A Cavaleira de Dragões (Compl...

By ladias08

862K 111K 35K

Ailin sempre tinha ouvido falar da guerra incansável travada nos reinos maiores. As heróicas histórias falava... More

Introdução
Epígrafe
1. O aço azul
2. Um contrato
3. O velho da floresta
4. Um nome para uma espada
5. Aquele que busca dragões
6. Selvagens
7. Confiar
8. Uma saída
10. Entrelaçados
11. Sangue e chamas
12. O vestido azul turquesa
13. A história dos dois rios
14. Vínculo
15. Academia de dragões
16. Aprendiz
17. Os cinco aspectos
18. O garoto das terras sem lei
19. Dalia
20. Modesh
21. Senhores da esperança
22. Uma luz
23. Propostas
24. Experiências
25. A morte
26. Gaariel, o vermelho
27. Rei do ouro
28. Libertações
29. Vila branca
30. Reino da Areia
31. Abaixo
32. O dia do luto
33. A queda do Assassino de Racon
34. Reencontro
35. O campeão da Névoa
36. Inquietação
37. Metal e Carne
38. Fuga
39. O reino de Rubi
40. O Despertar
41. Vingança
Epílogo

9. Sopro de dragão

19.4K 3K 925
By ladias08


Quando o campeão da névoa triunfou,

Ao equilíbrio não restou escolha,

a não ser escolher seu próprio. 




Já estava claro novamente quando abri os olhos. Eu me mexi o mínimo que podia para não alertar ninguém que tinha acordado. Estava em dentro de algum lugar percebi pelo teto sujo de madeira acima de mim.

Minha mente começou a se recordar lentamente de como eu tinha parado ali. A cela. O rastreador. Golam. Aldor, me lembrei. Dei um longo suspiro, tinha completado a missão, e agora poderia pegar minha recompensa.

Foi então que me dei conta. O ar entrava e saia de meus pulmões com uma facilidade que não fazia a anos, a pressão constante e conhecida em meu peito já não estava lá. Minha respiração se acelerou, e senti minhas mãos suarem.

— Es-Está acordada? — Ouvi a voz do mago dizer.

Acordada? Todo o sangue foi drenado de minha face, quando pulei da cama. Estava vestindo minha camisa e a calça de couro surrada, mas a malha que escondia meus seios já não estava mais lá. Procurei em minha cintura por Estupidez, mas tinham me desarmado totalmente.

— Não devia se-se mexer tanto, seus fe-ferimentos ainda podem voltar a sangrar. — Lino tornou a falar.

Olhei para os lados. O mago estava em uma mesa improvisada trabalhando com um tanto considerável de folhas. A cabana era velha e tinha poeira por todos os lados, os poucos moveis estavam roídos e desgastados pelo tempo. Provavelmente era de antes da queda do reino de estanho.

— Achamos esse lu-lugar a alguns minutos de vi-viagem de onde estávamos. Não é muito a-agradável. Mas pelo menos nos protege dos animais e tem uma la-lareira.

— Onde está minha espada? — Perguntei.

Lino parou de trabalhar e se virou para mim.

— Pa-para po-poder me matar?

— Se eu quisesse te matar mago, não precisaria de uma espada.

Lino arregalou os olhos, antes de se encolher e voltar a trabalhar.

— Ki-Kiram a levou para pro-procurar algo para co-comermos. — Ele explicou. — ele deve voltar a qualquer momento.

Assenti. Me sentia desprotegida sem a malha, aberta, principalmente quando ele sabia meu segredo.

— Onde está? — Perguntei novamente, engolindo seco.

— Ja di-disse que Kiram le-levou...

— O tecido... — Interrompi.

Lino voltou a olhar para mim confuso, até que a compreensão cruzou seu olhar. Ele limpou a garganta e falou:

— Ah... você diz o... que vai...

Fechei a cara e estalei o pescoço impaciente. Quando mais nervoso o mago ficava mais sua gagueira parecia piorar.

— Na-na-na ga-gaveta.

Meu olhar disparou para cômoda quase destruída ao meu lado, e antes que eu pudesse perceber já tinha o tecido nas mãos, o alivio me inundou. Eles sabendo ou não de quem eu era, sairia tão rápido dali que não iria fazer nenhuma diferença.

Escutei barulhos de passos, do lado de fora, e então a porta da cabana se abriu com um rangido. Kiram apareceu na soleira, agora com o rosto livre da sujeira da cela. Seu cabelo agora limpo tinha quase o mesmo cumprimento que o meu, levemente sobre os ombros, e mesmo sendo pretos, tinham um brilho azulado que antes não pude perceber. O rastreador era ainda mais alto que eu, e seus músculos bem desenvolvidos.

