Eu vesti uma roupa simples. Um vestido preto de alça, uma sapatilha da mesma cor e deixei o meu cabelo solto porque estava com preguiça de fazer algum penteado elaborado nele.
Eu não entendo em como depois de uma grande destruição na cidade a Cléo ainda tem coragem de fazer uma festa. Eu não vou julgar! Acredito que cada um faz o que bem entende, se a vida é dela, ela faz o que ela quer.
Eu só não acho certo o fato do pessoal me arrastar para essa festa. Fui uma burra em ter aceito. Estou arrependida mesmo ainda nem tendo entrado nessa festa. A luz, a intensidade do som e o cheiro forte de bebida já me fazem querer ir embora.
Também acho super errado o fato do Thomas insistir em trazer a Hillary com a gente. O Matt negou, alegando não ser um ambiente bom para uma menina de apenas catorze anos. Eles discutiram um pouco, mas depois se resolveram. A Hilly não veio. Matt às vezes se comporta como o pai dela. Sempre cuidando e protegendo.
Agora estamos aqui. Eu, Matthew, o Thomas, a Kylie, o Jason e a Nath em frente à casa lotada de pessoas. Estou me decidindo entre sair correndo e voltar para o hotel, ou ficar aqui e aguentar a barra.
— Ainda dá tempo de fugir. — Eu sussurro no ouvido da Kylie e ela ri.
— Aqui com certeza deve ter comida. Não volto nem morta. — Ela sussurra de volta, e eu rio. — Estamos juntas nessa, pimentão. Se alguém ousar arrumar briga com você eu faço um escândalo. — Ela se altera e eu como resposta gargalho. Kylie é incrível.
— Vamos! O que vocês duas estão fazendo paradas aí? — Thomas grita abrindo a porta da casa junto com os outros três, enquanto eu e a Kylie continuamos no jardim.
— Vão ficar aí fora? — Jason arqueia a sobrancelha.
— Não. Estamos indo. — Kylie responde por nós duas, me puxando para dentro da casa. Reviro os olhos.
Assim que nós entramos eu levo um susto. Muitas pessoas. Muita bebida. Caixa de som no último volume. E o que mais me assustou: Ethan. Era ele no canto da sala rindo e bebendo com seus amigos.
— Vou falar com o pessoal ali. — O Thomas avisa abandonando a gente e indo falar com seus amigos. Matt e o Jason também são chamados pelos amigos do Thomas.
— Se cuida tá? Depois quero falar contigo à sós. Tenho uma grande surpresa. — Matt sussurra em meu ouvido. Eu sorrio e ganho um beijo na bochecha. Ele se afasta e vai andando até o grupo, restando apenas a Nath, a Kylie e eu no centro da sala.
— Vou beber alguma coisa, se vocês precisarem de mim estarei na cozinha, tudo bem? — Nath avisa se afastando pouco à pouco. A festa está tão cheia que nem consigo mais vê-la.
— Tudo bem. — Dou de ombros.
Olho em minha volta e me sinto cada vez mais desconfortável. Por que as festas de adolescentes tem que ser sempre assim? É uma droga. Só tem gente bêbada ou drogada. São poucos que não se misturam. Por isso que eu prefiro muito mais festas de crianças onde tem muito mais comida e as pessoas são no mínimo descentes.
Encontramos a Cléo bebendo e dançando no meio da sala. Kylie é a primeira a parabeniza-la, em seguida eu faço o mesmo. Depois nós duas voltamos para o mesmo lugar.
Estou me sentindo deslocada. Eu não deveria estar aqui.
— É. Acho que só sobrou nós duas mesmo. — Kylie suspira. — Vamos procurar comida?
— Sim, já estou morrendo de fome.
Procuramos comida por toda parte, e no fim achamos várias caixas de pizza em cima do sofá.
— Aí meu Deus! Era disso que eu precisava. — Kylie dá vários pulos enquanto comemora. — Vamos pegar logo duas caixas. Uma para mim e a outra para você.
