III - Liberdade Para Irrecupe...

By ThallesTerassan

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Da sequencia de Rebelião dos Irrecuperáveis, Pandora Moon, 28 anos, castigada pelo passado agora se vê fazend... More

Comunicado da diretoria
Prólogo
ATO 1
ATO 2
ATO 3
ATO 4
ATO 5
ATO 6
ATO 7
ATO 8
ATO 9
ATO 10
Especial 10k
ATO 11
ATO 12
ATO 13
ATO 14
ATO 15
ATO 16
ATO 17
ATO 18
ATO 20
ATO 21
ATO 22
ATO 23
ATO 24
ATO 25
ATO 26
ATO 27
ATO 28
ATO 29
ATO 30

ATO 19

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By ThallesTerassan

Querer a verdade é confessar-se incapaz de a criar.

      O sol estava começando a surgir, pincelando e mesclando o céu em um tom laranja, com o azul bebe. As nuvens brancas foram atingidas pela cor intensa dos raios ultravioleta e agora mais parecia a pintura de um belo quadro do que a paisagem celeste. O tigre ficou completamente visível devido a luz que alastrava-se. Ele paralisou por um tempo, olhando-me com seus olhos pequenos e negros. Tudo em minha volta ficara em borrões, focalizando apenas nele. Frente a frente com uma besta sobrenatural, um velho companheiro de batalha.

      O impossível era mesmo possível. Agora só restava saber se iríamos ter o mesmo destino que Joice e os demais cadáveres no campo. Antes que pudéssemos reagir, a conexão de olhares fora interrompida quando o tigre olhou para o casarão. O primeiro andar dali estava sendo consumido por grandes labaredas.

      — DROGA! AS CRIANÇAS ESTÃO LÁ DENTRO! VOU BUSCA-LAS, FIQUE LONGE DO TIGRE! — alertei a Brok.

      Seria uma missão complicada, depois de toda a batalha que tivemos, meu corpo já estava muito debilitado, piorando qualquer possibilidade de tal resgate. Pior se eu conseguisse salva-las e me deparasse com Brok morto pela criatura quando eu voltasse. Duas crianças indefesas, ou um amigo cego.

      — Deus, eu só queria ir para casa — resmunguei.

      Entrando pela cozinha, um bafo quente me atingira. Já não conseguia respirar direito. As chamas produziam uma fumaça escura, castigadora. Minha pele ardeu e meus olhos lacrimejaram. O sitio era feito com paredes de madeiras, um prato cheio para o fogo. A sala já estava irreconhecível, tudo fora engolido pelas chamas, inclusive, a maldita vitrola e o pavoroso tapete de centro.

      Meggie e Eleonor não estavam ali.

      Subi as escadas com um dos braços tampando a vista. Meus pulmões pareciam explodir a qualquer instante, a falta de ar puro me deixara com tontura. Se eu não morresse queimada, morreria por intoxicação. Agora não dava mais para voltar.

      Um estrondo surgiu logo atrás, o teto da cozinha acabara de desabar, aumentando o nível de fumaça preta e dando mais espaço para as labaredas. Continuei subindo os degraus até chegar no corredor de quartos. Um buraco se abriu no meio do piso impossibilitando minha passagem para além dele. Eu escutava os gritos de Eleonor pedindo ajuda vindos de seu quarto.

      — ELEONOR, MEGGIE! — Gritei a elas. Eleonor apareceu no corredor, aos prantos.

      — Fomos atacadas! Meggie... ela tentou matar uma daquelas crianças selvagens e incendiou tudo! Está desmaiada! — soluçava a garota. Prendi a pouca respiração que tive, dei três passos para trás e joguei meu corpo para frente, pulando o buraco e espatifando-me do outro lado. Após aquilo, minhas tosses aumentaram. Me senti em um oceano, sendo puxada para o fundo, afogando-me lentamente, mas no lugar da agua, fogo. Mal conseguia falar. As chamas já haviam alcançado o andar de cima, portanto me levantei rapidamente e entrei no cômodo onde Meggie estava.

      — Temos que pular a janela! Pegue todos os lençóis do guarda roupa, faremos uma corda — ordenei a Eleonor. Com muito agilidade, a criança arrancou da cama o lençol e puxou das gavetas todos os tipos de tecidos amarráveis. Usamos camisetas para tapar nossas bocas enquanto dávamos nós, juntando os lençóis e outras peças. Terminamos a corda e amarramos na perna da cama. A janela já estava aberta quando a arremessamos para fora.

      — Meggie! Meggie! Acorde! Por favor! Acorde! — exclamou Eleonor, porém ela nem se quer mexia as pálpebras. Não tínhamos muito tempo para nada, então afastei a garota do corpo de Meggie e com ambas as mãos pressionei sua caixa toráxica. Fiz isso três vezes, mas eu estava longe de ser uma enfermeira. Senti o seu pulso e as batidas de seu coração estavam normais — Pan? Ela morreu?

      — Não, mas a fumaça a debilitou, ela não vai acordar tão cedo. Eleonor, vá você primeiro — concluí.

      — Mas e vocês?

      — Eu vou carrega-la nas costas, desceremos juntas, portanto, vá!

      O ambiente estava cada vez mais insuportável, nossos corpos suavam tanto que as roupas já estavam úmidas. Eleonor não perguntou mais nada, sua expressão aflita desaparecera e no lugar, uma seriedade surgiu. Ela ficou olhando para nós e permaneceu parada.

      — VAI LOGO!! — Gritei.