— Tivemos que tirar para poder tentar parar o sangramento de alguns de seus ferimentos. Não precisa usar mais isso se quiser. — ele falou apontando para o tecido em minhas mãos me fazendo corar.

— Quer dizer... não chegamos a ver nada, nós...

Eu limpei a garganta, recuperando minha postura. Nada daquilo importava de qualquer forma, mesmo se tivessem visto algo, não seria afetada assim tão facilmente. Eu tinha apenas que recolocar a faixa e ai tudo voltaria ao normal.

Andei em direção a Kiram, que esperou, com calma.

— Minha espada.

Ele piscou surpreso, antes de levar a mão em seu cinto para desamarrar a bainha de minha espada.

— Está indo embora? — O rastreador perguntou.

— Estou. — Falei tirando Estupidez de suas mãos.

Assim que abri a porta, um grunhido alto me arrepiou a espinha. Olhei para o bosque que nos cercava, nenhum animal que conhecia poderia fazer aquele som, sai da cabana cautelosa, quando novamente o som se repetiu.

— Dragões? — Perguntei a Kiram quando ele se postou ao meu lado.

— Isso não é o som de um rugido de dragões. — Ele respondeu, seguro. — parece uma hiena gigante.

Uma hiena gigante tão perto das montanhas? Foi quando eu o vi pela primeira vez. Um homem que poderia ter facilmente dois metros de altura, cambaleava para fora do bosque fechado. Quando ele chegou perto o suficiente, o que vi fez meus olhos se arregalarem e meu sangue congelar, com o medo que raramente sentia. O homem tinha uma aparência grotesca, sua pela era cinza avermelhada, e tinha buracos em putrefação por todo o seu corpo, um de seus olhos pendia para fora de suas orbitas, e o cheiro de carne podre era tão insuportável que meu estômago se revirou.

— O que é... — Comecei.

— Corra! — Kiram gritou, empurrando a mim e o mago para a trilha em direção às montanhas.

Não pensei duas vezes antes de correr, a urgência na voz de Kiram me alertou sobre a periculosidade do que quer que fosse aquilo que agora nos perseguia. Eu podia ouvir seus guinchos e gritos cada vez mais próximos, fiz meus pés correrem mais rápido, apenas para sentir alguns de meus ferimentos protestarem.

Meu coração batia rápido, o monstro estava cada vez mais perto, minha mão direita apertava forte o cabo de minha espada e o tecido que ainda carregava. Meu corpo doía, mas eu não ousava desacelerar.

O caminho começou a ficar mais íngreme. Eu podia escutar os pesados passos de Kiram e do mago que corria mais rápido do que o julguei ser capaz. Os sons se aproximaram e minha visão pegou um vulto correndo ao meu lado, escondido parcialmente pelas arvores da floresta. Era ele, era rápido demais.  Antes que o monstro pudesse pular em mim, parei de correr, e com o impulso, me joguei para o lado, desembainhando Estupidez. Me levantei rapidamente, e coloquei a espada em riste, esperando.

Quando o monstro me atacou fui surpreendida com sua força. Lutei para defender o golpe de seu braço  com minha espada. Estupidez cortou sua pele e carne, mas bateu dura contra o osso de seu anti braço. Ele nem ao menos hesitou em tornar a me atacar com seu outro braço. Girei para desviar, quase sendo derrubada novamente por conta da velocidade de seus ataques.

Kiram não podia ajudar, ele não estava armado, me lembrei.

Dei um golpe na diagonal, e me surpreendi com a dificuldade de cortar a pele da criatura. Eu não tinha ideia de como deveria lutar contra aquilo, e muito menos de como matá-lo.


Desviei de um golpe, e ataquei novamente com Estupidez, desta vez enterrando minha espada em uma das pernas do monstro, que novamente não mostrou nenhum sinal de fraqueza. A cada golpe que eu dava, mas tinha a certeza de que eles não estavam o afetando em nada. Senti minha camisa grudar em meu corpo, ensopada de suor e sangue. Aquilo não estava dando certo, percebi, sentindo a dor aumentar.

Foi quando uma explosão de luz me cegou momentaneamente, e pude ouvir um guincho agudo vindo da criatura que combatia.

— Corra Ailin! — Kiram gritou mais uma vez.