— Mas, se alguém reclamar? Nós precisamos comer em um lugar super seguro em que ninguém peça nenhum pedaço. Eu só quero silêncio. — Digo.
[...]
— Quando disse um lugar seguro e silencioso poderia ser em qualquer lugar dessa casa. Menos no banheiro. Isso é nojento. — Digo fazendo uma careta engraçada.
— Só senta e come essa pizza maravilhosa antes que algum bêbado bata na porta para vomitar. — Kylie se joga na banheira sem água e abre a caixa da sua pizza, mordendo um pedaço logo em seguida.
Sento em cima do vaso com a tampa fechada e como um pedaço da pizza.
— Isso é uma delícia! — Kylie diz de boca cheia e olhos fechados. Ela está saboreando a pizza.
— Fazia muito tempo que eu não comia pizza. Estava com saudades.
— Falando em pizza...você e o meu meio irmão estão namorando?
— O que a pizza tem a ver comigo e com o Matthew?
— Nada. Só estava arrumando uma desculpa para te perguntar mesmo. Estou curiosa. — Ela dá de ombros.
Mordo mais um pedaço de pizza antes de começar a falar.
— Sei lá. Nós estamos ficando, e gostando um do outro. Por mim, eu namoraria com o seu irmão com toda certeza. — Sorrio. — Gosto muito dele.
— Meio irmão. — Ela me corrige.
— Vocês fazem um casal fofo. Eu vi vocês dois esquiando ontem. Fiquei boquiaberta durante minutos. Muito obrigada por ter feito o Matt voltar a esquiar, ele precisava disso. Precisava muito. Acredito que esse seja um dos únicos modos dele superar a morte da mãe dele, já que o nosso pai também não o ajuda. — Ela diz.
— Eu espero que ele supere.
Ficamos em silêncio durante alguns minutos.
— E a Nathalie e o Thomas? Até agora eu não estou acreditando que a Nath terminou com o Jason.
— Eu também. Foi de um dia para o outro. — Digo. — Sobre o Thomas e a Nathalie eu não sei de muita coisa.
— Tem alguma coisa errada. — Kylie cerra os olhos parecendo desconfiada.
— Ou você só esteja problematizando uma situação. — Gargalho e ela entra na onda.
— Eu sempre adoro deixar um ar de suspense, mas infelizmente dessa vez não funcionou. — Ela lança um olhar raivoso em minha direção. — Você acabou com a minha cena.
Rio e pego outro pedaço de pizza, mas ela cai da minha mão quando levo um susto escutando vários gritos vindos do primeiro andar.
— O que está acontecendo?
— Eu não faço a mínima ideia, mas acredito que seja melhor descermos para ver. — Kylie sai da banheira e deixa a pizza de lado, faço o mesmo. Nós duas corremos como loucas até o primeiro andar.
As pessoas estão quietas observando um casal brigar no meio da pista.
— ME LARGA, CHRIS! Me deixa sozinha. Me deixa dançar. Nós não estamos mais juntos! — A garota começa a gritar e chora ao mesmo tempo. — Por favor me larga.
— SUA VADIA CALA À BOCA! Não quero te ver dançando na frente de todo mundo igual à uma vadia idiota. Entendeu? Você vai voltar para mim e vai acabar com essa palhaçada de dar um tempo para o nosso namoro. Eu sou o seu namorado. Eu mando. É melhor aceitar logo isso. — O Chris grita com ela enquanto aperta o seu pulso e ela chora.
— VOCÊ ME TRAIU com a minha melhor amiga. Me traiu várias vezes. Agora quer voltar? Prometo à mim mesma não voltar para os seus braços nem morta. — Ela grita e ele aperta ainda mais o pulso da garota. Chris levanta a mão para dar um tapa no rosto dela, mas a Kylie entra na sua frente. O homem para na metade do caminho arqueando a sobrancelha.
— Ei, quem você pensa que é? — Ela grita aumentando o tom da sua voz.
Thomas aparece ao meu lado com a aflição transparente em seu rosto.
