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 Problemas

No escritório principal a luz da manhã ultrapassava os grandes vitrais iluminando a mesa onde os homens se reuniam para discutir os assuntos do reino. Como líderes do seu povo Aaron e Dave eram as figuras mais importante dali, consequentemente, toda a conversa girava em torno dos problemas que ambos levantavam.

—Não acho que as rotas sejam favoráveis — os olhos dourados cintilaram enquanto a mão indicava um dos vários caminhos no gigantesco mapa aberto sobre a mesa — Essa parte da floresta não faz parte do meu território, não tenho controle do que acontece ali.

—Então saques seriam o maior problema...

—Exato.

—De qualquer forma as vias fluviais demandam muitos recursos — Dave colocou pequenas peças de madeira sobre o mapa — Infelizmente os trechos mais violentos do rio são os mesmos que cortam a divisa das minhas terras, seria impossível enviar as mercadorias por lá, mesmo com as melhores embarcações.

—Vendo por esse lado os roubos não parecem um grande problema, podemos reforçar a guarda.

—Não quero arriscar mais vidas do que o necessário, o transporte de mercadorias sempre são alvo de ladrões, e normalmente as espécies que fazem esse tipo de trabalho são treinadas para matar.

Todos ficaram em silencio, refletindo sobre as palavras dos líderes. 

—A única opção plausível seria uma rota pelas Terras Áridas — os olhos verdes miraram o desenho de duas montanhas — A visão ampla da planície facilitaria a detecção de ladrões, o que é mais difícil com as inúmeras árvores da floresta, e como o vento corre livre pelas rochas sem trazer o aroma das flores do campo nossos homens conseguiriam sentir o cheiro de qualquer um a quilômetros de distancia.

—Seria uma rota longa, porém segura.

—Mas temos um problema...

Aaron e Dave respiraram fundo, os dois sabiam qual era o maior problema daquela rota.

—Maron jamais permitiria. 

—Viemos tentando convence-lo a décadas, mas a resposta sempre é a mesma.

—Confesso que nunca entendi o motivo, isso facilitaria as coisas para a alcateia dele também, teriam livre acesso aos vários tipos de mercadorias de outros reinos.

—Maron sempre preferiu a autonomia enraizada pelos seus ancestrais, sem contar que ninguém da sua alcateia gosta de lidar com estranhos.

—É um povo que prefere usar os próprios meios para a sobrevivência.

—Não estamos mais falando apenas de costumes — a voz de Aaron voltou a silenciar todas as outras — Ao longo dos últimos anos a comida vêm se tornando escassa, mesmo na floresta a caça diminuí cada vez mais, assim como os peixes do rio.

—A colheita nas campinas que sempre foi abundante também está difícil — Dave encarou a paisagem do próprio reino além das janelas — Optamos pelo cultivo de mais hortas, mas mesmo assim não estamos tendo grandes resultados.

Vários murmúrios se ergueram entre a pequena multidão.

—Consigo sentir que há algo errado na floresta, mas não tenho a mínima ideia do que fazer — Aaron se reclinou na poltrona respirando fundo — É como se algum mal começasse atingir a terra, se alastrando aos poucos.

—Por isso não podemos nos dar ao luxo de perder nada, cada baú das caravanas é valioso — Dave completou fazendo o mesmo.

—Se já estamos sentindo esse impacto, as outras espécies também estão.

—As rotas vão começar a ser mais perigosas.

—Precisamos ser cuidadosos.

—Não há nenhuma maneira de convencer o terceiro? — um jovem perguntou com olhar esperançoso — Talvez os mesmo problemas também esteja afetando as Terras Áridas.

Todos olharam entre si, como se a possibilidade fosse, de uma forma errônea, reconfortante.

—Poderíamos usar isso para persuadi-lo. 

—Tenho certeza que Maron não ia querer ver seu povo passando fome.

Mais murmúrios surgiram, porém, logo foram silenciados pelos dois alfas.

—Se Maron estivesse preocupado com isso teria ficado para a reunião — os olhos dourados brilharam de um forma perigosa — O terceiro não se importa com ninguém.

—Ou talvez esse mal que atinge a floresta e os campos ainda não tenham chegado até ele.

Os dois lideres se encararam, como se duvidassem da fala um do outro.

—Podemos averiguar — Dave continuou — Vou mandar patrulhas para outros reinos para ter certeza de que esses problemas não estão apenas nos afetando, e caso seja confirmado — os olhos verdes encararam os dourados — Damos um jeito de convencer Maron a colaborar, por mais difícil que seja.

Aaron continuou sustentando os olhos do seu anfitrião. Ele não estava a favor daquele plano, no fundo tinha certeza que o problema da comida já afetava outros povos, mas seu incomodo maior ainda se tratava do terceiro alfa. No entanto, ele não conseguia pensar em nada melhor para resolver aquela situação. 

—Que seja, só espero que consigamos resolver isso logo.

—Tenha fé meu amigo, não é como se a comida fosse sumir de nossos pratos. 

Dave se colocou de pé, depois de tanto tempo sentado precisava esticar os músculos.

—Por falar em comida o almoço já deve estar sendo servido no salão principal, ah, é verdade! Esqueci de avisar que minha irmã organizou um banquete para as mulheres no jardim, então podemos nos soltar mais um pouco a mesa, se é que me entendem caros amigos!

Todos riram exceto Aaron.

—Um almoço no jardim, apenas para as mulheres?

—Exatamente!

Dave se aproximou passando o braço pelo seu pescoço.

—Vamos aproveitar para lembrar dos velhos tempos como homens! Depois nos juntaremos novamente as nossas adoráveis companhias durante o baile.

Aaron se permitiu caminhar junto de Dave até o salão principal, porém, sua cabeça não deixava de pensar em Iani, ainda mais estando sozinha com Clycia. 

Só espero que as coisas estejam indo bem...

Lobos na floresta | Livro 1 (Repostando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora