POV David
- ISSO É BATOTA, DAVID! – A Letícia gritou chateada porque voltou a perder o jogo de cartas.
Eu e a Letícia estávamos sentados no chão da sala e jogávamos às cartas, como fazemos muita vez. Assim que chegámos a casa depois do jantar na casa da Mel, a Letícia pediu-me para jogar cartas com ela. Ainda era cedo e amanhã como é feriado podíamo-nos deitar tarde, porque... NÃO HÁ AULAS.
Admito que estou a fazer batota com ela, sempre faço. Eu guardo as melhores cartas na manga da minha camisa sem ela ver e quando chega a altura de as usar, ela nem percebe que eu tinha as cartas escondidas. Aprendi este troque com a minha avó Anne, ela é uma batoteira de primeira.
Eu adoro fazer isto com a Letícia, ela fica mesmo chateada comigo porque ela odeia perder. Ela quando fica assim a sua cara fica vermelha e eu simplesmente farto de me rir.
- Eu não faço batota, Lê! – Eu falei com a carinha de anjo e ela bufou cruzando os braços acima do peito. – Tu é que não sabes jogar! – Eu falei e sorri para ela.
- Tu é que escondes as cartas boas na camisa! EU VI! – Ela voltou a gritar e eu gargalhei.
- Estás a alucinar, maninha! - Continuava a irritar. - Eu sou o melhor do mundo em tudo! – Eu falei e ela levantou-se.
- Principalmente o melhor batoteiro do mundo! – Ela falou irritada e eu apenas ria.
- Mas que gritaria é esta? – A minha mãe perguntou enquanto descia as escadas com um caixote nas mãos.
- O David é um batoteiro! – A Letícia falou e a minha mãe olhou para mim desconfiada e eu sorri.
- A Lê é que não sabe jogar! – Eu falei enquanto guardava as cartas na caixinha delas.
- Saís mesmo à tua avozinha! – A minha mãe falou enquanto se sentava no sofá com o tal caixote nas mãos. – O vosso pai? – Ela perguntou-nos.
- Está no escritório! – A Letícia falou e sentou-se no sofá ainda chateada. – O que é isso, mãe? – A Letícia perguntou e confesso que também estou curioso para saber o que é aquilo.
- HARRY! – A minha mãe gritou de repente e eu tapei os ouvidos com a mão e a Letícia fez o mesmo. – HARRY, VEM AQUI! – Ela voltou a gritar e eu olhei para ela.
- Podias ter pedido que nós íamos chamar o pai! – Eu falei e a minha mãe começou a rir.
- Sério, filho? – Ela perguntou admirada e eu sorri ligeiramente. Pois, o mais provável era fazermos o mesmo.
- Onde é o incêndio? – O meu pai perguntou assim que saiu do escritório e nós começamos a rir, menos a minha mãe.
- Nossa, temos palhaço! – A minha mãe falou e eu olhei incrédulo para ela. – O que foi, eu também sei ser engraçada. – Ela falou e eu sorri.
- O que se passa, fofa? – O meu pai perguntou enquanto se sentava ao lado da minha mãe.
- Tenho algo muito especial para vos mostrar! – A minha mãe falou e os olhos dela estavam a brilhar. Eu gatinhei até ao pé dos meus pais e a Letícia ficou ao meu lado.
- Não me digas que é fotos nossas quando era-mos bebés a tomar banho! – Eu falei e a minha mãe sorriu ligeiramente.
- Podia ser, David! – Ela falou e eu suspirei. Ela já me fez passar uma vergonha enorme quando se pôs a mostrar essas fotos à Alice. – Mas é outra coisa e desta tenho a certeza que vais adorar! – Eu assenti.
- Confesso que estou curioso! – O meu pai falou e eu assenti.
- Mostra, mamã! – A Letícia pediu e ela pegou no caixote.
