- Minha mãe falou com você sobre a coreografia? - Perguntei a Melanie no dia seguinte, assim que a encontrei na escola.
- Sim, na verdade quem me falou foi o Johnny.
- Tudo bem pra você, então?
- Tranquilo, por que não estaria? Não é como se eu fosse recusar um voto de confiança da Isabella Bullworty, por favor, estamos falando da melhor dançarina do mundo. - Melanie revira os olhos quando termina de falar.
- Certo, precisamos ensaiar muito.
- Tá, hoje na Bullworty após o horário das aulas você pode me mostrar a coreografia com o seu namorado lá? - Arregalo os olhos ao ouvir suas palavras, como ela sabe?
- Que namorado?! - Fecho a porta do meu armário lentamente, a encarando.
- Ah, por favor, Malu. Está na cara que você e o professor de street tem um lance. - Ela empurra meu ombro com um sorrisinho malicioso. - Ele é um gato, aproveita!
- Nós somos melhores amigos de infância.
- Eu sei, ele também é o melhor amigo do Johnny. Vocês três sempre foram inseparáveis. - Ela pega um caderno de capa vinho no seu armário, antes de fechá-lo. - Sempre desconfiei de vocês dois, eu entendo que estejam escondendo. Você é tipo, super famosa e ele agora é o seu professor. Fora que seus fãs apoiam demais, relaxa.
- Mas nós não...
- Malu, cala a boca gata. Eu não abrirei a boca para esse bando de inúteis fofoqueiros. - Ela começa se afastar. - Nos vemos nesse hospício, a propósito as Hillsleaders estarão animando o jogo de vocês hoje. - Ela balança a ponta dos seus dedos, acenando enquanto se afasta.
Fico paralisada no corredor observando ela se afastar com seu uniforme justo de animadora de torcida, ela parece tão menina vaca de filmes adolescentes. O tipo de garota que eu odiaria, bom, eu não gostava dela até poucos dias. Agora simplesmente simpatizei com ela, posso me acostumar com esse jeito, caso Melanie volte com o meu irmão.
- Ei, Ma, tranquilo? Era a Melanie Melissa aqui falando com você? - Desvio meus olhos do corredor, encarando o Carlos Eduardo e o Liam.
- Sim.
- O que ela queria agora? - Liam apoia seu braço na porta do armário da garota de quem estamos falando.
- Estávamos apenas conversando, normalmente.
Os dois se entreolham com expressões engraçadas, sincronizados os dois voltam a me encarar.
- Ela precisa ir para o hospital, o que você acha? - Carlos coloca sua mão nas minhas costas.
- Com toda certeza. - Liam concorda.
Os dois me seguram de forma desengonçada, fingindo estarem correndo.
- Vocês são malucos, sério. - Escuto a voz de Lexy.
- Me coloquem no chão seus palhaços. - Ameaço morder o braço do Liam, enfim os dois me colocam no chão. Cada um recebe um tapa fraco, de brincadeira.
- Você sabia que a Malu conversa com a Melissa "normalmente"? - Carlos pergunta mostrando sua indignação.
- Sabia. Elas são amigas agora, vocês não sabiam? - Minha amiga arruma as alças da sua mochila, lançando um olhar sugestivo ao Liam.
- A V.V.V. te drogou, né? Anda, pode falar. Aquela cretina... - Cadu anda de um lado para o outro, fingindo estresse. - Eu sabia que aquele jantar de ontem era furada.
- Parem com isso. Acreditem: Melanie é uma vaca, mas é uma vaca suportável e mal interpretada.
- Essa é mesmo a Malu? - Consigo ouvir o cochicho do Liam, quando o encaro ele se afasta bruscamente da Alexsandra.
É, talvez seja um pouco chocante para todos ver eu e a Melanie em uma conversa calma e amigável. Acho que toda a Hills City sabe que nunca nos demos bem, sempre deixamos bem evidente. Quase saímos no tapa uma vez. Seria de se estranhar mesmo, ninguém esperava. Nem eu.
- Vou fazer vocês engolirem a língua de vocês. - Resmungo.
- Urgh, que agressiva! - Carlos me provoca.
- Você não sabe o quanto. - Finjo cortar seu pescoço, me pendurando nele logo em seguida.
