Meus olhos parecem estar pesando uma tonelada quando enfim consigo abri-los, eu estou sozinha. Não sei se isso é bom ou ruim.
Ao tentar erguer a mão para coçar meus olhos, noto que elas estão amarradas; assim como os meus pés.
- Mas... que merda... - Resmungo, me sentando no colchão velho com certa dificuldade. O cômodo é sujo e mal-cuidado, cheio de infiltrações e nenhuma janela, é um lugar abafadiço e negrume tendo apenas uma porta de ferro, que obviamente está fechada.
Eu preciso sair daqui, procuro por algo que possa me ajudar com as cordas que estão me prendendo, porém o lugar está complemente vazio senão pelo colchão, uma cadeira e uma mesa velha.
Eu estou ferrada. Será que ela vai me matar e eu sem saber estou vivendo meus últimos momentos de vida?
Ninguém vai me procurar por um bom tempo, pelo menos eu acho. Eu simplesmente sai, sem avisar. Eles estavam brigando, não vão notar agora que tem outras prioridades. Não faço ideia de qual vai ser meu destino apartir de agora.
A porta de ferro se abre bruscamente com um rangido forte, Sthefanny entra acompanhada de um homem.
- Olha quem despertou. - Ela comenta, vindo na minha direção. Quando ela se abaixa em minha frente vejo claramente o grande corte que eu deixei em seu rosto. Não consigo deixar de sorrir com o resultado. - Você fez isso comigo, né? - Sthefanny estica a mão para o homem, que deposita uma tesoura ali. - Nada mais justo eu devolver o corte, certo?
- Claro, vai em frente. - Resmungo.
- Ah, eu vou mesmo, criança. Por onde eu começo? - Seus olhos passeiam pelo meu rosto, de repente seu olhar para em meu cabelo e um sorriso maldoso surge em seus lábios.
- Eu sempre achei o cabelo da sua mãe lindo e o seu é igualzinho, escuro e longo. É muito bonito. - Mantenho uma expressão neutra no rosto conforme ela passa a mão livre por toda a extensão do meu cabelo, ele está na altura do meu quadril. - O que você acha de um novo corte?
Ainda bem que eu não sou apegada ao meu cabelo como a minha mãe, eu estava com vontade de cortar a poucos dias atrás. Cabelo grande pode dar muito trabalho e eu não tenho a menor paciência para cuidar.
- Vamos ver... - Ela se posiciona atrás de mim, escuto o barulho da tesoura em meu cabelo, a vagabunda joga uma mecha para eu ver.
Foi mais da metade.
Eu mereço um prêmio por conseguir me manter calada e calma. Quando na verdade eu estou morrendo de vontade de cravar uma faca no coração dessa vadia.
Sthefanny finaliza sua provocação em poucos minutos, permaneço de cabeça erguida controlando a vontade de olhar para o chão e checar o resultado.
- Huum... Até com o cabelo assim você continua bonita.
- Já com você parece que nada te deixa bonita. Essa vai ser a sua tortura contra mim? - debocho, me arrependendo na hora devido as circunstâncias. - Uau. Oh meu Deus, ela cortou o meu cabelo, adeus mundo cruel.
Em resposta ao meu comentário sou empurrada com força na direção do colchão, fazendo minhas costas se chocarem contra a parede fazendo eu sentir uma tremenda dor; que eu faço questão de disfarçar.
Os dois me deixam sozinha, graças ao celular dela que começou tocar. Aposto que se não fosse por isso ela ainda teria dado mais alguns cortes no meu cabelo.
- Caralho... - Curvo minhas costas com a dor que ainda sinto pelo impacto.
Apenas agora vejo o bolo de cabelo no chão, como eu imaginava foi mais da metade. Meu cabelo está próximo ao ombro, um pouco abaixo. Desde que ela tenha cortado certo, tudo bem. Essa atitude dela foi provocação psicológica, não me causa dor física. Ela não teve sucesso, eu deveria agradecer por ela ter poupado trabalho, já pretendia cortar mesmo.
Desamarro as cordas dos meus tornozelos, isso estava quase rasgando minha pele de tão apertado que estava. Faço o mesmo com as cordas dos pulsos, com muito mais trabalho para conseguir fazer isso com os dentes. De qualquer forma eu ainda estou presa, não tem por onde sair.
Por quanto tempo mais eu vou ter que aguentar?
Eu devo estar aqui a quanto tempo? Já estou a tanto tempo sem comer que nem sinto mais fome. Preciso sair daqui.
Será que já sentiram minha falta? Eu tenho fé que eles vão me encontrar, minha família e meus amigos vão me achar. Espero que ainda viva.
Tateio as paredes em buscas de algum buraco, algum botão; qualquer coisa que poderia me ajudar a sair. Mas não encontro nada. Eu não aguento mais essa merda. Juro que se eu conseguir sair dessa vou acabar com a Sthefanny, sou capaz de matá-la.
Me dando por vencida eu despenco sobre o velho colchão, cansada, fraca e sem vontade de lutar mais.
Ela está me torturando, estou sem comer, apanhei; o que falta? Eu ser estrupada por algum desses caras que estão com ela. Dei sorte que ainda tenho cabelo na cabeça, pensei que ela me deixaria careca. Parece que estava me testando. Patética.
