A Ruína de Ricky Prosper (VOL...

Por TheBiancaRibeiro

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VOLUME 2 DA TRILOGIA "Ricky Prosper"! As vidas de Prosper, o Iluminado, de Effy, a Cinzenta, de Loyal, o So... Más

SINOPSE
Lola
Effy
Loyal
Beth
Eco
Lola
Loyal
Don
Eco
Lola

Effy

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Por TheBiancaRibeiro


     Suspiro, admirando através da grande janela da biblioteca a paisagem lá fora. Estou em meu verdadeiro lar, mas é quase como se não estivesse. É como se essa fosse uma curta estadia em um lugar distante ao qual nunca mais retornarei depois de resolver todos esses problemas. Isso quer dizer que sinto falta da Terra? Nunca me encaixei lá durante todos esses anos, mas, de repente, depois que conheci Prosper, parece fora de questão que eu me estabeleça em outro lugar a não ser entre os humanos. Pergunto-me se os mesmos pensamentos ocorrem a ele também. Prosper não é humano, mas viveu toda a sua vida lá e parece pertencer àquela dimesão melhor do que ninguém. Ele voltaria?

     Viro o rosto e olho para a pilha de livros sobre profecias que Naya e eu lemos nas últimas doze horas e sinto meus ombros se encolherem. A garota Iluminada agora dorme debruçada sobre a mesa, parecendo carregar toda a preocupação de Nobre Vida nas costas. Parece que, quanto pior Prosper fica, pior Naya e Pekin se sentem. É algo que nunca testemunhei antes, uma dependência da qual só ouvi falar nos tempos muito antigos, quando tínhamos um rei. Eu também não estou nada bem. Ficar dentro desse lugar antigo, carregado de uma energia amarga do passado e temendo pela coisa dentro da cabeça de Prosper tem transformado meus nervos em frangalhos aos poucos. Nós buscamos, buscamos e buscamos incansavelmente, mas não encontramos maneiras de ajudar Prosper a voltar a ser como era antes. Nem mesmo o livro de profecias que Naya jurou que nos ajudaria serviu. E, se Don e Beth não retornarem logo, sei que as coisas ficarão ainda piores para todo mundo.

     Levanto-me para pegar o Grimório que Pekin encontrou, sentindo minhas pálpebras pesadas e meu corpo rígido - o que não era para estar acontecendo comigo aqui em Nobre Vida. Aqui, eu deveria estar sendo renovada a cada segundo e preenchida com energia nova. Folheio as páginas pela décima vez e, embora eu ache que seja em vão, novamente tento compreender o que está escrito e o que são todos esses símbolos místicos desenhados nas páginas gastas e amareladas. Sinto que este livro é importante, mas de que adianta tê-lo comigo se não sou capaz de lê-lo?

     Suspiro alto e ouço dois toques na porta aberta atrás de mim. Viro-me preguiçosamente e fico surpresa ao me deparar com Prosper de pé, olhando para mim. Ele parece fraco e está apoiado no batente da porta para manter-se ereto, mas está melhor do que quando o chequei há algumas horas.

     - Oh - forço um sorriso -, como se sente?

     Prosper dá alguns passos para dentro da grande, velha e empoeirada biblioteca, admirando as prateleiras com adoração, apesar de estar debilitado. Não me movo para chegar até ele. Desde que a coisa dentro de sua cabeça foi hostil comigo, tenho evitado me aproximar demais de Prosper. Cada vez que a tal Eco faz algo contra mim, vejo o quanto dói nele e não quero causar-lhe ainda mais sofrimento.

     - Consegui comer, estou melhor - ele responde finalmente, sem tirar os olhos dos livros. - Isso... isso é surreal, né?

     Meu sorriso cresce. Prosper e eu temos isso em comum: amamos livros.

     - Parece uma biblioteca de contos de fadas - ele esboça um sorriso, apoiando-se nas prateleiras e cadeiras para caminhar pelo lugar. - Nem se compara com a que eu tenho lá em casa.

     Meu coração fica apertado ao me lembrar daquele dia, o dia em que Prosper me levou à sua casa na Terra. Foi o momento mais doce de toda a minha vida e eu daria qualquer coisa para que as coisas entre nós voltassem a ser daquele jeito. Sem viagens malucas a outra dimensão. Sem sermos atacados por Sombrios. Sem Eco. Só nós dois e uma boa biblioteca para compartilharmos.