Ela abriu com cuidado e já era um caixote velho, ao menos parecia. Assim que a minha mãe tirou a tampa ela sorriu. Ela tirou de lá um pequeno urso de pelúcia e pelo aspecto do mesmo, era bem velho.
- O pipoca da Mel! – O meu pai falou animado e pegou no pequeno urso de pelúcia que tinha um braço cozido.
- Pipoca? – A Letícia perguntou e a minha mãe sorriu.
- O Pipoca era o boneco de estimação da Mel! – A minha mãe falou e eu sorri ligeiramente. – Ela não o largava por nada. – A minha mãe sorriu e o meu pai assentiu.
- Lembras-te aquele dia que o braço do boneco caiu? – O meu pai perguntou.
- Como é que me vou esquecer, amor! Foi no mesmo dia que voltámos para Londres. – O Meu pai deu um pequeno selinho à minha mãe e eu abanei a cabeça.
Isto é que é amor para a vida toda.
- Não sabia que guardavas isto! – O meu pai falou admirado.
- Claro que sim! – Ela falou e voltou a olhar para o caixote. – Bom, acho que o David vai-se lembrar muito bem disto. – A minha mãe falou e logo tirou de lá de dentro umas chuteiras bem velinhas e pequeninas.
- NÃO ACREDITO! – Eu e o meu pai gritámos ao mesmo tempo.
- As minhas primeiras chuteiras de futebol! – Eu falei animado e peguei nas mesmas. – Não acredito que guardaste isto, mãe! – Eu falei maravilhado enquanto observava as minhas botas.
- Eu lembro-me perfeitamente o dia quando as comprei! O David passou dias a chatear-me para as comprar. – O meu pai falou e eu gargalhei.
- Ele ficou tão feliz com as botas que até queria dormir com elas! – A minha mãe falou e nós gargalhamos com a sua afirmação. – Sempre tiveste uma fascinação fora de normal pelo futebol! – Eu olhei para a minha mãe e sorri.
- Quando eras bebé só paravas de chorar à noite quando te púnhamos a ver futebol. – Eu sorri animado.
- O futebol está-me no sangue! – Eu falei e a Letícia bufou.
- O futebol e a batotice! – Ela falou e todos riram da sua afirmação. – E eu, mamã? – A Letícia perguntou olhando para o caixote. A minha mãe sorriu e tirou de dentro do caixote uma caixinha pequenina e quando a abriu dentro dela estava uma chucha cor-de-rosa. – A minha chucha! – A Letícia falou animada e eu gargalhei.
- Se não fosse o David, até hoje tu andavas com a chucha, amor! – O meu pai falou animado e a Letícia sorriu ligeiramente.
- Quer dizer que a história do macaquinho voador bebé que precisava de uma chucha, era mentira? – A Letícia perguntou animada e nós começamos a rir e muito. Eu inventei essa história do macaquinho e ela ficou com tanta pena que deu a sua chucha para "oferecer" ao macaquinho.
- A história é ridícula mas resultou! – A minha mãe falou e eu abanei a cabeça.
- Bons momentos! – O meu pai falou e a minha mãe deitou a cabeça no ombro do meu pai.
Nós continuamos a revirar aquele caixote e tinha várias coisas que a minha mãe guardou estes anos todos. Eu fiquei feliz ao ver as minhas botas, foi com elas que joguei o meu primeiro jogo de futebol na escola. O clima estava super bom e agradável, nós estávamos a lembrar-nos de bons momentos e isso sempre foi motivo para nos fazer lembrar que apesar de tudo sempre fomos uma família muito feliz.
De repente alguém tocou à porta e eu olho para os meus pais, confuso. Já está um pouco tarde para visitas e eu não estou à espera de ninguém e pela cara dos meus pais, eles também não.
- Eu vou ver quem é! – Eu falei e levantei-me caminhando até à porta. Assim que cheguei abri a mesma e deparei-me com o meu melhor amigo a olhar para o chão. – Gui? – Eu falei e ele olhou para mim e os seus olhos estavam inchados e vermelhos.
