Eco

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     Como se tivesse braços e pernas, tento me esticar. Quase fico sem fôlego, tal como se soubesse respirar. Estou presa nesta linha tênue entre o existir e o não existir. Presa dentro de um corpo que não é meu e que - embora eu consiga manipulá-lo vez ou outra - não obedece aos meus comandos quando quero.

     Eu pensei que soubesse quem eu sou. Pensei estar certa da minha identidade, do meu propósito e da minha principal função. Ser a Consciência de um garoto humano brilhante sempre me pareceu o centro de meu cerne. Contudo, conforme coisas cada vez mais esquisitas acontecem conosco, sinto que estive enganada esse tempo todo.

     Não sei mais quem eu sou.

     Para onde quer que eu olhe, há apenas Prosper. A essência dele me preenche a ponto de quase me fazer transbordar e, devagar, eu começo a perder a noção de onde eu começo e ele termina. É quase como se estivéssemos nos tornando um - uma única alma, uma única entidade, uma única vida. E, apesar de detestar admitir isso até para mim mesma, eu estou assustada. Continuo lutando para não desaparecer, pois sei o quanto Prosper é forte. Estou convicta de que não sou apenas a Consciência dele e de que há mais sobre minha existência que eu ainda não descobri. Preciso de mais informações sobre Yonmirei e apenas os tios de Prosper podem ajudar.

     Eco, diz a voz alta e clara de Prosper, ecoando e atrapalhando minha linha de raciocínio. 

     Eu não o ouço tão claramente desde a última vez que nos falamos - ou melhor, brigamos. É quase inevitável começar a nutrir certo ódio por ele, mas grande parte de mim jamais seria capaz de rejeitá-lo.

     Estou aqui, respondo, rancorosa.

     As coisas não vão bem pra nós dois...

     Precisamos encontrar uma solução para isso, eu digo. Antes que um de nós enlouqueça de vez ou... desapareça.

     Só me prometa que não vai tentar machucar Effy e nem ninguém com quem eu me importo outra vez, ele soa aflito. Isso que você fez... usar meu corpo para... para agredi-la... eu não gosto disso, Eco. É doloroso para mim.

     A devoção de Prosper a Effy me revolta e enoja. Algo naquela garota faz com que eu queira esconder Prosper da vista dela e protegê-lo de seus braços. Ainda assim, sei que a determinação dele em permanecer ao lado dela é imparável e que não há muito o que eu possa fazer para separá-los a não ser sofrer de ódio em silêncio. Eu odeio não ser ouvida quase tanto quanto odeio não poder falar. Quando Effy está por perto, é como se eu não existisse para Prosper - e ele é o único capaz de ouvir a minha voz.

      Já faz um ano?, penso alto. Desde que você me ouviu pela primeira vez?

     Prosper pestaneja.

     Ainda não. Mas por que a pergunta?

     Sinto medo na boca do estômago que não tenho.

     Porque eu... não consigo me lembrar de nada que tenha acontecido antes disso. É como se eu tivesse surgido naquele momento, exatamente naquele dia...

     Você não é mesmo minha Consciência, é?, a pergunta dele soa retórica. Ele está tão apreensivo quanto eu. É a primeira vez que começamos a questionar juntos a verdadeira natureza de minha existência.

     Não, respondo sem hesitar. Eu não sou.

     Prosper fica em silêncio durante infinitos segundos. Não há nada que eu possa ver ou sentir através de seus olhos e pele, porque aparentemente estamos conversando enquanto ele dorme, então eu simplesmente fico flutuando em seu subconsciente, esperando que ele decida falar comigo.

A Ruína de Ricky Prosper (VOLUME 2)Where stories live. Discover now