Effy

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     Suspiro, admirando através da grande janela da biblioteca a paisagem lá fora. Estou em meu verdadeiro lar, mas é quase como se não estivesse. É como se essa fosse uma curta estadia em um lugar distante ao qual nunca mais retornarei depois de resolver todos esses problemas. Isso quer dizer que sinto falta da Terra? Nunca me encaixei lá durante todos esses anos, mas, de repente, depois que conheci Prosper, parece fora de questão que eu me estabeleça em outro lugar a não ser entre os humanos. Pergunto-me se os mesmos pensamentos ocorrem a ele também. Prosper não é humano, mas viveu toda a sua vida lá e parece pertencer àquela dimesão melhor do que ninguém. Ele voltaria?

     Viro o rosto e olho para a pilha de livros sobre profecias que Naya e eu lemos nas últimas doze horas e sinto meus ombros se encolherem. A garota Iluminada agora dorme debruçada sobre a mesa, parecendo carregar toda a preocupação de Nobre Vida nas costas. Parece que, quanto pior Prosper fica, pior Naya e Pekin se sentem. É algo que nunca testemunhei antes, uma dependência da qual só ouvi falar nos tempos muito antigos, quando tínhamos um rei. Eu também não estou nada bem. Ficar dentro desse lugar antigo, carregado de uma energia amarga do passado e temendo pela coisa dentro da cabeça de Prosper tem transformado meus nervos em frangalhos aos poucos. Nós buscamos, buscamos e buscamos incansavelmente, mas não encontramos maneiras de ajudar Prosper a voltar a ser como era antes. Nem mesmo o livro de profecias que Naya jurou que nos ajudaria serviu. E, se Don e Beth não retornarem logo, sei que as coisas ficarão ainda piores para todo mundo.

     Levanto-me para pegar o Grimório que Pekin encontrou, sentindo minhas pálpebras pesadas e meu corpo rígido - o que não era para estar acontecendo comigo aqui em Nobre Vida. Aqui, eu deveria estar sendo renovada a cada segundo e preenchida com energia nova. Folheio as páginas pela décima vez e, embora eu ache que seja em vão, novamente tento compreender o que está escrito e o que são todos esses símbolos místicos desenhados nas páginas gastas e amareladas. Sinto que este livro é importante, mas de que adianta tê-lo comigo se não sou capaz de lê-lo?

     Suspiro alto e ouço dois toques na porta aberta atrás de mim. Viro-me preguiçosamente e fico surpresa ao me deparar com Prosper de pé, olhando para mim. Ele parece fraco e está apoiado no batente da porta para manter-se ereto, mas está melhor do que quando o chequei há algumas horas.

     - Oh - forço um sorriso -, como se sente?

     Prosper dá alguns passos para dentro da grande, velha e empoeirada biblioteca, admirando as prateleiras com adoração, apesar de estar debilitado. Não me movo para chegar até ele. Desde que a coisa dentro de sua cabeça foi hostil comigo, tenho evitado me aproximar demais de Prosper. Cada vez que a tal Eco faz algo contra mim, vejo o quanto dói nele e não quero causar-lhe ainda mais sofrimento.

     - Consegui comer, estou melhor - ele responde finalmente, sem tirar os olhos dos livros. - Isso... isso é surreal, né?

     Meu sorriso cresce. Prosper e eu temos isso em comum: amamos livros.

     - Parece uma biblioteca de contos de fadas - ele esboça um sorriso, apoiando-se nas prateleiras e cadeiras para caminhar pelo lugar. - Nem se compara com a que eu tenho lá em casa.

     Meu coração fica apertado ao me lembrar daquele dia, o dia em que Prosper me levou à sua casa na Terra. Foi o momento mais doce de toda a minha vida e eu daria qualquer coisa para que as coisas entre nós voltassem a ser daquele jeito. Sem viagens malucas a outra dimensão. Sem sermos atacados por Sombrios. Sem Eco. Só nós dois e uma boa biblioteca para compartilharmos.

     Quando os olhos brilhantes de Prosper fitam meu rosto, eu engulo em seco. Ele é bonito demais, mesmo doente.

     - Conseguiu encontrar algo interessante aí? - ele aponta para o Grimório.

A Ruína de Ricky Prosper (VOLUME 2)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt