Parentesco

By BrunaCeotto

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HISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2019 NA CATEGORIA YOUNG ADULT! 🏆 Artur é tudo o que um jovem sonha ser e não te... More

(PARENTESCO)
(prólogo)
parte I: desvios
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1.02: artur
1.03: artur
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parte II: tormentas
O AUTOR: BRUNO CRISPIM
CAPA NOVA ♡
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By BrunaCeotto

Artur olha para o teto enquanto seu personagem agoniza na tela, com meu golpe final. Eu estava bem irritada por ter gastado minha mesada com um jogo de videogame novo, achando que isso ia animá-lo. Não fez nem cócegas, literalmente, em seu mau humor. Ele estava insuportável desde que teve (mais uma) uma briga por motivos imbecis com a namorada e o melhor amigo.

Eu expiro todo o ar dos meus pulmões, para ver se ele percebe a minha desolação. Não funciona.

O tédio do meu irmão já chegou a um nível muito perigoso. Não posso desistir dele, porque geralmente é quando ele se enche de tédio que começa a fazer merda.

Ele apoia os pés na parede, e as costas na cama, olhando para a tela de cabeça para baixo.

– Ainda não quer falar sobre? – pergunto, na milésima tentativa de fazê-lo conversar sobre a tal discussão com Matheus e Sofia. Desconfio que ele seja o errado, porque se estivesse certo não estaria hesitando em contar sua versão com riqueza de detalhes.

– Nope.

Ele me dá um golpe no videogame, me isolando para fora da moldura do jogo. Ai.

Ouço o som de uma nova mensagem. Com o susto, ele escorrega da cama e cai de costas. Ele levanta, ansioso, e pega o celular. Pela cara de decepção que ele faz, não é Sofia e nem Matheus. Deve ser só um grupo que saiu do modo silencioso, e a mensagem devia ser um vídeo engraçadinho que um dos colegas metidos a comediantes do Artur enviam para ele.

– Tanta gente querendo falar comigo e eu não acho uma pessoa para conversar. – ele desabafa, deslizando o dedo pela tela do celular. Deve ter um milhão de mensagens das pessoas perguntando se ele está bem, o que aconteceu, por que ele desapareceu. Nenhuma delas quer saber realmente se ele está bem ou não. Só querem saber algo sobre o Rei Artur, para poderem fofocar pelas costas e se gabar de sua amizade com o garoto popular do colégio. O que era patético. Artur nunca mais pisaria no colégio.

Estou tão desacostumada a ver Artur se abrindo, mesmo comigo, que até sinto um arrepio percorrer minha espinha. Me esforço para não demonstrar a minha empolgação. Ele vai perceber e se fechar automaticamente de novo.

– Eu estou bem aqui. – aponto para mim mesma. Ele solta uma risadinha sem humor e cheia de culpa por me excluir de sua lista de pessoas com quem ele gostaria de conversar.

– As duas pessoas com quem mais quero falar só respondem minha mensagem duas horas depois. Quando respondem.

– Matheus e Sofia?

Ele acena com a cabeça. Sei que é inútil perguntar o que aconteceu entre eles, então nem tento. Do contrário, decido fazer um esforço para que ele se sinta melhor.

– A Ana disse que Sofia surtou quando não passou para nenhuma faculdade do estado. – comentei. Ana, uma amiga em comum com Sofia, era a rádio fofoca do colégio. Acho que ela tem informações até sobre pessoas que já se formaram há cinco anos. – Já entrou em uma pira de estudos, nem esperou as festas de fim de ano.

– Ela não pode tirar trinta segundos para responder as mensagens do namorado?

– Artur, quando eu digo surto, eu estou falando de psicose nível internação. Ela está virando noite atrás de noite, dizem que nem come direito, boatos de que está tomando aqueles remédios para déficit de atenção. Mas isso eu acho que é boato. Sofia é boazinha demais para comprar remédio sem receita.

– Sofia sabe que é impossível manter esse ritmo o ano todo.

– Isso porque as aulas nem começaram.

Muito me espantava que Artur não tentasse convencê-la a parar com aquilo. Era a receita para um piripaque. Para ser reprovada de novo. Se já estava nervosa agora, imagina quando chegasse o dia da prova. Se não conseguia dormir dez meses antes, será que conseguiria na noite anterior?

– Matheus passou de ano. – ele mudou de assunto – Disse que nunca mais quer passar por isso.

– Quer dizer então que ele vai começar a levar os estudos a sério?

– Não. Ele me disse que nunca mais vai estudar. – soltei uma risadinha sem humor – Que agora vai tentar se tornar um lutador profissional de MMA.

– E será que isso ele vai levar a sério?

– Parece que sim, pelo menos pelo que ele me fala de duas em duas horas. Está treinando o tempo todo. Quando não está treinando, não tem disposição para mais nada. Só come, dorme e treina. Finalmente aprendeu o que é se dedicar a algo.

– Fico feliz por ele. – eu coloco a mão no ombro de Artur, e corrijo: – Fique feliz por ele.

