- O campeonato já é nosso. - Carlos grita correndo em direção as arquibancadas. Eu salto pela grade e corro até minha família.
- Jogaram muito.
- Johnny! - Me jogo nos braços do meu irmão dando o abraço mais apertado que consigo - achei que não fosse vir.
- Qual é? Eu que te ensinei jogar, sempre vou estar nos seus jogos.
- Oh! Você é tão fofo - aperto as bochechas dele.
- Parabéns pelo golaço que você marcou nesse finalzinho, filha. - faço um high five com meu pai.
Sinto dois braços fortes me abraçando por trás e me tirando do chão. Já até sei.
- Mike! Eu vou ficar tonta!
- Mais?!
- Idiota.
Ele me coloca no chão e me vira pela cintura, me deixando de frente para ele. Eu sorrio e passo meus braços em volta do seu pescoço o abraçando. Me sinto confortável e extremamente familiarizada com o gesto.
Você está mentindo para si mesma.
As palavras do Johnny ecoam pela minha cabeça.
- Terra chamando Malu, Maluu. - balanço minha cabeça e encaro o rosto do meu amigo que está a poucos centímetros de distância do meu.
As coisas não deveriam estar acontecendo assim com o Mike, não mesmo. Esse... clima, não deveria estar rolando. É errado, é esquisito e confuso. Isso não deve acontecer de forma alguma. Essa... atração (?) não pode acontecer.
- Depois eu falo com vocês, - beijo a bochecha do meu irmão Peter, evitando olhar para o Mike - preciso de um banho agora.
- Eu e o John vamos te esperar no estacionamento, como sempre.
- Não precisa. Leva nosso carro, mano. Vou pegar uma carona com o Cadu.
- E vai abandonar seus dois melhores companheiros?
- Eu falo com vocês em casa, é que vou demorar um pouco aqui. Podem ir.
Desço os degraus da arquibancada praticamente correndo, cumprimento algumas pessoas que acenam para mim durante meu percurso ansioso até o vestiário feminino. Antes de entrar de baixo do chuveiro eu mando uma mensagem para o Carlos.
- Você parece preocupada - Carlos comenta enquanto dirige.
- Eu estou muito cansada, acho que amanhã nem vou conseguir levantar.
- Por que?
- Estou a semana inteira ensaiando, tem os treinos, as aulas de dança e hoje o jogo. Ficou um pouco pesado pra mim.
- Tem isso, época de espetáculo chegando né?
- É.
Fora as preocupações que tem rondado minha cabeça.
- Hoje o jogo foi tão sem graça. Era como se estivéssemos sozinhos em campo.
- Não se preocupe, as coisas vão ficar bem mais difíceis, acredite.
- Sei disso. Estou ansioso para jogar contra a Teneford e dar uma surra no Forbes.
- Bom, eu também pretendo fazer isso.
- Ele merece pagar por ser uma pessoa tão vazia e por ter magoado você, foi a pior coisa que ele poderia fazer.
- Ele teria me magoado se eu o amasse, ele apenas me irritou. Eu nunca amei ele e sabia disso.
- Então por que estava com ele?
- Eu não sei, aconteceu tudo de uma maneira muito louca. Talvez eu estivesse carente desse tipo de atenção.
- Se ficar carente de atenção outra vez eu estarei aqui. - Ele estaciona na frente da minha casa.
- Dá para parar de dar em cima de mim, Carlos Eduardo? - Ele dá risada junto comigo.
- Não posso evitar, é mais forte do que eu. Você é linda e uma pessoa incrível.
Por que diabos eu não sinto quando estou com o Cadu, a mesma sensação de desejo e atração de quando estou com o Mike? Eu tenho que parar de sentir isso.
Será que eu não sinto isso pelo Carlos é por nunca ter beijado ele? Talvez eu devesse beijar ele para descobrir?
Não, Malu, que droga. Isso seria completamente errado, principalmente com o Carlos.
- Você é fofo, obrigada pelos elogios. - tiro o cinto de segurança.
- Com o que você anda tão distraída, Malu?
Ele reparou.
- Eu estou sentindo algo que não deveria estar sentindo.
- Sentindo o quê?
- Eu não sei direito, é uma mistura de atração e desejo.
Seu rosto parece se iluminar. Hein?
- Eu sei o que você está sentindo, eu também sinto.
Espera, o quê? Carlos está prestes a me beijar, ele se inclinou e está ao ponto de encostar nos meus lábios. É como se ele estivesse pedindo permissão.