      — A corda não vai resistir se as duas descerem juntas. Pan, eu fico.

      — O que? Depois de eu ter arriscado minha vida para vir até aqui te salvar?

      — Eu perdi tudo de novo... E de qualquer forma, eu não ia durar muito mais tempo. Vou ficar aqui e segurar a corda. Não é muita coisa mas é sua única chance — Eleonor não parecia arrependida. Estava decidida e confiante. Pela forma que disse, nada mudaria sua opinião e não havia muitos motivos para faze-la pensar o contrário. Com seu braço esquerdo, ela tirou de sua cabeça o lenço vermelho que usava e estendeu para mim.

      — Quando Meggie acordar, diga para ela que fui eu que dei, e peça para que me desculpe por todas as vezes que eu a chamei de esquisitona e antipática, por favor — Seus olhos brilhavam. Eleonor continuava séria, não chorava e não demonstrava nenhum tipo de afeto para com Meggie, entretanto, em seu momento final se redimiu, fechando todas as pendências que tinha em sua mente.

      — Você tem certeza que não quer vir? Posso te segurar lá de baixo caso eu consiga sair — perguntei esperançosa.

      Eleonor sorriu e acenou negativamente com a cabeça.

      Peguei o lenço de sua mão, coloquei no bolso e puxei Meggie para as minhas costas. Sem olhar para trás, me apoiei na janela, usando a pouca força que me restava, carregando além de uma criança, uma promessa.

      Parando para pensar, realmente haviam muitas coisas bonitas nesse sitio.

      Uma delas era a vontade de ser feliz. A vida aqui era apenas um plano de fundo. O que importava era a busca por esse sentimento. Morrer ou viver, tanto faz como tanto fez. Crianças fadadas a sofrer, só porque o destino quis. Ao contrario dos alcoólatras do bar do Ted, as crianças do Golden Asylum desfrutavam da felicidade de uma forma verdadeira. O sofrimento não as impedia. Amanda dominava a felicidade como ninguém, Dianna era feliz consigo mesma, sem crises existenciais para derruba-la, Wendy, sacrificava-se pela felicidade das irmãs, Meggie usava a vontade de fugir como uma chance de ser feliz e Eleonor ao ver que este sentimento precioso se desintegrara junto com o lar que morava, decidira se desintegrar junto.

      Quem era eu para julgar alguém ali? Decidir quem morre ou quem fica. Nem mesmo Deus as vezes gosta de intervir, imagino. Eram crianças corajosas, eu aprendi um pouco com cada uma, mesmo em um tempo tão curto. Talvez o tempo seja tão precioso quanto a própria felicidade.

      Minhas mãos latejavam de dor e meus braços poderiam partir que eu já não os sentia mais. Desci a corda lentamente, com os pulsos firmes e Meggie sustentada pelas minhas costas. Ela não pesava muito por ser uma criança consideravelmente pequena, então a locomoção de meu corpo não estava tão maçante. Ao chegarmos perto do solo soltei a corda e caímos duras no gramado. Pela queda, a garota acordara repentinamente, tossindo. Eu, não muito diferente de sua situação, permaneci um bom tempo deitada, colocando o máximo de ar limpo para dentro de meus machucados pulmões.

      — Onde está Eleonor? — questionou ela ao diminuir a tosse.

      Acenei com a cabeça negativamente. Não tive forças para dizer o que tinha acontecido mas esperta do jeito que era, Meggie entendeu muito bem. Juntas, observávamos o casarão dando seu ultimo suspiro e tampado por completo pelas chamas altas.

      — PAN! Onde você está? Diga alguma coisa! — Disse Brok caminhando lentamente em minha direção. Quando virei o pescoço para enxerga-lo, vi que o tigre permanecia no mesmo lugar.

      — Aqui... estamos aqui — respondi cuspindo uma saliva preta, vestígios da fuligem que penetrara meu corpo. Brok captou a informação e nos ajudou a levantar, estendendo seus braços que estavam intactos, ao contrario de suas pernas e pés.

      — Vocês estão bem? — perguntou me abraçando — A resposta permaneceu em silencio. Nós duas estávamos devastadas. Ao me levantar, senti um estalo na perna direita, fazendo-me desequilibrar e cair novamente. Meggie tentou me levantar, mas a mesma também não estava em boas condições, caindo junto comigo. Brok se ajoelhou e alcançou meu rosto, acariciando-o — Como vamos continuar com vocês duas nesse estado?

      — E... e se eu não continuar, Brok?

      — Você precisa.

      — Não necessariamente.

      — Sim, você precisa.

      — Porque..?

      — Porque muitas vidas estão em jogo.

      — Não sou um super herói. Você é?

      — Não.

      — Então pronto. Eu não sinto que posso... cof, cof... continuar seguindo se nem mesmo sei o que esta acontecendo. As coisas nunca ficaram tão confusas como estão agora e de qualquer forma, já quase não sinto minha perna direita, vou ser um peso morto. Pegue a Meggie e sobrevivam por mim.

     — É desanimador demais pensar que a mais forte e corajosa do grupo, dizer esse tipo de coisa. Mas se eu e Feen fizemos tudo isso, é porque nós ainda acreditamos em você.

      — Tudo isso... o que? — questionei intrigada.

      Brok estava mais serio do que nunca.

      — Feen se aliou com um velho conhecido. Precisamos encontra-los do outro lado da cidade além da floresta — concluiu, afastando a mão de meu rosto e levantando-se. O rapaz respirou fundo — Não é o melhor momento, mas você precisa saber de algumas coisas que escondemos de você.

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