- Impossível, eu sou incapaz de fazer isso. Jamais, nunca.
Isabella Bullworty e Davi West, os dançarinos reais, acabaram de nos mostrar a coreografia que eu e o Mike devemos fazer. Com menos de quinze segundos de coreografia eu já estava desistindo.
- Nada que você já não tenha feito antes, Malu. - Minha mãe diz, saindo da sua pose de Isabella Bullworty, a dançarina profissional.
- O Mike nem me aguenta, imagine se ele for me jogar para cima duas vezes seguidas. Tadinha de mim!
- Nossa! Obrigado pela confiança - Mike empurra meu ombro de leve, me fazendo dar risada.
- Vamos começar. Posição de início. - Davi manda com sua voz afeminada.
Que eu não quebre um braço, com muitos ensaios talvez eu consiga fazer os passos que Isabella acabou de mostrar.
Mike se abaixa como se estivesse em genuflexão, me aproximo dele, colocando meu quadril em seu ombro e curvando minhas costas para trás, com os braços esticados.
- Eu vou cair, segura minha perna direcai, Mimi. - Resmungo, sentindo o sangue descendo para minha cabeça.
Mike segura com firmeza meu tornozelo e minha coxa, quando sinto segurança eu estico a outra perna deixando ela totalmente reta na direção do teto.
- Sustentem! - Vejo minha mãe se aproximando de cabeça para baixo - agora, Malu, você vai abaixar a perna e passar ela pelo outro ombro dele. E você Mike, vai segurar as pernas dela e se levantar.
Fazemos o que ela pede com facilidade.
Progresso!
Parece mais fácil fazer esses tipos de passos com o Mike, porque eles exigem confiança e isso eu e o Mimi temos de sobra um com o outro.
A cabeça do Mike está entre minhas pernas enquanto minha mãe nos dá as próximas instruções.
Assim que vi essa coreografia soube que teria problemas para executar alguns passos. Sabia que eu cairia no chão, só não imaginei que fosse tantas vezes. O bom é que na maioria das quedas o Mike estava embaixo para amortecer, talvez a parte pior tenha sido a dele.
Quando conseguimos chegar na metade da coreografia, minha mãe e o Davi decidiram limpar tudo o que já havíamos passado. Ficando apenas o final para pegarmos e ensaiarmos perfeitamente.
Eu estou quebrada, definitivamente dolorida.
- Você acabou comigo, Mike. Mal consigo andar.
- Eu acabei com você? Você acabou comigo! Ficava caindo em cima de mim a todo instante, fora a quantidade de vezes que eu tive que te levantar, jogar para o alto e segurar de novo. Você pensa que não pesa?
- Obrigada por me chamar de gorda.
- De nada, Maluquinha. - Ele tira uma de suas mãos do volante e segura a minha para depositar um beijo nela.
Rolo os olhos e empurro o rosto dele, sem muita força.
Estou sentindo cada músculo das minhas pernas dolorido, nós estavamos a mais de quatro horas ensaiando sem parar, fora que eu cai várias vezes. Se ensaiarmos assim todos os dias vai sair perfeito, mas tem que ser nesse mesmo esforço.
- Você fica tão fofa quando está dedicada a conseguir algo. - Mike diz.
Estamos a quase uma semana ensaiando sem pausa, mesmo hoje, sexta-feira, dia do primeiro jogo do campeonato, nós decidimos ensaiar.
- Vamos passar mais uma vez? - Me aproximo da caixa de som no canto da sala - A última, juro.
- Ok.
- Nós precisamos arrumar aquele passo, que você me joga pra cima e me segura.
- Vamos tentar agora.
Pego impulso e deixo meu corpo duro para ele conseguir me segurar, a primeira vez que fiz esse passo no início da semana eu quase morri de medo e não conseguia fazer direito. Agora está definitivamente bem melhor, sem dúvidas. O Mike só tem que arrumar a forma com que ele vai me segurar de volta.