Eu deveria beijar ele? Talvez se acontecer eu tire o Mike da cabeça.
Eu não sei o que fazer, estou completamente sem reação.
Me surpreendendo, Carlos considera meu silêncio como um não e se afasta. Por alguma razão idiota e estúpida, no calor do momento eu mesma me inclinei e beijei o meu melhor amigo.
Inicialmente ele ficou em choque e paralisado, depois Carlos pareceu sair do transe e me beijou de volta.
Foi diferente.
Eu não senti nada.
- Ai caramba... - nos afastamos - Eu... Bom, eu não sei o que te dizer.
- Nem eu, foi uma coisa do momento.
- Eu sei, relaxa. Não vou me apaixonar por você e te dar a chance de partir meu pobre coração.
- Idiota!
Ele gargalha.
- Se bem que vai ser difícil não me apaixonar depois desse beijo.
- Olha Carlos, cala sua boca! - Não consigo ficar séria - Valeu pela carona.
- Nos vemos.
Saio do carro do meu amigo me sentindo estranha pelo o que acabei de fazer. Eu tenho que parar de ser impulsiva. Ao que tudo indica não vai ficar um clima pesado entre nós dois, para mim foi um beijo estranho como se eu tivesse acabado de beijar meu irmão.
Eu detesto admitir mas acho que só o beijei para tentar tirar da minha cabeça essa vontade maluca e inexplicável de beijar o Mike.
Eu estou totalmente errada. Minha atitude foi completamente errada.
- Era o Carlos no carro com você?
Viro minha cabeça na direção da minha casa. Johnny e Mike estão sentados no capô do carro que está estacionado bem na frente de nossa casa.
Porcaria... Será que eles viram algo?
- Era, por que?
- Vocês estão ficando? - As perguntas estão vindo apenas do meu irmão, Mike apenas observa a cena com um olhar indecifrável.
- Ficando? Carlos e eu?
- É, foi o que pareceu.
É, realmente óbvio que eles viram tudo. O vidro das janelas deveriam estar abertos. Tudo bem que é o Johnny e o Mike, meus fiéis companheiros e melhores amigos. Entretanto é esquisito e quase constrangedor para eu saber que eles presenciaram esse momento privado.
- Você o pegou de surpresa.
- Foi coisa do momento, sério. - encolho meus ombros. - Aliás, vocês não deviam ter visto isso.
- Não queria, mas vocês meio que vacilaram. A sua sorte que não foi nenhum fofoqueiro, já pensou se vaza uma foto de você dando uns pegas no seu melhor amigo? Outra vez, porque já aconteceu.
- Ok Johnny, ok. Fugindo do assunto, o que pretendem fazer agora?
- Estávamos esperando você chegar para sairmos os três, como nos velhos tempos.
- Opa, demorou!
- É, então vamos logo porque eu não tenho o dia todo - Mike se manifesta pela primeira vez desde que cheguei. Observo ele até o momento que ele entra em seu carro.
- O que deu nele? - Cochicho para o meu irmão
- Tenho uma pequena ideia - ele sorri de uma maneira quase maliciosa, não me diz o que é apenas entra no carro antes que eu possa perguntar.
Abro a porta traseira e entro, colocando minha cabeça entre os dois bancos da frente.
- Onde vamos?
- O que nós sempre fazemos quando saímos os três? - meu irmão rebate.
- Fast food?
- Sem dúvidas!
Estico meu braço até o porta-luvas do carro, Mike costuma colocar nossas - minhas e dele - balinhas favoritas ali ou às vezes ele troca pelo "nosso" doce, M&M's, em trocadilho com as nossas iniciais M e M; por isso o colocamos como nosso quando eu tinha oito e ele onze para doze anos, senão me engano.
- Eu amo você por isso - balanço o pacote de M&M's entre meus dedos.
Mike está chateado, nosso doce é sempre algo que nos faz sorrir. Porém isso não acontece e ele permanece sério, como um adulto maduro. O que ele realmente é, mas não necessariamente comigo e com o Johnny.
- Mimi, o que foi? Fala comigooo - coloco minhas mãos no seu braço esquerdo tendo em mente que ele não está usando a mão esquerda para dirigir, apenas a direita está no volante. - O que eu te fiz?
- Nada, Malu.
- Ai está vendo?! Você me chamou de Malu, você nunca me chama de Malu, nunca mesmo.
- Eu tenho um palpite do que possa ser - Johnny entra na conversa.
- Johnny cala a boca. - Mike resmunga.
- Olha significa que estou certo!