– Eu estou. Ficaria mais ainda se estivéssemos treinando juntos.

Artur tinha machucado o tornozelo no primeiro dia de treino. Nada grave. Só não dava para lutar por um tempo.

– Vamos ao cinema? – ele me convida. Eu nego veementemente com a cabeça.

– Jamais.

Odiava ir ao cinema com Artur. Ele era do tipo de pessoa que não calava a boca durante a sessão, sempre criticando o filme que nunca era bom o bastante para ele.

– Eu imploro. Te levo de moto. Pago sua entrada.

– Não.

Pelo menos não agora que eu estava começando a sair com um garoto. Eu sei, é surpreendente até para mim. Não é só Artur que tem vida social. Eu até o convidaria para ir conosco, mas não quero meu irmão intimidando o pobre coitado no que deveria ser nosso primeiro encontro a sós.

– Não sobrou ninguém para ficar entediado comigo. – ele larga o controle e se joga no colchão mais uma vez, olhando fixamente para o teto. Sinto uma pontinha de pena. Ainda falta um mês para as aulas da faculdade começarem, e é triste vê-lo mendigando por coisas para fazer.

Mas passa rápido, quando eu me lembro que o motivo pelo qual Matheus e Sofia não querem saber dele, é porque ele tem sido um babaca completo.

– Quer dizer, – ele continua – excluindo os que me ignoram e os que não me suportam, a única pessoa que sobra é Tamara.

– Eu não sabia que vocês ainda se falavam.

O que era uma mentira completa. Ele esqueceu uma rede social aberta no meu computador uma vez, e eles estavam se falando até demais. Todos os dias. Segundo Tamara, a qualquer momento que ele ligasse, ela estaria à disposição.

Artur só pediu desculpas por agir como um canalha com ela em uma situação da qual eu não sabia. Provavelmente estava com vergonha de me contar. Mas parece que eles acertaram que seriam apenas amigos.

Não sei você, mas eu não mando aquele tipo de mensagem para os meus amigos. Aquele tipo de foto para os meus amigos.

Um novo alerta pisca na tela. Pelo barulho, é uma mensagem pessoal. Fico feliz por um instante, porque parece uma chance de eu parar de me sentir culpada por deixar meu irmão sozinho, entregue ao tédio.

Então, fico totalmente revoltada. Sei que é Tamara antes mesmo de Artur dizer, só pela cara porca que ele faz.

"Ouvi dizer que você e a Barbie estão tendo problemas no paraíso."

"Ouviu, foi?"

"O que houve? Perdeu um sapatinho?"

Eu odiava quando isso acontecia. Sapatinhos de Barbie eram impossíveis de ser encontrados.

– Não responde.

– Eu estou entediado.

– Artur. Essa garota é problema.

–Então ela está igual ao resto da minha vida.

"Sair hoje? A Barbie não vai perceber! Ela não tá nem aí para você."

– Ela evoluiu. Geralmente, pede para que você termine com Sofia antes de se oferecer.

– Você anda lendo minhas mensagens?

Vejo em seu rosto que ele se lembra do meu computador, e da senha logada que ele deixou lá. Imagino que ele vá sair do sério comigo, mas não é o que acontece. Ele sabe que está errado. Sabe que foi longe demais.

– Era só para ser uma brincadeira inocente, para ajudar a passar o tempo. Para que os meus dias não fossem tão chatos. Não é algo que vai se tornar real. Vai acabar quando as aulas da faculdade começarem.

– Tá na hora de parar com a brincadeira. – alerto. Nunca uso um tom de voz maternal com Artur, porque nenhum de nós está adaptado a essa coisa de autoridade maternal. Mas que ele estava merecendo um bom puxão de orelha, isso sim. – Eu te conheço. Você não vai resistir por muito tempo.

– Não dá para ficar sozinho outra sexta-feira. Não dá! – ele barganha comigo, e eu fecho a cara.

– Então convida a Sofia. Sabe, a sua namorada?

Sem me responder, ele procura o contato de Sofia e passa alguns segundos digitando no celular. Eu espero, ansiosa. Em seguida, ele vira o celular para mim e dá de ombros enquanto leio o conteúdo da conversa.

"Sair hoje? Não aguento mais ficar em casa."

"Hoje não dá. Sexta a gente sai."

"Hoje é sexta!"

"Hoje é quinta."

"É sexta. Favor verificar."

"É sexta mesmo... nossa, nem percebi."

– Sofia não nem que dia é hoje. – ele fala com dor na voz – Se bobear, não sabe nem quem é o namorado dela mais.

– Ah, sim. Não é você quem esqueceu quem é sua namorada. – eu ironizo, sabendo que vai incomodá-lo. Não é só porque ele está morrendo de tédio que pode sair fazendo o que quiser. Existem regras, responsabilidades, principalmente quando se trata de outra pessoa.

Principalmente quando se trata da Madre Sofia.

Artur volta para o celular, dessa vez escondendo a tela. Nem preciso olhar para saber o que ele estava fazendo.

Não aguento mais ficar no mesmo quarto que ele. Preciso sair.

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