     Quando os olhos brilhantes de Prosper fitam meu rosto, eu engulo em seco. Ele é bonito demais, mesmo doente.

     - Conseguiu encontrar algo interessante aí? - ele aponta para o Grimório.

     Volto meus olhos para o livro e viro uma página.

     - Não - respondo, decepcionada. - Eu não sei ler o que está escrito e não consigo interpretar as figuras. Naya estava tentando traduzir com o pouco que aprendeu com os pais, mas isso aqui... - suspiro - isso é muito antigo e ela é só uma criança.

     Quando me dou conta, Prosper está sentado na cadeira ao meu lado. Ele puxa o Grimório para si e olha para o livro como se fosse um quebra-cabeça. Observo-o, prometendo a mim mesma que não vou me aproximar muito e nem vou tocá-lo. O dia está terminando e as cores do céu são refletidas no rosto e cabelo de Prosper e, juro, ele brilha. Cintila. É como se, de súbito, sua verdadeira natureza de Iluminado se manifestasse para lembrar-me de quem ele é. Naya, antes adormecida, também é capaz de ver isso e logo desperta. Ainda debruçada sobre a mesa, ela olha para Prosper com admiração, reverência e respeito maiores do que jamais demonstrou aos seus próprios pais. Minha pequena senhora Iluminada estava certa quando disse que Prosper era um Iluminado especial. 

     - Impossível... - a palavra salta dos lábios de Prosper conforme seus olhos se arregalam para uma das páginas do livro. - Isso... uau.

     Naya e eu ficamos curiosas no mesmo instante.

     - O que foi? - ela demonstra que agora está bem acordada.

     - Achou alguma coisa? - eu pergunto.

     Prosper vira o Grimório de modo que nós possamos vê-lo e aponta para uma figura desenhada. É uma silhueta feminina verde e laranja muito brilhante e com a forma de um vento selvagem. Parece haver algo parecido com uma taça dourada em uma das mãos dela, mas não tenho certeza. Não sou capaz de compreender muito bem esses desenhos.

     - O que é isso? - pergunto, mais confusa do que nunca.

     Os olhos de Prosper estão arregalados, vermelhos e muito marejados.

     - Eco - ele responde com uma euforia que não parece sua e uma lágrima escorre por sua bochecha. Seu dedo pousa sobre o que parece ser o rosto da silhueta feminina verde. - Esta é Eco, é ela.

     Naya e eu nos entreolhamos.

     - Eco? - Naya não entende. - Quem é Eco?

     - Ela... - eu demoro para formular palavras coerentes. - Ela... Você tem certeza?

     Prosper aquiesce violentamente.

     - Assim que pus meus olhos nisso, ela gritou - ele explica. - Eco reconheceu a si mesma e está dizendo que esta é sua forma original antes de... antes de... - Prosper franze a testa e fita o nada. Está ouvindo Eco dizer algo. Testemunhar isso é quase assustador. Ele volta a olhar para Naya e para mim e completa: - Ela não se lembra do que aconteceu e de como acabou dentro de mim, mas tem certeza absoluta de que essa aqui é ela.

     - Certo... - Naya não acredita logo de cara, assim como eu. - Essa Eco é a coisa dentro da sua cabeça, não é? Como ela tem tanta certeza de que a criatura no livro é ela?

     - Eco disse que suas memórias estão voltando aos poucos - Prosper responde sem pestanejar.

     Naya ainda não está convencida.

     - Tá... mas essa aqui - Naya aponta para a figura - é a Yonmirei. É uma Guardiã antiga com o poder e a energia de uma deusa. Olhe, ela até tem a Trompa Dourada da Calamidade e os cabelos verdes. Minha mãe contava histórias sobre como ela e seus irmãos Guardiões deixavam tudo equilíbrado no nosso mundo, mas a gente sabe que é só uma lenda. Nem Pekin acredita nisso e olha que ele ainda acredita no Papai Noel!

     Prosper abre um sorriso do tamanho do mundo, ignorando deliberadamente o ceticismo de Naya, e eu sinto um frio na espinha.

     É isso.

     Embora não tenha se dado conta, Naya acaba de confirmar a verdadeira identidade de Eco, assim como os tios de Prosper fizeram. Olho para a figura no Grimório, tentando imaginá-la como uma pessoa real. Agora, além de sabermos seu verdadeiro nome, sabemos como ela se parece. Resta-nos descobrir como é que ela foi parar dentro dele e de que forma a faremos sair.