- O quê? Me conta isso ai.
- Então, maninha...
- Johnny - Mike grunhi - fica quieto, eu achei que você fosse levar essa história de maneira mais madura.
Meu irmão coloca a mão no coração como se estivesse profundamente ofendido.
- Está me chamando de imaturo?!
- É cara, acho que ele está.
- Qual o problema dos irmãos Willians hoje? - vejo uma sombra de sorriso no rosto do Mike.
Fico de joelhos no banco e passo quase todo o meu tronco por cima do freio de mão, sorrindo para ele de maneira quase assustadora.
- Um beijinho e M&M para curar o mau humor - coloco três M&M's na ponta dos meus dedos - um azul, um amarelo e um verde - e me inclino para beijar sua bochecha, quando meus lábios tocam sua face ele já se rende e sorri. Pra finalizar espero ele parar no sinal vermelho antes de colocar os três doces redondos e pequenos em sua boca.
- Vocês são absurdamente fofos assim, quem vê pensa. - escuto o Johnny dizer.
- Viu como se cura um amigo?
- Também me curaria se a Melanie fizesse isso comigo.
- Ah, que nojo!
- Você perdeu a conversa dos dois hoje - Mike comenta, acelerando o carro.
- Ela estava chateada depois que vocês dois transaram e você saiu sem se despedir? Parecia muito.
- Ela não queria demonstrar, mas estava. Eu não fiz por mal, mesmo, me senti até uma pessoa má por isso.
- Se você me disser que pediu desculpas eu te jogo pra fora do carro agora mesmo.
- Não pedi.
- Com palavras não, mas você tinha que ver a expressão no rosto dele: "Querida Mel, me desculpe por ter te abandonado depois que transamos loucamente, me sinto péssimo por isso, mesmo depois de você ter terminado comigo sem nenhum motivo, uma semana depois de eu ter tirado sua virgindade e você a minha".
- Oh, meu Deus! Vocês precisam se casar e ter filhos. - Ironizo, dando um tapa na cabeça do meu irmão - Não dá bandeira pra ela não, você sabe o que ela te fez.
- Eu acho que teve um motivo, eu só não sei qual. - Johnny defende.
Ele pode dizer o que for, pode dar o argumento mais válido do mundo a favor dela. Mas eu jamais vou ser capaz de aceitar ela como namorada dele novamente. Eu vi o que Melanie causou nele, vi ele chorando por semanas, vi ele cabisbaixo e calado por semanas! Eu até tinha chegado a pensar que ele nunca mais voltaria a ser o mesmo. Eu, Mike, Lexy e meus pais fizemos de tudo para fazer ele superar; só nós sabemos o quão horrível foi ver o garoto mais risonho e simpático da casa se transformando em alguém deprimido e triste, que nem saia do quarto. Eu daria minha vida para não ver John naquele estado novamente, daria sem pensar, não só por ele, mas para qualquer outra pessoa que eu amo. Johnny é uma pessoa sensível.
Então se ele acha que defender ela e me trazer a melhor defesa do mundo vai me fazer esquecer o que Melanie fez, está muito enganado. Mesmo que na época Melanie parecia estar completamente apaixonada por John e que na semana seguinte em que ela terminou com ele, ela também pareceu estar péssima. Não me convenceu.
- Aquele dia da festa foi uma recaida, Johnny. Eu nunca achei que fosse dizer isso: mas foi bom você ter decidido ir embora de Hills, pelo menos assim não precisa mais ver ela e correr o risco de vacilar mais vezes.
- Foi uma coisa casual, que ambos queriamos. Só isso, eu não estou nas mãos dela novamente.
- Eu espero que não esteja mesmo. Ela tem uma vagina de ouro e ejacula purpurina? Não, não tem e não faz isso. Então vai atrás de outra.
Assim que termino minha frase Mike deixa uma gargalhada contagiante escapar.
- Malu, seu vocabulário está péssimo. - Eu me jogo para trás dando risada, até minha barriga doer. - Eu amo o quão direta você é.
- Agora vocês dois estão impossíveis.
- Eu diria que nós três estamos. - Mike diz.
- Nosso trio sempre foi assim, meninos.
- E sempre vai ser, menina - Johnny aperta meu nariz. - Independente do que aconteça nós três sempre vamos ser amigos, nós já brigamos tanto mas ainda assim nada nos separou.
- Nossa amizade é foda, querido John. Nada vai ser capaz de destruí-la.
Não se esqueçam de votar.
Beijos
Alice.