Sinto um breve frio na barriga ao ter o corpo lançado para o alto, que logo passa quando caio novamente nos braços do meu parceiro de dança. Eu não tenho mais medo do passo porque confio nele e sei que ele não vai me deixar cair.
Não havia notado que estava com meus olhos concentrados nos de Mike enquanto ainda estou em seus braços como uma princesinha sensível.
- Então... - pigarreio, descendo para o chão e quebrando o clima que se instalou ali. - Vamos com a música agora.
Como prometi, Mike e eu passamos apenas mais uma vez com a música. Nós dois já decoramos toda a coreogrefia, só nos resta aperfeiçoar.
- Vai assistir o jogo?
Pergunto ao Mike quando ele me deixa na porta da minha casa.
- E eu por acaso perco algum jogo seu? - Sorrio genuinamente. - Bom jogo, estarei na arquibancada torcendo por você.
Subo as escadas da minha casa correndo, vou direto para o meu banheiro tomar um banho e me preparar para o jogo. Me sento em frente ao espelho enquanto faço um rabo de cavalo bem alto, preso com dois elásticos bem apertados para não correr o risco de soltar durante a partida. Meu cabelo está tão grande, me dando uma vontade imensa de cortá-lo, Deus afasta essa tentação.
A camiseta azul, amarela e branca acompanhada do calção branco estão precisando ter o tamanho renovado. Eu pareço ter ficado ainda mais alta e com peitos maiores desde o ano passado.
Não consigo deixar de sentir uma sensação de orgulho ao colocar a faixa de capitã em meu braço. Ainda é meio surreal essa história toda.
Coloco meus meiões brancos, seguidos pelas caneleiras e chuteiras. Dessa vez não esqueço minha mochila com minhas roupas para colocar depois do jogo, nada de correr de toalha pelos corredores da Hills High School novamente. Antes de sair pego a jaqueta do time com meu nome escrito nas costas e a visto.
- Mãe? Pai? Já estou indo! - Grito do corredor dos quartos.
- Aqui na sala. - Minha mãe grita de volta.
- Daqui a pouco nós vamos também. - completa.
- Está linda assim, bom jogo minha princesa. - Meu pai diz.
- Você vai jugar hoje, Manu?
Me abaixo na frente do Peter, ele se joga em meus braços me dando um abraço gostoso.
- Vou, mas só se você torcer muito, muito pelo time e gritar bastante!
- Manu! Manu!
Gargalho com a fofura dele e aperto suas bochechas gorduchas.
- Isso ai, desse jeito. - Me levanto deixando ele no chão - Tenho que ir agora, tchau.
- Tchau! - ele acena freneticamente.
Saio de casa com o Pety torcendo e gritando "Manu" sem parar, acho que ele levou muito a sério.
Meu pai apenas sorri orgulhoso enquanto observa meu uniforme e a faixa em meu braço. Uma vez eu havia visto uma foto do meu pai no seu último jogo como capitão, com uma medalha de ouro no pescoço; minha mãe estava ao seu lado na foto usando a jaqueta do time do meu pai, ela tem até hoje e tem um cuidado especial com a peça.
Por sorte as ruas parecem tranquilas hoje não me fazendo correr o risco de chegar atrasada. Eu ainda sou meio novata nesse lance da direção, de maneira legal pelo menos. Eu aprendi dirigir com quinze anos com o meu irmão e o Mike, mas nunca dirigi porque ainda não tinha a idade mínima para dirigir aqui - dezessete anos -, consegui tirar minha carteira de motorista esse ano.
Ano passado, quando passei as férias de verão no Brasil eu dirigi escondido por lá, com o meu irmão, óbvio - já que no país só pode tirar carteira com dezoito anos. O que eu não sabia exatamente é que lá tinha algumas coisinhas diferentes daqui; começando pelo lado da direção. No Brasil a mão certa é a oposta da Inglaterra, com isso eu quase bati com o carro em um poste, sorte que consegui manter tudo sob controle e graças a Deus não aconteceu nenhum acidente drástico. Pelo menos agora eu sei a diferença. Essa foi a única vez que cometi uma gafe dirigindo, eu me dou bem com isso.