     Meus olhos voam para o rosto de Prosper e eu o vejo fascinado pela Eco do Grimório. Seus dedos acariciam a página como se acariciassem um rosto, mas agora não sou capaz de dizer se sua alegria é realmente sua ou da própria Eco refletida através do corpo dele. Quanto de Prosper é mesmo de Prosper? Quanto é Eco - ou devo chamá-la de Vossa Majestade Guardiã Yonmirei?

     - Tudo bem - minha voz soa mais ranzinza do que eu gostaria. O que é essa sensação ruim na boca de meu estômago? - Já sabemos quem ela é. E agora?

     Prosper e Naya me encaram. Minha pequena senhora Iluminada arqueia as sobrancelhas, parecendo inconformada.

     - Peraí... você acredita nele?

     Assinto.

     - Os tios dele disseram a mesma coisa. Yonmirei existe e está dentro da cabeça de Prosper - aponto para a testa dele. - Precisamos encontar uma maneira de tirá-la daí.

     Prosper fita-me.

     - Acha que é possível? - ele praticamente sussurra e não tenho certeza de que está falando comigo.

     Naya dá uma risada sarcástica e no mesmo instante Prosper perde o controle e bate forte com o punho cerrado na mesa, gritando:

     - Está duvidando de mim?!

     Naya fica em choque e seus olhos e nariz começam a ficar vermelhos em sinal de que ela está prestes a ter uma crise de choro. Quando cai em si e percebe que perdeu o controle outra vez, Prosper olha para o próprio punho, para Naya e depois para mim, tão transtornado que não suporta ficar conosco na biblioteca. Ele sai sem dizer mais nada e eu me levanto, indo em sua direção, mas paro ao sentir a mão de Naya segurando meu pulso. Olho para ela.

     - Isso é loucura, Effy...

     - Só porque algo é loucura, não quer dizer que não seja verdade - rebato, amarga. - Sim, Prosper é muito mais do que apenas um Iluminado qualquer. E, sim, a Guardiã de Centelha do Norte está dentro dele. Devemos fazer algo sobre isso ou ficar sentadas aqui?

     Naya pestaneja e solta meu braço devagar.

     - Se a lenda sobre Yonmirei é verdade, acho que a lenda sobre o rei também é - ela murmura. - E, Effy... acho que Prosper é esse rei.

     - Rei? - franzo a testa.

     Eu não me lembro de histórias para dormir que mencionassem reis.

     - Tinha até uma música, mas não consigo lembrar dela inteira... talvez... talvez Pekin lembre - Naya encarou a parede da biblioteca, como se divagasse. - Era sobre um rei escondido... brilhante e bom... que vai ocupar o trono de toda Centelha do Norte, mas só por um tempo. Mamãe cantava quase todos os dias, mas dizia que nós não podíamos cantar para não trazer azar.

     Lendas, profecias, canções de ninar. Vindas da mãe de Naya e Pekin, uma Iluminada, são mais evidências do que simples superstições. Além disso, todas as superstições das quais duvidei té agora provaram-se verdadeiras.

     - Acha que essa música pode ser uma pista? - pergunto.

     Naya morde o lábio inferior.

     - Espero que não...

     - Você disse que acha que Prosper é o rei... Por que o rei ocupa o trono só por um tempo?

     Os olhos dela encontram os meus, apreensivos.

     - Porque no fim da música ele morre.

     Antes que eu possa expressar qualquer reação, ouço o som de vidro sendo quebrado e vozes masculinas rudes bradando de maneira insana. Por instinto, coloco-me entre Naya e a porta, pronta a defendê-la. Minha mente pensa em Pekin brincando no quarto e desejo poder me multiplicar para poder ir até ele. Mas é tarde. Estão invadindo o palácio.

     Quando as portas da biblioteca se abrem, alcanço uma caneta de prata que estava sobre a mesa e a giro entre meus dedos, carregando-a com minha energia. Nunca fiz isso antes, apenas ouvi sobre. Os invasores são homens de diversas estaturas e tamanhos, cobertos de cicatrizes e vestidos de preto da cabeça aos pés. Seus cabelos são escuros como piche. Sombrios.