- Eu sei que está tarde mas... - Ele tentou falar mas uma lágrima desceu dos seus olhos e eu fiquei sem reacção. O Gui não é de chorar e isso só acontece quando aconteceu algo muito mau.
- O que é que aconteceu, mano? – Eu falei e ele limpou a lágrima com raiva.
- Eu preciso falar com alguém, David! – Ele falou sério.
- Claro, vamos entrar! - Eu dei-lhe passagem para ele passar e andei com ele para o interior da casa.
Eu andei com ele até à sala e confesso que estou a ficar preocupado, o Gui não está nada bem. Assim que entramos na sala só se encontrava o meu pai, a minha mãe e a Letícia devem estar na cozinha com a Bianca. O meu pai olhou para o Gui e reparou que ele não estava com muito boa cara.
- O que aconteceu, Gui? – O meu pai perguntou-lhe preocupado e o Gui sorriu fraco.
- Nada de grave, Tio Harry! – Ele respondeu baixinho e o meu pai olhou para mim e eu dei de ombros.
- Os teus pais sabem que estás aqui? – O meu pai perguntou e o Gui fez um barulho de quem se tinha esquecido.
- Eu saí tão nervoso de casa que nem os avisei, Tio! Eles não estavam. – Ele falou nervoso e o meu pai sorriu ligeiramente.
- Eu aviso-os não te preocupes! Vão lá conversar! – Eu assenti e caminhei até ao meu quarto sendo seguido pelo Gui.
POV Bia
- Tem calma, linda! – A Alice pediu-me e eu não conseguia parar de chorar por nada. Eu estou muito triste e eu não queria chatear-me com o Gui por causa disto.
Faz, mais ou menos, umas duas horas que eu cheguei à casa da Alice carregada com as minhas malas, eu quis sair depressa porque se apanhasse os pais do Gui, não ia saber explicar o que aconteceu. Eu e o Gui já discutimos inúmeras vezes, mas nunca desta maneira. Eu fiquei com a sensação que as coisas podem acabar e eu não quero nem pensar nisto.
- Ele foi tão frio comigo, Ali! – Eu falei enquanto chorava. A Alice continuou a dar-me carinho na cabeça que estava repousada nas suas pernas. – Eu não o queria magoar com esta decisão! – Eu falei sinceramente.
- Claro que não querias! Ele deve ter ficado chateado pelo fato de não lhe teres contado que estavas a pensar mudar-te para minha casa. – A Alice falou calma e eu assenti ligeiramente deixando mais lágrimas saírem pelos meus olhos.
- Eu não esperava que ele reagisse desta maneira, Alice! – Ela falou e eu suspirei.
- Sei que não, mas tem calma vais ver que amanhã as coisas já estão melhor! – Eu queria acreditar nisso, mas eu nunca discuti com o Gui desta maneira.
- Ele saiu tão nervoso de casa! Tenho medo que tenha acontecido alguma coisa com o meu bebé. – Eu falei e estou com o coração nas mãos por causa disso.
- Aposto que ele deve estar com o David! – A Alice falou com um ligeiro sorriso no rosto e eu suspirei.
- Podias ligar ao David e perguntar-lhe! Por favor, amiga! – Eu não pedi, mas supliquei. – Eu faço tudo o que quiseres, prometo! – Ela sorri e deu-me um beijo na bochecha.
- Não precisas nada disso! Eu vou ligar! – Ela falou e logo se levantou e foi buscar o telemóvel à secretária.
Quando ela pegou no telemóvel voltou para a cama e sentou-se ao meu lado. Ela discou um número e colocou o telemóvel na orelha. Ela esperou e esperou, mas logo desligou.
- Então? – Eu perguntei-lhe.
- Ele não atendeu! – Ela falou e eu suspirei. – Porque é que não tentas ligar para o Gui! – A Alice sugeriu e eu suspirei.