- Oh, meu Deus! Me ajudem, estou morrendo sufocado por uma... jogadora de futebol de elastano, com suas mãos macias e delicadas. Adeus mundo cruel!
- Lex, você conhece esses dois? - Escuto o Liam perguntar, com uma falsa sutilidade os dois vão se afastando.
- Eu não.
Eu e Carlos nos entreolhamos e corremos na direção dos dois, subo nas costas da Alexsandra e o Carlos nas do Liam; dessa forma vamos para a primeira aula.
- Hills Soccer! Hills Soccer! - Os garotos do time gritam animados, junto com as animadoras de torcida. Estávamos saindo do vestiário quando esbarramos com elas indo para o campo.
- Ganhem pelo menos, vou gastar minha voz com vocês. Façam valer a pena. - Melanie diz indiferente, após os garotos pedirem para elas gritarem bastante já que as animadoras da equipe rival parecem extremamente animadas.
- Ninguém é mais animado que nós, gracinha. - Katherine diz olhando de maneira presunçosa para o Cadu, ele imita o olhar feminino deixando a situação engraçada.
Olho para baixo com um sorriso nos lábios, hoje eu não estou tão animada. Tenho me sentido assim desde a Sthefanny. Ela me preocupa.
- Você está bem? - Melanie cochicha no meu ouvido, ergo a cabeça imediatamente.
- Ah sim, só preocupada.
- Você precisa melhorar essa cara, garota. Meninas sempre de cabeça erguida, ainda mais agora que você vai entrar em campo para jogar futebol sendo a única do sexo feminino ali. - Melissa coloca seu polegar no meu queixo, fazendo com que eu erga a cabeça. - Sem frescura no rabo, você joga muito e ama fazer isso, faça com vontade e feliz. Mesmo que esteja acontecendo algo de ruim, aproveite sua paixão.
Melanie tem um jeito esquisito de animar as pessoas, ela é fria mesmo se estiver dizendo as palavras mais dóceis do mundo. Faz parte do jeito dela, acredito eu.
- Você está sempre fazendo isso.
- Você também. - Ela pisca para mim, desfilando na direção das animadoras que foram em direção ao campo.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, voltando minha atenção para os meus meninos.
- Vamos lá, time? Prontos para dominarem aquele campo? - Coloco meus braços em volta do ombro do James e do Liam.
- Só cumpram com a obrigação de vocês: vençam! - Reviro os olhos com a frase do treinador. - Se quiserem continuar no campeonato.
Corremos em direção as portas duplas que dão para o campo, as animadoras estão se apresentando agora. Sorrio orgulhosa delas, a coreografia está incrível. Quando elas finalizam eu grito e aplaudo junto com as diversas pessoas nas arquibancadas.
- Malu, você está em qual posição? - Escuto um dos reservas perguntar.
- Ataque, centro.
- Bom, se eu fosse você eu tomaria cuidado. Olha o tamanho do cara que vai te marcar.
Olho na direção que ele apontou. Não consigo controlar minha expressão de choque ao notar o tamanho desse garoto, se é que isso é um garoto. Ele parece ser ainda mais alto que o meu pai, e ele tem tantos músculos que o fazem parecer ainda maior.
Beleza. Quero ver se eu dou conta desse cara e mais os outros que provavelmente vão vir me marcar também.
- Vocês tem noção que isso é um jogo eliminatório, certo? As oitavas de final, oitavas. Ouviram bem? Então, se vocês quiserem vencer esse campeonato é melhor ganharem, é uma partida muito importante. - O treinador volta a pressionar. - Capitã? Podemos contar com você hoje ou vai fazer o time perder novamente?
- Vou fazer o que puder, treinador. Mas acredito que não devo carregar o time sozinha nas costas, estão todos aqui para jogar. Mesmo que eu não tenha marcado nenhum gol aquele dia ou ter tido um bom desempenho em campo, ainda tinham mais dez jogadores em campo. Só para lembrar. Ah e claro, um treinador que não sabe fazer outra coisa que não seja colocar pressão sem agir como um verdadeiro técnico não deve cobrar tanto assim de mim. Talvez devesse cobrar mais de si mesmo.
Os garotos cochicam entre eles, Carlos me lança uma piscadela assim como o Liam faz um joinha.