Eu posso estar explodindo por dentro, mas não vou mostrar para ela. Eu vou sair daqui.
O barulho da porta me deixa em alerta, por isso eu me deito teatralmente no colchão fingindo estar desmaiada. Fico paralisada conforme escuto os passos, sou sacudida. Deixo meu corpo mole, como se estivesse mesmo inconsciente.
- Merda, a pirralha desmaiou. - Reconheço a voz da vilã, - vai lá fora chamar o outro.
Abro minimamente um olho, vendo o cara se afastar, quando Sthefanny vira para me encarar em um movimento rápido bato sua cabeça na parede. Ela não desmaia mas fica desorientada, me dando tempo de levantar e correr aproveitando a porta aberta.
Corro por um extenso corredor com paredes feitas de metal, parece. Tem muitas portas, não sei como sair. Viro para a esquerda, avistando um par de portas duplas. Feito uma flecha eu as empurro, estão trancadas. Porcaria.
Pelas pequenas janelas de vidro, vejo que se trata de um enorme salão repleto de armas. Tráfico de armas? Provavelmente.
Dou meia volta sentindo meu coração pulsar em velocidade máxima. Se eu não sair agora estou muito ferrada, Sthefanny vai me matar pelo o que fiz.
Escuto o barulho de portas batendo. Que porra de lugar é esse?
Viro em outro corredor, desesperada demais para agir com calma. Eu preciso correr o máximo que puder, se eu não conseguir provavelmente não saio viva daqui. Meu corpo gela quando uma porta a minha frente se abre, com os os olhos arregalados eu ajo rápido entrando em uma das portas, a fechando com cuidado. Pelo buraco da fechadura eu vejo dois homens passarem correndo por ela, deve ser o que ela mandou chamar e o outro do quarto. Não deve ter mais ninguém aqui. Minha vida depende disso, eu tenho que ser habilidosa e ligeira. É como se eu estivesse em campo agora, a diferença é que aqui não estou para ganhar e sim para sobreviver.
Conto exatos três segundos antes de abrir a porta e correr na direção que eles acabaram de vir. Perco um pouco de ar ao me deparar com uma floresta, sem pensar duas vezes eu começo a correr na direção dela. Consigo respirar com alívio e felicidade, eu consegui sair! Consegui! Agora só preciso correr. Puta merda eu nem acredito que foi tão fácil assim.
Avisto uma caminhonete preta estacionada a alguns metros, um homem está encostado nela de costas para mim. Sorrio com a incompetência dos bandidos da Fanny, que grande merda. Achei que teriam uns vinte caras armados até os dentes.
Quando eu dou meu primeiro passo para floresta a dentro eu escuto um farfalhar de folhas, seguido pelo som de uma arma de fogo sendo carregada.
- Ei! Parada ai, garota! - Travo na hora que vejo um dos seus homens apontando uma arma para mim no exato momento em que virei em direção o barulho.
O quê? Não, não. Quantos desses infelizes tem espalhados por aqui?
Não acredito que cheguei até aqui para ser pega agora. Talvez eu possa atacá-lo, acho que consigo pegar essa arma dele e reverter o jogo.
Não, Malu... Isso seria suicídio.
Aceitando minha derrota eu deixo o homem me arrastar até o quarto em que estava, nesse momento tenho o cano do revólver encostado na minha têmpora. Estou tão fraca que mal sinto dor no seu forte aperto, ou mesmo quando chego no quarto e volto a ser amarrada. Sthefanny parece quase inconsciente sendo socorrida pelos seus capangas, consigo ver sangue escorrendo pelo seu rosto. Eu definitivamente estou morta.
- Encontrei ela. - O homem avisa, atraindo atenção de todos.
Sthefanny a todo custo consegue se levantar, pressionando o machucado em sua testa com um pano.
- Apaga essa piranha. - Ela consegue dizer com a voz arrastada.
Meus olhos se fecham automaticamente assim que o cara volta a me segurar e o outro acerta um soco no meu estômago sem dó nem piedade. Arfo, em busca de ar enquanto caio de joelhos. Sinto meu cabelo ser puxado com muita força para trás quase deslocando meu pescoço, enquanto recebo socos. Tenho a certeza de que o homem não está usando toda sua força e nem está me acertando em lugares que me causariam uma dor insuportável.
Viro minha cabeça em direção ao chão, cuspindo uma grande quantidade de saliva misturada com sangue. O gosto metálico na minha boca me traz ânsia de vômito.
- Quero vê-la gritar de dor. - Sthefanny se aproxima meio zonza puxando meus cabelos da nuca para me fazer encará-la. Dessa vez ela mesma trata de me agredir com um soco na bochecha, por mais que esteja sentindo toda essa dor eu mantenho minha boca fechada.
- Deveria ter afundado seu crânio na parede... - Digo após receber um tapa que faz minha pele arder, isso só a incentiva a continuar.
Não resisto por muito tempo, já estava fraca e sem forças. Não precisaram de muito esforço para me apagarem, de fato. Antes de fechar meus olhos por completo pude ver Sthefanny tirando uma foto do meu estado. Não... Minha mãe não vai suportar mais essa merda... eu preciso...
O que será da nossa menina? Acompanhe o próximo capítulo com muita tensão em AM hihi. Na Malu ninguém toca!
Não se esqueçam de votar.
Beijos
Alice.