- Ele não vai atender! – Eu afirmei.
- Se não tentares nunca saberás! – Ela falou e realmente ela tem razão, levantei-me e fui até à minha mala pegar o meu telemóvel.
- Seja o que Deus quiser! – Eu falei e marquei o numero do Gui.
POV Gui!
- Ela está a ligar-me! – Eu falei para o David enquanto via "myprincess" escrito no visor do telemóvel. Eu não vou atender, eu ainda estou muito chateado com ela e se atender vou dizer coisas que não quero.
- A Bia deve estar com a Alice porque ela também me tentou ligar! – O David falou e eu suspirei. – Ela deve estar preocupada contigo, Gui! – Eu olhei para o David e dei uma risada irónica.
- Acho que não, David! Ela até já toma decisões sem me dizer nada! – Eu falei e confesso que isso me provocou muita raiva.
- Estás a ser precipitado! – Eu levantei-me da cama e fui até à janela ver o céu que anunciava o mau tempo que estava para chegar.
- Como é que tu reagias se a Alice te explicasse que ia embora sem ao menos falar contigo? – Eu perguntei-lhe e ele abaixou o rosto. – Foi o que eu pensei! – Eu falei e encostei-me à janela.
- Ela se calhar estava com medo dessa reacção! – Ele falou e eu bufei.
- Eu só tive esta reacção porque ela me escondeu as coisas! Eu não merecia isto! – Eu falei e depois de tudo o que fiz por ela, ao menos ela devia ter falado comigo.
- Achas que a vossa relação estava a entrar numa rotina? – O David perguntou-me e eu confesso que depois da Bia falar sobre isso, se calhar ela tenha razão.
- Sim, é possível! – Eu falei e voltei-me a sentar na cama. – Eu sei que ainda somos novos para vivermos juntos, e concordo que ela viver com a Alice é muito bom para nós, mas... - Eu coloquei as mãos no rosto.
- Mas estás com medo que um dia ela se decida a viver com a mãe dela na América. – O David falou e eu deitei-me na cama.
- Quando ela falou que tinha tomado uma decisão eu até tremi. – Eu admiti e o David gargalhou baixinho. – Tu ainda te ris? – Eu perguntei-lhe.
- Tu és um otário, Gui! – Ele falou enquanto ria e eu sentei-me na cama, confuso. – Tu sabes melhor que ninguém que aquela miúda adora-te. Ela nunca te vai abandonar, mesmo quando tu a afastas. – Ele falou e eu suspirei. – A prova disso é as chamadas no telemóvel! – Ele falou e voltei a olhar para o telemóvel que tinha 3 chamadas não atendidas da Bia. – Ela ama-te, Gui! – Eu olhei para o David e acabei por sorrir ligeiramente.
- Fui duro demais? – Eu perguntei-lhe.
- Foste... ESTÚPIDO DEMAIS! – Ele falou e eu gargalhei ligeiramente. – Tens que a compensar e bem. – Ele falou e eu fui um parvo por ter agido assim com ela.
- O que é que eu posso fazer? – Eu perguntei-lhe e o David sorriu e eu sei que ele está a aprontar alguma.
- Hoje ficas aqui a dormir, temos que montar um plano brutal! – Eu sorri e como é bom ter um amigo como o David. Ele tem sempre o poder de mostrar que todas as coisas têm um lado bom.
- Só espero que resulte, David! Eu magoei a minha princesa e por burrice! – Eu admiti e o David assentiu.
- Não te preocupes! Mas agora vais-lhe mandar uma sms sem dizer muita coisa. – Ele falou. – Eu vou ligar à Alice e avisar os meus pais que hoje dormes aqui. – Eu assenti e ele saiu do quarto.
Eu peguei no meu telemóvel e escrevi uma sms para a Bia, tal e qual como o David pediu fui bastante seco.
"Eu estou bem! Não te preocupes!"