— Garoto, escuta aqui o que eu tenho para te dizer. Traição não é escolha, é caráter. Caráter é uma linha reta, não faz curvas. E se você, idiota, gosta de andar em círculos, ande sozinho. Faça um exercício: toda vez que você sentir vontade de trair, lave uma privada, pra você lembrar que toda traição termina assim: em merda. E no amor não basta apenas dar a descarga! Agora você vai ver essa garota arrasar dançando na pista, porque você não manda nela. Nunca mandou. E nunca mandará. Agora ela está SOLTEIRA, e a única coisa que você pode fazer é babar enquanto ela mostra a sua beleza, e chorar pela garota incrível que você perdeu, e é claro, por ter nascido um babaca também.
Quando o garoto está prestes a contestar a Nath aparece ao lado da Kylie e começa a falar também.
— Eu não estou acreditando que sua mãe esperou nove meses para nascer um ser humano lixo como você, seu babaca. — Nathalie diz e todos riem. Chris fica sem graça com toda essa situação. — Fique longe dela.
— Não vou perder meu tempo discutindo com duas vadias iguais a Nicolle. — Ele se refere a namorada. Sua ex na verdade. — Vão se ferrar todos vocês! — Ele taca a garrafa de cerveja na parede, fazendo-a quebrar. Em seguida, Chris vai embora. Sorrio.
Nicolle agradece a Kylie e a Nathalie. Estou orgulhosa das minhas garotas.
— Julieta, vamos levá-la até a saída. Nicolle quer ir para casa, o pai dela já vai buscá-la. Daqui à pouco voltamos. Toma conta da nossa pizza. — Kylie pede rindo. As três vão juntas até a saída. Acho bonito o gesto delas, é exatamente isso que toda garota deve fazer. Ajudar a outra, sem toda essa competitividade desnecessária entre elas. Devemos ser amigas e não inimigas.
Fico sozinha, no canto da sala. Eu não vejo mais o Matthew, nem o Jason e muito menos o Thomas. Não faço a mínima ideia de onde os três possam estar. Suspiro e apoio minha cabeça na moldura da porta.
Estava tudo tranquilo, até eu ver o babaca do Ethan vir na minha direção com um sorriso brincalhão no rosto.
— Olá, lindinha! — Ele sussurra gargalhando. Ethan bebeu. Bebeu muito. É perceptível. — Confesso que senti saudades. Saudades de nós dois sabe? Gosto de você. Gosto muito.
Ele se aproxima, e eu dou um passo para trás.
— O melhor que você pode fazer agora é se afastar de mim.
— Ah, mas eu estou me divertindo tanto!
— Eu não estou. Se afaste! — Eu peço mais uma vez, quase que implorando.
Ele agarra a minha cintura, se aproxima rapidamente, e me beija. Tento afastá-lo mas é praticamente impossível, o Ethan é forte demais.
— SEU NOJENTO! — Grito quando finalmente consigo me soltar do seu aperto. Corro até a sala, mas os meus olhos encontram os do Matthew e eu simplesmente paraliso. Ele parece decepcionado e ao mesmo tempo extremamente triste. Ele vem andando na minha direção, mas não chega nem a olhar na minha cara, só passa direto como se eu não existisse. Eu o sigo e entro na sua frente.
— Tudo o que você viu não é nada do que você está pensando. Só me deixe explicar. — Peço.
Ele desvia o olhar e bufa como se estivesse estressado. Em nenhum momento Matthew me encara. Ele só quer ir embora, e rápido, ele anda pra saída como se a sua vida dependesse disso. Eu o impeço mais uma vez.
— ME ESCUTA, MATTHEW! — Grito.
— Só...me dá um tempo, Julieta. Por favor. — Ele controla a raiva. — Não quero brigar, eu só quero...sair. Me deixa ir embora. Por favor.
Essa foi a primeira vez que ele me encarou, e eu pude ver lágrimas em seus olhos. O meu coração apertou e por isso eu chorei junto.
— Só...me deixe ir, Julieta.
Fecho os olhos, respiro fundo e sem tentar mais nenhuma vez eu abro passagem para ele passar.
Eu o deixei ir, e ele foi.