, é porque você não precisa, seria uma mulher poderosa e independente.
- E solitária. - Ela ergue um pouco a cabeça, posso ver seus olhos. - Carlos tem toda razão, ninguém vai me aguentar.
Uma batida na porta chama minha atenção, Lexy permanece com o rosto escondido. O garoto aparentemente arrependido caminha com passos cautelosos.
- Alex, posso falar com você? - Me levanto, lançando um olhar hostil para o Carlos.
Suas mãos estão enfiadas nos bolsos da sua calça jeans, com a cabeça voltada para baixo. Decido não piorar sua situação desconcertante - não que ele não mereça, afinal... - seria ainda mais constrangedor.
- Eu vou voltar para os H.S.
Ao fim do intervalo, quando pus os pés na classe a primeira coisa que vi foi Alexsandra e Carlos abraçados, sorrindo. As mãos dele estão nos cabelos dela, cheguei no exato momento que ele deixou um beijo ali.
- Até parece que meus melhores amigos são carinhosos assim. - Anuncio minha chegada, os dois se afastam um pouco, não imediatamente.
- Está tudo bem agora. - Alex dá dois tapas firmes nas costas dele, fazendo-o estufar o feito.
- É, tranquilo. Ela só precisou ver a minha bela carinha de princeso, irresistível. - Cadu pisca três vezes seguidas, tentando ser gracioso.
Não funcionou.
- Até parece, meu querido.
Eu tenho os amigos mais confusos e bipolares que existem. Isso é bom, é o jeitinho de cada um que os fazem especial.
E ai meus amores, como estão?
Me perdoem por estar demorando a postar capitulos, estou passando por um bloqueio criativo horrível.
Não se esqueçam de votar!
Beijos
Alice.