Meu sonoro passarinho
se sabes do meu tormento,
e buscas dar-me, cantando,
um doce contentamento,
Ah! não cantes mais, não [cantes,
se me queres ser propício;
eu te dou em que me faças
muito maior benefício:
Ergue o corpo, os ares [rompe,
procura o porto da Estrela,
sobe à serra e, se cansares,
descansa num tronco dela.
Toma de Minas a estrada,
na Igreja Nova, que fica
ao direito lado, e segue
sempre firme a Vila-Rica
Entra nesta grande terra,
passa uma tormosa ponte
passa a segunda; a terceira
tem um palácio defronte,
Ele tem ao pé da porta
uma rasgada janela
é da sala, aonde assiste
a minha Marilia bela.
Para bem a conheceres
eu te dou os sinais todos
do seu gesto, do seu talhe
das suas feições e modos.
O seu semblante é redondo,
sobrancelhas arqueadas
negros e finos cabelos
carnes de neve formadas.
A boca risonha e breve
suas faces cor-de-rosa,
numa palavra, a que vires
entre todas mais formosa.
Chega então ao seu ouvido,
dize que sou quem te mando
que vivo nesta masmorra
mas sem alívio penando.
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Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810)
Poema pertencente ao estilo do aracdismo.
Imagem: Elisabeth von Eicken