     - Para baixo da mesa - digo a Naya num rosnado. Ela corre para se proteger.

     Ergo a caneta de prata sobre minha cabeça, girando-a cada vez mais rápido entre meus dedos, e atrio a total atenção dos invasores. Não há tempo para conversa fiada. Se eles invadiram, é porque não têm boas intenções e eu não pretendo permitir que machuquem ninguém aqui.

     Lanço a caneta, visualizando o trajeto que quero que ela faça e, com a minha energia como força motora, ela voa na direção dos Sombrios, serpenteando, perfurando peitos, cabeças e pescoços, derrubando-os um a um numa velocidade de três piscadas de olhos e espirrando sangue escuro pelas paredes e prateleiras. Todos caem, mortos, sem chances de se defenderem e eu mal posso acreditar que meu plano deu certo. Minha energia está mais forte do que nunca, embora eu tenha me sentido fraca um pouco mais cedo. Sempre desejei testar novas técnicas de ataques rápidos e fico eufórica por ter sido capaz de executar minha estratégia com perfeição. Naya grita, assustada, e eu me abaixo para puxá-la.

     - Vamos, precisamos encontrar Pekin e Prosper.

     - Você... você matou todos eles!

     - Sim, matei - arrasto-a para fora da biblioteca.

     - Foi a coisa mais incrível que já vi na minha vida.

     Olho de soslaio para ela enquanto desviamos dos corpos, nem um pouco lisonjeada. Proteger os Iluminados é nada mais que minha obrigação e estou cercada por eles. Chegamos as corredor e corremos na direção do quarto onde Pekin está. Dois Sombrios aproximam-se e agarram Naya pelo braço, mas consigo derrubá-los com alguns socos e chutes. Eles não apresentam muita resistência e parte de mim fica desconfiada. Sombrios não são fracos. Sei que sou uma lutadora relativamente boa, mas estou sozinha contra eles. Algo está errado.

     Quando me dou conta, Naya sai do quarto puxando Pekin com ela, finalmente mostrando-se útil. Seguro os dois e corro com eles pelo corredor em direção às escadas que levam ao quarto de Prosper.

     - Monstros! - grita Pekin, desesperado.

     Derrubo outros três Sombrios que surgem pelo caminho e ouço, lá embaixo, o som de mais deles chegando.

     - Precisamos ser mais rápidos! - grito para as crianças.

     Quando dobramos a esquina de um corredor, somos lançados longe contra a parede por uma onda de energia tão poderosa que não podemos resistir. Ela emana uma luz verde intensa e, por entre meus dedos, vejo que vem diretamente do quarto de Prosper. A porta está fechada e estremece, como se uma força imparável estivesse lutando para sair dali.

     - O que é isso? - choraminga Naya.

     - Isso...

     Meu sangue gela e eu dou um passo na direção da porta, mas a energia me impele para a parede, como se não quisesse que eu me aproxime.

     - Não consigo chegar perto - rosno, ficando irritada.

     - Olhem! - Pekin grita, apontando para a porta.

     A maçaneta estremece, enlouquecida, e eu entendo o recado. É hora de corrermos e nos protegermos. Seguro Naya e Pekin de frente para mim e olho para os dois.

     - Prestem atenção - digo. - Aquela porta vai explodir a qualquer momento e não sabemos o que há lá dentro. Preciso que vocês dois corram e busquem um esconderijo. Não deixem que os Sombrios encontrem vocês e fiquem longe de qualquer luz verde que se pareça com essa. Se vocês falharem, vão morrer. Entenderam?

     - Mas e você? - questiona Naya.

     Aperto os braços dos dois com força.

     - Entenderam?

     Ambos assentem.

     - Naya, você é a mais velha - olho profundamente nos olhos dela. - Proteja seu irmão.

     - Sim - ela franze a testa.

      Empurro-os para longe de mim e eles correm escada abaixo sem olhar para trás. Devagar, eu me viro para a porta do quarto de Prosper e cerro os punhos. Não pode ser coincidência que essa poderosa luz tenha exatamente o mesmo tom de verde que vi no desenho do Grimório retratando Yonmirei. Sei que é ela e sei está com Prosper naquele quarto. Posso sentir com cada fibra do meu ser e tenho certeza de que os Sombrios estão invadindo porque também sentem. Centelha do Norte inteira sente.

     Yonmirei está se libertando.


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