Antes que o treinador possa falar alguma coisa, sou salva pelo som da voz da diretora pedindo silêncio, avisando que os times vão entrar e o hino nacional da Inglaterra começara a tocar. Salva pela Darleane Wood.
Vou para a frente da fila, os jogadores que estavam faltando na equipe rival chegam agora, os
Youthres estão perfeitamente organizados e concentrados. Nenhum deles sequer vira a cabeça, todos olham para a frente sem mover a cabeça. Cruzes.
Em silêncio as duas esquipes entram ao mesmo tempo, parando bem no centro do campo para o hino começar.
Enquanto canto com a mão no peito eu olho na direção da minha família, o sorriso orgulhoso no rosto de cada um deles me faz querer sorrir, tio Duda parece tão encantado assistindo o filho em campo tão sério, assim como o meu. Mike está entre meu pai e o tio Miquéias, com o Peter nos braços; quando ele me pega o observando ele sorri. Seus lábios se movem dizendo algo que não consigo entender, tenho que me lembrar de perguntar a ele mais tarde. Sinto falta de apenas uma pessoa ali: Johnny.
Se o Mike conseguiu sair de Boltson e vir para cá o John também conseguiria. Será que ele vem? Ele me disse que não iria perder nenhum jogo meu, estará sempre me apoiando e apoiando o seu antigo time.
Ao fim do hino nacional cumprimentámos com um aperto de mão todos os Youthres e o juiz da partida de hoje. Venço no cara ou coroa, então começaremos com a bola.
Quando o apito soa eu passo a bola para o Danner, que avança alguns passos e toca para o Bradd. Quando ele recua com a bola, James chuta novamente para a frente, para o Danner. Quando meu colega avança, um dos dois Youthres que estava o marcando consegue deixar o jogo ao favor do seu time. Com os olhos seguindo a bola, cálculo quais movimentos devo fazer para conseguir ela de volta ao nosso favor.
Vai ser quase impossível tirar a bola deles agora, eles estão recuados, não estão avançando de uma vez. Suspeito de tanta cautela, quando é assim eles vão atacar de surpresa.
- Carlos, vai pra direita, ele vai ir pra lá! - Grito para o meu amigo escutar, consegui reparar que o camisa dois que está com a bola vem avançando disfarçadamente pela direita. Quando ele nota o Cadu, recua novamente.
Quando estou prestes a me irritar com a falta de atitude deles, eles avançam rapidamente, como eu já suspeitava. Mesmo se eu começasse correr agora não conseguiria chegar a tempo no garoto que está com a bola no momento. Nossa zaga deu bandeira, esquecendo de marcar ele. Sendo assim foi muito fácil para ele chegar no gol e marcar o primeiro da partida.
- Relaxa, dá para recuperar. - Digo para o Danner. - Toca pra mim quando você avançar, eu passo de volta para ti e você devolve para mim de novo, beleza? - Consigo pedir para o Danner antes do juiz apitar.
Fazemos exatamente o que eu disse a pouco, quando a bola chegou nos meus pés eu já estava próxima a área deles. Andei com a bola, analisando minhas opções; pelo canto do olho vi quando dois deles começaram a correr na minha direção. Decidindo na correria eu escolhi avançar em linha reta, vou ter que driblar de qualquer forma.
Giro com a bola no pé quando um deles avança bruscamente, se eu não virasse a tempo perderia a bola, mas consegui deixá-lo para trás. Corro mais um pouco, sendo impedida de continuar pelo zagueiro enorme deles. Levanto minhas sobrancelhas ao trocar um olhar com ele, sorrio quando o brutamontes me olha de maneira indiferente, como se eu não fosse capaz de passar por ele, está achando que vai me intimidar. Ele é grande demais, ocupa bastante espaço, mas como consequência tem os movimentos mais lentos.
Ergo minha cabeça ficando quase cara a cara com ele, esperando que tente pegar a bola com a proximidade e assim como eu imaginava ele tenta. Não seria boba de arriscar dar um chapéu em um cara desse tamanho, então preferi driblar ele com a bola no chão mesmo. Ao ver seu pé direito avançar na bola, eu troco ela para o meu pé esquerdo e chuto ela por baixo das suas pernas. Corro pela direita, passando por ele e recebendo a bola do outro lado, me animo com os gritos animados da torcida e as palmas.