Os garotos da escola rival estavam reunidos próximos a entrada quando eu cheguei, eles sequer tentaram disfarçar os olhares em minha direção. Parecem todos nervosos, desde os jogadores às animadoras de torcida.
- Blakeway, bom jogo! - aceno para eles, deveria ser simpático. Na verdade foi mesmo, eu não estou sendo debochada mas foi o que pareceu.
- Obrigado.
- Malu Willians ou Malu Bullworty, né? - o mais baixinho do grupo pergunta.
- Willians Bullworty.
- Eu sempre quis conhecer você, o bom de cidade pequena é que você tem a chance de conhecer todos os habitantes, inclusive famosos. - levanto as sobrancelhas - Sou Sierra, capitã das ginastas aqui. Eu adorei a apresentação que você fez com as Hillsleaders.
- Quanta informação! - estendo minha mão para ela, dando risada - Muito prazer Sierra, fico feliz com isso. Obrigada, maas agora eu devo ir para falar com o time - aponto para o símbolo da equipe em minha camiseta - se eu me atrasar eles me matam. Boa sorte no jogo galera!
Como eu já imaginava fui a última a chegar, todo o time já está reunido em frente os vestiários. Antes de eu entrar para o grupo as reuniões antes do jogo costumavam acontecer dentro do vestiário masculino.
- Agora sim estamos completos. - Entro na rodinha dos garotos.
- Façam um bom jogo, é o mínimo que vocês podem fazer - não consigo disfarçar a expressão desgostosa que se forma em meu rosto diante da frase do treinador. - Pro campo!
- Aê Hills, brilhem hoje, mesmo se não ganharmos vamos nos divertir em campo.
- Foi fofo, Malu, mas são a Blakeway vamos ganhar fácil. - o nosso goleiro, Jimmy diz.
- Esperamos que sim. Hills Soccer? - Estendo minha mão.
- Hills Soccer! - sorrio quando todas as mãos vão parar em cima da minha.
Corremos em direção ao campo, para minha total surpresa as Hillsleaders estão aqui para torcer. Elas só torcem para os Tigers.
- Não acredito nisso! - Coloco minhas mãos na boca e abraço minha melhor amiga - Teremos as pompons conosco, que foda! Eu não esperava.
- Surpresa! - Roxy levanta os braços.
- Surpresa maravilhosa. - James coloca seu braço na cintura da Lexy, - beijo de boa sorte?
- Beijo de boa sorte! - ela concorda antes de ser beijada por ele.
É um beijo com direito a língua e tudo.
- Vocês são nojentos - Melanie resmunga.
- Concordo - viro minha cabeça na direção do Liam e não consigo deixar de sorrir.
- Ciúmes, Li? - sussurro no seu ouvido.
- Quê? Vai ser pega no antidoping.
- Sei, sei.
- Façam expressões intimidadoras, rivais se aproximando. - Carlos Eduardo sussurra para o time e as animadoras de torcida.
Como se fosse um pedido sério as nossas duas equipes parecem de repente absurdamente sérias e concentradas. Só parecem mesmo. Quem não conhece cai nesse teatrinho.
- Formação time.
Vou para a frente da fila, entrelaço meus dedos na frente do meu corpo. As animadoras da Blakeway são chamadas primeiro, elas realmente estão animadas para caramba. Porém quando as Hills entraram no campo pareciam triplamente mais animadas e acrobáticas do que a equipe rival. Não consigo deixar de gritar e bater palmas por elas; essas garotas são ginastas incríveis.