Mesmo cega eu corri. Segurando com força a espada e o tecido, não parei até que senti uma mão firme segurar meu braço. Abri os olhos insegura, escutando meu próprio coração bater tão rápido quando as asas de um pássaro de fogo. Meu corpo inteiro parecia estranho, minha mente lutava para funcionar corretamente

— Você teve contato com o sangue? —Kiram perguntou, enquanto eu tentava fazer meus olhos focarem em seu rosto. —Por aqui.

Deixei Kiram me levar pelo braço, até que a luz do sol fosse parcialmente escondida, abri um de meus braços e senti-me tocar em pedra. Estávamos em uma caverna.

— Va-vamos entrar ma-mais fundo. — Lino falou — Ta-talvez esse lu-lugar camufle nosso equilíbrio.

Camuflar o equilíbrio? Nada fazia sentido em minha cabeça naquele momento.

— E-ela entrou em con-contato com o sangue? —Ouvi a voz de Lino falar.—Sa-sabe o que po-pode acontecer Kiram, te-temos que...

— É uma lenda, mago.—Kiram falou firme.

— A-aquilo também era u-uma le-lenda, ra-rastreador. —Lino rebateu. — Sa-sabe o-o que e-era.

— Um anevoado. Sabe o que isso quer dizer?

—A-a ne-nevoa...

Cambaleei, apoiando meu peso na parede de pedra. Kiram tentou me apoiar, mas decidi me desvencilhar. Dei um passo para frente. Se entrar mais na caverna era o que eu tinha que fazer para sobreviver, eu faria. Minha respiração estava pesada, mas eu continuava andando o mais rápido que podia. O guincho terrível do monstro ressoou nas paredes da caverna, o som se repetindo várias vezes.

A luz do sol já tinha quase desaparecido, quando tudo parou. Eu já não escutava mais o som da água gotejando nas paredes, já não escutava os passos apressados de Kiram e os resmungos desesperados de Lino, não escutava os barulhos terríveis que fazia o anevoado. Franzi o cenho, tentando recuperar a lucidez de minha mente.

Não estrague tudo.

Apertei os olhos, a fim de desembaçá-los dando mais um passo adiante. O mundo do meu redor parecia rodopiar. Escutei um sussurro rouco. A minha volta era como se o vento estalasse, e uma energia expandisse e contraísse, pressionando tudo o que eu era. Quando olhei para trás, vi Kiram gritar meu nome em puro terror. Lino estava caído no chão, chorando e implorando em silencio. Eu podia ver mas não escutar.

O monstro não nos seguia mais.

Quando me virei novamente entendi o motivo pelo qual os dois demonstravam ainda mais pânico. Na minha frente uma enorme besta dourada abria seus olhos lentamente. Eu cai para trás com a intensidade do poder que emanava da criatura. Era intenso, imensamente forte, e cruel.

O dragão nem ao menos se deu o trabalho de levantar, ele apenas agitou sua cabeça e esticou o pescoço.

Eu apoiei em Estupidez para me levantar, e acalmei minha mente turbulenta, eu era a mercenária mais temida das terras sem lei,se fosse morrer naquele lugar, eu iria fazê-lo lutando.

Quando ele fez menção de abrir preguiçosamente sua boca, meus olhos se encontraram com a imensidão dourada dos seus. Senti sua respiração, quando ele aproximou sua cabeça de mim, não consegui me mover hipnotizada com a intensidade de seu olhar. O dourado me analisou cuidadosamente, e pude sentir tudo que ele era quando seu hálito demasiadamente quente me envolveu. Antigo. Sábio. Poderoso. Terrível.





Oláaa gente, o que acharam do capítulo? Só bomba né?

Deixem um recadinho para mim sobre o livro, e não deixem de clicar na estrelinha por favor.

O que acham que vai acontecer agora? Obrigada por lerem!


Continue Reading

You'll Also Like

112K 5.2K 36
• 🏅VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS DE 2023 ❤️ • Eleita como sendo uma das melhores histórias de 2022 ❤️ • Destaque no perfil oficial de YALP na estante d...
9.7K 1.4K 39
Akira é uma adolescente que leva uma vida tranquila, com poucas preocupações além da escola. Embora jovem, é bem resolvida e amadureceu rápido devido...
216K 28.7K 82
OBRA VENCEDORA DO THE WATTYS 2021 NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA. Melissa Fontoura sempre foi o tipo de garota sonhadora, apaixonada por livros e f...
2.6K 328 6
Sakura é uma mulher de fibra, sempre trabalhou para conquistar o que sempre quis e desejou mais nunca teve sorte no amor, se julgava dedo podre peran...