Lobos na floresta | Livro 1 (...

By fugitivadarealidade

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Epílogo
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By fugitivadarealidade

Sentimentos

Como havia dito, Aaron apareceu logo pela manhã, estava trajado em roupas simples mas elegantes, bem diferente da forma que Iani estava acostumada a vê-lo.

—Já está pronta?

—Sim.

—Mesmo?

Os olhos dourados analisavam, com certo desagrado, o vestido que mais se parecia com uma camisola. 

—Sim? — Iani se voltou para a própria imagem refletida no espelho oval  — Algum problema?

—Nenhum... vamos.

Sem pressa os dois se puseram a caminhar pelos imensos corredores, enquanto a jovem se perdia aos detalhes que antes deixou escapar Aaron ditava o destino de cada um deles como um guia turístico. 

—Acho que esse você já conhece.

Pararam em frente a um corredor estreito.

—Sim, se não me engano ele leva a uma espécie de refeitório.

—Vejo que é boa de memória.

Você não faz ideia.

—Vamos, ainda há muito para mostrar.

Conforme andavam Iani tentava ao máximo não ter muito contato com Aaron já que os pensamentos de ontem ainda martelavam na sua cabeça junto daquele sentimento estranho que fazia seu estomago tremer. 

—Tudo bem?

Preocupado Aaron estendeu sua mão na qual foi afastada por um gesto rápido da garota.

—C.claro!Por que eu não estaria?

—Se você diz — os olhos dourados se tornaram sérios —  Só não vá desmaiar de novo.

É o que menos pretendo...

Iani pensou enquanto acalmava o coração que batia forte em seu peito. 

A visita pela alcatéia foi longa. Mantendo uma certa distancia do seu guia Iani percorreu dezenas  de corredores conhecendo lugares incríveis e surreais que jamais havia visto antes, salões de festa, quartos iluminados por vitrais nos tetos, várias bibliotecas, não tão grandes quanto a que Aiko havia mostrado mas, igualmente abarrotada por livros além de saunas encobertas pelo vapor de águas quentes. Tudo era incrível e surreal, ainda mas para alguém que passou a vida em um casebre de madeira.

—Esse lugar é incrível!

—Pois é...

Mesmo que as novidades atraíssem a atenção de Iani como uma criança perdida nas tendas de um comércio ela não conseguia deixar de notar um certo incômodo vindo do seu anfitrião.

—Você está bem Aaron?

O grande líder a encarou como se risse ironicamente da sua pergunta.

—Me diga você.

—Não entendi...

Dessa vez seu olhar era sério.

—Está muito quieta, o que houve?

Ele percebeu... é claro que ele percebeu.

—Nada.

—Nada?

Sua insistência a deixava sem foco, ainda mais por conta daqueles olhos.

—Já disse que nada.

Aaron parou de andar, os corredores estavam vazios exceto por uma pessoa ou outra que cruzavam por eles, curiosos com a garota humana que ainda não haviam visto assim como a figura do seu líder em alas tão comuns do castelo, no entanto, ninguém ousava parar para fazer perguntas.

—Ok.

Foi a única coisa que Iani ouviu antes do homem a sua frente dar continuidade ao tour pela alcatéia. Em completo silencio ambos seguiram pelo longo corredor, cada um perdido nos próprios pensamentos, volta e meia podiam sentir o olhar um do outro sobre sí mas ninguém tinha coragem de quebrar o silencio. Se esforçando ao máximo para não pensar em nada que tivesse relação a ele Iani tentava trazer de volta qualquer lembrança que fizesse se esquecer do momento atual, no entanto, suas tentativas foram por água abaixo quando uma mão quente agarrou seu pulso.

—Já chega!

—Ei!O que está fazendo?!

Sem que tivesse respostas por aquela atitude repentina Iani simplesmente se deixou levar entre o labirinto de corredores até que a luz do dia preenchesse seus olhos junto do aroma da floresta.

—Aaron...

Seu pulso continuava preso por aquela mão forte.

—Ei!Calma!

Ignorando os protestos Aaron continuou até chegar próximo a um banco bem afastado da alcatéia frente a orla da floresta. Ao olhar para as árvores que se estendiam a sua frente mais uma vez Iani se sentiu estranha, era como se algo triste tomasse conta do seu ser e ela só fui sair daquele sensação quando Aaron soltou seu pulso ficando frente a frente com a garota.

—Será que agora pode me dizer?

—Dizer o quê? — estava confusa.

Ele se inclinou ficando próximo, muito próximo, seus olhos nunca estiveram tão perto, era como se quele dourado, de alguma forma, prendesse sua alma. Ou a trouxesse de volta.

—Sabe do que estou falando.

Iani não conseguia pensar em nada, apenas se concentrar em respirar.

—Por que está tão estranha comigo?

—Não estou estranha.

Uma faísca percorreu aqueles olhos dourados.

—Caminhamos por mais de trinta minutos e você não disse uma palavra sequer e ainda ficou a uns dois metros afastada de mim, com certeza tem algo estranho acontecendo.