O hino nacional da Inglaterra começa a tocar depois que os dois times entraram em fila. Com a mão no peito eu cantei junto com todos, sorrindo ao avistar minha família na arquibancada, inclusive o Mike como ele havia prometido. O único que não veio é o Johnny, é a primeira vez que ele não vem.
Eu não quero admitir mas infelizmente eu sei que fiquei um tanto chateada por isso. Mas não tem tanta importância, o moleque deve estar atolado de trabalhos para fazer e não pôde vir para o jogo bobo da irmã.
Depois do hino eu e o capitão dos Blakeway nos aproximamos do árbitro amador para tirarmos cara e caroa. Ele ganha, por tanto o time dele começa a partida.
Vou para minha posição antes do apito soar. Fico andando pelo mesmo lugar enquanto os Blakeway seguram a bola de maneira recuada.
Troco um olhar com o Danner, incentivando ele atacar. Quando ele sequer ameaça chegar perto do camisa 9 o garoto já se intimida e toca a bola para seu colega.
Fala sério.
Deve ter passado um bom tempo, ao que parece, até eles decidirem atacar. Quando eles chegam na nossa zaga, o Liam com uma facilidade incrível consegue tomar a bola deles.
Finalmente o jogo vai andar, já estava ficando muito entediante.
Danner domina a bola com o peito, correndo em uma ótima velocidade até ser barrado por dois jogadores. Sendo obrigado a recuar a bola para o Carlos, que devolveu para mim. Ajeito ela em meu pé. Toda a defesa deles parecem entrar em desespero com isso e correm para me marcar, dou um jeito de driblar alguns o máximo que consigo; quase chegando na área do goleiro eu cruzo para o Bradd, que recebe bem e marca o primeiro gol da partida.
- Muito bom! - bagunço os cabelos dele enquanto somos esmagados por abraços empolgados.
- Isso vai ser fácil. Vamos marcar pelo menos mais três e depois ficamos mais tranquilos, apenas zoando em campo mesmo até acabar. - Danner aconselha, concordo com um aceno de cabeça.
Foi fácil marcar os outros três gols, só eu consegui marcar dois. Quando o Danner marcou o último, já estávamos na metade do segundo tempo. Carlos Eduardo começou a brincar com a bola fazendo foquinha para provocar os jogadores.
Eu me distrai tanto com o jogo que nem reparei quando o Johnny se juntou ao Mike na arquibancada. Não deve fazer muito tempo, só vejo ele agora. Com um sorriso no rosto eu aceno e mando um beijo na direção dos dois; Mike finge segurar o beijo e colocar no coração, tirando meu total foco do jogo fácil.
- Assim não, Carlos, só sustenta a bola com nosso time. Sem brincar com a cara deles, sério. - escuto James falar. Ele está com pena do outro time, eu entendo ele demais.
- Vou tentar marcar um daqui, passa, Cadu! - Danner grita do meio do campo, me fazendo dar risada.
Ele quase acerta a trave, infelizmente a bola passa para fora.
Nossa defesa bobeia e deixam ele marcar um único gol, o time sequer comemora. As animadoras deles até se sentaram, enquanto as nossas gritam eufóricas ainda.
- Vou tentar daqui também, vamos ver se tenho mais sorte. - digo ao receber a bola.
Fecho um olho e miro bem o lado esquerdo do gol. Os Blakeway estão tão desanimados que agora estão cagando para o final do jogo. Arregalo meus olhos quando vejo a bola entrar como uma bomba dentro do gol.
- Ai Meu Deus! Que cagada, eu não acredito nisso! - Minha risada nervosa é abafada pelo montinho que os garotos fazem em cima de mim.
- Pé de ouro, não é possível. - Liam resmunga de brincadeira.
Dez segundos depois o juiz anúnciou o fim da partida. Os Hills Soccer se juntaram as Hillsleaders em uma comemoração animada e divertida.
5x1 no primeiro jogo do campeonato, tenho certeza que o próximo não vai ser tão fácil assim.
Não se esqueçam de votar, por favor.
Beijos
Alice.