Só preciso correr agora e vai ser apenas eu e o goleiro. Olho fixamente para o lado esquerdo do gol e chuto para o lado direito, fazendo o goleiro cair no meu truque e se jogar para a esquerda achando que eu iria chutar lá.
Um grito eufórico escapa dos meus lábios quando eu marco, que logo é abafado pelas comemorações. Caio no chão quando Liam sobe nas minhas costas para comemorar, os garotos fazem montinho em cima de mim, me fazendo gargalhar com a situação. Eu nem consigo acreditar que consegui marcar esse com tanta facilidade.
Quando meus meninos saem de cima de mim eu aponto para o meu pai, dedicando o gol exclusivamente para ele que está comemorando com o tio Scott e o Duda. Seu sorriso enorme faz meu peito se encher de orgulho, uma coisa que nunca senti antes, orgulho de mim mesma por ter conseguido proporcionar essa felicidade a ele que parece estar tão preocupado desde o retorno da V.V.V.
Não contenho meu sorriso debochado quando o brutamontes me encara como se eu tivesse acabado de roubar seu almoço. Eu definitivamente tenho que parar com isso, um dia eu ainda vou levar uma surra de alguém por causa disso.
No segundo tempo da partida, o jogo já está três a dois para nós. Dois gols eu marquei, o outro foi o Danner que conseguiu fazer de fora da área, um baita golaço.
A bola está nos pés do Liam agora, eu estou parada esperando eles avançarem. Na arquibancada eu vejo meu pai e meus tios gritando, me fazendo dar risada da cena cômica. A torcida no geral parece muito animada hoje.
Meus olhos circulam por todas as arquibancadas, porém meus olhos travam em cima do Johnny que está chegando agora acompanhado da sua mamãe do mal.
Puta que pariu, Johnny.
Não acredito que ele veio aqui com essa mulher sabendo que toda a nossa família estaria aqui. Merda, eles não podem se ver mesmo.
- Malu! - Escuto meu nome ser gritado, reparo que a bola está vindo na minha direção.
Eu preciso manter a atenção deles aqui no campo.
Com a bola nos pés tento voltar a me concentrar apenas na partida, driblo mais jogadores do que o necessário para chamar a atenção. Eu poderia chutar direto para o gol, mas passo a bola para o Bradd marcar o dele.
Com o último gol da partida marcado, os torcedores levantam e comemoram, assim nessa bagunça eu sei que eles não vão ver ela.
- A V.V.V. está aqui com o Johnny. - Murmuro para o Liam e o Carlos Eduardo.
- O quê?! Aqui agora? Ai meu senhor. - Os dois procuram por ela no meio da gritaria, rapidamente eu a encontro novamente quando ela sorri me apavoro com a possibilidade dela fazer algo.
Com o jogo finalizado, eu pulo as grades e corro até a arquibancada junto com os meus dois amigos.
- A Sthefanny está aqui. - Murmuro no ouvido do Mike - Com o Johnny.
- Ele ficou maluco?
- Ele ficou cego. - Corrijo. - Não solta o Peter por nada nesse mundo, por favor, Mimi, se alguma coisa... - Paro de falar quando meu pai se aproxima para me dar um abraço orgulhoso.
- Essa é a minha garotinha. Foi uma partida incrível.
- Obrigada, pai.
Escuto cada palavra que minha família diz sobre a partida, mas simplesmente não absorvo nada. Estou concentrada em achar os dois.
- Vou falar com a Lexy.
Desço correndo, em busca da minha melhor amiga. Encontro ela no campo junto com a Melanie, as duas estão caladas observando as pessoas.
- A Sthefanny está aqui. - Seguro o braço da minha amiga.
- A mãe do Johnny? - Melanie entra na conversa.
- É. Ela pode fazer algo agora, nós precisamos manter nosso pessoal longe dela. O John está com ela agora. Eu não posso ir porque meus pais vão notar.
- Eu vou falar com o Johnjohn. - Melanie se afasta antes que eu possa dizer algo. - Vamos conhecer a sogrinha do mal.
- Cala a boca, Melissa.