Iani estava completamente surpresa, não fazia idéia de que ele fosse tão observador.

—Não quer estar perto de mim?

—Não é isso!

—Eu te assusto?

—Não!

—Então o quê é Iani?

Ela sabia o que dizer, ainda mais com ele tão perto.

—O que você tem?

—Eu, eu...

O sentimento estranho agora martelava dentro do seu peito ao ponto de fazer o sangue latejar em seus ouvidos, ela estava assustada, não pela atitude imprevisível de Aaron mas assustada consigo mesma.

—Está bem... — Aaron levou as mãos para o alto suspirando — A deixarei em paz se é o que quer, já sabe o caminho de volta...

Alguns segundos ainda se passaram antes que seus pés se movessem pela grama, Aaron também estava confuso, se sentia estranho, a atitude que tomara era uma prova disso junto ao incomodo por Iani não falar com ele, isso não era comum e havia começado desde o dia que salvou a humana na floresta, e, assim como ela, o líder da alcatéia tinha muitas perguntas mas, lá no fundo, ele sabia que aquilo não ajudaria resolver seus problemas. Se sentindo idiota por ter agido de forma tão precipitada Aaron simplesmente decidiu ir embora e esfriar a cabeça até que um calor repentino em seu pulso o impediu.

—Iani?

—Me desculpe, eu estava confusa — as palavras simplesmente saiam da sua boca — Acontece que é tudo tão novo para mim mas ao mesmo tempo tão... — ela respirou fundo, não sabia como descrever as sensações estranhas que sentia estando naquele lugar — Você não fez nada de errado, na verdade, fez muito por mim, obrigada, muito obrigada mesmo.

Por um breve momento Iani temeu que ele retiraria sua mão da dele mas para sua surpresa ela acabou sendo acolhida por um abraço apertado.

Por algum motivo não consigo ficar longe de você...

O baixo sussurro alcançou seus ouvidos fazendo algo se remexer dentro de sí.

Eu também não consigo...

Pensou enquanto absorvia o perfume das roupas que ele usava. Os dois passaram um tempo assim, em silencio, aproveitando o calor e acalmando a bagunça de suas mentes quando Iani decidiu se afastar com as bochechas quentes.

—Eu só estava preocupada.

—Preocupada com o quê?

—Eu prefiro não dizer...

Por que nem eu mesma sei...

Aaron ficou em silencio, aquela resposta não esclarecia muita coisa mas ele se contentou mesmo assim.

—Tudo bem — sorriu sendo retribuído com o mesmo.

...

—Então quer dizer que você morava em um casebre afastado do vilarejo?

—Sim.

Depois da confusão de pensamentos e sentimentos se acalmarem os dois se sentaram no banco ali perto para conversarem um pouco onde mal viram o tempo passar.

—Mas sabe — Iani fez uma pausa encarando o céu alaranjado onde alguns pássaros voavam —Até que não era tão ruim.

—Não? — Aaron parecia perplexo.

—Não — ela sorriu — Era humilde e fazia frio mas pelo menos eu tinha um lugar para dormir.

—Bom, então acho que não precisa das mantas e dos travesseiros que estão no seu quarto.

—Olha...não era ruim dormir com uma coberta de retalhos mas, eu não estou mais vivendo naquele casebre então... pode deixar as mantas lá, está bem?

Aaron riu.

—Está bem.

Aaron riu.

Ainda sorrindo os dois deixaram seus olhos se perderem no horizonte, o sol se pondo entre as inúmeras arvores se tornava um espetáculo místico para ser apreciado.

—Você parece ser uma pessoa incrível.

Iani foi pega de surpresa com aquelas palavras.

—Acha?

—Sim.

—Ah...obrigada — suas bochechas voltaram a ficar quentes.

—E pensar que a deixaria jogada no meio da floresta...

—O quê?

—Nada não...

Os olhos dourados se desviaram do pôr do sol para apreciar a jovem garota ao seu lado, ver o reflexo do sol naqueles olhos, assim como tudo por ali, era algo surreal, algo na qual Iani guardaria para sempre na sua memoria.Não estou apaixonada.

—E.e você Aaron? — ela decidiu mudar o rumo da conversa antes que seu rosto ficasse tão vermelho como um pimentão — Líder de uma alcateia, se transforma em lobo e vive em um lugar magico, imagino que não tenha medo de nada né?

No mesmo instante seu olhar voltou a contemplar o horizonte, dessa vez com um ar mais sério.

—Tenho que dizer que está errada.

—Mesmo?

—Mesmo...

—E do que você tem medo?

Aaron não respondeu, não de imediato, seus semblante ainda continuava sério quando ele se voltou mais uma vez para a garota com um sorriso suave no rosto.

—Tenho medo do futuro.

—Do futuro?

—Sim, não dá para saber ou controlar o que vai acontecer.

Seus olhos voltaram a se perder no horizonte.

—E isso me assusta.


















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